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domingo, 13 de dezembro de 2015

MEU CORPO, MINHA VIDA

Enfocarei neste artigo um tema que é bastante relevante nos dias atuais: os crentes e o culto ao corpo. Em primeiro lugar quero esclarecer que NÃO HÁ PECADO algum em um irmão ou uma irmã querer frequentar uma academia, malhar e praticar esportes para manter a forma física. Além de questões estéticas tem ainda os benefícios que a prática de esportes trás ao organismo. O problema está na falta de equilíbrio e na motivação que impulsiona o indivíduo cristão a essa prática. O fato de frequentar uma academia não é pecado, mas o indivíduo pode transformar sua ida à uma academia em uma oportunidade para o pecado.

O culto ao corpo e a escravidão das tendências 


"Se quisermos congelar o tempo e nos encerrarmos nesse casulo, estaremos liquidados antes mesmo que a juventude acabe. Seremos a nossa ficção. A realidade continuará a nossa volta, e um dia vamos perceber que estamos fora dela" Lya Luft [romancista, poetisa e tradutora brasileira. É também professora universitária e colunista da revista semanal "Veja". Nasceu em Santa Cruz do Sul no dia 15 de setembro de 1938. Professora de Literatura, é Mestre em Linguística e Literatura Brasileira. Exerceu o magistério superior, como professora de Linguística. Sua atividade literária inclui a tradução, principalmente de autores de língua inglesa e alemã, dentre os quais Brecht, Virginia Woolf, Herman Hesse, Thomas Mann e Günther Grass...]

As academias estão sempre lotadas, os cirurgiões plásticos com suas agendas cheias e mesmo assim parece que as pessoas continuam insatisfeitas e infelizes com a própria aparência. Não precisamos voltar muito no tempo para lembrarmos que há algumas décadas o máximo que se poderia esperar em termos de prótese, seriam os dentes... Hoje em dia, quem pode ter certeza sobre cor dos olhos, tamanho dos seios, bumbum, barriga ou cabelos de alguém? 

...Tira gordura daqui, enxerta ali. Somente cérebro e coração dessa pessoas não mudam, um permanece vazio e o outro amargurado. Dessa forma, é praticamente irresistível não imaginar uma cena em que uma pessoa, obsessivamente preocupada com beleza, se olha no espelho e repete mentalmente a famosa pergunta da bruxa da Branca de Neve: “espelho, espelho meu...” 

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não sou contra os cuidados destinados à beleza, desde que haja coerência. Desejar estar bem vestido, perfumado etc. não é pecado, o que considero errado é fazer disso um objetivo de vida e motivo único de realização pessoal. Não acho errado, por exemplo, fazer uma lipo, mas acho que esta decisão deveria partir de uma motivação ou necessidade íntima, e não apenas para satisfazer a admiração alheia. 

O certo é que a beleza pode ser encarada de forma natural ou complicada. O importante é cuidar para não se deixar dominar pela ditadura da beleza, por um modelo sem originalidade, que ignora a individualidade de cada um a partir do momento em que “prega” um padrão igual para todos, o qual é geralmente inatingível. 

E o que dizer então quando os crentes, cujo padrão para tudo está na Bíblia Sagrada e cujo principal objetivo deve sempre ser manifestar a glória de Deus (e precisaria mais alguma coisa para a realização de alguém, já que para isso é o homem foi criado?), sob as mais estapafúrdias e frágeis "justificativas" (entenda-se, desculpas) cedem aos padrões estéticos impostos pelo mundo (Romanos 12:1, 2; 1 Coríntios 10:31)? O teólogo John Piper (pastor, pregador e conferencista estadunidense) disse e eu concordo integralmente com ele: "Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle." 

No caso dos crentes, tem ainda a questão da prioridade. Muitos irmãos são extremamente disciplinados e fiéis no que tange à malhação de seu físico e (consequentemente?) na mesma proporção o contrário no que tange à "malhação de seu espírito e de sua alma". Válido lembrar que somos constituídos por e nessa sequência: 1) espírito, 2) alma e 3) corpo (1 Tessalonicenses 5:23). Ou seja, entende-se, segundo a ótica das Escrituras, que, para o corpo está bem é fundamental que o espírito e a alma sejam priorizados. No culto ao corpo, o que se vê é uma inversão desse princípio. 

O culto do corpo de maneira obsessiva é vazio em si mesmo, ou seja, faz com que as pessoas busquem “coisa nenhuma”, pois a perfeição não é possível de ser alcançada. 

O modelo de perfeição para o crente é um só: Jesus Cristo, que, aliás, sob contextos estéticos, o profeta Isaías, ao profetizar o martírio físico do Messias, afirmou que Ele "não tinha beleza e nem formusura", deixando claro que, para o Senhor, o que importa não é a forma física e sim a consistência interior (Isaías 53:3). 

Além disso, grande parte desses padrões pouco reflete a realidade da maioria da população brasileira. Para não acharem que estou sendo radical em minhas colocações, usarei o raciocínio do médico brasileiro Ivo Pitanguy, "guru" da cirurgia plástica mundial: "mais importante do que o culto exagerado ao corpo é 'o culto à inteligência'". 

