Que Oficina G3 é a melhor banda brasileira de rock da atualidade é fato e não adianta contestar. Tudo indica exatamente isso. Deixe o preconceito de lado e avalie comigo:
- Qual outra banda experimentou tantas vertentes do rock e do metal e soube se metamorfosear de maneira tão magistral pra não cair na mesmice? (Nenhuma! Pode procurar.);
- Qual outra banda nacional ganhou discos de ouro em todos os álbuns lançados? (Acho que nenhuma, não procurei. Mas Oficina G3, sim.);
- Quem é o melhor guitarrista brasileiro de todos os tempos? (Pode até não ser o Juninho Afram, mas, certamente, o mestre das cordas metálicas que conduz a banda desde os primórdios tem, sim, seu lugar na história do rock nacional. As capa das revistas ao lado e abaixo não me deixam mentir.).
Juninho Afram foi capa de duas edições da revista Guitar Player, uma das principais publicações do gênero no Brasil e no exterior |
Gospel, sim e por que não?
Oficina G3 é uma banda gospel. E a banda nunca se esquivou de suas referências cristãs, a despeito de quaisquer conceitos pejorativos que o termo "gospel" possa carregar. Em entendimento geral o gospel é uma vertente musical que expressa a crença cristã (evangélica e católica [católica, sim senhor]). Ou seja, as letras das músicas têm temáticas cristãs (mesmo aquelas mais subjetivas ou não tão diretas).
O termo "cristão" é meio complicado de definir, pois praticamente todos os religiosos, especialmente no Brasil, se dizem meio cristãos, desde que, em algum ritual ou por um simples adorno, façam referência a Jesus Cristo... apesar de que ninguém sabe como foi a aparência real de Jesus. Mas, enfim, estamos falando de Oficina G3 ou de cristianismo???
Música sem religião
Seja você cristão, ateu ou adepto de alguma religião totalmente diferente do cristianismo, é difícil ficar indiferente ao som de Oficina G3. A menos, claro, que você deteste rock. Os caras mandam muito bem! Juninho Afram metralha notas musicais em solos e riffs alucinantes. O grupo viaja nas vertentes do hard rock, do metal melódico, do nü metal, do metal progressivo, do metalcore, do pop rock e do rock and roll, sem perder - muito - a personalidade.
Histórias e bicicletas
A banda Oficina G3 foi fundada em São Paulo, lá pelo fim dos anos 80, por Juninho Afram, Wagner Garcia e Walter Lopes. Já no primeiríssimo álbum de estúdio, "Nada é Tão Novo, Nada é Tão Velho" (1993), [o pastor] Luciano Manga assumiu o lead vocal até o álbum "Indiferença", mas acabou deixando a banda por motivos ministeriais (Manga hoje é pastor, missionário e conferencista). Entra PG. O grupo lança um álbum acústico e dois plugados... Após o lançamento do álbum "Humanos", de 2002, sai PG, para sua bem sucedida carreira solo. Então, entra o próprio Juninho Afram assumindo cargo duplo (guitarrista e vocalista) no álbum "Além Do Que os Olhos Podem Ver" (2005), até Mauro Henrique assumir o vocal e a banda lançar os álbuns "Depois da Guerra" de 2008 (já o enfoquei aqui http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2016/04/discos-que-eu-ouvi-6-depois-da-guerra.html) e "Histórias e Bicicletas" de 2013, por enquanto.
Mauro Henrique é considerado, por muitos, o melhor vocalista do G3... mas vamos ver quais serão os "motivos pessoais" do cara pra sair da banda um dia desses. E, isso, que não mencionei o Túlio Régis, que fazia uma pontinha nos vocais e foi o seu principal compositor ainda antes da banda lançar o primeiro disco... e que saiu, também por motivos pessoais.
Se o lance dos vocais é complicado, pior ainda é com a bateria! Começou com Walter Lopes nas baquetas, até o álbum "O Tempo" (2000). Sai o Waltão, entra Johnny Mazza, mas como baterista freelancer (Existe isso numa banda? Nunca vi antes! Enfim...). Sai Mazza, entra Lufe, também como freela. Sai Lufe, entra Alexandre Aposan... como freelancer, claro! Só que o cara se saiu tão bem que acabou ficando de "freela oficial" nos álbuns "Elektracustika" (2007) e "Depois da Guerra", só sendo "efetivado" a partir do álbum "Histórias e Bicicletas".
Já no teclado e no baixo o negócio é mais tranquilo. Começaram com Wagner "Maradona" Garcia como baixista até o "Nada é Tão Novo...". Duca Tambasco era apenas um convidado especial ali. Com a saída do "Maradona", Duca assumiu o posto e não largou o osso até hoje. Nos teclados, Márcio "Woody" de Carvalho comandou até o lançamento do mesmo disco. Já do álbum "Indiferença" (1996) pra frente, o posto é de Jean Carllos.
