O crente pode beber vinho? Esta pergunta há tempos vem sendo feita por muitos irmãos e irmãs. Para variar, tem as variações de posicionamentos. Assim, há uma vertente cristã que acredita não ter problema algum o consumo moderado do vinho (nessa turma há, inclusive, muitos que defendem o consumo de cerveja e outras bebidas alcoólicas) e outra vertente que considera completamente inconcebível o consumo de vinho ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica por cristãos.
Neste artigo vou expor meu posicionamento (com base nas Escrituras), deixando claro que respeito o contraditório, mas não abro mão sob nenhuma hipótese de minhas convicções (elas são inegociáveis) e estou convicto de que ainda que seja lícito (e, segundo a Bíblia, TODAS as coisas nos são lícitas - 1 Co 6:12, 10:23), acredito não ser conveniente ao crente fazer uso de vinho ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica e isto independente de contextos culturais.
A história bíblica do vinho
Segundo informação que consegui obter na literatura consultada, com especial referência para o Dicionário Bíblico de Davis, a “International Standard Bible Encyclopaedia” e o Dicionário de Teologia Bíblica da Bauer, (Edições Loyola) quase toda a bebida alcoólica que se fabricava em Israel era vinho genuíno, vinho de uvas, que eram colhidas maduras e transportadas em cestos para o lagar escavado em rocha, com cerca de 2 a 3 metros quadrados de superfície e 40 a 50cm de profundidade (o local onde Gideão foi encontrado e chamado por Deus - Jz 6:11).
As uvas eram pisadas - e o suco da uva, para empregar a expressão mais utilizada no Brasil, embora o termo mais correto seja o mosto, escorria para uma vasilha ou outro compartimento de menores dimensões. Penso que este sistema se manteve praticamente inalterável há milênios, pois já era assim no antigo Egito, antes de Israel existir como nação. Só nos nossos dias foi alterado, mas quanto a essa parte, o melhor saber o posicionamento de quem sabe, que não são os teólogos, mas os especialistas no assunto, como os engenheiros em alimentação, que afirmam que tal como nos nossos dias, pois as leis da química e da biologia não mudaram, o mosto sofria a fermentação alcoólica, dando origem ao vinho e este, após a fermentação acética dava origem ao vinagre. A palavra grega “oxos”, ou a hebraica “homes”, tanto podia designar vinho como vinagre.
Devo afirmar em primeiro lugar, que não há na Bíblia, passagens didáticas sobre o vinho, que definam com o rigor científico dos nossos dias o que é propriamente o vinho, e as suas características químicas e bacteriológicas, mas vamos fazer referência às várias palavras, quer no hebraico do Antigo Testamento, quer no grego do Novo Testamento.
A expressão mais utilizada, que é traduzida por vinho, é a palavra hebraica “yayin” equivalente à palavra grega “oinos” e à palavra latina “vinus” que deu vinho na nossa língua. Essa palavra aparece em Gênesis 9:21 e 19:32, onde pelos seus efeitos, não há dúvida de que era mesmo vinho que foi consumido descontroladamente.
A palavra “tirosh” que aparece em Números 18:12, Neemias 10:37, Joel 2:24 a maior parte das nossas melhores versões da Bíblia traduziu por mosto ou vinho novo. Na passagem de Joel, não há dúvida de que era mosto, pois se ainda estava transbordando no lagar, certamente que ainda não tinha fermentado. No entanto, nas outras passagens é por vezes traduzida por vinho, ou vinho novo. Outra palavra que aparece por exemplo em Atos 2:13 é a palavra “gleukos”, que a maior parte das nossas versões traduz por mosto.
Penso que ao considerar estas palavras, não podemos ignorar o contexto histórico destes textos. Presentemente, todas as garrafas de vinho, têm a indicação do teor alcoólico que é determinado pelo laboratório de análises da adega cooperativa onde o vinho foi produzido, mas nessa época ainda não havia equipamento para determinar a composição do vinho. Não é de estranhar que apareçam casos intermediários, em que não está bem definido do que se trata. Assim, como classificar o “vinho”, uma semana depois das uvas serem prensadas? Ainda falta muito para ser vinho “oinos”, mas a fermentação alcoólica já se iniciou e já não é o genuíno mosto “gleukos”.
Neste caso, talvez a designação mais correta fosse o “tirosh”, que por vezes é traduzido por vinho novo. Um caso em que há certa indefinição é a passagem que já mencionei em Atos 2:13, pois “gleukos” significa mosto. Mas será que eles poderiam estar embriagados com mosto, o tal suco da uva? Penso que o mais correto neste ponto é a Bíblia de Jerusalém que traduz por “vinho doce” dando a ideia dum início de fermentação alcoólica. Mas não há dúvida de que o vinho velho, já fermentado era o mais apreciado, segundo vemos no próprio evangelho de Lucas 5:39 onde aparece a expressão grega mais utilizada “oinos”.
