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quinta-feira, 5 de março de 2015

É O APOCALIPSE?

Guerras, catástrofes naturais, terror, indiferença, profetas e líderes para todos os gostos e fins, fome, crises econômicas, epidemias sem cura, fanatismo religioso... Quem mantém-se minimamente informado sobre o que acontece no mundo de hoje não escapa da dura realidade à sua volta. Porém, para muita gente, mais do que tragédias isoladas, os acontecimentos que costuma ocupar as manchetes significam algo muito maior: são sinais do fim dos tempos e da volta de Cristo, eventos profetizados na Bíblia. A uma certa altura, o noticiário pode até se confundir com as palavras de Cristo registradas no capítulo 24 do evangelho segundo Mateus ou ainda com o conteúdo dos livros bíblicos-escatológicos de Daniel ou Apocalipse. Todos estes escritos sagrados apontam para um panorama de instabilidade, crises, tensões e catástrofes que precederiam o desfecho da História.

Sinais dos tempos?


Apesar dos chamados "sinais dos tempos" poderem ser verificados, em maior ou menor intensidade, em diversas épocas, nunca houve a soma de tantos deles como neste último século. O desenvolvimento da ciência, por exemplo, é apontado na Bíblia como parte do panorama do fim. Pois nos últimos 40 anos, o conhecimento e a tecnologia deram um salto que supera, em muito, todo o conhecimento acumulado pelo homem até então. A Bíblia fala também em conflitos - e nenhum outro século foi tão violento quanto o 20, que além de legar ao mundo as duas Guerras Mundiais, assistiu a milhares de outros confrontos. Foi um tempo marcado por genocídios, como o que vitimou os armênios, massacrados pelos turcos em 1915, e o feroz embate entre tutsis e butus em Ruanda, há quase 20 anos, sem falar no pavoroso Holocausto dos judeus. Ao todo, 200 milhões de pessoas morreram nas guerras e seus desdobramentos do século 20.

De acordo com as Escrituras, os tempos do fim seriam caracterizados, também, por pestes de grandes proporções. Identificada nos anos 1980, a Aids já matou, em todo o mundo, cerca de mais de 20 milhões de pessoas. E estima-se que haja, no total, mais de 50 milhões infectados. E o que dizer do surto de ebola na África Ocidental que já dizimou mais de 2.000 mil pessoas e há em torno de 5.000 mil infectadas, nessa que considerada a pior epidemia da História. A fome, outro indício apocalíptico do fim, permanece como ameaça em pleno século 21. Em todo o mundo, quase dois bilhões de pessoas - um terço da humanidade - sofrem com severas deficiências alimentares. Além das desigualdades sociais entre os povos, colabora para a carência na produção de comida as prolongadas secas e devastações climáticas que, periodicamente, afetam as regiões produtivas - e jamais, como nos últimos 100 anos, tantas áreas férteis foram destruídas pela desertificação. O clima anda mudando, e muito no último século, a Terra se aqueceu como nunca dantes. E as catástrofes naturais, como o tsunami que há 10 anos deixou mais de 230 mil pessoas mortas em países do Oceano Índico.

Será dessa vez?


É verdade que já houve diversas ocasiões em que os crentes olharam para o alto no que acreditavam ser a iminência do fim. Desde a Roma do tempo dos apóstolos, quando o imperador Nero perseguiu impiedosamente os cristãos, passando pela peste negra que dizimou populações inteiras na Europa medieval até exemplos mais recentes, como o do nazista Adolf Hitler, que chego a se considerado por muitos como o Anticristo, mutis fatos foram vistos pelos cristãos de então com indício decisivo do Apocalipse. Só que agora, pela primeira vez em 2 mil anos, é possível interpretar quase ao pé da letra várias passagens bíblicas.

Para muita gente, antes de o Messias voltar, haverá uma restauração de Israel. Diversas correntes evangélicas chegam a comparar o povo judeu a uma espécie de "relógio de Deus", cujo destinho desencadeará a sorte do mundo. A própria parábola da figueira madura, contada por Jesus a seus discípulos, é tratada como referência a Israel. Pois bem, para vários grupos que defendem a tese de que vivemos hoje, os últimos dias, a formação do Estado judeu, em 1948, foi o cumprimento dessa profecia, restando agora apenas a restauração espiritual.

