"1 Passados seis dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago, e os levou, em particular, a um alto monte. 2 Ali Ele foi transfigurado na presença deles. Sua face resplandeceu como o sol, e suas vestes tornaram-se brancas como a luz. 3 De repente, surgiram à sua frente Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4 Expressando-se Pedro, disse a Jesus: 'Senhor, é bom estarmos aqui. Se desejares, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias'. 5 Enquanto ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela emanou uma voz dizendo: 'Este é o meu Filho amado em quem me regozijo: a Ele atendei!' 6 Ao ouvirem isso, os discípulos prostraram-se com o rosto em terra e ficaram atemorizados. 7 Então Jesus, aproximando-se deles, tocou-os e disse: 'Levantai-vos, e não temais!' 8 Ao erguer os olhos, a ninguém mais viram, senão somente a Jesus." - Mateus 17:1-8, ênfase minha [Versão King James Atualizada]
Esse texto bíblico é daqueles que dá um enorme leque de interpretações. Muitas delas, inclusive, usadas como uma tentativa de embasar biblicamente doutrinas ocultistas, como a crença na reencarnação. Mas a Bíblia é retilínea e uniforme em sua essência e, portanto, sua revelação não está subjugada a interpretações pessoais (1 Pedro 1:20, 21). Portanto, neste artigo, proponho a análise desta passagem, submetendo-me a sua infalibilidade contextual.
Nunca as igrejas tiveram tantos recursos para anunciar o Evangelho. Contudo a evangelização está muito aquém do que é necessário. Parece que a maioria das igrejas começa bem o seu propósito e depois se acomodam.
Quando Jesus subiu ao monte com seus três companheiros Pedro, Tiago e João, certamente desejava proporcionar-lhes uma experiência com Deus que os levasse a descer para a cidade e cumprir sua missão. Entretanto Pedro achou que estava 'tão bom' ali que propôs fazer três tendas para ficarem mais [v.4]. Felizmente sua proposta não teve êxito e muito menos chamou a atenção de Jesus e o Senhor continuou seu ministério firmemente.
A tenda
Abrigo desmontável, feito de tecido ou de pele, e sustentado por varas. As tendas eram um dos mais antigos tipos de habitação humana (Gênesis 4:20; 9:21) e eram comumente usadas por povos nômades do Oriente Médio (Gn 9:27; Salmos 83:6).
A Bíblia fornece alguns pormenores sobre o formato e o uso de tendas. Isto é suplementado pelo que se sabe sobre as tendas usadas pelos árabes em anos mais recentes, visto que estas parecem não diferir substancialmente das do período bíblico. Muitos peritos creem que as tendas primitivas eram de peles de animais. (Gn 3:21; Êxodo 26:14) Entre os beduínos da atualidade, é costume usar tendas de tecido escuro, feito de pelo de cabra (compare com Êx 36:14; Cânticos 1:5).
Tiras deste material são emendadas, e o tamanho geral da tenda retangular depende da riqueza do dono e do número de ocupantes. A tenda é sustentada por várias varas de cerca de 1,5 a 2 m de comprimento, e a mais alta delas fica perto do meio; para manter-se firme contra o vento, há cordas presas a estacas de tenda (Juízes 4:21). Para se ter privacidade e proteção contra o vento, penduram-se panos nas laterais da tenda, mas estes podem ser levantados ou removidos para que haja ventilação.
Parece que nos tempos bíblicos as tendas maiores eram geralmente divididas em pelo menos dois compartimentos, pendurando-se panos de tenda. A "tenda de Sara", mencionada em Gênesis 24:67, talvez se refira ao seu compartimento ou a uma tenda que ela ocupava sozinha, pois alguns homens ricos possuíam várias tendas, e as mulheres às vezes tinham sua própria tenda (Gn 13:5; 31:33). É provável que se utilizassem esteiras para forrar o chão dentro da tenda.
As tendas eram uma característica distintiva da vida nômade, contrastando-se com as casas daqueles que tinham uma vida mais estabelecida. Assim, fala-se que Abraão "morava em tendas" enquanto "aguardava a cidade que tem verdadeiros alicerces" (Hebreus 11:9,10). Parece que os israelitas moravam principalmente em casas, não em tendas, durante sua permanência no Egito (Êx 12:7). Mas, ao saírem do Egito, voltaram a morar em tendas (Êx 16:16) e as utilizaram durante os 40 anos que passaram no ermo (Levíticos 14:8; Números 16:26), Neste período, duas tendas específicas tinham especial importância, o "tabernáculo" e a tenda de Moisés (Êx 25:8, 9; 26:1; 33:7).
A tenda apontava para Cristo que foi preciso morrer na cruz do calvário para que nEle tenhamos abrigo seguro, pois, como vimos a tenda servia como abrigo, proteção, amparo. Somente em Cristo, que é a nossa tenda, podemos ser salvos dos perigos; somente em Cristo estamos seguros e salvos dos ataques de satanás. Porém, é preciso destacar que a tenda, apesar de proporcionar habitação, era móvel, o que nos remete à mobilidade na pregação do Evangelho.
No entendimento do texto, a tenda serve de abrigo e conforto. Muitos cristãos e suas igrejas estão vivendo momentos de contemplação da glória de Deus. Ficam somente nisto, construindo "tendas" que os levam ao comodismo ao invés do desafio missionário.
O que nos tem impedido de fazer Missão?
