"Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei..." (Gênesis 12:1)
Este artigo é baseado na mensagem que ministrei no culto desse domingo, 17, na igreja onde congrego. Na ministração, usei como base expositiva a história do profeta Neemias, mas aqui, mostrando o quanto o tema é biblicamente versátil, eu usarei a história de outro famoso personagem hebreu: o patriarca Jacó.
Identificando a zona de conforto
Você já ouviu falar que o crescimento pessoal só acontece fora da nossa zona de conforto? Isso é a mais pura verdade! Não só o pessoal, mas o espiritual também. E é sob o cerne espiritual que irei abordar o tema. Todos nós temos uma área em que nos sentimos seguros física, emocional e espiritualmente. Uma das características mais comuns entre cristãos de sucesso é a capacidade e a determinação de sair de sua zona de conforto e ampliar os seus limites constantemente.
É claro que não há nada errado com as pessoas se sentirem felizes na sua zona de conforto. Isso é uma opção. Muitos pensam que a zona de conforto está composta por todas aquelas situações agradáveis que nos rodeiam e que trazem prazer à vida. A verdade é que não é assim. A zona de conforto é composta por todas as situações, boas e más, às quais estamos acostumados e que descrevem nossa rotina. Essa rotina nos evita questionar, pensar, tomar decisões.
A inércia está alicerçada na zona de conforto
Esse é o único conforto que procuramos: o de nos movermos por inércia. A zona de conforto é como essa bolha na qual nos resguardamos para que tudo siga igual. Ainda que nos queixamos e acreditemos que está insuportável, seguimos assim por medo, e isso facilmente se converterá em hábito.
Existem alguns sinais que ajudam a identificar que a sua zona de conforto pode estar atrapalhando. Aqui estão algns deles:
- Autocrítica exagerada;
- Estresse excessivo;
- Falta de motivação;
- Ansiedade;
- Desculpas constantes;
- Um exercício ministério estagnado, infrutífero ou em declínio.
Sair da zona de conforto, um desafio a todos, aceito por poucos
Este precisa ser bem trabalhado a fim de dar uma melhor ênfase no assunto dada a necessidade vista na realidade do meio evangélico atual. Portanto, esta será a minha contribuição sobre o assunto.
Refletindo estes últimos dias, estava me perguntando por que se tem enfatizado tanto a temática do Compromisso nos últimos anos entre os cristãos. Pode-se dar uma resposta rápida a este questionamento: Enfatiza-se a temática de Compromisso entre os cristão, porque estes estão descompromissados.
Mas a questão vai mais além. Se é assim, porque os cristãos estão descompromissados? Falta de apoio? De quem? Da liderança, do ministério e/ou seus membros? Dos conselheiros das sociedades? Das federações que não dão a assistência necessária? Seria um pouquinho de cada um?
Talvez não seja falta de apoio, e sim falta de preparo desses cristãos. Mas quem deveria dar esse preparo? Isso não estaria relacionado a falta de apoio? Apoio de quem? E aí voltamos aos mesmos questionamentos.
Consideremos então que seja um problema de natureza espiritual. Muitos cristãos estão descompromissados porque não querem buscar a Deus, nem orar, nem ler a Bíblia. Contudo, porque eles não querem? Não existiria algo que os impeça de buscar a Deus? Ou será, então, que não existe cristãos que oram, leem a Bíblia e continuam a estar descompromissados?
Pode-se eliminar todos os tipos de questionamentos e simplesmente dizer que isto é um problema de cada um. Mas existem duas falhas nesta justificativa: primeiro, se é um problema de cada um, isto não exclui o fato de que há um problema, e não responde o questionamento existente; segundo, não existe problema de cada um num contexto de igreja. Inclusive, este foi o entendimento do profeta Neemias (1:5-7). Nela, a prática é uns aos outros e não cada um por si.
Pode-se dizer, neste ponto, que é perda de tempo ficar se perguntando onde está a causa dos descompromissos dos cristãos. Parece melhor arregaçar as mangas e trabalhar ativamente em prol do reino de Deus. Esqueçamos o blá, blá, blá. Vamos para a ação! Entretanto, não adianta batalharmos sem termos uma causa, isto é, sem entendermos o motivo da batalha. E é esta a minha tese: Os cristãos estão descompromissados porque se esqueceram que foram chamados para sair de sua zona de conforto. A minha tese, portanto, vai mais além: Ser cristão é sair da zona de conforto.
Então, o que seria sair da zona de conforto? Vamos responder este questionamento, com base em Gênesis, capítulo 12, versículo 1. Ao mesmo tempo, as respostas encontradas servirão para detectarmos alguns aspectos que são indispensáveis para a compreensão do que seria sair da zona de conforto.
