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domingo, 29 de março de 2015

EVANGELHO CORPORATIVO

Desde o Éden, o homem tenta negociar com Deus um projeto de vida boa, em vez de simplesmente viver para a sua glória e alegria - objetivos para os quais foi criado. E isso não é diferente hoje, especialmente pelos "profissionais" da religião que são detentores dos saberes e mistérios sagrados e imaginam possuir a legitimidade de intermediários de Deus. Criaram um evangelho com nuances corporativistas onde o ter vem em detrimento do ser. Inseriram uma linguagem capitalista onde as cifras são as bases dos sermões, que se assemelham cada vez mais com palestras. Seguindo a ordem natural dos fatos, as igrejas cada vez mais se parecem com empresas. São mensagens que apresentam o céu não como o paraíso celestial, mas como rentável paraíso fiscal.

As realidades espirituais e materiais da vida acabam se tornando bens simbólicos, mercadoria, objeto de barganha. O ministro religioso tradicional usa o seu senso profético para intimidar o fiel que não contribui para a igreja e até para se dá ao luxo de chamá-lo de ladrão, mas também mostra um sinal de esperança admoestando-o de que, se der o dízimo ou a contribuição, Deus retribuirá em dobro e ele receberá chuvas de benesses celestiais. Ao final, você paga 10%, fica com 90% e, por tabela, acaba ainda recebendo uma premiação. Um excelente negócio com Deus. Se der, ganha; se não der, será castigado.

O ministro religioso não-tradicional, que utiliza a lógica e a racionalidade do mercado, é mais marqueteiro, pois só fala de benefício. Quem ainda não acreditou na sua mensagem é um "cliente" em potencial e precisa ser tratado com cortesia. O ministro não-tradicional é como um despachante de Deus aqui na Terra. A técnica de fidelização segue um roteiro: primeiro, mostra-se ao fiel em potencial que ele tem um problema grave, um "encosto" ou algo semelhante,, e que a vida dele poderá ser muito melhor caso filie-se àquela comunidade - e, logicamente, pague a "taxa de adesão". Será "benção pura, sem mistura."

Satisfação garantida ou sua fé de volta


Os testemunhos duram cerca de 10 minutos (para não cansar o "freguês") e são divididos em duas partes, como os anúncios de clínicas estéticas e de emagrecimento (comparação plausível, uma vez que o importante é nesse contexto é o externo) - o antes e o depois. Bênção garantida ou a fé de volta. Não dá para devolver o dinheiro, pois já entrou no "caixa de Deus" e com ele ninguém pode brincar. A fé é devolvida, pois se não funcionou é porque o fiel não a teve no tamanho (isto é, no valor) suficiente. Então, precisa dar mais.

A revelação progressiva das Escrituras indica no Novo Testamento que, em vez dos míseros 10%, Deus quer o 100% de nossa vida, e não apenas de nosso dinheiro (Lucas 9:23 - já tratei disso em outro artigo (http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2015/03/miseravel-dizimo-que-dou_25.html). Assim a contribuição ao seu Reino e à igreja não deve ser objeto de ameaça ou de negociata com o Senhor, mas fruto de alegria, conforme 2 Coríntios 9:7, resultado de um coração cujo senso de realização advém de uma vida inteiramente depositada no altar. A contribuição é produto de uma vida consagrada e não um meio de produzir a vida consagrada.

Se o foco for nos 100%, a vida toda está incluída; assim, por que também não dedicar o "dízimo" da profissão atendendo pessoas carentes, por exemplo? A nossa alegria deve vir apenas tendo alimento e abrigo (roupa e moradia), em vez de ficarmos querendo mais e mais de Deus  1 Timóteo 6:8

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