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terça-feira, 24 de março de 2020

FILMES QUE EU VI — 56: "O POÇO", DA NETFLIX

O filme sobre o qual vou escrever no capítulo 56 da série especial de artigos "Filmes Que Eu Vi", me foi sugerido por meu grande e amado amigo de longa data — somos amigos desde antes mesmo de nossa caminhada cristã —, o pastor Alexandre de Jesus, da Igreja Batista da Lagoinha do bairro Estoril, aqui em Belo Horizonte.

Eu já havia ouvido falar sobre o filme, antes mesmo do seu lançamento pela plataforma de streaming. Já tinha lido umas críticas sobre ele. Desde a época de seu lançamento, lá no início do ano, mas, de início, ele não me despertou o interesse.

Contexto técnico


Lançado em 21 de fevereiro de 2020, na Espanha, o thriller produzido especialmente para a Netflix, o filme "O Poço (The Platform)" é dirigido pelo novato cineasta Galder Gaztelu-Urrutia. De origem hispânica. O filme vem colecionando prêmios pelos poucos festivais em que foi apresentado. Ele recebeu o prêmio do público da seção Midnight Madness do Festival de Toronto. Foi lá que a Netflix notou o filme e ofereceu a sua distribuição internacional.

Os executivos da Netflix gostaram tanto que queriam fazer de "O Poço" um de seus produtos "originais". No entanto, recusaram a proposta. Isso porque o filme já tinha pais, além de serem financiados com dinheiro público.

O Festival Internacional de Sitges tem sido o ponto culminante desde que recebeu o prêmio de melhor filme do concurso. Além disso, levou os prêmios de melhor nova direção, os melhores efeitos especiais e até o prêmio do público.

Há neste filme, cujo lançamento na Netflix, ocorreu no último dia 20, algo que talvez só os serviços de streaming, em tempos de coronavírus, possam oferecer. Tivesse sido lançado nos cinemas, há grande possibilidade de o longa passar desapercebido no circuíto comercial. Dificilmente ele teria grande visibilidade e provavelmente ficaria restrito ao circuito mais independente. 

Entretanto, distribuído em uma plataforma popular e de espectro mundial, o filme ganha notoriedade e vira assunto de debates por sua forte alegoria e pelo final subjetivo para o qual talvez não haja uma explicação exata.

Sinopse 

Contém spoilers


Um dia, Goreng acorda com seu futuro colega Trimagasi, no 33º andar de uma prisão, atravessada por um buraco onde uma plataforma desce com a refeição, restando dos inquilinos de níveis mais altos. Trimagasi conhece as regras que governam esse lugar misterioso: duas pessoas por nível e um número desconhecido delas. Se você subir, sobreviverá... mas pense demais e descerá novamente. Se você estiver no fundo, onde mal chega a comida, não poderá confiar em ninguém, exceto em suas entranhas. 

A guerra de classes é destilada em uma alegoria genial e brutal em "The Platform", onde uma prisão vertical prova que a riqueza, simplificada neste caso como comida, não escorre dos poucos primeiros para os muitos que sofrem no local inferior.

Aqueles nos níveis mais altos deleitam-se em um banquete diário, enquanto o resto dos detentos fica com as sobras. Quanto mais baixo você estiver, menos provável haverá algo na plataforma flutuante que carrega a louça. A cada mês, os sobreviventes acordam em um andar diferente, e mesmo aqueles que suportaram o horror do abismo se tornam opressores quando experimentam o sabor da abundância. O individualismo ganancioso retratou sua forma mais perturbadora.

Em meio às violências e canibalismo, os escritores David Desola e Pedro Rivero (criador da sombria joia animada "Birdboy: As Crianças Esquecidas") apresentam um agente de mudança, Goreng, o "messias", (Ivan Massagué — em uma brilhante interpretação), um novo participante do experimento social perverso que mistura criminosos com cidadãos regulares prometeram uma recompensa. A ambiguidade moral investiga o melhor e o pior da condição humana a todo momento.

O design visual do conceito oportuno faz sua tese filosófica sobre os ricos e os que não têm uma notória nitidez, pois nos arrasta para uma atmosfera ferozmente sinistra. Formidável do ponto de vista técnico, "The Platform" prospera com design de produção efetivamente grotesco e efeitos terríveis que chocam e repugnam com o propósito.

"Obviamente" — embora nada seja, de fato, óbvio —, responde Trimagasi (Zorion Eguileor), um companheiro de cela assustadoramente desonesto a todas as suas perguntas sobre a mecânica desse pesadelo, como se o status quo fosse absoluto e imutável. Goreng acredita o contrário, mas sabe que não existem revoluções pacíficas. 

Algo mais do que uma crítica social


Falar que o filme nos remete a uma crítica sobre a luta de classes, fazendo uma alusão à pirâmide social, quando temos as pessoas que estão nos andares superiores e são privilegiadas à despeito das que estão nos andares inferiores que sobrevivem dos restos dos de cima e têm que literalmente lutar para isso — fato que pode ser interpretado, por exemplo, nas perturbadoras cenas de canibalismo — é muito óbvio. 

Há simbologias em todos os cantos de "O Poço" — do exemplar de "Dom Quixote de La Mancha", clássico literário de Miguel de Cervantes, lido e carregado por Goreng aos números dos andares. Há, é claro, uma narrativa funcional, que prende o expectador, mas o principal é o conteúdo — não adianta cobrar lógica ou uma explicação para o que se vê na tela , cabe apenas analisar. Como o próprio protagonista diz em determinado momento, o que importa é a mensagem. Por "mensagem", neste caso, o que cada expectador extrai de toda a alegoria do filme.