Dúvidas desse tipo não são exclusividade dos evangélicos. Periodicamente, surgem as mais diversas previsões e declarações sobre o assunto. Filmes sobre catástrofes e a destruição do planeta Terra são sucesso de público garantido. E não apenas aqueles com temática religiosa, como Deixados para trás, O Apocalipse e Megido. Os que falam de hecatombes como queda de asteróides ou terríveis mudanças climáticas, do tipo Impacto Profundo e O dia depois de amanhã, são campeões de bilheteria. Este último trata de um tema bem contemporâneo: mudanças climáticas repentinas que colocariam o planeta em colapso, com gigantescas inundações devastando países inteiros e o início de uma nova era glacial que tornaria o planeta inabitável. Tem ainda aqueles que fazem alusão à invasão de outros seres para ocupar a terra destruída, como O planeta dos macacos.

Apocalipses para todos os gostos


Para quem gosta do assunto apologético, é bom saber. Apocalipse é um terno grego que significa "revelação". O livro bíblico que leva este nome foi escrito pelo apóstolo João durante seu exílio na ilha de Patmos, que atualmente faz parte do território turco. Ele foi mandado para lá devido a sua pregação cristã. Estima-se que João era bem idoso por volta do ano 95 depois da Era Cristã, quando escreveu o livro. Seus textos proféticos guardam bastante relação com os de Daniel, que também foi incluído no cânon sagrado. Todavia, diversos outros escritos apocalípticos foram produzidos na Antiguidade. Entre os apocalipses judaicos, os mais famosos são I Enoque e o Livro dos Jubileus, escritos nos séculos 3 e 2 a. C. e que gozaram status de obras inspiradas junto às primeiras comunidades cristãs e a grupos como o dos essênios. Contudo, o caráter apócrifo de tais textos fez com que, no decorrer dos séculos, fossem considerados não-inspirados.

No primeiro, o patriarca que, segundo Gênesis, foi tomado por Deus para não ver a morte passeia pelos céus, guiado por um anjo chamado Uriel. Esta entidade teria poder sobre o dia e a noite, além de manter em suas órbitas todos os corpos celestes. Na obra, Enoque tem uma visão na qual observa Deus descendo com dez mil anjos sobre o monte Sinai para comandar o julgamento de todos aqueles que foram infiéis às leis de Deus. Já Jubileus tem a autoria falsamente atribuída a Moisés, que teria recebido a revelação através de anjos quando estava no mesmo monte Sinai. Parece, à primeira vista, um relato refeito da trajetória da humanidade decaída, do Gênesis ao Êxodo. Porém, fala muito sobre o juízo de Deus, com base em sua lei universal, observada até pelos anjos nos céus, e também, de forma esquisita, contra aqueles que teriam deixado o verdadeiro calendário solar para andar de acordo com um corrompido calendário lunar.

Mas são os apocalipses cristãos que causam mais estranheza. Entre os mais famosos estão o Pastor de Hermas e os Apocalipses de Tomé, Pedro e Paulo. Sob forte influência gnóstica, corrente que espiritualizava exageradamente o cristianismo e afirmava ser detentora de revelações especiais, as obras são pródigas em fantasias. No Apocalipse de Pedro, Cristo alerta o apóstolo de que no Juízo Final, uma grande escuridão cobriria o mundo e a água queimaria tudo o que tocasse. Já em Tomé, quem rouba a cena são os anjos que guerreiam entre si em meio a uma chuva de sangue e sete dias de destruição sobre a Terra. Apenas no oitavo dia haveria bonança, com o ressoar de uma voz meiga e doce que finalmente vai libertar os eleitos. Já no de Paulo, não é o número gnóstico 8 que tem importância, mas sim o 10, pois esse seria o número de céus que o discípulo precisaria atravessar para se encontrar com Deus.

Então virá o fim...


Polêmicas e delírios à parte, o fato é que o Apocalipse é algo tradicionalmente envolto em mistérios e que aguça a curiosidade - e o medo! - de muita gente. Penso que mais importante do que confrontar os fatos com o que diz a Palavra, é estar atento à dimensão espiritual do anunciado fim do mundo. Não importa saber exatamente quando. Mas devemos saber que toda a escatologia só tem significado quando cremos que, após tudo passar, a nossa vida eterna de fato começará.

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