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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

R$1.000: VALOR DE ÁREA VIP PARA CULTO COM PASTOR-CELEBRIDADE

"Assim, a esses doze homens, enviou Jesus com as seguintes recomendações: 'Não vos encaminheis aos gentios, nem entreis em cidade alguma dos samaritanos. Antes, porém, buscai as ovelhas perdidas da casa de Israel. E, à medida que seguirdes, pregai esta mensagem: O Reino dos Céus está a vosso alcance! Curai enfermos, purificai leprosos, ressuscitai mortos, expulsai demônios. Graciosamente recebestes, graciosamente dai. Não vos provereis de ouro, nem prata ou cobre em vossos cinturões. Não leveis sacolas de viagem, nem uma túnica a mais, segundo par de sandálias ou um cajado; pois digno é o trabalhador do seu sustento.'" - Mateus 10:5-10 (VKJA, grifos meus)

Área VIP no universo go$pel para um evento evangélico. Mas antes de abarcarmos sobre esse descalabro descomunal, vejamos o conceito de Área VIP, pois, muitos reles mortais nem sabem o que diabos é isso.
  • VIP (da expressão inglesa Very Important Person  em tradução literal para "pessoa muito importante"), é uma sigla que designa pessoas importantes, influentes, ou altos funcionários com privilégios especiais. Portanto, a tal Área VIP é o espaço especialmente separado em um evento para receber pessoas consideradas importantes. 
Tudo isso é comum em se tratando de um show, de um espetáculo qualquer mas isso é coerente com um evento denominado de "avivamento pentecostal"?

The $howman


O conhecido pregador Toufik Benedictus "Benny" Hinn, esteve neste ano de 2016 no Brasil promovendo suas famosas Cruzadas de Milagres novamente. Geralmente ele atrai multidões. Foram três eventos diferentes em fevereiro.

O primeiro foi no Rio de Janeiro no Maracanãzinho com entrada grátis. O segundo em Balneário Camboriú (SC) numa conferência para pastores e líderes com ingressos a 200 reais. Já o terceiro no Estádio do Canindé, em São Paulo, cuja entrada franca foi um quilo de alimento. Até aí tudo bem, porém...

A Polêmica


Quando os eventos começaram a ser anunciados, uma igreja, de Balneário Camboriú, divulgou que cobraria preços diferenciados, dependendo da proximidade com o palco. Assim como acontece em apresentações de astros da música, quanto mais perto um fã quer estar de seu ídolo, mais caro precisa pagar.

Um mapa chegou a ser mostrado nas redes sociais com setores. Cada um tinha um preço. O setor amarelo, bem em frente ao palco, teria 200 lugares, custando R$ 1.000 cada cadeira.

Logo atrás vinha o setor verde: R$ 700, com 300 lugares disponíveis. Em seguida os setores azul, vermelho e pink, com 500 lugares cada, os preços eram R$ 500, R$ 380 e R$ 280, respectivamente. Se a igreja estivesse cheia, o total arrecadado seria a bagatela de R$ 990.000,00!

Rapidamente a igreja promotora do evento começou a ser criticada nas redes social. Por isso, mudou os planos. Após isso o ingresso teve preço único de: R$ 200.

Área VIP do Congresso


E quem disse que houve constrangimentos por parte desses senhores? Como visto ao lado, também em 2015, como em 2016, em São Paulo, a presença de Benny Hinn foi o destaque dentro do 8º Congresso Fogo de Avivamento para o Brasil, promovido pelo controverso 'apóstolo' Agenor Duque, da Igreja Plenitude do Trono de Deus. O evento teve uma versão de um dia apenas no Rio de Janeiro.

No vídeo promocional, Hinn era chamado de "o maior avivalista do mundo e amigo do Espírito Santo". A promessa do pregador era de uma "nova unção para o Brasil".

O material de divulgação insiste que os participantes serão como os 7 mil que não dobraram seus joelhos a Baal, numa referência ao relato bíblico de 1 Reis 19. Curiosamente, o estádio do Canindé tem capacidade para 21 mil pessoas e o Maracanãzinho para 11 mil.

