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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

DISCOS QUE EU OUVI - 38: "ACÚSTICO: A REVOLUÇÃO ESTÁ DE VOLTA", KATSBARNEA

No 38º artigo da série especial Discos Que Eu Ouvi, vou falar do disco mais ousado na carreira da banda de "rock cristão" Katsbarnea. Quando na época do seu lançamento, esse disco foi muito elogiado inclusive por críticos musicais que não são consumidores contumazes do segmento cristão, como o famoso e polêmico Régis Tadeu, conhecido pela acidez de suas críticas.


Quem é a Katsbarnea


A primeira formação do Kats
Katsbarnea é uma banda brasileira de "rock cristão", formada na cidade de São Paulo em janeiro de 1988, tendo quase trinta anos de atividade.

O auge de seu sucesso se deu no final da década de 90 e no início da década de 2000, ao lado de outros grupos musicais do segmento que se destacavam como Oficina G3, Catedral, Fruto Sagrado e Resgate.

Fundada no fundo de uma igreja árabe por Brother Simion, Paulinho Makuko, Marcelo Gasperini e Tchu Salomão, o grupo já vendeu mais de meio milhão de cópias no Brasil. Em 1990 a banda venceu o FICO - Festival Interno do Colégio Objetivo, com a música "Extra, Extra". Válido destacar que foi a primeira vez que uma banda cristã vencia o tal festival.

As fases e mudanças na formação


A banda já passou por duas fases, sendo a primeira iniciada desde a gravação de "O Som Que Te Faz Girar", ao qual se destacou a canção "Extra", até hoje o maior hit da banda. Com uma mudança constante de integrantes, a banda lançou dois trabalhos de grande repercussão com o vocalista e cantor Brother Simion como líder conceitual, "Cristo ou Barrabás" de 1992 e "Armagedom" de 1995, sendo notável no último o rock experimental e considerado o melhor trabalho de estúdio do Katsbarnea. Simion já possuía uma carreira solo estável e após o lançamento do aclamado "Asas" em 1998, decidiu encerrar a banda. Porém, outros membros fundadores decidiram retomar as atividades do grupo.

Em 2000 com a volta de Paulinho Makuko e Marcelo Gasperini e a presença de Déio Tambasco e Jadão, integrantes de longo tempo na banda, o Katsbarnea gravou o seu trabalho mais bem sucedido comercialmente, "Acústico - A Revolução Está de Volta", contando com regravações de Simion sendo, agora, interpretadas por Makuko.

Após isso, a banda ficou durante três anos sem gravar um novo disco, quando lançou "Profecia", unindo o rock com a música erudita. Entretanto, o repertório conteve apenas regravações e canções da carreira solo de Brother Simion. A partir daí, o Katsbarnea entrou em crise, e a saída de Déio Tambasco, Jadão e Makuko fez com que o conjunto não lançasse nenhum material inédito.

Atual formação do Kats
Após doze anos sem um disco inédito, o renascimento do Katsbarnea veio em 2007 com a gravação de "A Tinta de Deus", que contou com a volta de Tambasco, Gasperini e Makuko na formação.

A obra recebeu elogios da crítica especializada e em comemoração dos vinte anos do grupo, foi gravado o DVD "Katsbarnea - Ao Vivo". Entretanto, o grupo continuou a sofrer uma mudança constante de integrantes. Apenas com Paulinho Makuko da formação original, o grupo lançou o single 'Nasceu um Novo Dia' em 2012, como prévia do álbum "Eis que Estou à Porta e Bato" lançado em 2013, que recebeu críticas mistas, maior parte negativas.

Enfim, é fato que Katsbarnea foi perdendo muito de sua essência ao longo do tempo, mas, aqui, vou me ater a falar sobre um de seus melhores registros: o álbum 

"Acústico: A Revolução Está de Volta"


Embarcando na onda dos álbuns unplugged (desplugado), moda nos anos 1990, a lendária banda de apostou em um ousado trabalho mesmo após a "saída" do vocalista Brother Simion em 1999.

Por ser o primeiro CD sem Brother nos vocais, o álbum "Acústico: A Revolução Está de Volta" recebeu várias críticas dos fãs mais antigos do grupo, principalmente, quanto à interpretação de Paulinho Makuko na releitura de clássicos do Kats.

Apesar disso, o disco obteve um bom desempenho no mercado cristão nacional e ajudou a reavivar a carreira da banda, que a esta altura, estava sendo aos poucos esquecida pelo público mediante o surgimento de outros grupos musicais de destaque no gênero. 