Vamos comparar as três tendas com três coisas que impedem as igrejas de cumprir sua obra missionária:
- 1) Tenda de Moisés > LEI:
A tenda de Moisés é comparada com a Lei, porque ele foi um legislador do povo de Deus. Moisés organizou o povo como nação dando-lhes estatutos que antes não tinham como escravos. Esta lei tinha direitos e deveres, bem como consequências dos mesmos. Com o tempo os seguidores de Moisés começaram a ser cada vez mais rígidos com seus ensinamentos de maneira que a lei se tornou pesada demais. Quando Jesus veio, cumpriu toda lei e nos trouxe um novo tempo: "...pois não estais debaixo da lei, e sim da graça" (Romanos 6:14).
O legalismo é representado pela tenda de Moisés, onde se acomodam aqueles que dizem fazer tudo certinho, mas não estão cumprindo o IDE do Mestre. As igrejas criam regras e estatutos tão rígidos que impedem a entrada de novas vidas. Muitos desafios missionários não podem ser atingidos porque primeiro devem cumprir uma série de exigências. O legalismo é cômodo porque traz o conforto de sentir que tudo está certo, mesmo se o propósito de ganhar vidas não estiver sendo cumprido.
Será que estamos escondidos na tenda da Lei? Deixemos o legalismo e façamos a obra de Deus!
- 2- Tenda de Elias > PROFECIA:
A tenda de Elias é comparada com a Profecia, porque ele foi um dos primeiros e principais profetas bíblicos. O profeta Elias foi o precursor de um tempo em que Deus levantou vários profetas, um após o outro. Contudo, poucos homens de Deus foram tão cheios de autoridade como Elias. Muitos milagres foram realizados em seu ministério e ele foi arrebatado ao céu sem passar pela morte (2 Reis 2:1-4).
Desde seu sucessor Eliseu e o restante dos profetas que se levantaram até João Batista, todos se espelharam no ministério de Elias como voz profética para o povo de Deus que esperava seu retorno (Mateus 11:14; 17:11). A profecia é representada pela tenda de Elias que traz aos crentes o comodismo de ouvir uma revelação para sua vida ao invés de buscar pessoalmente a direção de Deus. Realmente muitos cristãos estão buscando revelação do que devem fazer. Mas isso é muito fácil e não conduz a um compromisso com Deus.
Quem busca adivinhação está sempre procurando um profeta diferente para lhe anunciar o futuro e não constrói um relacionamento de intimidade com Deus suficiente para ouvir a voz do Senhor. Esta pratica excessiva acomoda a Igreja dentro de quatro paredes ou em montes e ‘casas de profeta’ ao invés de anunciar que a Salvação já foi revelada por Deus ao mundo através do Senhor Jesus (Hebreus 1:1-3).
Estamos acomodados na tenda da Profecia? Revelemos ao mundo que Jesus é o Senhor!
- 3) Tenda de Jesus > SINAIS:
A tenda de Jesus é comparada com os Sinais porque o Mestre operou grandes maravilhas e ordenou que fizéssemos coisas maiores também (João 14:12). Os milagres de Jesus foram tantos que o apóstolo João deixa claro que não seria possível descrever tudo (João 20:20,21 e 21:25). Principalmente porque Jesus prometeu que "sinais hão de acompanhar aqueles que creem" (Marcos 16:17) tornando-se algo natural na vida dos cristãos. Só que o que temos visto é um inversão nos valores bíblicos, pois são os cristãos que se amontoam em busca dos sinais.
O misticismo em torno de sinais, maravilhas e milagres é representado pela tenda de Jesus, que foi o fundador deste movimento chamado Igreja. Hoje grandes igrejas são inauguradas todos os dias prometendo realizar milagres, contudo "insistindo" em pedir ofertas e contribuições polpudas como prova de fé para então ser abençoado.
Por outro lado podemos testemunhar que o Espírito Santo tem realmente operado maravilhas no meio do seu povo e por isso o Evangelho tem crescido a cada dia mais. Contudo, percebemos em muitas igrejas que elas se fecham em si mesmas, embora divulguem massivamente suas obras para que as multidões venham encher seus templos. Este também é um sintoma de comodismo que faz a igreja deixar de ir para que as almas venham em sua direção. Existem muitas vidas que nunca irão a uma igreja e precisam que o povo de Deus os encontre pelas ruas, hospitais, cadeias, escolas, etc.
Estaríamos acomodados na tenda dos sinais? Saiamos do comodismo das bênçãos e sejamos nós os abençoadores em busca daqueles que estão precisando de um milagre!
Conclusão
Após a proposta de Pedro para fazer as três tendas, sua fala foi interrompida pela nuvem da glória de Deus, em seguida pela voz do Senhor ordenando que ouvissem a Jesus [v.5] e depois pelo toque de Jesus dizendo para não terem medo [vv.6,7]. Quando se despertaram de tudo que aconteceu parecendo um sonho, "a ninguém viram, senão Jesus" [v.8]. Foi então que voltaram para a realidade que era continuar o seu ministério em busca de vidas olhando não para a lei [Moisés], profecias [Elias] ou mesmo para as maravilhas que contemplaram no monte ao redor de Jesus.
Quantas vezes em nossas reuniões de liderança da igreja propomos fazer tendas que nos levem ao comodismo. Estabelecemos leis, profetizamos e até realizamos maravilhas, mas não podemos deixar de descer o monte para ganhar almas para o Senhor. Que nos organizemos como Igreja, busquemos revelação e milagres de Deus, mas nunca nos acomodemos parando de pregar o evangelho. Que reflitamos: Em qual tenda temos nos acomodado?
Olhemos somente para Jesus (fidelidade, obediência), saiamos da tenda (deixemos o comodismo e o conforto dos templos), desçamos do monte (tenhamos misericórdia, sejamos sensíveis) e anunciemos o evangelho (façamos a obra missionária)!
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