Para os participantes do congresso haveria a possibilidade de sentarem na chamada "Área VIP". Assim como iria acontecer em Santa Catarina, os assentos mais perto do palco possuem um preço diferenciado.

Considerando que são mil cadeiras, o valor arrecadado seria de um milhão de reais. O site do evento esclareceu que os que adquirisse esse ingresso "teriam a oportunidade de participar de um almoço com o [tal de] pr. Benny Hinn, [com o tal de] 'apóstolo' Agenor Duque e [sua ilustre esposa, a tal de] 'bispa' Ingrid Duque" em São Paulo. Para os que fossem no Rio de Janeiro, o bilhete daria direito a um "café da manhã com o [tal de] pr. Benny Hinn, [com o tal de] 'apóstolo' Agenor Duque e [sua ilustre esposa, a tal de] 'bispa' [afinal, porquê não 'apóstola']? Ingrid Duque".

A cobrança de mil reais em SP e no RJ também gerou polêmica, mas o 'apóstolo' Duque, acostumado com controvérsias manteve o preço. Pelo que se sabe, a única mudança no evento é que o cantor Paulo César Baruk cancelou sua apresentação após ver o material de divulgação, alegando que não condizia com que a igreja o informou na assinatura do contrato. Parabéns para o P. C. Baruk!

É o fim?


Vou repetir. Para participar dos tais 7º e 8º Congressos Fogo de Avivamento para o Brasil, o fiel tinha duas opções: área comum, levando 1 kg de alimento não perecível, ou "Area VIP", no valor de R$ 1.000,00. Na tal área vip, o fiel se acomodaria mais confortavelmente e ainda receberia uma "ministração especial" da grande estrela do evento, o inominável pr. Benny Hinn.

Tudo isso é muito lindo e muito justo, em se tratando de um evento qualquer. Um show de algum "Safadão", "rei do camarote". Mas levando-se em conta que é um evento patrocinado por uma igreja dita evangélica, ou seja, cristã, será que a existência de uma Área VIP é justificada biblicamente?

Com quem você pensa que está falando?


"Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores. Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." – Tiago 2:8-10 (grifo meu)
Infelizmente, a regra em muitas igrejas é a acepção de pessoas. Distingue-se primeiro pelo vestuário: deve-se estar vestido adequadamente, seja com trajes sociais em umas, seja com jeans rasgado e tatuagens em outras. Quem se veste fora do padrão da comunidade costuma ser malvisto, e até retratado como desviado ou como alguém que precisa de conversão.
"E disse aos juízes: 'Vede o que fazeis; porque não julgais da parte do homem, senão da parte do Senhor, e ele está convosco quando julgardes. Agora, pois, seja o temor do Senhor convosco; guardai-o, e fazei-o; porque não há no Senhor nosso Deus iniquidade nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno'." – 2 Crônicas 19:6,7 (grifos meus)

$ó o$ crente$ VIP têm…


Outra forma bastante difundida nas igrejas de acepção de pessoas é a decorrente do padrão social-financeiro. Quem dá grandes dízimos é logo convidado a participar mais proximamente da administração da instituição, ou é "ungido" para algum cargo eclesiástico. Já os menores dizimistas conseguem, quando muito, trabalhar na portaria ou na limpeza do templo, mesmo que sejam vocacionados por Deus para outras funções dentro do Corpo.
"Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz. Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas; Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa. Por isso amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito." – Deuteronômio 10:16-19 (grifo meu)
As igrejas deveriam ser os últimos lugares a ocorrer acepção de pessoas, pois elas dizem seguir a Cristo, Aquele que amava a todos, não importando o nível social e os pecados que carregamos.

Porém, em cima de muitos púlpitos vê-se claramente a acepção de pessoas. A liderança do louvor sempre cabe à mulher ou ao filho do pastor-titular. Não importa que haja membros com muito mais talento, na capa do CD da banda da igreja estarão o pastor e sua esposa. E nas primeiras fileiras também estarão os principais da igreja e suas famílias.

Há famílias que sempre serão visitadas pelo pastor-titular, e há as famílias que nunca ou quase nunca serão visitadas pelos pastores-auxiliares. A diferença entre elas? O valor do dízimo e das ofertas.
"Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: 'Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;  Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas..." – Mateus 23:1-6

Cortando [n]a carne


Quando vemos que há uma "Área VIP" num congresso denominado Fogo de Avivamento para o Brasil isso pouco escandaliza, pois é algo que infelizmente está enraizado na cultura de muitas igrejas pentecostais e neopentecostais, principalmente nas seguidoras da doutrina da Teologia da Prosperidade, e também em muitas igrejas históricas.

A verdade é que rico não gosta de ficar junto de pobre. Como, em tese, as igrejas são espaços nos quais qualquer um pode entrar, alguma coisa tem que ser feita para evitar o contato com pessoas indesejadas. Assim, cria-se uma "Área VIP", onde só entra quem tiver um bom poder aquisitivo (afinal, R$ 1.000,00 por cabeça não é pouco). 

Ao se vender essa vantagem, satisfaz-se o público que as igrejas mais adoram (o dos altos dízimos e ofertas), fideliza-se esse povo endinheirado e mantém-se a arrecadação em alta e com boas perspectivas de crescimento. 

Não fosse pela área VIP, muitos desses nem iriam a esse evento, afinal é grandemente desconfortável ter que encarar uma gigantesca fila na entrada e o contato direto com corpos suados e pessoas de outro nível social e cultural.

Esse é o cristianismo que certas igrejas têm vendido ao seu povo. Mas esse não é o cristianismo do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Há mais um agravante nessa história de "Área VIP" do tal congresso dito cristão. Os clientes VIP, aqueles que desembolsarem R$ 1.000,00 para ter acesso a uma área reservada do grande público, ainda terão como bônus uma "ministração especial" do tal pr. Benny Hinn. Mas o grande público, a "ralé", não receberá essa tal ministração especial.

Assim, usando de um raciocínio lógico bastante rasteiro, o que se conclui? Que o Benny Hinn venderá ministrações especiais!

⇧ O óleo é barato. Acrescente "Jeova Jireh” no nome e o filme 
numa viagem a Israel e o negócio dobra de preço 
no mercado eclesiástico gospel.

Especiarias "ungidas"


Infelizmente, isso também não é novidade em muitas igrejas ditas evangélicas e em muitos eventos gospel. Cobra-se para pregar e cobra-se para louvar. Cobra-se inclusive para curar, pois há quem venda óleos, sabonetes ungidos e toda a espécie de quinquilharia dita com poder sobrenatural em nome de Deus.

No cristianismo real, verdadeiro, puro, simples, vemos Jesus e seus discípulos falando e agindo em nome de Deus de forma totalmente gratuita. Afinal, não se pode vender aquilo que não nos pertence, embora os estelionatários da fé atuem na venda do que pertence a Deus.

Ao se recusar a ministrar de forma especial ao grande público não-pagante, Benny Hinn e seus comparsas estão não apenas fazendo acepção de pessoas, mas fazendo claro comércio das coisas de Deus. Isso é ANÁTEMA.
"E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto. E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior. E ele lhes disse: 'Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve. E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.'" – Lucas 22:23-28 (grifo meu)

Conclusão


⇧ Cristão sírio passando o carnaval gospel na "Área Vip".

Na lógica do mundo cabe muito bem a existência de áreas vip, "de quem está à mesa", de diferenciação entre os que detém o poder e os que não o detém.

A lógica do Evangelho, ao contrário, prevê que sirvamos uns aos outros, que não haja diferenciações entre as pessoas, que todos somos igualmente irmãos em Cristo.

Apenas as igrejas verdadeiramente cristãs ensinam isso. Pena que essas sejam tão raras atualmente e também não constam de uma enorme multidão em suas fileiras. Voltemos ao Evangelho puro e simples. Esse $how bizarro tem que parar!

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