"Porque os que servirem bem como dácono adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus" (1 Tm 3:13)"
Há sempre o que fazer na casa de Deus e por isso a presença dos diáconos é fundamental na estrutura eclesiástica. Surgido nos tempos do Novo Testamento, o diaconato foi instituído para contornar uma dificuldade na estruturação da Igreja primitiva. De acordo com o livro de Atos, logo após a morte de Jesus a pregação dos apóstolos levou milhares de pessoas à conversão, trazendo para o seio da comunidade cristã uma série de demandas espirituais e materiais. Os líderes resolveram, então, designar "homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria" para que cuidassem do sustendo da Igreja e do cuidado com os pobres, liberando os apóstolos para dedicação exclusiva à oração e ao ensino da Palavra. Mas alguns diáconos, como os jovens Estêvão - que muitos pensam erroneamente que tenha sido um homem velho (estudos mostram que Estêvão tinha entre 20 e 30 anos quando morreu) - e Filipe, foram muito além das tarefas estritamente práticas e até hoje são lembrados como heróis da fé.
A palavra diácono é originada do termo grego "diakonos", que pode ser encontrado cerca de 30 vezes no Novo Testamento. Em todas elas, sempre ligada à ideia do serviço, geralmente no sentido de atender ou serventes. Além disso, termos conexos, como diakonia (ministério) e diakoneo (servir ou ministrar), também são citados nas Escrituras. O termo diaconia refere-se ao serviço cristão, especialmente em sua função social e beneficente. Já o diaconato, no sentido amplo, designa as mesmas funções enquanto exercidas por oficiais das igrejas.
Os "diáconos" do Antigo Testamento
Se o termo diácono só aparece claramente definido no Novo Testamento, a prática de se separar pessoas para atuar de maneira destacada no meio do povo de Deus vem de mais longe. Na verdade, a Igreja não criou esse ofício. Ele já era observado desde o Antigo Testamento. Conforme a descrição do livro do Êxodo, quando Deus tirou os hebreus do Egito, determinou que os órfãos, as viúvas e os estrangeiros não fossem desamparados. E vemos que é essa a função do diácono, considerando suas implicações contextuais.
A maioria dos crentes costuma ver no diácono uma espécie de "faz tudo" da igreja - o que, pelo que se vê, não deixa de ser verdade. Mas é claro que, por exercer uma função que lhe dá poderes sobre os outros irmãos, o diácono sempre caminha sobre o fio da navalha - ele jamais deve abusar de sua autoridade (sim, ele a tem), mas também não pode se omitir, mesmo que suas recomendações não sejam exatamente agradáveis. Em tom jocoso, que expressa um desrespeito absurdo aos irmãos que exercem o ministério, corruptela de um trecho bíblico, circula por aí no meio evangélico: "Resisti ao diácono, e ele fugirá de vós."
Distorções e diversidades
Desrespeito à parte, há ainda muitos que "são feitos" diáconos como um "estágio" para ser um pastor. Não há nenhum respaldo bíblico, por menor que seja, de que base para essa prática. Em alguns círculos evangélicos, inclusive, ser um diácono é considerado um ofício "inferior". Outro absurdo, pois, conforme as Escrituras, todos os ministérios são importantes e fundamentais para a edificação do Corpo de Cristo, logo, nenhum é mais ou menos importante que o outro e todos devem ser exercidos em linha com a vontade de Deus e com o intuito de agradá-lO. Ou seja, para Deus, tanto o diácono quanto o pastor têm o mesmo valor.
Embora seja adotado por praticamente todas as igrejas evangélicas - e também pela igreja católica -, a natureza e as atribuições do ofício diaconal variam muito de denominação para denominação, sendo que uma das mais rigorosas aos critérios de escolha e capacitação destes obreiros é a da Igreja Metodista do Brasil.
Se, durante muitos anos, o cargo de diácono era exclusivamente de homens, de uns tempos para cá isso tem se flexibilizado. Hoje, são poucas as igrejas que não aceitam o serviço feminino no ministério diaconal. Embora não haja no Novo Testamento, precedente bíblico de mulheres que tenham exercido a função, cada vez mais grupos evangélicos têm diaconisas.