Eis a formação atual da maior banda brasileira de rock da atualidade, pra quem se perdeu no caminho: Mauro Henrique (Lead-Vocal), Jean Carllos (Teclado e Vocal "gutural"), Duca Tambasco (Baixo e Vocal de apoio), Alexandre Aposan (Bateria) e Juninho Afram (Guitarra, Violão, Banjo [e qualquer outro instrumento de corda, exceto Baixo], Vocal, Direção, Produção... tudo (Juninho, sem dúvida é o "coração, alma e mente" do G3).
Essa é, mais ou menos, a história da banda (By Wikipédia!). Nem planejava escrever tanto sobre isso, mas me empolguei. Agora, já foi. A ideia mesmo era fazer uma resenha do disco que considero o melhor da banda [Válido salientar que não sou crítico de música, não entendo nada de produção musical, mas sei o que é música de qualidade! O critério é simples: se eu gosto, é de qualidade. Se eu não gosto, é mequetrefe, é merda mesmo (Kkkkkk...). E Oficina G3 eu curto. E muito!]:
Indiferença
Este aqui foi a pólvora que faltava para o Oficina G3 estourar e romper barreiras! Muitos fãs da banda só se tornaram fãs mesmo quando este álbum saiu. Inclusive eu! Era o disco mais Oficina G3 de todos, com uma sonoridade mais pesada e limpa, flertando com o hard rock e o thrash metal, e músicas com letras claramente cristãs (sem subjetivismos).
A sacada deste álbum foi manter um cara só pra segurar o vocal: Luciano Manga. No "Nada é Tão Novo...", o negócio era meio bagunçado. Algumas músicas foram cantadas pelo Manga, outras, pelo Juninho e, outras, até pelo Walter, da bateria. Entendo que uma das coisas que dá mais identidade a uma banda é o vocal! Cada um tem um timbre diferente e uma interpretação pessoal. Uma banda que conta com vários "vocais principais" soa um tanto estranha, meio que sem saber pra onde está indo. Foi com o "Indiferença" que puseram ordem na casa (ou na oficina, se preferirem).
Quem poderia medir e prever as várias mudanças ocorridas na formação da banda Oficina G3 durante os quase trinta anos de existência? Seja quais elas foram, Juninho Afram foi peça fundamental para manter a estabilidade na parte criativa do grupo. Se, nos primeiros anos, Túlio Regis foi autor das grandes canções do conjunto, em sua saída, o guitarrista de vez assume a função e se consagra como o letrista majoritário do G3.
"Indiferença", lançado em 1996 com produção musical e arranjos de Paulo Anhaia, é o ápice coletivo da banda na década de 1990. Também é o ponto alto de Luciano Manga como intérprete e frontman, uma estreia respeitável da dupla Duca Tambasco e Jean Carllos, contribuições fundamentais de Walter Lopes e a consagração de Juninho Afram como compositor e homem das seis cordas. Não é, em nenhum momento, um exagero: O disco ultrapassa qualquer limite imposto nos anteriores "Ao Vivo" (1990) e "Nada É Tão Novo..." e leva o quinteto a um status de poder e força musical até então inédito.
Àquele momento, eles provaram que poderiam fazer um som mais encorpado e agressivo. Entre canções mais pesadas e que flertam com o heavy metal como 'Profecias', há também baladas e momentos mais espirituais. É um contraste que tem o seu valor. 'Novos Céus' estava ali para provar que a Oficina G3 poderia e deveria ser muito mais do que basicamente uma banda de "rock pesado". Embora Juninho participe de grande parte das músicas como vocal, é inegável que Luciano Manga roube a cena. Com sua interpretação espontânea, mas muito mais centrada que no lançamento anterior, ele faz aqui uma das suas melhores performances logo na abertura em 'Davi', hard melódico de reverência oitentista. E é exatamente em canções de maior imposição e rapidez, como 'Não Temas', que o cantor deixa sua maior marca como intérprete.
Como cantor, Juninho cumpriu bem a função na maior parte do tempo, embora 'Your Eyes' (a pior faixa do álbum), mesmo com a devida leveza e sua sonoridade etérea, pediu um sotaque melhor. Da mesma forma, sua voz em 'Espelhos Mágicos' soou melhor em gravações posteriores, como no disco "Acústico" (1998) ou até mesmo nas roupagens feitas ao vivo na turnê de "Além do que os Olhos Podem Ver". Mas ele rompe todos os seus limites quando faz o que melhor sabe: ser guitarrista. Seu solo em 'Glória Inst.' é arrebatador, e consegue, até mesmo, ofuscar a própria canção cantada (10 em cada 10 guitarristas de igrejas que conheci já suaram a camisa na tentativa de atingir a estupenda performance de Afram neste solo e, obviamente, não conseguiram chegar nem perto, coitadinhos.).
