Para quem não viveu fora do planeta Terra nos últimos 60 anos, o nome de Elvis Presley é referência obrigatória em música. Astro maior do showbiz mundial numa época em que celebridades não eram fabricadas pela mídia e os artistas se valiam pela fama genuína, o mítico cantor americano foi um dos principais protagonistas da revolução de costumes que marcou as décadas de 1950 a 60. Elvis, que completaria 80 anos em 2015 - ele morreu em 1977, em condições até hoje insuficientemente esclarecidas -, é uma das mais conhecidas personalidades da história contemporânea. O que nem sempre é dito é que Elvis Aaron Presley era também evangélico, ao menos por formação. E crente pentecostal, para ser mais exato, já que foi criado pela família na igreja Assembleia de Deus. Ele passou toda a infância e adolescência ouvindo hinos de louvor e aprendendo as Escrituras. Aparentemente paradoxal para alguém que foi tido como ousado, transgressor, rebelde e profano, a fé protestante foi um traço que marcou a vida e a trajetória do ídolo.
Item de fã e colecionador, este é o exemplar de uma Bíblia de estudos que pertenceu ao Elvis por 20 anos
A espiritualidade do rei do rock até hoje é alvo das mais diversas especulações. Seria Elvis um homem genuinamente convertido ao Evangelho? Teria mantido uma vida aos pés de Cristo, apesar de seu envolvimento com as coisas do mundo, como se diz no jargão dos crentes? São perguntas que até hoje, passados 38 anos de sua morte, ninguém consegue responder. O fato inegável é que a experiência evangélica marcou a carreira do rei do rock.
Nasce o mito
Nascido em 8 de janeiro d 1933, na cidadezinha de Tupelo, Mississipi, sul dos Estados Unidos, Elvis Aaron Presley era filho de um casal de operários muito pobres. Suas primeiras lembranças eram dos cultos que a família frequentada assiduamente. Tempos difíceis, em que os únicos momentos de enlevo em meio à dura rotina não só para os Presley, mas para toda aquela comunidade formada por caipiras e negros, eram as celebrações na igreja. Educado na rigidez protestante da época, o pequeno Elvis conheceu a Bíblia e aprendeu todas as canções de cor. O garoto ficava fascinado com os spirituals e blues dos vocais negros. Foi ali que ele arriscou os primeiros acordes no violão e começou a desenvolver sua voz, tentando imitar os coristas. Acabaria sendo melhor que todos eles. Elvis Presley teve uma carreira meteórica. Em 1953, com apenas 18 anos, sua genialidade foi descoberta. Naquele ano, ele teve seu primeiro sucesso, That's all right, tocado em todas as rádios dos Estados Unidos. O ritmo musical e o estilo de Elvis eram novidade na época. Foi da fusão do blues, jazz, country e spiritual que nasceu o ritmo que marcaria a segunda metade do século 20: o rock'n roll.
Sobe e desce
Ao mesmo tempo que influenciava o público com as mensagens cristãs de suas músicas, Elvis Presley vivia numa dicotomia, pois seu comportamento e atitudes eram considerados profanos demais. Em pouco tempo, atraiu a oposição enfurecida da Igreja da época. Pais protestantes, escandalizados com aquela "dança do demônio" - as quebradas das escadeiras que lhe valeram o título de "Elvis, the pelvis" - proibiram seus filhos de assisti-lo ou mesmo de ouvir suas canções pelo rádio. Pastores estimulavam os fiéis a queimar os discos em praça pública. Por volta de 1967 - o ano em que eu nasci - a carreira de Elvis deu uma guinada para baixo. Suas músicas já não empolgavam, e o artista estava mais envolvido em projetos duvidosos como os filmes que protagonizou no papel de mocinho cantante - que só vieram a ser sucessos após sua morte. Por outro lado, as vendagens de seus discos despencavam à medida que artistas como os Rolling Stones e os Beatles estouravam nas aradas. A contracultura, então no apogeu da trilogia "sexo, drogas e rock'n roll", preferia astros mais transgressores do aquele "filhinho de mamãe" que cantava aquelas músicas recheadas de romantismo e mensagens de fé em Deus. Foi quando fez a magnífica produção de How great thout art, outro disco gospel que lhe rendeu o Grammy por causa de sua perfeita interpretação da canção título, conhecida aqui por Quão grande és tu.
Aquele ano de 1967 foi marcado também pelo seu casamento com Priscila, que duraria até 1973 e lhe deu sua única filha, Lisa Marie (aquela, que nos anos 80 "se casou" com o outro rei, o do pop, Michael Jackson, também morto). Com a popularização da TV, Elvis passou a ser o que hoje se chamaria de artista global. Seus shows encantavam fãs em todos os continentes. Todavia, os anos 70 trariam a decadência do mito. Foi uma fase conturbada de sucessivos eventos, badalações, shows mal-sucedidos, estresse, noites mal dormidas e uso descontrolado de medicamentos. Elvis tornou-se um consumidor voraz de antidepressivos, barbitúricos, controladores de pressão e remédios para dormir. A hipocondria mudou até seu aspecto. Antes celebrado pela beleza e porte atlético, o astro engordou 50 quilos e se tornou uma figura patética. Depressivo e só, passou a viver recluso em Graceland, sua mansão cinematográfica em Memphis, ignorando a idolatria que o mundo lhe devotava - sentimento que, aliás, ele sempre fez questão de desestimular. "O único rei que existe é Jesus Cristo", dizia aos fãs mais afoitos.
Elvis [não] morreu(!?)
Elvis Presley morreu no dia 16 de agosto de 1977. A notícia chocou o mundo e provocou comoção nacional nos Estados Unidos. Nos seus últimos momentos, Elvis vinha lendo o livro A procura científica pela face de Jesus, numa sugestiva metáfora do que possivelmente lhe passava pela alma. Em todo o caso, dadas as devidas proporções, quem repete o bordão "Elvis não morreu" não está, de modo algum, mentindo. Afinal, o mito permanece vivo através de sua extensa obra e até hoje continua polêmico, sobretudo quando o assunto é sua espiritualidade. Muita gente insiste em afirmar que Elvis pagou com a alma o preço da fama. A fama o teria impedido de viver uma vida cristã produtiva e feliz. Será?
Conheça a discografia gospel de Elvis Presley
Elvis gravou 11 discos de música gospel ao longo de sua carreira, entre compactos e LPs, além das dezenas de álbuns produzidos após sua morte:
- His hand in mine - 1960, álbum;
- Crying in the chapel / I believe in the Man in the sky - 1965, single;
- Milky White way / Swing down Sweet Chariot - 1966, single;
- Peace in the valley - 1967, compacto duplo;
- How greath thou art - 1967, álbum;
- You'll never walk alone / We call on Him - 1968, single;
- His hand in mine / How greath thou art - 1969, single;
- He touched me - 1972, álbum;
- He touched me / Bason of Abraham - 1972, single;
- If you talk in your sleep / Help me - 1974, single.
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