Uma vez que a vindima está relacionada com a época do ano e se efetua só uma vez por ano, o natural era terem o mosto só nessa época, nos dias em que as uvas eram pisadas, uma vez que ainda não havia a cultura em estufas, para se obter uvas fora da época, nem meios de congelação para conservação do mosto, técnicas que são bem dos nossos dias. Havia também o “mesek” ou “mimsak” que aparece em Salmos 75:8, Provérbios 23:30, Isaías 55:1 que era o vinho misturado com especiarias.
Havia também bebidas alcoólicas fabricadas com outros frutos, que não eram propriamente o verdadeiro vinho de uva, mas produtos da fermentação da cevada (antepassado da cerveja?), da tâmara, da maçã e de outros frutos.
O que a Palavra diz quanto ao consumo do vinho
O que diz a Palavra do Senhor sobre o vinho, o crente poderá tomar vinho ou apenas o embriagar-se é pecado? Vamos para a Palavra. A carta aos Romanos 14.17, exorta:
"O Reino de Deus não é comida nem bebida,mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" - Romanos 14:17. E os versículos 20 e 21 adverte: "Não destruas a obra de Deus por causa da comida. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça" - Romanos 14:20-21. Em 1 Coríntios 6:12, diz: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma."
Daniel se absteve do vinho e do manjar do rei. No livro que leva o seu nome, capítulo 1 versos do 1 ao 9, narra que o rei da Babilônia, Nabucodonosor, determinou a ração de cada dia, da porção do manjar do rei e do vinho que ele bebia, e que assim fossem criados por três anos, para que no fim deles pudessem estar diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias.
E Daniel assentou no seu coração (ou seja, decidiu por deliberadamente, em qualquer coação) não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar. Ora, deu Deus a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.
Amados, eis o exemplo e o testemunho do homem compromissado com Deus. Quem não gostaria de participar do banquete que ao rei é servido e tomar da porção do vinho degustado pela majestade, que, certamente, era o de melhor safra?
Daniel e os seus companheiros, ungidos com a sabedoria que Deus lhes havia ofertado, recusaram a receber da mordomia dispensada ao rei, optaram em se alimentar com legumes em lugar do banquete e a tomar água em lugar do vinho, para não se contaminarem, e foram por Deus, agraciados. Veja em Daniel 1:17 - "Ora, a esses quatro jovens, Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda visão e sonhos."
A preocupação de Daniel, não era contaminar a carne, mas o espírito e as virtudes que de Deus havia recebido, coisas que muitos crentes não têm olhos espirituais para ver, e quando tem essa percepção, acabam por desprezar a Palavra, e buscar o prazer na comida e na bebida e nas coisas deste mundo, abandonando a santificação e a purificação da alma para a vinda do Senhor Jesus. Porém, o Reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, paz e alegria do Espírito Santo.
O nascimento de João Batista A Palavra em Lucas 1:13-15, conta que apareceu um anjo a Zacarias, pai de João Batista e disse-lhe: "Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, desde o ventre de sua mãe" [grifo meu].
O vinho das Bodas de Caná
Mas muitos dirão: 'Jesus não só transformou água em vinho, como Ele próprio tomava vinho'. Correto, então vamos meditar contextualmente na Palavra. João 2.1-10, descreve a Palavra que Jesus e os seus discípulos, participavam de umas bodas, na cidade de Caná, e acabado o vinho, Disse-lhes Jesus: "Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho."
Amados, meditem, qual a matéria prima usada na transformação do vinho? Certamente ÁGUA. E aquele bom vinho produzido pela glória do Senhor é igual a esses que se comercializam por aí, com alto teor alcoólico? Certamente não, Jesus não iria oferecer um vinho que viesse a embriagar ('contaminar', como disse Daniel), porque todos os atos do Senhor eram obras do Espírito Santo, milagres e maravilhas que ao homem comum é impossível realizar.
Jesus, a Fonte da Água da Vida Eterna - A água que Jesus referia-se, não é a água natural de símbolo químico H²O, mas a água que tem a consistência de Espírito e Vida, pois em João 7:37-39, disse Jesus: "Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. E quem crê em mim, como diz a escritura, rios e de água viva correrão do seu ventre." Isso disse Ele, do Espírito que haviam de receber os que nele cressem, porque o Espírito Santo ainda não havia sido manifestado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.
