Quando eu recebi exemplar do livro "O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão", do autor Andrew Solomon, que me foi emprestado por uma psicóloga, amiga e irmã em Cristo, pensei que eu tinha confundido a obra com outra, por causa do seu título que pode sugerir ser um romance de ficção, de terror, mas ela logo me disse:
"Léo, este livro é sobre depressão e, para você que lida tanto com pessoas, acredito que possa te ajudar".
E ajudou mesmo. O livro é muito bom.
Não julgue um livro pelo seu "tamanho"
Em primeiro lugar, não deixe o número de páginas te assustar. Do total, o conteúdo vai até a página 584, sendo as outras páginas com as notas e referências utilizadas pelo autor para compor o livro.
Outro ponto bacana é o índice remissivo no final, possibilitando ao leitor encontrar com facilidade os assuntos que mais chamaram sua atenção na obra.
Recomendo a leitura linear, e a utilização do índice só após conclui-la, pois mesmo o texto sendo dividido em capítulos, todas as partes estão inter-relacionadas.
Ah, o fato de o livro ser de autoria de um escritor depressivo parece dar mais credibilidade e sensibilidade, além de torná-lo mais interessante, graças às inúmeras referências literárias de manifestações depressivas em romances e poemas, e da sua pesquisa – Andrew Solomon entrevistou várias pessoas com depressão e especialistas, além de citar vários estudos sobre a doença.
Minhas considerações
Por que eu gostei tanto do livro? Porque apesar de não ter depressão e por nunca ter lido um livro tão completo assim. Pelo menos cumpre o que se propõe.
Muitas obras se focam muito em um só ponto ou você percebe que o autor está só enchendo linguiça, principalmente quando usam aqueles vocabulários técnicos aos quais só entendem os especialistas (e olhe lá), todavia, Solomon levou cinco anos para escrever o livro, e durante esse período teve que lidar com suas próprias crises depressivas e limitações que a doença mental provocou nele.
Só de o escritor ter terminado o livro foi uma vitória e é, sem dúvidas, uma demonstração de que com paciência, esperança, apoio e tratamento é possível manter a depressão sob controle – ou o mais perto disso –, sem perder tanta qualidade de vida.
Andrew Solomon dedicou o livro ao pai dele, por tê-lo ajudado durante suas crises depressivas que ficaram mais fortes após a morte da mãe.
Apesar de minha recomendação sobre ler o livro do início ao fim, em ordem, através do sumário e dos títulos de cada capítulo dá para saber qual é o ponto principal abordado em cada um deles. São eles:
- Depressão;
- Colapsos;
- Tratamentos;
- Alternativas;
- Populações;
- Vício;
- Suicídio;
- História;
- Pobreza;
- Política;
- Evolução e;
- Esperança.
Sobre o autor
Nascido no dia 30 de outubro de 1963, Andrew Solomon é um ativista LGBT, escritor sobre política, cultura e psicologia.
Ele vive em Nova Iorque e Londres, com o companheiro e o filho adotado por eles. Seu livro "O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão" ganhou o National Book Award em 2001, foi finalista do prêmio Pulitzer em 2002 e foi incluso no Times como um dos cem melhores livros da década.
Solomon é um desses autores que escrevem sobre sua própria realidade em um exercício de exorcismo de seus demônios interiores.
Obcecado pelos temas de seus livros, busca o conhecimento já produzido pelo homem sobre aquele assunto e tenta condensar em um livro que, não raro, ultrapassa facilmente as 500 páginas.
Dentre todos, o mais pessoal e o mais diretamente assertivo é, sem dúvida, "O Demônio do Meio-Dia...", em que trata de uma doença que transformou completamente a sua vida: a depressão.
Partindo de sua própria experiência – Solomon, que mergulhou em uma depressão profunda que tem origens em episódios de infância e em alguns aspectos familiares, adquiriu comportamento suicida e tentou dar fim a sua vida algumas vezes –, o autor tenta elucidar alguns aspectos dessa doença misteriosa cujos pacientes sofrem principalmente pelo preconceito.
Esse, aliás, foi um dos motivadores para a produção do livro, segundo o autor: retirar o tabu que há sobre a depressão e entende-la como uma doença.
"Acredito que a dor precisa ser transformada, não esquecida; contrariada, não suprimida",
diz em sua introdução.
Dessa forma, entrevistou diversas pessoas e não escondeu suas identidades, e tampouco relativizou o que aconteceu a si próprio.
Conta de suas experiência de risco, fazendo sexo sem proteção com completos desconhecidos em locais públicos para tentar contrair AIDS e poder cometer suicídio por causa da doença, sabendo que seus familiares nunca se perdoariam caso ele tirasse a própria vida apenas por causa da depressão, e conta como o apoio de familiares e a assistência médica foi importante nessas situações.
Em cada capítulo, trata de um aspecto diferente da doença, como tratamentos convencionais e alternativos – fazendo aqui uma defesa ampla de todos eles, inclusive de tratamentos controversos como o eletrochoque –, os sintomas mais comuns em cada caso, a distribuição da depressão em diferentes populações e a história da descoberta da doença na civilização. Todos eles sempre pontuados por histórias reais, quando não a sua própria.
Conclusão
Embora completo para leigos, "O Demônio do Meio-Dia..." peca ao ser superficial em diversos capítulos, e ao tentar explicar de maneira simplista os processos químicos e os efeitos farmacológicos no sistema nervoso, passa a sensação de que a profundidade do livro acaba junto com a curiosidade do autor sobre aquele tema.
Contudo, o livro traz informações preciosas sobre vários aspectos da doença mental, além de contribuir com o conhecimento.
Recomendo a leitura de "O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão", para todos aqueles que lidam diariamente com a doença, seja por ter depressão ou por conviver com pessoas depressivas.
A obra consegue manter um tom positivo, mesmo diante dos inúmeros relatos tristes, do próprio autor e dos entrevistados.
Ficha técnica:
- Editora: Companhia Das Letras
- Número de Páginas: 584
- Idioma: Português
- Tradutor: Campello, Myriam
- Ano da Edição: 2014
- Autor: Solomon, Andrew
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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