O conceito criativo de todo projeto fonográfico do álbum surpreendeu bastante por fugir dos padrões costumeiros do mercado: a embalagem externa do CD e a capa em um formato similar ao atual digipack foi novidade pra muita gente que, assim como eu, ainda não tinha visto algo parecido na música evangélica daquela época. 

O repertório também foi muito bem selecionado, apesar de não conter nenhuma regravação do estrondoso disco "Armagedom" (falta esta que seria compensada no álbum seguinte, "Profecia"). Sucessos inesquecíveis dos três primeiros trabalhos do Katsbarnea receberam ótimas releituras, acompanhadas por um excelente naipe de metais e envolventes arranjos de cordas sob a responsabilidade do maestro Zerro Santos. 

O registro foi gravado ao vivo no Directv Music Hall e atingiu a vendagem de 150 mil cópias, rendendo à banda seu segundo disco de ouro e também o título de melhor cd acústico de 2000. Este trabalho ainda rendeu uma turnê de aproximadamente dois anos, levando a banda a viajar por todo o Brasil e em cidades da Bolívia, Argentina, Uruguai, Inglaterra e Israel, intercalando o show acústico com o elétrico. 

Pois bem, vamos à setlist... 


A faixa de abertura, que não podia ser diferente, dá um pontapé inicial com a conhecidíssima 'Extra', um dos maiores hits do Kats, que nessa produção, recebeu de volta a presença dos nostálgicos backing vocals femininos. A partir daí, é claramente perceptível a intensa participação do público, que canta e vibra a cada sucesso tocado. 

'Grito de Katsbarnea' traz quase todas as características de sua primeira versão, valorizando pontos essências dos arranjos originais e destacando um ótimo solo de violão executado por Déio Tambasco. 

As letras "urbanas" e contemporâneas sempre foram uma característica marcante da banda, como é bem visível na música 'Congestionamento', que possui uma mensagem objetiva e muito bem contextualizada. 

Críticas à sociedade pós-moderna também são alvos bem explícitos pelo Katsbarnea, que em 'Consumo' versa sobre o domínio dos vícios e os efeitos das drogas e do consumismo. A propósito, confesso que sinto falta de canções assim na música evangélica atual, que alertem sobre as ilusões do mundo de uma forma bem clara e sob um ponto de vista mais evangelístico. 

'Cristo ou Barrabás', do disco homônimo lançado pela banda em 1993, é outro clássico definitivo do Katsbanea. Quem conhece a versão original é capaz de sentir falta de uma encenação mais elaborada no início da música, já que na versão antiga, a abertura era de arrepiar. A leveza dos arranjos e a interpretação branda de Paulinho Makuko subtraíram muito da agressividade da canção, mas não chega a decepcionar. O final é inusitado, com certo "fade out" dos instrumentos, que deixa apenas a participação do público cantando o refrão. 

A banda realmente não tinha medo de se aventurar em sons mais experimentais, mesclando até mesmo elementos rítmicos regionais em algumas músicas, como acontece em 'Amor', que tem uma levada baiana, bem ao estilo de Makuko. Alguns podem até pensar que esse tipo de música não tem nada haver com rock, mas em se tratando de Katsbarnea, um experimentalismo assim sempre é bem-vindo. O ponto negativo mesmo nesta faixa (e talvez, no disco inteiro) seja o uso excessivo das percussões em determinados momentos, uma vez que as mesmas são executadas tanto por Ari Bahia como com Paulinho uma vez ou outra. 

Com uma introdução peculiar que lembra música havaiana, inicia-se 'Ondas Agitadas' (uma das minhas preferidas, diga-se), bem mais refletiva e lenta. A singeleza desta versão acústica chega até mesmo a superar sua versão anterior. Ao término da faixa, somos surpreendidos com uma brincadeira de Makuko, que simula um som percussivo com sua própria boca, entoando um trecho do Hino Nacional Brasileiro. 

Chegando à metade do CD, temos uma palavra bem simples, porém prática, com o apóstolo Estevam Hernandes, seguida logo após por 'Apocalipse Now', que é magnífica em todos os sentidos! O conteúdo escatológico da letra, por assim dizer, continua bem atual mesmo depois de tantos anos. 
  • OBS: Qualquer semelhança da introdução com os acordes de 'Neon', da banda norte americana Prodigal, pode ser ou não mera coincidência. Isso nada importa, a música é SENSACIONAL e pronto.
A balada 'Terra' mostra a preocupação com o desiquilíbrio ecológico causado pelo homem, que insiste em destruir a criação de Deus. Nesta faixa, os arranjos de cordas novamente fazem um encaixe perfeito do início ao fim. É de se notar que, ultimamente, a música evangélica também tem carecido deste tipo de temática em suas letras. 