As passagens instrumentais não são tão efetivas com o restante do repertório, mas se encarregam em mostrar o que a cozinha é capaz. Mesmo assim, 'Duca's Jam', com Duca Tambasco no centro das atenções, ainda fica um tanto quanto perdida no disco, bem diferente da conexão feita nos instrumentais tocados por Juninho. Melodicamente, o disco é marcante. 'Magia Alguma' está, de longe, entre as melhores baladas da banda enquanto canções mais agressivas em som, como a crítica social 'Indiferença', não deixam a desejar. "Indiferença" é um disco bem calibrado, esforçado e sua importância e sucesso na discografia do G3 não é gratuita.
Vamos ao faixa a faixa
O disco abre já com riffs nervosos e um solinho de teclado com [01] 'Davi' (também uma de minhas favoritas em toda a discografia do Oficina). A letra fala das dificuldades da vida como gigantes, que só podem ser vencidos "na força do braço de Deus". Já se percebe uma mudança de roupagem da banda, com riffs mais dinâmicos e solos de guitarra executados em alta velocidade.
Segue com [02] 'Fé', com um riff hardão, contando sobre a necessidade de vivermos pela fé.
[03] 'Magia Alguma', como eu já disse, é a power balada do disco. Sem solos de guitarra, com um acompanhamento de teclado por toda a música e um coralzinho lá pelo meio.
E, logo depois, vem o instrumental arrasador de [04] 'Glória'; a perfeita combinação entre teclado e guitarra sendo solada em alta velocidade, técnica e feeling. Um marco da história do rock nacional. Por um bom tempo, Juninho Afram teve de repetir este instrumental maravilhoso, nota por nota, nos shows. Depois do solo, segue com uma versão metaleira da música [05] 'Glória', aquela mesmo que já conhecemos: "Glória, glória, aleluuuia... vencendo vem Jesus!".
[06] 'Profecias' também é nervosa, com uma introdução em teclado seguido de um riff enérgico de guitarra. A letra fala sobre a volta iminente de Cristo.
[07] 'Espelhos Mágicos', outra de minhas favoritas do álbum, fala do egoísmo do homem e sua cegueira quanto aos planos de Deus. O riff é dinâmico, muito bem acompanhado pelas baquetas, e o solo de guitarra é raivoso, alternando feeling com muita técnica. Sangue nos olhos!
[08] 'Novos Céus' é outra baladinha, do tipo que se parece uma música congregacional. Começa com uma percussão muito gostosa de se ouvir orquestrando toda a música, um solinho de baixo e uma sonoridade bem acústica. Foi um hit radiofônico.
[09] 'Indiferença' volta com os riffs nervosos. A letra deve ser a mais "política" de toda a discografia da banda, recheada de crítica social. Curiosamente, não chega a ser uma música gospel, pois, curiosamente, em nenhum momento menciona, nem mesmo subjetivamente, Jesus, Deus ou algum versículo bíblico. Nem por isso, deixa de ser digna de estar no álbum, nos constrangendo a amar o próximo (especialmente os mais pobres).
[10] 'Duca's Jam' é outro instrumental, mas o foco é o baixo de Duca Tambasco, que executa um solinho básico em uns 30 segundos. Seguem com [11] 'Contra-Cultura', numa batida de guitarra muito legal, como se acompanhasse o solinho de baixo de 'Duca's Jam', com destaque para um duelo de baixo e teclado lá no finalzinho da faixa. Fala dos valores cristãos em confronto com os valores do mundo.
Já [12/13] 'Your Eyes' é o momento "vergonha alheia" do álbum. É a primeira vez que a banda lança uma música cantada em inglês, mas a pronúncia do Manga é horrível! Música dispensável. Sabe aquela faixa que nunca deveria ter entrado no disco? Mas há uma segunda parte, em que Juninho Afram nos presenteia com mais um solaço de guitarra (é o que salva a faixa...).
[14] 'Não Temas' volta aos riffs nervosos, introduzido por um solo de bateria. É aquele estilão hard rock que acompanhou todas as demais músicas do álbum.
O disco se encerra com [15] 'Rei de Salém', uma balada bem acústica, desplugada, e naquele estilo música congregacional tradicional. A música termina aos 2min30seg, mas há uma segunda parte lá pelos 3 minutos, com um coral rapidinho, à lá Acapella.
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