Tem leituras que são marcantes, especiais mesmo na vida da gente. A mesma coisa acontece com alguns filmes que a gente vê. É o caso de O Poderoso Chefão. Trata-se de uma obra tão especial, tão completa, tão fenomenal que merece que eu escreva um artigo à altura para falar sobre ela. Os meus seguidores no blog sabem que eu tenho duas séries especiais de artigos: Filmes Que Eu Vi e Livros Que Eu Li. No caso de O Poderoso Chefão, resolvi mesclar essas duas séries para que falar dessa obra "arrasa-quarteirão".
Livro Que Eu Li
Eu poderia ficar aqui escrevendo por horas sobre esse livro, mas vou me ater a poucas palavras pra não estragar a obra máxima de Mario Puzo (✩1920/✞1999) com meus elogios motivados tão somente pelo meu impacto com a leitura desse clássico da literatura italiana. O Padrinho (que a tão inspirada tradução nacional achou "O Poderoso Chefão" um nome melhor) foi um dos marcos tanto da literatura quanto do cinema mundial.
A história toda gira em torno de alguns dos personagens principais, mais ou menos em "cenas" que juntas criam uma única história. De todos eles, os dois grandes destaques são sem dúvida o próprio padrone Don Vito Corleone e seu filho Michael Corleone. Ambos são o estereótipo do italiano frio e calculista que nunca perdoa uma dívida.
Desde a infância miserável de Don Vito até a sua morte já milionário e "dono" de metade dos EUA correm muito sangue pelas ruas de Nova Iorque. Nada escapa das ordens de Don Vito, e quando ele dá sua palavra, considere o serviço feito. O velho realmente tinha tutano para os negócios da família, e ele nunca abandona seus afilhados em momentos de dificuldade.
Foi a generosidade de Don Vito para sua família que lhe tornou conhecido como padrinho de qualquer um que viesse em busca de sua justiça e de seu auxílio. Ao lado de seus dois caporegimes Tessio, Clemenza e Genco Abbandano, o consigliore de Don Vito, fizeram chover sangue sobre a cidade sempre que seus interesses estivessem ameaçados.
Desde a infância miserável de Don Vito até a sua morte já milionário e "dono" de metade dos EUA correm muito sangue pelas ruas de Nova Iorque. Nada escapa das ordens de Don Vito, e quando ele dá sua palavra, considere o serviço feito. O velho realmente tinha tutano para os negócios da família, e ele nunca abandona seus afilhados em momentos de dificuldade.
Foi a generosidade de Don Vito para sua família que lhe tornou conhecido como padrinho de qualquer um que viesse em busca de sua justiça e de seu auxílio. Ao lado de seus dois caporegimes Tessio, Clemenza e Genco Abbandano, o consigliore de Don Vito, fizeram chover sangue sobre a cidade sempre que seus interesses estivessem ameaçados.
Mas Don Vito era um homem de família. Se recusava a trabalhar com prostituição (não que mulher faltasse pros seus filhos) e principalmente com o tráfico de entorpecentes. E isso foi o motivo que o levou a um segundo atentado a bala que o tira dos negócios temporariamente. Vito Corleone levou cinco tiros e viveu pra contar história, pro desespero de seus inimigos.
A partir daqui os filhos assumem os negócios da família. Não vou contar mais pra não estragar a surpresa de alguém que talvez queira ler o livro (ou ainda não tenha visto o filme, como eu) mas o final é épico. Entrou pra lista dos meus livros preferidos e um que provavelmente irei reler futuramente.
O Poderoso Chefão resume tudo o que se espera de um bom livro sobre a máfia, sobre a vida dos imigrantes italianos nos EUA no inicio do século passado e principalmente até onde um homem pode ir em defesa de sua família e dos interesses dos seus protegidos quando a própria justiça vendida não os protege.
Uma constelação de estrelas é pouco. ;=)
- Ano: 1969 / 2012
- Páginas: 462
- Idioma: português
- Editora: Record
Filme Que Eu Vi
Em 1972, a Paramount Pictures lançou uma proposta que não se podia recusar – assistir a O Poderoso Chefão. Uma adaptação do livro homônimo de Mario Puzo. Que narra na corrupta e enganosa Nova Iorque pós-guerra toda a trajetória de luta de uma família mafiosa para se manter no poder.
Dirigido por Francis Ford Coppola, é o primeiro filme da trilogia. Aliás, foi junto a Coppola que Puzo adaptou seu Best-seller às telonas. O que foi talvez, um dos fatores mais relevantes para se manter as qualidades do livro e elevar tais qualidades a um nível altíssimo no filme.