Contudo, nós, espectadores, somos conduzidos (ou seria manipulados?) pelo olhar do protagonista Goreng, um sujeito que chega ao posto um sujeito que chega ao poço sem saber ao certo do que se trata. Cabe ao velho Trimagasi, seu companheiro de nível, ensinar a ele como funciona o local. O idoso canibal está ali a mais tempo e já passou por diversos níveis e já faz parte do ecossistema nocivo do Centro Vertical de Autogestão, conforme é chamado o tal poço, por sua administração. 

O que me preocupou no roteiro do filme, foram as entrelinhas, os detalhes que, se não forem vistos com bastante atenção, podem passar batido e o filme, então, conseguir o seu verdadeiro intento: um anúncio ao governo do anticristo. Isso mesmo. Não estou viajando e nem espiritualizando nada. Os que me conhecem, sabem que não sou desses.

Além da distorcida citação bíblica de João 6:52-56, justamente numa das cenas de canibalismo, o que por si só já é uma enorme heresia e de uma descomunal blasfêmia a um dos pilares de sustentação da fé cristã: a celebração da Ceia do Senhor. Detalhe: um dos pontos principais da trama é justamente a disputa pela alimentação.

A blasfêmia pode ser identificada até mesmo nas expressões faciais dos atores envolvidos na sequência, sendo que um deles — Goreng, o protagonista que seria "comido" pelo outro — é até chamado de "messias". 

Sob esse prisma, há ainda o grande enigma dos níveis. A dupla para ascender era preciso chegar ao fundo do poço — uma explícita alusão ao inferno — e isso, só seria possível após passarem por um teste de sobrevivência, onde manifestações de egoísmo e solidariedade, eram o estopim para uma disputa violenta e com o derramamento de muito sangue.

Temos ainda a manipulação que é feita através da administração, que usa o artifício da mentira, do engano como suas principais ferramentas, uma outra clara referência ao governo do anticristo. 

O mais intrigante no filme é justamente final, que, inclusive é aberto, deixando uma margem para a leque de interpretações aos seus telespectadores. O número do último nível na inóspita prisão é: 333! Observe: 333 vezes 2, que é o número de pessoas por nível, teremos: 666 (Apocalipse 13:18).

O número da besta


Há os que enxergam nesse número apenas um simbolismo da imperfeição humana. Assim, o número da besta seria só o número do homem, ou seja, do homem terreno, em contraste com o divino, mas também significa a imperfeição e a rebelião contra Deus. Satanás sempre quis imitar a Deus. 

Como o número de Deus é sete, o número da perfeição, o inimigo de Deus também terá seu número. Enquanto Deus marca nas testas de seus servos o seu nome, a besta deixará sua marca naqueles que a servirão, significando que o anticristo procurará chegar à perfeição, mas sempre ficará aquém dela.

A "mensagem"


Passando pelos níveis, o protagonista se depara com os pecados capitais personificados. Há outros personagens que cruzam seu caminho, cada um com seu próprio significado e sua própria função para que a trama (e Goreng) entregue sua mensagem, por isso que realmente importa em "O Poço" é a "mensagem". 

No final do filme, aparece a intrigante personagem de uma menina, no nível 0, que seria a portadora de uma "mensagem", "mensagem" essa, que na verdade, era carregada pelo personagem principal, o Goreng (o "messias"). Um personagem que só ele vê, cuja função, ou seja, a de passar a mensagem, acaba por se confundir.

Conclusão


"O Poço", adianto, não é uma obra que entrega ao espectador uma conclusão satisfatória, ou uma interpretação única — por isso, te oriento, fuja de qualquer texto (e tem vários na internet) do tipo "entenda o final" ou "final explicado" e afins, tirando assim, suas próprias conclusões, conversando com seus amigos, de acordo com o entendimento que teve. Foi justamente o que fiz com o texto desse artigo, que em absoluto, é cabal, mas sim, uma livre interpretação, de acordo com o entendimento que tive.

Admito que, no momento, é impossível averiguar as identidades desses diabólicos personagens, pelos motivos já expostos. Quanto às interpretações mencionadas neste artigo, é praticamente inútil tentar abordar, ainda que por alto, todos os aspectos ou analisar suas contradições.

Uma coisa é certa, filme "O Poço", é tecnicamente perfeito sob todos os aspectos — roteiro (David Desola, Pedro Rivero), direção, elenco (Ivan Massagé, Zorion Eguileor, Alexandra Masangkay, Antonia San Ruan, Emilio Buale..., cenário e iluminação (John D. Domingues), trilha sonora (Aranzazu Calleja) — entretanto, está longe de ser apenas o que sugere, uma crítica social, mas sim uma subliminar referência ao governo do anticristo. 

Este filme, assim como muitos outros (e também séries), é uma prova de que devemos estar atentos ao conteúdo produzido e distribuído pela Netflix, que tem atraído a muitos — inclusive, crentes, especialmente o público mais jovem: tem promovido e anunciado o que? Fica a pergunta para nossa reflexão. 
"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai" (Filipenses 4:8).
[Todas as fotos — crédito: Netflix / Divulgação]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

Um comentário:

  1. Como eu disse, indiquei para a pessoa certa. Amei o artigo, muito bom mesmo. Parabéns, meu prezado amigo, ótimo.

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