Sair da zona de conforto é crer na soberania divina
Em Gênesis 9:25-27, Noé, ao pronunciar a benção e a maldição, parece colocar o nome do seu filho Sem em superioridade sobre seus irmãos ao afirmar que o SENHOR é o Deus de Sem. Não que Ele não já fosse, o SENHOR É O DEUS de Sem antes daquele episódio. Portanto, Deus já estava com Ele. Jafé participaria desta benção estando do lado do irmão, ou seja, habitando nas tendas de Sem. Já Canaã, seria servo dos dois irmãos.
De fato, Deus chama Abrão, que é um descendente de Sem, conforme Gênesis 11:10-32. Mas por que Abrão? Lembro de alguém que eu conheci quando fiz meu primeiro seminário teológico, o qual é descendente legítimo de Árabes. Ele é simpático ao evangelho, mas demonstra muita relutância sobre o velho testamento. Por que Deus escolheu Israel? Por que Isaque? Por que Abrão? Talvez isto se deve a relutância que os árabes têm em relação aos judeus.
Mas vamos pegar o questionamento dele e estendê-lo mais um pouco. Podemos ampliá-lo para trás (Por que não Terá? Por que não Naor? Por que não Serugue? Por que não Réu? Etc.), para frente (Por que Moisés? Por que Josué e não Calebe? Por que Davi? Por que Elias? Etc.), e ainda ampliá-lo para uma forma mais geral: por que Deus escolhe algumas pessoas e outras não? Esta é uma das objeções dos que rejeitam a predestinação. Entretanto, creio que o texto que pode nos ajudar a responder esta pergunta será Romanos 9:19-23:
"Tu, porém, me dirás: 'De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: "Por que me fizeste assim?"'
Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"
Aqui Paulo responde ao fato de que nem todos os de Israel serem salvos. Sua resposta é muito simples: Deus é soberano, e faz tudo o que conforme lhe apraz, e nós não temos o direito de que questionar qualquer decreto promulgado por ele.
Portanto, Deus chamou Abrão porque assim o quis. Se não quisesse, não o faria. Esta visão de um Deus soberano pode até ser falada por todos os cristãos, mas não é demonstrada pela nossa vida. É bom lembrar que ideias só são demonstradas por resultados quando há convicções por quem as segue. Crer em um Deus soberano significa colocar nossas vidas a sua vontade, e não a nossa.
Outro fato no nosso texto que evidencia a soberania de Deus é o que Ele fala no começo do versículo: "SAI!". Não se trata de um pedido. O verbo sair está no imperativo. Deus não pede para Abrão considerar a possibilidade de sair da terra de seu pai, porém ele ORDENA que Abraão saia. Isto é imperativo! E somente um Deus soberano tem este poder sobre toda e qualquer criatura. Se nós somos os eleitos de Deus, não temos escolha: temos que sair da nossa terra, da nossa zona de conforto.
Sair da zona de conforto é abandonar aquilo que nos afasta de Deus
Em Gênesis 31:19 mostra o momento em Raquel furtou os ídolos de seu lar antes de acompanhar seu marido Jacó em sua fuga. O pai de Raquel era Labão, filho de Rebeca filho de Naor, irmão de Abraão. Este texto nos dá uma evidência de que a família de Abraão era idólatra (embora eles parecessem conhecer ao SENHOR também, conforme Gênesis 24:31)
Desta forma, Deus resolve agir tirando de Abraão tudo aquilo que pudesse afastá-lo de Sua presença. Mais do que isto, Deus resolve tirar tudo aquilo que trazia qualquer segurança a Abrão. Observe que Deus fala do ambiente Macro para o micro. Saia da tua terra – o lugar onde estava; da tua parentela – as pessoas que quem com ele estava; e da casa de teu pai – os seus familiares mais chegados. Ou seja, adeus segurança.
Desta forma, Deus tomou providências para que Abrão não pusesse as coisas do mundo acima das coisas dEle. Mas infelizmente, os cristãos têm colocado as coisas do mundo acima das coisas de Deus. Muitos continuam presos a vida de pecado, se perturbando a cada dia, e ainda gerando mau exemplo para aqueles que não são cristãos.
Eu creio que não existe melhor arma para descompromissar pessoas de uma igreja do que o pecado. Há um caso de uma igreja que foi durante muito tempo cheia, viva e ativa em sua aparência. A vanglória por isso era evidente. Entretanto, tudo estava sobre um teto de vidro. Quando algumas verdades vieram a tona, ele quebrou.
Descobriu-se que o presbítero tão prestativo, traía sua mulher quando ia a congregação, que a dinâmica líder dos adolescentes, ficou grávida, fruto de uma vida promíscua, mas velada, etc. E com isso e muitas outras coisas, toda a galerinha que estava no oba-oba da igreja se foi. Afinal, a brincadeira já não fica tão divertida quando se acaba o conto de fadas.
