Total de visualizações de página

quinta-feira, 19 de março de 2015

K7, DANDO UMA REBOBINADA NO PASSADO

A caneta Bic - a única que servia nas circunferências - era usada para rebobinar a fita quando ela embolava.


Anos 80 uma das épocas mais marcantes do século XX. Os meus anos dourados. A década de 1980 foi o apogeu da minha adolescência. Tudo era melhor. Incomparavelmente melhor. Sem nem prenúncio de redes sociais, as amizades eram corpo a corpo, face a face. As turminhas, os encontros nos finais de semanas. As festinhas, os sons nas quadras de esportes, que aos sábados à noite se transformavam em danceterias, as brincadeiras de rua: queimada, rouba bandeira, handball, vôlei... 

O fim da idade industrial e o início da idade da informação. Também chamada de “Década Perdida” na América Latina, por conta da estagnação econômica, em que os países dessa região tiveram um menor desenvolvimento na economia como um todo. Foi um período marcado pelas roupas exageradamente coloridas e excêntricas, do “new wave”, da geração saúde, pelo surgimento da MTV, das primeiras raves, de bandas como The Smiths, U2, A-Ha e também pela consolidação do gênero Heavy Metal, entre outras vertentes. No Brasil, surgiram bandas de rock nacional, muitas delas ainda presentes no cenário musical, como Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Titãs e Ira!, por exemplo. Consolidava-se a MPB, surgida nos anos 60. Michael Jackson fazia um enorme sucesso com seu álbum Thriller. David Bowie, Cindy Lauper, Bruce Springsteen, entre outros artistas de peso, são referências dessa época. Madonna, “material girl”, era musa absoluta do pop. 

Rodando a fita 

Todo mundo queria ter um Walkman, o toca-fitas portátil. 

Nesse emaranhado de coisas que aconteciam nos anos 80 não posso deixar de lado as hoje nostálgicas fitas cassetes, ou K7 para muitos. A produção em massa dos cassetes compactos começou em 1964, na Alemanha. Os primeiros com músicas pré-gravadas foram lançados na Inglaterra, em 1965. Nos Estados Unidos, em 1966, teve uma oferta inicial de 49 títulos, lançados pela Mercury Record Company. A primeira gravação musical nessas pequenas caixas plásticas foi na Inglaterra, em 1978, pela banda The Tights, e continha um único hit: “Howard Hughes”. Mas foi na década de 80 que seu uso foi de fato consolidado, afinal, qualquer banda independente que se prezasse deveria ter uma demo gravada em uma fita K7 para levar às gravadoras e jornalistas. Entre a década de 70 e 90 o cassete era um dos formatos mais comuns para gravação, junto aos LPs (os discos de vinil, também conhecido como “bolachões”) e posteriormente aos [praticamente obsoletos] CDs. 

Apesar da baixa qualidade sonora, geralmente com 60 minutos de duração (já existiram versões de 45 e 90 minutos), o lançamento das fitas cassetes foi uma grande revolução, por difundir a possibilidade de gravar e reproduzir som. O vinil era mais caro, além de mais difícil de transportar e tocar e principalmente para gravar. Por isso mesmo, as fitas cassetes nos deram mais liberdade para sair por aí e ouvir nossas canções favoritas onde bem entendêssemos. E apesar dos primeiros gravadores com áudio da Phillips já serem portáteis, foi a Sony, com sua invenção do “Walkman”, no final dos anos 70, que mais contribuiu para essa explosão do som individual. 

Seu declínio aconteceu já no final da década de 80 e as vendas acabaram sendo superadas pelos – então uma novidade, um avanço da tecnologia digital - CDs nos anos 90. Mas em 2001 os cassetes virgens ainda eram produzidos. Extintas do mercado tradicional, hoje as fitas cassetes saíram de cena e ganharam um ar retrô, virando inclusive item de colecionador. E apesar de serem mais difíceis de encontrar na versão virgem, as velhas fitas cassetes tem se tornado um item cultuado e conquistado novas bandas independentes. Nos EUA, esse movimento foi nomeado de “Cassete Culture” e em um artigo para o site Rizhome, a escritora Ceci Moss diz ter identificado em torno de 101 selos que lançam fitas cassetes atualmente. Bandas conhecidas como Pearl Jam, Foo Fighters e Goldfrapp já aderiram ao movimento e recentemente lançaram trabalhos em cassete. No livro “Mix Tape: The Art of Cassete Culture” de Thurston Moore, o cantor do Sonic Youth reúne artigos e obras de arte sobre fitas cassetes. 

Arte feita com a mídia sucateada é sucesso. Nostalgia que alimenta a criatividade.

Outro fato muito interessante, é que muitas pessoas tem reciclado as fitas K7 e utilizado para a produção de adereços e obras de arte e as utilizando com inspiração para criação de outros. Tais artistas fazem uma nova leitura de um material de mídia sucateado que estaria destinado ao descarte. 

De volta ao passado 

Toca-fitas automotivo. Item incluso em automóveis até 2011, quando foi definitivamente extinto e substituído pelo toca-cd [que não demora muito, será também extinto].

Numa época na qual fazer downloads soaria como algo impensável, não era restrito o contingente que se utilizava de uma fita cassete para registrar a sua música preferida. Muitos chegavam a ficar a postos para gravar a canção executada nas rádios – mesmo que, por vezes, os primeiros segundos fossem perdidos. E se a ideia era gravar o próprio som, nada de computadores ultramodernos: era a K7 que salvava as bandas em demos improvisadas. Em tempos de revival, o pequeno retângulo de plástico, acredite, vem readquirindo status. E bandas de todo o mundo vêm apostando suas fichas nesta tendência. Em homenagem a esta “senhora” de 52 anos, o grupo de rock Metallica, por exemplo, lança, no dia 18 de abril, sua primeira fita demo. 

A edição, claro, será limitadíssima e mantém as mixagens originais de sucessos da cultuada banda de heavy metal. A obra vai ainda contar com a caligrafia do baterista e será vendida no metallica.com. O valor não foi divulgado, mas é bom preparar o bolso. Não bastasse, a nova onda K7 chegou também às trilhas de cinema. No início do mês, a fita cassete do longa-metragem “Guardiões da Galáxia”, batizada “Awesome Mix Vol. 1”, faturou disco de platina nos Estados Unidos. As fitas foram vendidas a U$ 55 – e, atualmente, estão esgotadas. Se havia dúvidas de que a fita K7 não era um bom negócio, alguns selos brasileiros têm provado exatamente o contrário ao investir nesse “velho amigo formato”. No entanto, para fazer a cassete, a proposta da banda precisa dialogar com a estética do formato. 

Som 3 em 1, com tape-deck (toca-fitas) duplo. Tive um modelo desses durante anos. Era top de linha à época de seu lançamento. Detalhe: toca-cds era vendido à parte! 

E aí, será que teremos um revival nostálgico e voltaremos a andar por aí com nossos velhos Walkmans munidos de fitas cassetes com novíssimos sucessos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário