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terça-feira, 17 de março de 2015

A INFLUÊNCIA DA BÍBLIA NA LITERATURA E SEU REFLEXO NAS ARTES

Tela Resposta de Daniel ao Rei por Briton Rivière, R.A. (1840-1920). Pintado em 1890, está agora na Manchester City Art Gallery.

Em 2012, Marilynne Robinson, autora do romance Gilead, ganhador do Pulitzer em 2006 - um dos prêmios de literatura mais importantes do mundo - e membro da Igreja Presbiteriana, publicou no jornal The New York Times os resultados de uma pesquisa que ela havia realizado sobre o papel da Bíblia na literatura contemporânea.

A premiada autora concluiu que a Bíblia é o modelo e o objeto de maior arte e pensamento para aqueles dentre nós que vivem sob sua influência, consciente ou inconscientemente. Em seu estudo, ela conclui que a Bíblia é a precursora de uma ampla gama de grandes obras da literatura moderna, desde “Paraíso Perdido” de John Milton até “O Som e a Fúria”, de Faulkner, obras premiadas e elogiadas por crítica e público .

A razão para isso é a “teoria da intertextualidade”. Ou seja, o significado derivado de uma compreensão da leitura de um único livro determina como a pessoa entenderá os outros livros que ler. Pela teoria de intertextualidade, se os leitores concluem que o significado de um texto é determinante, influenciará tudo que alguém ler ou experimenta a partir de então. Fazendo um paralelo, a Bíblia é um best-seller permanente, difundida amplamente em nossa cultura e está relacionado com muitos outros literários. Na verdade, a Bíblia é o livro mais lido e estudado do mundo. E aqui inclui-se os que concordam e os que se opõem a ela. 

Portanto, conforme argumenta Robinson, grandes obras da literatura mundial foram escritas a partir do pressuposto (consciente ou inconsciente) que os leitores estão familiarizados com a Bíblia. Isso não depende da fé, é pelo seu conteúdo literário, e por isso ela se torna uma referência ou verdade, independentemente da filiação religiosa de cada autor. Então, seguindo a linha de raciocínio da autora, a influência da Bíblia existe dentro e fora do âmbito de sua leitura. Seu conteúdo, ideias e imagens transcendem o tempo e o espaço, e expõem a sua análise da condição humana. Por isso, permanece sendo tão relevante hoje quanto era séculos atrás. Muitas das grandes obras da literatura ocidental abordam as mesmas perguntas que surgem dentro do Cristianismo. 

Eles respondem ao mesmo impulso para colocar carne na Escritura e na doutrina, para testá-los por meio da imaginação dramática, que é visível nas pinturas antigas como a Anunciação de Jesus ou o Paulo no Caminho de Damasco. É o caso de autor das telas "carnalizarem" aquilo que ficou impregnado em seu subconsciente. Pode-se dizer ainda que é a Bíblia regendo a veia artística do autor. 

Como a violência e a corrupção de uma cidade ansiada podem ser entendidas como parte de uma ordem cósmica eterna? Quais seriam as consequências para a história da expulsão do Éden, se a queda for entendida como providência divina? E se Jó, ao desabafar a justiça de Deus, não tinha sido intimidado e silenciado pela glória da criação? Como é que uma sociedade com noções de princípios cristãos responde à presença de um homem verdadeiramente inocente e ingênuo? Dante projetou uma grande imagem da intenção, justiça e graça divina como parte de seu livro “A Divina Comédia”. 

Milton explorou o antigo ensinamento calvinista de que o primeiro pecado foi uma queda providencial, porque preparou o caminho para a reconciliação final do mundo com Deus. Assim, "seu Satanás" é glorioso, e o inferno preparado para seus asseclas é extremamente tolerável nas obras poéticas “Paraíso Perdido” e “Paraíso Reconquistado”. Há o príncipe Míchkin de “O Idiota”, de Dostoievski, que perturba e antagoniza dizendo sempre a verdade e encarnando o Cristo que diz: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar em mim (Lc 7:23).” 

Cada uma dessas obras reflete, por parte do escritor, um profundo conhecimento das Escrituras e da tradição cristã. O tipo de conhecimento visto apenas entre aqueles que a levam a sério o suficiente para investigar as questões mais profundas. Estes textos não são alegorias, porque em cada caso, o escritor tem suscitado um problema dentro de um universo de pensamento totalmente aberto ao seu questionamento. O uso da alusão bíblica nessa literatura não é de simbolismo ou metáforas, que são as técnicas retóricas para enriquecer uma narrativa cujo principal interesse é uma ressonância maior do quer diz a Bíblia. 

A sabedoria do alto, aliada a uma equilibrada consciência cristã, nos permite analisar as artes com viés bíblico, sem demonizações simplistas, que muita vezes refletem um preconceito velado ao que se nos apresenta diferente.

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