O Cálice da Ceia, o sangue do Novo Testamento - O próprio Jesus revelou que tomava vinho (Lucas 7:34), entretanto, precisamos observar que a Palavra fala do vinho e da bebida forte. E os vinhos produzidos hoje, todos são bebidas fortes, pois embriagam. Considere que na primeira ceia (Mateus 26:27, 28), enquanto comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: 'Tomai, comei, isto é o meu corpo.'
Semelhantemente, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: 'Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados'. E no versículo 29 deste mesmo capítulo de Mateus, Jesus refere-se ao cálice como fruto da vide (Marcos 14:25 e Lucas 22:18).
Então perguntamos: O vinho que Jesus tomava seria porventura o mesmo vinho alcoólico que é servido hoje nas ceias? Ou o vinho dos botecos que muitos crentes apreciam e julgam correto degustá-lo? Jesus disse aos seus discípulos: 'Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento.' Irmãos, porventura o sangue aspergido na cruz, que Jesus escreveu o Novo Testamento, poderia conter algum teor alcoólico?
Podemos afirmar com toda certeza que o vinho usado por Jesus nessa ocasião não era fermentado. Esta afirmação é irrefutável na Bíblia pelo seguinte: Desde a primeira cerimônia da páscoa não devia haver fermento em nenhum compartimento da casa (Êxodo 12:15), porque este era o símbolo do pecado. E, se os pães asmos não podiam conter fermento como o próprio nome indica, é fácil concluir que o vinho também não podia ser fermentado.
Tanto o vinho da ceia como o das bodas em Caná da Galileia não eram fermentados, porque Jesus jamais aceitaria partilhar daquilo que é tão fortemente condenado na Bíblia. Muitas igrejas cristãs tradicionais, conservam o costume de usar o vinho sem fermento para simbolizar o sangue de Cristo, oferecido por nós na cruz, para remissão de nossos pecados.
Por esta razão concluímos que o vinho usado pelo Senhor trata-se do MOSTO, que significa: O MOSTO (do latim mustum = 'novo', 'jovem') ou seja, conforme visto anteriormente, trata-se do sumo de uvas frescas obtido antes que passem pelo processo de fermentação.
Vinho novo e sem álcool, ou seja, antes da fermentação o qual é usado para atingir o grau alcoólico desejado. Mosto pode ser também o suco de qualquer fruto. E para tanto, o Apóstolo Paulo recomendou a Timóteo: 'Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades' - 1 Timóteo 5.23.
Amados, qual a propriedade medicinal do vinho para as doenças estomacais e outras enfermidades? Todos sabem que o vinho e toda bebida alcoólica neutraliza o efeito dos medicamentos, e principalmente para o problema estomacal, o vinho é altamente agressivo a essa enfermidade.
Outra prova incontestável que o vinho recomendado a Timóteo não era vinho comum com teor alcoólico, é o descrito na primeira carta a Timóteo (3:3), ocasião em que Paulo lhe ordenou estabelecer presíteros nas igrejas, mas um dos quesitos para o presbitério, era não ser dados ao vinho.
Entretanto, não há contradição alguma na Palavra, basta recebermos o Evangelho de Cristo com discernimento pelo Espírito Santo de Deus, vamos meditar:
Pedro 1:20, 21 - "Sabendo primeiramente isto, que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo."
Mas se o irmão entende que não há problema ingerir uma pequena quantidade de vinho, sem embriagar-se, faça uma avaliação, tome um pequeno cálice de vinho, saia dirigindo o seu carro e faça um teste no etilômetro da polícia, só para ver o resultado final.
Meu irmão, se o uso da bebida é reprovável pela lei do homem, imagine então o conceito do Senhor Deus sobre isso? Vinho é bebida alcoólica tanto quanto as demais, mas alguns 'irmãozinhos' tentam justificar-se dizendo que tomar um copinho de vinho, eventualmente uma cervejinha, não tem problema. Talvez um cigarrinho, ou um adulteriozinho, e outros pecadinhos.
O que precisamos nos conscientizar que para Deus não há pecadinho e nem pecadão. Não é a quantidade, e sim o caráter pecaminoso dos atos praticados. Pecado é abominação ao Senhor e encerrou. O que passar da verdade que Cristo nos ensinou é de procedência maligna.
Portanto, o vinho recomendado por Paulo a Timóteo, com toda certeza não era o comercializado nas gôndolas dos mercados, mas o vinho semelhante ao transformado por Jesus nas bodas de Caná, maravilha que veio para honrar e glorificar o Nome do Pai, à qual deu início inúmeros milagres pelas poderosas mãos do Senhor Jesus, porque Deus era com Ele. Amém!
"Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros no amor de Cristo" - Gálatas 5:13
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