'Meio-Fio' é outra canção que evidencia uma tendência bastante evangelística em sua mensagem, falando francamente do amor de Cristo a todos sem distinção de raça, sexo ou posição social. 

'Corredor 18', baseada na vida pessoal de Paulinho Makuko, autor da canção, relata de forma breve o testemunho do vocalista, que inclusive, já havia feito outra regravação desta música em seu primeiro álbum solo, intitulado "A Lei do Rei" (1995). 

Chegando à penúltima faixa, escutamos 'Viagem da Oração', uma das mais lindas composições do Kats. As cordas regidas de Maestro Zerro criam uma atmosfera transcendente e excepcional, digna de admiração. A melodia do refrão foi um pouco modificada, mas não ao ponto de agredir a harmonia original deste grande clássico. 

Encerrando o álbum de forma áurea, temos 'Revolução', sucesso do LP da banda, lançado em 1990. A canção revela a superficialidade de algumas “revoluções” do mundo, que apesar de tudo, nunca trouxeram a verdadeira paz e nem segurança ao homem. Em contrapartida a isto, a letra anuncia Jesus como a única revolução que realmente pode libertar e transformar a humanidade. Evangelismo visceral.

Minhas considerações


Finalizando, podemos dizer que após ouvir este acústico, o ouvinte é poupado de ter aquela insatisfação quanto à integridade da obra, pois o trabalho verdadeiramente foi bem gravado e produzido com muito requinte. Algumas questões um pouco desfavoráveis acabam por serem menos relevantes, como a falta de uma maior desenvoltura do baterista Marcelo Gasperini (eclipsado às vezes pelas percussões) e a atenção um pouco dividida de Paulinho Makuko entre a percussão e a interpretação de certas músicas. 

Apesar deste excelente trabalho não ter sido lançado em DVD, pode ser conferido completo no YouTube através do canal da banda. É certo que "Acústico: A Revolução Está de Volta" pode ser considerado um grande marco não só na carreira da banda, como também, na música cristã nacional.

Conclusão


O álbum "Acústico – A Revolução Está de Volta", é um verdadeiro clássico lançado em 2000 pela Gospel Records. O álbum foi produzido por Paulinho Makuko que também naquele momento assumia de vez os vocais da Katsbarnea com a saída de Brother Simion, que preferiu se dedicar à sua carreira solo dali pra frente. 

Foi uma jogada de alto risco, trocar um vocalista tão carismático e tão marcante como o Simion e já entrar com outro vocalista em um álbum ao vivo. Pois bem, não poderia ter sido melhor; esse álbum foi o mais bem sucedido da história da banda, vendeu mais de 100 mil cópias e recebeu um disco de ouro, e para acabar com qualquer dúvida, foi considerado o melhor álbum acústico de 2000. O trabalho também rendeu uma turnê de aproximadamente dois anos, levando a banda a excursionar por todo Brasil e também fora dele em cidades da Bolívia, Argentina, Uruguai, Inglaterra e Israel.

Como todo bom álbum ao vivo, o "A Revolução Está de Volta" conta com os ingredientes básicos de uma boa produção ao vivo: Plateia viva e participativa, dinâmica de palco para shows por parte da banda, músicas rearranjadas e alguma novidade como uma música inédita por exemplo. Além disso, todo o álbum conta com uma orquestra de apoio que faz com que o ambiente fique de fato "acústico".

O show aconteceu no DirecTV Music Hall em São Paulo no dia 14 de abril de 2000, a gravação rendeu um CD e um registro em VHS. A direção geral do trabalho ficou por conta do Jorge Bruno, baterista da banda Resgate.

Confira abaixo o line-up do Katsbarnea para esse show:
  • Back Vocal: Gislene e Denyse Bittencourt
  • Lead Vocal e Percussão: Paulinho Makuko
  • Guitarra: Déio Tambasco
  • Baixo: Jadão
  • Percussão: Ari Bahia
  • Bateria: Marcelo Gasperini
  • Arranjos de Sopro e Cordas: Maestro Zerro Santos
  • Sax Alto e Flauta: Samuel André Pompeu
  • Sax Tenor e Clarinete: Joaquim Onofre Araújo Neto
  • Trompete: Rogério Souza Lima
  • Trombone: Toddy Wadon Murphy
  • Trompa: Eduardo Minczuk
  • Violão de aço e nylon: Michel Leme
  • Violinos: Maria Fernanda Krug, Tereza Catto Ribeiro, Carolina Kliemann, Karen Lena Hanai e Karina Caramuri Petry
  • Violoncelo: Ana Beatriz Ferreira Rebello
  • Violas: Ana Isabel Ferreira Rebello e Shanda Previde Landoski
Não posso deixar de bater o meu carimbo de
.
A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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