Outra diversidade é em relação ao estado civil do candidato ao ministério. Há denominações que só ordena casados, outras já ordenam candidatos solteiros ao oficio diaconal.
Diáconos e heróis da fé
Estevão, personagem do Novo Testamento, é considerado, com justiça, o "pai" dos diáconos. Ele foi um dos primeiros homens escolhidos pela liderança da Igreja primitiva para cuidar das necessidades do povo - ou "servir às mesas", para usar a expressão bíblica. A curta, porém marcante, história de Estêvão está narrada no livro de Atos. Pouco se sabe sobre sua vida anterior à ordenação ao diaconato, mas o que chama a atenção é que, segundo as Escrituras, ele era um homem cheio do Espírito Santo, piedoso e conhecedor da Palavra de Deus.
Designado ao diaconato junto com outros seis homens - Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau -, Estevão não tinha limitações no seu serviço. Era também um pregador eloquente e fazia "prodígios e grandes sinais entre o povo", conforme o capítulo 6 de Atos. Foi justamente pelo zelo evangelístico que atraiu contra si feroz oposição. Uma de suas mensagens sobre o Reino de Deus acendeu a fúria dos ouvintes que, confrontados com seu pecado resolveram matá-lo por apedrejamento. Em seu martírio, Estêvão teve uma visão do céu, com Jesus de pé, à direita do Pai. O diácono morreu clamando o perdão de Deus a seus algozes, entre os quais estava Saulo, que mais tarde se tornaria o mais célebre dos apóstolos.
Outro diácono do Novo Testamento, Filipe, também não se limitou às tarefas do dia-a-dia da Igreja. Homem consagrado a Deus, ele foi orientado pelo Espírito Santos a seguir pelo caminho que ligava Jerusalém a Gaza. Na estrada, aproximou-se correndo da caravana de um alto oficial etíope, eunuco, que lia trecho do livro de Isaías sobre Jesus. Convidado pelo etíope - um homem importante a ponto de administrar os tesouros de sua rainha -, subiu ao carro e usando as palavras do profeta, pregou o Evangelho com tamanha unção que o eunuco creu e quis ser batizado ali mesmo, à beira do caminho. Após descerem à água, Filipe foi arrebatado pelo Senhor, deixando o eunuco maravilhado com o poder de Deus.
Conclusão
A essência do ministério cristão é justamente o serviço. E o diácono foi chamado para desdobrar-se em serviços a Cristo e sua Igreja. Essa função é um ofício e um ministério. O ofício é uma ocupação que exige um grau mínimo de habilidade. E o ministério é um trabalho, ou função eclesiástica, exercido por aqueles que são biblicamente ordenados (At 6:6). Assim como os apóstolos haviam sido chamados para auxiliar a Jesus, foram os diáconos separados para dar assistência aos apóstolos e pastores.
Convém a eles entender que, embora ministros, jamais devem ignorar a autoridade que tem o pastor sobre todos os ministérios; reconhecerem sempre a verdadeira dimensão do seu cargo e estarem sempre a disposição do seu pastor. As qualidades diaconais são requisitos imprescindíveis que tornam o obreiro apto a exercer o ministério de socorro. (1 Tm 3:1-13). Antes de a igreja separar um obreiro ao diaconato, é necessário conhecer sua reputação. Se não for bem conceituado diante da igreja e do ministério, que não seja aceito (1 Tm 3:10).
O diácono deve estar preparado para resolver qualquer problema que surja durante uma programação. É necessário interagir com os colegas, e com o pregador, desempenhando sua função com o máximo de eficiência, garantindo o conforto e segurança dos membros e visitantes e da igreja, e, principalmente, estar espiritualmente atento. Saiba que servir a mesa do Senhor não é apenas um dever e também não desonra a ninguém, antes, além de um privilégio, é uma honrosa alegria.
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