O filme traz o magnífico Marlon Brando (✩1924/✩2004) no papel de Don Vito, o patriarca da família Corleone. De origem siciliana, é uma das cinco famílias que comandam a máfia em Nova Iorque. Controlando o submundo dos jogos, bebidas e prostituição (conforme já disse, Don Corleone não participa deste último, pois seria contra suas convicções). Na máfia, o chefe de uma família é chamado de padrinho.
O que nos remete ao título original da obra em inglês – The Godfather. As relações são baseadas em trocas de favores - "de vida ou de morte". Você pede algo, o padrinho realiza e você tem uma dívida que mais cedo ou mais tarde será cobrada por ele. Relação que podemos ver logo no clássico início do filme, quando durante o casamento de sua filha Don Vito Corleone atende diversos homens e seus pedidos.
A trama centra-se na sucessão de Don Vito Corleone, que já está por volta de seus 60 anos. Em princípio, para seu lugar imagina Santino "Sonny" Corleone. Filho mais velho de quatro. Mesmo Don Vito não aprovando o temperamento explosivo e impulsivo de seu filho. Acontece que havia um novo negócio chegando – as drogas. Porém, o Don não participa nem apóia este novo tipo de empreendimento. O que causa entre as outras famílias e pessoas interessadas nele uma grande tensão.
Assim, Don Corleone sofre um atentado. Sua morte pensava-se, obrigaria o resto da família a aceitar a entrada das drogas. Só que Don sobrevive e enquanto se recupera, em meio a uma guerra que se instalou na máfia, surge em cena o jovem Michael. O caçula de seus filhos. E que até aquele momento, parecia não ter nenhum "jeito" para os negócios da família. É a grande reviravolta do filme. Michael surpreende a todos com sua decisão. O que me lembra uma frase que Don Vito costumava falar no livro, mas que ficou fora do filme: "O homem só tem um destino".
Desacreditado por muitos até pela própria produtora. Graças à teimosia do diretor, a obra-prima de Coppola tornou-se um dos filmes americanos considerados hoje os melhores de todos os tempos. Imortalizou não só frases como a vista acima ou "Eu vou fazer uma proposta que ele não poderá recusar", entre outras. Mas também personagens e isso se deve também a quem deu vida a eles – Além de Marlon Brando, o Al Pacino na pele do jovem Michael Corleone (que foi uma das apostas do diretor); ou James Caan no papel de Sonny; Robert Duvall e seu advogado John Hagen;...
A lista é imensa. É impossível deixar de mencionar que a trilha musical é perfeita, a edição melhor ainda. Um filme dinâmico e bem estruturado. Não são à toa suas dez indicações para o Oscar de 1972, em que ganhou três (merecia os dez, diga-se): Melhor filme, Melhor Ator (Marlon Brando) e Melhor Roteiro adaptado de outra Mídia. Inesquecível e brilhante, O Poderoso Chefão vai além. É mais do que um filme, é uma aula de como se fazer um filme. Que quebra as barreiras do tempo – conseguiu abordar temas que continuam sendo tão atuais hoje quanto qualquer outro deste século. Ele é a prova de que um filme bom é eterno!
A lista é imensa. É impossível deixar de mencionar que a trilha musical é perfeita, a edição melhor ainda. Um filme dinâmico e bem estruturado. Não são à toa suas dez indicações para o Oscar de 1972, em que ganhou três (merecia os dez, diga-se): Melhor filme, Melhor Ator (Marlon Brando) e Melhor Roteiro adaptado de outra Mídia. Inesquecível e brilhante, O Poderoso Chefão vai além. É mais do que um filme, é uma aula de como se fazer um filme. Que quebra as barreiras do tempo – conseguiu abordar temas que continuam sendo tão atuais hoje quanto qualquer outro deste século. Ele é a prova de que um filme bom é eterno!
- Data de lançamento: 24 de março de 1972 (2h 55min)
- Direção: Francis Ford Coppola
- Gêneros: Policial, Drama
- Nacionalidade: Eua
Conclusão
O Poderoso Chefão é um daqueles filmes que as pessoas têm que assistir antes de morrer. Amplamente considerado um dos maiores filmes já feitos, a obra-prima influenciou a maneira como todos nós pensamos sobre a máfia. Talvez tenha influenciado até mesmo a forma como a própria máfia pensa sobre ela.
