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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

FILMES QUE EU VI - "SPOTLIGHT: SEGREDOS REVELADOS"

Nessa edição da série especial de artigos [sobre os] Filmes Que Eu Vi, vou fazer algo ainda inédito. Falar sobre um filme recente. Trata-se do perturbador "Spotlight: Segredos Revelados" que conta a história real da equipe investigativa do jornal Boston Globe que revelou a verdade por trás dos escândalos sexuais envolvendo padres católicos. Ainda que aborde um tema tão denso e recheado de polêmica até os dias de hoje, "Spotlight..." tem como mérito maior conciliar isto com a própria abordagem jornalística - detalhe que me atraiu para assisti-lo - que envolveu todo o processo, além da própria visão pessoal dos jornalistas envolvidos. Achei o filme fantástico sobre todos os aspectos.

Minha impressão


Apesar de retratar fielmente uma história real, em nenhum momento nos sentimos diante de um documentário (não que isso seja ruim), pois vemos bastante da vida particular dos personagens centrais e suas reações a cada nova descoberta. Neste ponto em particular, mérito para o diretor Tom McCarthy e o elenco, principalmente Michael Keaton, Mark Ruffalo, Stanley Tucci e Rachel McAdams, que demonstram forte presença de cena que fizeram com que disputassem uma possível indicação ao Oscar desse ano.

Algo que vale ser dito é que quando estamos diante de um bom filme nós saímos do cinema e ficamos relembrando passagens do mesmo, contudo quando estamos diante de um filme ótimo nós não só relembramos passagens como também discutimos e refletimos sobre o que nos foi mostrado na tela. Isso é o que Spotlight faz, quebra a barreira do simples entretenimento permitindo ao espectador uma reflexão a respeito do exibido. Neste caso, isso não ocorre somente por estarmos diante de um tema polêmico, mas sim pela forma como o roteiro foi escrito e a história é narrada. Tudo é feito para envolver o espectador, mas sem ser piegas ou apelar para clichês.

Embora alguns possam achar o ritmo lento em alguns momentos, me parece totalmente pertinente que um longa trazendo tamanha carga investigativa e um assunto deveras difícil tome seu devido tempo entre as cenas de maior impacto ou em que a trama corra um pouco mais. Certamente vale a pena conferir este que foi o grande vencedor do Oscar em 2106.

Sobre o filme


"Spotlight..." (no Brasil, Spotlight: Segredos Revelados e em Portugal, O Caso Spotlight) é um filme estadunidense de drama biográfico de 2015 dirigido por Tom McCarthy e escrito por McCarthy e Josh Singer. O filme foi estrelado por Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, John Slattery, Stanley Tucci, Brian d'Arcy James, Liev Schreiber e Billy Crudup. Trata da investigação, por uma equipe do jornal The Boston Globe, dos casos de abuso sexual e pedofilia por membros da arquidiocese católica de Boston. Esta investigação recebeu o Prémio Pulitzer de Serviço Público em 2003. No Brasil, o Observatório da Imprensa publicou uma série de debates sobre o filme, questionando os valores e o comportamento do jornalismo na atualidade.

A obra de McCarthy foi apresentada inicialmente no Festival de Veneza, na Itália, e, em seguida, distribuído mundialmente pela Open Road Films em 6 de novembro de 2015. Conquistou inúmeros prêmios e foi recebido positivamente pela crítica. Um defensor da Igreja Católica criticou o filme no The New York Times afirmando que "Spotlight é uma deturpação de como a Igreja tratou os casos de abuso sexual". O filme foi indicado a seis Óscars na premiação de 2016, vencendo em dois: Melhor Roteiro Original e Melhor Filme.

Baseado em uma história real, o filme do tipo drama com toques investigativos relata o dia a dia da equipe formada por Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian d'Arcy James), chefiados pelo editor que também vai a campo Walter Robinson (Michael Keaton), do jornal Boston Globe, na busca pela matéria que ficou conhecida com o nome da equipe: Spotlight.

Tudo começou em 2001, quando o editor Marty Baron decidiu aprofundar o tema abordado em uma coluna do jornal, com a ajuda do grupo de investigação, a qual reuniram documentos capazes de provar diversos denúncias de casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. O caso do Padre John Geoghan, que o Globe já havia publicado meses antes, foi a primeira denúncia que ocorreu em 1996, quando uma mulher o acusou de abusar de seus três filhos. Mas apenas a partir de 2001, vários relatos vieram à tona, e o Padre Geoghan recebeu cerca de 70 acusações diferentes na época.

Dentre as várias surpresas o filme traz casos nunca antes conhecidos, as quantidades alarmantes - cerca de 90 padres apenas em Boston - os líderes religiosos que ocultaram os casos, as práticas de transferências dos padres predadores, ao invés de puni-los ou trata-los, a forma de identifica-los, o perfil das famílias das crianças abusadas, mas uma coisa que me chamou muita atenção foi o fato da auto responsabilização dos jornalistas em não ter dado atenção na primeira denúncia em 1996 e, apesar de já ser muitas coisas, no filme ainda tem mais.