Descobriu-se que o presbítero tão prestativo, traía sua mulher quando ia a congregação, que a dinâmica líder dos adolescentes, ficou grávida, fruto de uma vida promíscua, mas velada, etc. E com isso e muitas outras coisas, toda a galerinha que estava no oba-oba da igreja se foi. Afinal, a brincadeira já não fica tão divertida quando se acaba o conto de fadas.
Realmente precisamos acabar com as histórias da carochinha! Chega de jogar nossos pecados pra debaixo do tapete! Chega de vida dupla! Chega de falsa santidade! Quando Lutero iniciou a reforma, ele pensava em uma igreja mais pura, mais viva, mais igreja. No final da sua morte ele disse
"Somos todos vermes".
É verdade! Se não considerarmos que não somos miseráveis pecadores não entenderemos o sentido de sair da zona de conforto.
Conta-se que depois deste período, esta igreja nunca mais foi a mesma, mas que já mostra sinais de recuperação. Amém! Por mais doído que seja, precisamos expurgar nossos tumores.
Sair da zona de conforto é ter uma fé com convicção
O lugar para o qual Abrão iria seria onde Deus o mostrasse. Logo, ele não sabia para onde iria. O texto de Hebreus 11:8 diz que pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber onde ia. Mas que fé seria essa? O versículo deste mesmo texto nos ajuda:
"Ora a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (versículo 1).
Seria essa fé cega? De maneira nenhuma! Uma vez que a certeza e a convicção desta fé estão baseadas no Deus soberano.
É esta a fé a qual Abrão tinha. O versículo 4 de Gênesis 12, simplesmente fala que partiu, pois, Abrão como lhe ordenara o SENHOR.... Ele não hesitou, nem deu justificativas. Pelo contrário, ele creu e esta crença estava fundada na convicção de que Deus é o todo-poderoso, e na certeza de que ele cumpriria as suas promessas.
Certa feita, fui convidado para pregar em uma igreja, num congresso de missões. Quando comecei a falar sobre o evangelho e o propósito missionário, notei um certo "desconforto" pelos meus ouvintes. Ao final, eu fiz o seguinte apelo: quem aqui não tiver certeza da sua salvação, saia do seu lugar e venha até a frente. No início, como era de se esperar, ninguém veio. Até que um diácono da igreja teve a coragem e puxou a fila.
Quando aquele homem foi à frente, a cena me apavorou. O povo foi saindo do seus lugares - equipe de louvor que havia acabado de cantar, líderes de crianças, líderes de jovens... Eu levei um susto com aquela cena. Como a liderança de uma igreja que estava realizando um seminário de missões poderia ter dúvidas quanto a sua própria salvação? O pastor da igreja, coitado. Colocou as duas mãos no rosto e ficou, obviamente, extremamente constrangido. Mas não foi essa minha intenção, muito pelo contrário.
Mas que fé era a que aquelas pessoas diziam querer levar aos outros? Se dissermos que temos fé e não tivermos certeza da nossa salvação, estamos mentindo para nós mesmos! Foi esta certeza que Deus nos garantiu em Cristo. Se você não tem certeza da sua salvação, é bom repensar se você tem fé, pois fé sem convicção não é fé.
Para finalizar gostaria de expor a promessa de Deus revelada a Abrão de forma mais clara através de Gálatas 3:6-14:
"É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: 'Em ti, serão abençoados todos os povos.'
De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão. Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro ), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido" (grifo acrescentado).
A benção de Abrão chegou a nós através de Cristo. Mas para que ela abençoe a outros, precisamos sair da nossa zona de conforto. Isso significa pagar o preço, levar a nossa cruz, sofrer açoites, sermos cuspidos na cara, sermos odiados por quem nós mais amamos, encarar nossos pecados de frente, enfrentar os principados e potestades. Ou fazemos isso, ou sinto em dizer que a tendência é desaparecer da face da terra.
Conclusão
Para concluir, no cristianismo genuíno não existe zona de conforto e sim zona de confronto. Se você nunca sai da sua zona de conforto, está sabotando as suas chances de sucesso na sua vida espiritual e, consequentemente, de uma vida mais feliz. Não tenha medo de experimentar coisas novas em nenhum aspecto da sua vida. Você vai descobrir que tem muito mais capacidade e coragem do que pensava. E, ao enfrentar cada desafio, você terá pela frente uma vida muito mais excitante e gratificante. Ponha isso em prática! Você não tem nada a perder – e tudo a ganhar.
Saia já de sua zona de conforto. Você não tem escolha.
Reflexão
"Pérolas são produtos da dor; resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou grão de areia. Na parte interna da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar.
Quando um grão de areia a penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando.
Uma ostra que não foi ferida, de modo algum produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada. O mesmo pode acontecer conosco. Se você já sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? Suas ideias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Você já sofreu o duro golpe do preconceito? Já recebeu o troco da indiferença? Então, produza uma pérola" (Rubem Alves).
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
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