Enquanto que hoje O Poderoso Chefão é certamente valorizado entre gangsteres, que até imitam suas falas e princípios mafiosos, houve um momento em que esses criminosos tentaram impedir que o filme sequer chegasse aos cinemas.Se tivessem tido sucesso, Ford Coppola não seria mais do que um nome que associaríamos com uma marca de carro.
Temendo atenção não desejada, Joseph Colombo –, conhecido chefão da máfia americana – declarou guerra contra o filme e fez o seu melhor para encerrar a produção. Eventualmente, ele fez aos produtores uma oferta que eles não podiam recusar, e o filme foi autorizado a seguir em frente.
No início dos anos 70, The Italian-American Civil Rights League (em português, "liga ítalo-americana de direitos civis") exigiu que a Paramount Pictures engavetasse O Poderoso Chefão. Cansada de ver os italianos retratados como bandidos cruéis, a Liga organizou comícios em toda a cidade de Nova York, chegando a coletar US$ 500.000 (mais de R$ 1 milhão) para encerrar a produção do filme.
O objetivo da liga, porém, não era nem de longe tão nobre quanto aparentava. A organização havia sido fundada, na verdade, por Joseph Colombo, líder da família criminosa Colombo, uma das infames "Cinco Famílias" do crime organizado de Nova York.
Cansado do que considerava ser assédio racial por parte do governo federal, Colombo criou a liga para revidar. Quando ouviu falar do filme épico sobre gangsteres da Paramount, decidiu que ninguém jamais iria assistir a tal "atrocidade". Talvez estivesse realmente preocupado com estereótipos – ou talvez não queria toda a atenção indesejada que o filme provavelmente geraria.
Quando protestos e entrevistas na TV não funcionaram, Colombo resolveu tomar ações mais intensas para alcançar sua meta. Enquanto ninguém foi estrangulado nem acordou com cabeças de cavalo em suas camas, as ameaças definitivamente pioraram.
Os mafiosos começaram seguindo o produtor Al Ruddy e quebrando as janelas de seu carro esportivo. Ainda deixaram um bilhete, avisando-o para parar o filme ou algo muito ruim iria acontecer. O executivo da Paramount Robert Evans também recebeu um telefonema intimidante dizendo-lhe para sair da cidade, ou alguém iria quebrar sua cara e machucar seu filho.
Sindicatos controlados pela máfia se recusaram a deixar Coppola filmar em certos bairros, e até roubaram equipamento de filmagem caro debaixo do nariz do diretor. Escritórios da Paramount em Nova York tiveram de ser evacuados depois que receberam ligações com uma ameaça de bomba, duas vezes.
Eventualmente, a Paramount decidiu convocar uma reunião com os criminosos. Al Ruddy encontrou-se com Joseph Colombo no Sheraton Park Hotel, e os dois discutiram o que fazer em relação ao O Poderoso Chefão.
Surpreendentemente, Colombo só tinha uma demanda. As filmagens poderiam continuar se a palavra "máfia" não aparecesse nem um vez no script. Al Ruddy prontamente aceitou esse termo – mesmo porque, a palavra "máfia" só surgia uma vez em todo o roteiro. Após a reunião, Colombo ficou estranhamente e subitamente entusiasmado com a ideia de um filme de gangster.
Ele e seus colegas começaram a aparecer no set para visitar o elenco e a equipe, principalmente para conversar com Marlon Brando. Colombo ainda usou sua influência para controlar quem atuaria no filme. Quando menino, Gianni Russo trabalhou para o chefe do crime organizado Frank Costello, e foi um dos caras que ajudou a negociar os termos entre a Paramount e a máfia. Por seu trabalho duro, Colombo garantiu que fizesse o papel de Carlo Rizzi, genro de Don Corleone.
A história de amor entre os criminosos da vida real e os da telinha terminou mal, no entanto. Em 28 de junho de 1971, enquanto Francis Ford Coppola filmava as cenas nas quais (spoiler!) Michael Corleone acaba com seus inimigos, a poucos quarteirões de distância um assassino atirava em Colombo. Vida real e arte se misturam num banho de sangue.
O bandido que trabalhou tão duro para apagar a máfia de O Poderoso Chefão acabou apagado por chamar muita atenção para as Cinco Famílias. Todos os seus comícios, protestos e entrevistas saíram pela culatra. Ele não morreu, mas passou o resto de sua vida paralisado, finalmente falecendo em 1978.
Tudo isso são motivos que tornam O Poderoso Chefão uma das obras mais importantes que a literatura criou e o cinema tão brilhantemente traduziu.
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