"Virou" livro


Ainda que o filme tenha dado origem ao livro e escrito pelo mesmo time que participou da apuração do caso, nada tem a ver um com o outro, no livro existem informações mais detalhadas e até mesmo materiais aos quais a equipe teve acesso o que pede muito estômago do leitor para completar a leitura, eu até já fiz a resenha aqui, já no filme o espectador acompanha a apuração e descobrindo os fatos ao lado dos jornalistas, o filme relata apenas a maneira como o jornalismo investigativo é feito - ou deveria ser - da motivação que justifica a denúncia, da burocracia imposta pelos poderosos e, principalmente, do abuso decorrente da fragilidade socioeconômica dos mais desfavorecidos.

O contexto do filme que se dá no ano de 2001, fica bem demonstrada como é a estrutura de Spotlight. Apesar de limitar-se à cidade de Boston, o que poderia resultar em uma produção limitada, segue exatamente a frase de Leon Tolstoi: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia", e assim se faz após a publicação da matéria vários outros casos sugiram, não só nos EUA como também em diversos outros países.

Pedofilia de padres brasileiros


O caso na cidade de Arapiraca, no Agreste alagoano tornou-se público após a exibição de uma reportagem no programa Conexão Repórter, do SBT, elaborada pelo jornalista Roberto Cabrini. Ele teve acesso a um vídeo, que ainda pode ser encontrado na internet, em que o então ex-monsenhor Luiz Marques Barbosa mantinha relações sexuais com um de seus coroinhas. No momento da gravação, quem faz sexo oral com o religioso é Fabiano da Silva, cuja idade na época do vídeo, em 2009, era 19 anos. Contudo, ele afirma que sofria abusos desde os 12 anos.

Outros dois coroinhas se juntaram a Fabiano para realizar as denúncias, Cícero Flávio Barbosa – que realizou a filmagem de sexo entre o então monsenhor Luiz Marques Barbosa e Fabiano – e Anderson Farias Silva. Os três afirmam que mais dois sacerdotes, o monsenhor Raimundo Gomes e o padre Edilson Duarte, também praticavam atos de pedofilia contra eles, desde que tinham 12 anos de idade.

Por esse motivo, todo o processo segue seu rito em segredo de justiça no Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), cujo relator é o desembargador Otávio Praxedes, e sem prazo para ser concluído. Porém, como é público, os três padres foram condenados em primeira instância em dezembro de 2011, após meses de julgamento – iniciado em julho – e a vinda da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia do Congresso Nacional presidida pelo senador Magno Malta.

Os dois então monsenhores foram condenados a 21 anos de prisão e o, também à época, padre Edilson a 16 anos e quatro meses de prisão, mas respondem o processo em liberdade. Raimundo Gomes faleceu em 2014, vítima de complicações por causa de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e todo o processo contra ele foi extinto devido a sua morte.

Durante a sessão da CPI da Pedofilia, e em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini em abril de 2010 – um mês após a exibição da primeira reportagem que revelou os atos dos padres arapiraquenses, padre Edilson confessou que ele e seus colegas praticavam atos de pedofilia contra seus coroinhas.

Para os advogados de defesa dos ex-sacerdotes, não houve a comprovação de crime cometido pelos ex-sacerdotes e todo o processo é fruto de uma rechaça moral pelo fato de eles serem homossexuais. 
"O erro cometido foi do ponto vista das leis da Igreja Católica, mas do ponto de vista cível, dos homens, não. Sexo entre duas pessoas adultas não é crime, mesmo que seja sexo homossexual. Aliás, sexo consentido com uma pessoa de 14 anos não é crime no Brasil. E a exploração sexual não foi provada".
Preso na sexta-feira, 5 de agosto, em Santa Catarina por suspeita de pedofilia, o padre Bonifácio Buzzi, de 57 anos, foi encontrado morto na manhã do domingo, 7, em uma cela do presídio de Três Corações, aqui em Minas Gerais, para onde tinha sido transferido. Segundo o governo de Minas, o religioso estava sozinho e se matou na cadeia.

O padre já havia sido condenado a 20 anos de prisão por abusar de um garoto de 10 anos em Mariana, também em Minas. Ele ficou preso entre 2007 e 2015, quando passou a cumprir a sentença em liberdade.

Buzzi é o único padre brasileiro relacionado entre os que aparecem no filme "Spotlight...", mas o caso de Arapiraca é relacionado nos créditos finais do longa. Segundo investigação da Polícia Civil, o religioso teria se envolvido em novo caso de pedofilia neste ano, de acordo com nova denúncia recebida. O padre teria abusado de duas crianças, de 9 e 13 anos, em Três Corações, onde vivia. Quando soube que estava sendo procurado pela polícia, fugiu para Santa Catarina, onde acabou preso.

Conclusão


Mais do que a polêmica do seu enredo, "Spotlight: Segredos Revelados" é um filme que merece ser visto e revisto, principalmente para os que como eu, são amantes do Jornalismo.
  • Ficha Técnica:
Título: Spotlight (Original)
Ano produção: 2015
Dirigido por: Tom McCarthy (IV)
Estreia: 7 de Janeiro de 2016 (Brasil) Duração: 128 minutos
Classificação:  - Não recomendado para menores de 12 anos
Gênero: Biografia, drama, história
País de Origem: Estados Unidos da América

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