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terça-feira, 6 de outubro de 2015

"NÃO TORNE O QUE É EXTRAORDINÁRIO EM ALGO COMUM" #1

Inicio aqui uma série especial de artigos com o tema "Não torne o que é extraordinário em algo comum". Buscarei registros nas Escrituras onde homens e mulheres, ministros e ministras de Deus, levaram muito à sério a essência dessa frase tão importante. Que aprendamos com eles a não tornar o que é extraordinário em algo comum.

#1 - Salmo 137 - Porque as harpas foram penduradas no salgueiro?


"E se eu cantar quizer
Em Babylonia sujeito,
Hierusalem, sem te ver,
A voz, quando a mover,
Se me congele no peito;" 
Luis de Camões

Ao longo de séculos de hermenêutica, de mimésis e criatividade poética (Camões ou San Juan de la Cruz) sobre o Salmo 137 – na Septuaginta indicado como da autoria de Davi –, não chegamos a descobrir a verdadeira razão que está diante dos nos nossos olhos no verso imortal “Nos salgueiros que lá havia [na Babilônia] pendurávamos as nossas harpas”. Porquê?

Levou-se tanto tempo a pensar que as harpas nos salgueiros eram como frutos que estiveram sempre lá, ou porque os hebreus perderam a inspiração, a Fé, a religiosidade judaica, a destreza da criatividade musical, ou por uma razão meramente social, porque estavam a fazer greve de zelo contra os opressores.

Mas as harpas estavam penduradas quando eram preciso que estivessem.

Não vou pendurar-me na discussão do tempo verbal – o pretérito imperfeito –, mas sim, na atitude resultante do pedido profano dos babilônios. A expressão de uma consequência inevitável.

A razão está no próprio texto poético do salmo:

“...pendurávamos nossas harpas (…) pois [ou porque] os que nos levaram cativos nos pediam canções”.

Do ponto de vista da teologia do Velho Testamento, está aqui espelhado o exclusivismo judaico, a rejeição da mistura, da aculturação no plano religioso-espiritual.

No campo da sintaxe, quer nas versões em português, quer no grego (óti, no início do verso 3 da referida Septuaginta) ou no hebraico, a conjunção “porque” está a ligar a frase e a justificar a ação precedente.

Mas os cânticos de Sião eram sagrados, e se entoados, seriam o canto do Senhor em terra estranha. E o respeito pelas coisas sagradas, jamais poderia conduzir os hebreus a conspurcar o Nome de Deus nas terras do exílio.

Em última análise, poderemos aceitar que se tratou de uma greve de zelo espiritual, por causa da beleza santificada dos Cânticos.

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