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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

EPÍSTOLAS PASTORAIS - 13: A GRAÇA DE DEUS E SEUS [E]FEITOS

"Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo;  
O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras. 
Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo,
que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador" (Tito 2:11-14; 3:4-6).
Chegamos ao final de mais uma série especial de artigos. Este momento deve ser uma oportunidade para analisar os passos educativos dados até aqui. Avalie o seu aprendizado. Você cresceu espiritual e culturalmente? São perguntas que só você pode fazer e buscar as respostas com muita humildade. 

O meu objetivo com essa série, que, na verdade, é um estudo bíblico, sempre será uma tarefa inacabada, pois sabemos que poderíamos dar mais, ensinar melhor e prover conhecimentos que fazem sentido à vida dos nossos leitores. Aproveite esse tempo para refletir mais conscientemente a sua prática educativa, seu aprendizado. 

Neste último capítulo da série estudaremos a respeito da graça divina. A graça de Deus é a mais extraordinária manifestação do seu amor para com a humanidade. Mas esta só pode usufruir os benefícios desse recurso divino, se reconhecer o seu estado miserável, em termos espirituais, e converter-se mediante a aceitação de Cristo como Salvador.


I. A manifestação da Graça de Deus


Nas Escrituras, a graça de Deus se manifesta como "graça comum", "graça salvadora", "graça justificadora e regeneradora" e "graça santificadora". Vamos entender cada uma dessas manifestações.

1. A graça comum


Graça vem da palavra hebraica hessed, e do termo grego charis, cujo sentido mais comum é o de "favor imerecido que Deus concede ao homem, por seu amor, bondade e misericórdia". A partir dessa conceituação, podemos ver a "graça comum", pela qual Deus dá aos homens as estações do ano, o dia, a noite, a própria vida, ou seja, todas as coisas (Atos 17:25b).

O conceito de "graça comum" precisa ficar muito bem entendido. Se trata de uma abordagem eminentemente da teologia reformada. É uma tentativa de se responder uma questão angustiante observada na existência dos santos, bem como observou o salmista Asafe (Salmo 73). Se o salário do pecado é a morte, por que as pessoas que pecam não morrem imediatamente e não vão definitivamente para o inferno, mas desfrutam de bênçãos incontáveis na terra? 

Ainda, como pode Deus dispensar bênçãos a pecadores que merecem apenas, e somente, a morte, mesmo as pessoas que serão condenadas para sempre ao inferno? 

Neste contexto é que a doutrina da "graça comum" traz uma resposta bíblica acerca da questão. É uma graça pela qual Deus dá aos seres humanos bênçãos ou dádivas inumeráveis que não fazem parte da salvação. Ou seja, não significa que quem as recebe já é salvo. A base bíblica para esse entendimento é a graça manifestada por Deus na esfera física da vida (Gênesis 3:18; Mateus 5:44,45; Atos 14:16,17); na esfera intelectual (João 1:9; Romanos 1:21; At 17:22,23); na esfera da criatividade (Gn 4:17,22); na esfera da sociedade (Gn 4:17,19,26; Rm 13:3,4); na esfera religiosa (Mt 7:22; Lucas 6:35,361 Timóteo 2:2).

Ou seja, não é porque o mal reinante no ser humano é fruto do pecado original que ele fará somente obras más. Não, a Graça de Deus opera em todos os homens e faz com que eles façam coisas boas também.

2. A graça salvadora 


"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" (2.11). 
Está à disposição de "todos os homens", mas só é alcançada por aqueles que creem em Deus, e aceitam a Cristo Jesus como seu único e suficiente Salvador. Por intermédio dela, Deus salva, justifica e adota o pecador como filho (João 1:12).

3. Graça justificadora e regeneradora


A Graça de Deus é a fonte da justificação do homem (Romanos 3:21-26). Uma vez nascida de novo, a pessoa passa a ser "nova criatura" (2 Coríntios 5:17), tomando parte na família de Deus: 
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus" (Efésios 2:19).

4. Graça santificadora


A graça de Deus só pode ser eficaz, na vida do convertido, se ele se dispuser a negar-se a si mesmo para ter uma vida de santidade. A falta de santificação anula os efeitos da regeneração e da justificação. Diz a Bíblia: 
"Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hebreus 12:14).

II. A conduta do salvo em Jesus

1. Sujeição às autoridades (v.1)


O cristão sincero deve obedecer aos governantes e autoridades constituídas, desde que estes não desrespeitem a Lei de Deus. Jesus mandou dar "a César o que é de César" e "a Deus o que é de Deus" (Mt 22:21).