O culto ao corpo versus a realidade social 


A prática do culto à beleza, de uma forma em geral, atravessa indistintamente classes sociais e faixas etárias, embasada numa “justificativa” confusa que mistura estética e saúde. Na verdade o culto ao belo sempre esteve, de diversas formas, ligado à história da evolução do homem. No entanto, foi com o avanço científico do Renascimento que a arte cosmética foi aperfeiçoada, tanto que nos séculos XVII e XVIII itens como perfumes e cremes já tomavam conta do mercado em Paris e o comércio de cosméticos tornou-se uma das molas propulsoras da economia francesa. 

Com o processo de emancipação feminina, a indústria cresceu e continua em alta até os dias atuais quando os produtos para tratamentos de beleza tornaram-se peças imprescindíveis no cotidiano da maioria das mulheres. Se bem que, hoje em dia, vaidade não é mais exclusividade feminina. Progressivamente, o sexo masculino vem deixando para trás os preconceitos e preocupando-se mais em cuidar da aparência. 

Lipoaspiração, silicone, botox, anabolizantes... A cada ano, dezenas de novos termos são incorporados ao vocabulário “estetiquês”. Multiplicam-se academias, clínicas, tratamentos “anti-isso”, “anti-aquilo”... Todos com um único objetivo: obter uma pele e um corpo “perfeitos”, ou pelo menos o que dizem ser. O resultado às vezes é desastroso, plásticas que deixam uma pele artificialmente lisa, quase inexpressiva. O pior é que essa ideia fixa é cada vez mais precoce, fato que torna o culto à beleza um assunto extremamente preocupante. 

Vemos espantosamente crianças trocando bonecas por um batom ou sapato de salto, pulando etapas fundamentais da infância. Quero dizer que a vaidade em si não causa preocupação, mas sim os valores que muitos pais estão repassando aos próprios filhos, ensinando-os desde cedo a valorizar o que é completamente dispensável, priorizando o ter ao invés do ser. Os pais precisam ensinar aos filhos que a aparência não é tudo, embora deva ser cuidada; que ao invés de ficarem se preocupando com “pneuzinhos” ou tendências da moda que procurem o que melhor lhes proporcione bem-estar e conforto. É importante ratificar que criança não é uma miniatura de adulto, portanto não está física ou emocionalmente preparada para tal comportamento. 

Somente para dar uma idéia da situação: Em parceria com o Datafolha, a MTV perguntou a jovens, por exemplo, se trocariam 25% de inteligência pela mesma proporção de beleza. Resultado: 15% foram francos o suficiente para admitir a troca. Nem se preocuparam com o fato óbvio de que a beleza física passa rapidamente, mas a inteligência fica. Isso serve para nos comprovar que quando chega a adolescência, fase de intensas modificações corporais e conflitos psíquicos, a procura por um corpo “perfeito” pode se tornar excessiva, pois é nesta etapa que estes se encontram mais vulneráveis às interferências do meio. Assim, a moçada são capazes de submeter a procedimentos estéticos bizarros, no afã de serem aceito pela galera. 

Diversas pesquisas têm demonstrado que, nessa fase, a tirania da beleza por um corpo magro tem gerado inúmeros casos de transtornos alimentares e depressões. Sabemos que estes têm origens internas, no entanto é inquestionável que também são fortalecidos por valores culturalmente impostos pela tirania da beleza. Será que magreza (dentre outros itens) são sinônimos de beleza? 

O culto ao corpo e a influência midiática 


Não podemos esquecer grandes vilões como as indústrias - que, certas do retorno, investem fortunas em publicidade -, a internet - os chamados "blogueiros fitness" viraram celebridades e bem recentemente a profissão de personal trainer" (a inexplicável mania dos brasileiros de "americanizar" os termos) explodiu - e a TV que vendem resultados milagrosos e corpos “maravilhosos”. Já o comércio tenta convencer o ingênuo consumidor a comprar o que não está disponível nas vitrines: saúde, juventude, sucesso e felicidade. Como se beleza proporcionasse tudo isso. Se fosse assim, não veríamos jovens tristemente envelhecidos e desmotivados. É fácil constatar que idade e beleza não podem ser medidas simplesmente em anos ou pela imagem externa, efêmera e passageira, mas sim através da saúde e jovialidade do espírito! Nesse sentido, podemos dizer que alguns são belos e outros nunca o serão. 

Conclusão 


Enfim, existem limites para a busca da beleza? Limites não sei, mas acredito que um bom parâmetro talvez seja o bom senso e a dignidade. Significa estar e sentir-se bem e confiante mesmo contrariando os moldes que os padrões impiedosamente impõem. Estar bem com o espelho é consequência de bom humor, paz interior, saúde físico-mental, emoções equilibradas e estado de espírito. Nada supera a beleza da alegria do bem estar consigo mesmo. 

Nesse sentido, melhor que simplesmente admirar-se no espelho é aprender a arte de contemplar-se. A obsessão deve estar em sentir-se bem e com uma auto-estima satisfatória. O único padrão a ser seguido é o respeito aos limites do corpo e a si mesmo. Afinal de contas, se o ser humano, por si só, não conseguir libertar-se da escravidão do padrão inatingível de beleza, tampouco alguma intervenção estética algum dia o fará. 

Por falar nisso, e você, em se tratando de beleza, os fins justificam os meios na busca desse objetivo?

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