2. O relacionamento do cristão (v.2) 


Aqui, vemos quatro comportamentos éticos, exigidos dos cristãos. Vejamos
  • a) Não infamar a ninguém - É pecado muito grave caluniar alguém, seja na igreja, seja fora dela. É passível de sanção judicial ou condenação na justiça humana. Muito mais, na Lei de Deus. Normalmente, a infâmia é ditada com intenção de prejudicar o outro. O cristão deve cultivar o fruto do Espírito da "benignidade", que é a qualidade de quem só faz o bem (Gálatas 5:22).
  • b) Não ser contencioso - Contendas nas igrejas geralmente têm resultados muito prejudiciais. Infelizmente em algumas reuniões, até mesmo de ministros cristãos, vemos pessoas contendendo umas com as outros, por causa de interesses políticos ou pessoais. Isso não agrada a Deus (2Tm 2.24).
  • c) Ser modesto - A modéstia deve ser evidente na vida de homens e mulheres cristãos. Revela a simplicidade exortada por Jesus, em seu evangelho: 
"Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt 10:16).
  • d) Mostrar "mansidão para com todos os homens" - Deve ser característica marcante, do servo de Deus, ser “manso e humilde de coração”, como Jesus ensinou (Mt 11.29). Além de não ser interessante a contenda, no meio cristão, o crente precisa ser
"manso para com todos, apto para ensinar, sofredor" (2 Tm 2:24b).

3. A lavagem da renovação do Espírito Santo (v.3) 


Vivíamos entregues ao pecado e longe de Deus, mas Cristo nos salvou e nos purificou. Como novas criaturas não temos mais prazer no pecado. Observe, a seguir, algumas características, segundo Paulo que caracterizam o homem que vive segundo a carne:
  • a) Insensatez - Refere-se à velha vida, plena de loucura, imprudência, leviandade e incoerência, que leva muitos à perdição eterna. Na parábola das dez virgens, Jesus chama a atenção para as cinco "loucas" ou insensatas, que não se preveniram com o azeite para esperar o noivo (Mt 25:1-13). Jesus também falou sobre o homem "insensato", que edifica sua casa sobre a areia (7:26). O desastre espiritual torna-se inevitável.
  • b) Desobediência - A desobediência foi o primeiro pecado cometido pelo homem (Rm 5:19). E desde então é a "mãe" de todos os pecados, cometidos, em todos os tempos (11:30), por aqueles que são "filhos da desobediência" (Ef 2:2; 5:6; Colossenses 3:6).
  • c) Extravio - Sem Deus, sem a salvação em Cristo, o homem é um perdido, como ovelha sem pastor (Mt 9:36). É uma situação difícil e por vezes desesperadora. Mas é feliz quem faz como o "filho pródigo", que tomou a decisão sábia de retornar humilhado à casa do pai, onde foi recebido com amor e misericórdia (Lc 15:18-24).
  • d) Servindo a "várias concupiscências e deleites" - Outra tradução fala de "paixões e prazeres", que dominam a vida do homem sem Deus. Os deleites da carne impedem que o homem se converta a Deus de verdade, sufocado pelos "espinhos" da vida (8:14). As concupiscências da vida, ou os desejos exacerbados da carne são impedimento para uma vida de santidade e fidelidade a Jesus (1 Pedro 4:3; Jd 16).
  • e) "Vivendo em malícia e inveja" - Malícia é sinônimo de maldade, perversidade, malignidade, o que não deve fazer parte da vida cristã (Ef 4:31; Cl 3:8); a inveja é outro sentimento indigno para um cristão sincero. A inveja é 
"a podridão [o câncer] dos ossos" (Provérbios 14:30).
  • f) Odiosos, odiando "uns aos outros" - A "lavagem da regeneração do Espírito Santo" nos faz "justificados pela sua graça e herdeiros da vida eterna" (3:4-7). João adverte-nos ao dizer que 
"qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna" (1 Jo 3:15).
No Antigo Testamento, só era homicida quem matasse alguém com algum tipo de objeto perigoso. No evangelho da graça de Deus, é homicida quem, no coração, odeia o seu irmão.

A natureza da política


A conduta do salvo em Cristo deve mostrar sujeição às autoridades legalmente estabelecidas. A essência da política é a luta por poder e influência. Todos os grupos e instituições sociais precisam de métodos para tomar decisões para seus membros. A política nos ajuda a fazer isso. 

A palavra grega da qual política é derivada é polis, que significa 'cidade'. Política no sentido clássico envolve a arte de fazer uma cidade funcionar bem. Também ajuda a administrar nossas organizações e governos. Quando nosso sistema político é saudável, mantemos a ordem, provemos a segurança e obtemos a capacidade de fazer coisas como comunidade que não poderíamos fazer bem individualmente. 

Votamos as leis, fazemos a polícia impô-las, arrecadamos impostos para estradas, sistemas de esgoto, escolas públicas e apoio nas pesquisas de câncer. Em nossas organizações particulares, um sistema político sadio nos ajuda a adotar orçamentos, avaliar pessoal, estabelecer e cumprir políticas e regras e escolher líderes. No melhor dos casos, a política melhora a vida de um grupo ou comunidade. 

A política toma uma variedade de formas, como eleições, debates, subornos, contribuições de campanha, revoltas ou telefonemas para legisladores. Como vê, alistei maneiras nobres e ignóbeis de influenciar as decisões de um sistema político. Algumas delas são formais, como as eleições, ao passo que outras são informais, como telefonar para vereadores, deputados e senadores e pressioná-los a votar do nosso modo.

III. As boas obras e o trato com os hereges

1. A prática das boas obras (v.8)


Praticar boas obras faz parte do dia a dia do servo ou da serva de Deus. 
"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2:10). 
Quem está em Cristo tem prazer em praticar aquilo que é bom e agradável ao seu próximo e a Deus.

2. Como tratar com os hereges (v.10)


Paulo ensina que devemos evitar os falsos mestres, não nos envolvendo em suas discussões tolas. Muitas vezes acabamos discutindo e dando uma atenção demasiada aos ensinos que são contrários a Palavra de Deus.

Dos versículos 8 a 10, o apóstolo expõe sobre a prática das boas obras e como se deve tratar os "falsos mestres".

A segunda proibição que Paulo faz é contra os facciosos, aqueles que causam divisões por meio de discordâncias. 
"Depois de uma e outra admoestação, evita-o"
ou seja, tente ajudá-lo corrigindo o seu erro através de advertências ou aconselhamento. Tais inimigos só devem ter duas chances e então devem ser evitados.

A razão pela qual o "herege" deve ser rejeitado é justamente esta; em sua divisão, "tal" homem demonstra que 
"está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado". 
Ao persistir em seu comportamento divisor, o "falso mestre" tornou-se pervertido ou "continua em seu pecado", deste modo "se auto condenando". Isto é, por sua própria persistência no comportamento pecaminoso, condenou a si mesmo, colocando-se de fora, sendo consequentemente rejeitado por Tito e pela igreja”.


Conclusão


A graça de Deus é a fonte da salvação do homem. É favor jamais merecido por qualquer pessoa, e manifesta o seu amor e sua benignidade para com o pecador. Essa graça é manifestada "a todos os homens", mas só é eficaz, na vida de quem aceita a Cristo como Salvador pessoal.

Um dia, estávamos mortos em nossos delitos e pecados; separados de Deus, em completa iniquidade, aguardando o justo julgamento de juízo de Deus para nós (Ef 2:2,3). Andávamos segundo o curso deste mundo, um mundo sem Deus, onde os seus valores e pensamentos opõem-se frontalmente aos valores e os pensamentos de Deus. Éramos filhos da desobediência, esta, por sua vez, operava em nós as obras da carne, segundo as astúcias do príncipe das potestades do ar.

Quem guiava a nossa mente e coração não era o Espírito de Deus, mas os desejos da nossa carne. Fazíamos o que bem entendêssemos. Buscávamos somente preencher as pulsões da carne, o vazio da alma e o desejo do coração com as coisas materiais e ilusórias. Éramos integralmente hedonistas! Para nós, a felicidade resumia-se na saciedade do prazer.

Éramos, por natureza, filhos da ira, igualmente como tantos outros o são hoje. 
"Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus" (Ef 2:4-7).
Hoje, a nossa situação mudou radicalmente. O Deus rico em misericórdia e de um infinito amor por nós, os pecadores deliberados, mortos em ofensas, graciosamente nos "vivificou", fez-nos reviver para a vida: tudo isso foi pela graça. Não foi por mérito nosso, pois se fosse por mérito, pelo mérito merecíamos o inferno.

Mas pela graça Ele mudou o quadro da nossa situação. Graça não tem o porquê?! Graça é aceitar livremente e espontaneamente a bondade, a misericórdia e a infinitude do amor de Deus, 
"porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2:10).
Deus, o nosso Pai, por intermédio de Jesus Cristo, o seu Filho, é o autor da salvação. Por isso, a graça da Salvação é obra somente de Deus. É Graça de Deus! Ser humano nenhum, que se intitule representante de Deus, tem o direito de dizer quem vai e quem não vai para o inferno. Ele não tem esse poder. Só quem conhece o coração do homem é Deus e sua própria consciência. Sejamos livres na plena Graça de Deus! A nós, é o que basta!

[Fonte: PALMER, Michael D. Panorama do Pensamento Cristão. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2001, p.447; Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.1515]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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