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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

ACONTECIMENTOS — A MORTE DE ULYSSES GUIMARÃES


"A corrupção é o cupim da República". A frase era repetida à exaustão pelo deputado Ulysses Guimarães, que desapareceu há exatos 24 anos num acidente de helicóptero no mar de Angra dos Reis. Doutor Ulysses, como era chamado, dedicou o último dia da sua vida, embora estivesse em momento de lazer com a esposa, Mora, e amigos, ao que sempre gostou de fazer na vida: política.
 
Articulou até as últimas horas a formação do governo Itamar Franco, que acabara de assumir a Presidência após o impeachment de Fernando Collor. Na costura do novo governo, prometeu que se empenharia para conter o ímpeto do PMDB por cargos e o orçamento que vem embutido nesse pedido, já sabendo que essa era a principal moeda de troca nas relações dos partidos com o Executivo. Segundo amigos, ele já desconfiava das negociatas no submundo do Congresso, que levaram ao escândalo dos anões do Orçamento em 1993 e, atualmente, o mensalão.

Biografia


Doutor Ulysses no dia da
promulgação da Constituição
Nascido a 6 de outubro de 1916, em Rio Claro, São Paulo. Professor e advogado. Deputado à Constituinte estadual de São Paulo de 1947 pelo Partido Social Democrático (PSD). Deputado Federal paulista por 11 mandatos consecutivos, de 1951 a 1995. Candidato a Governador de São Paulo em 1959. Ministro da Indústria e Comércio em 1961, no Gabinete do Primeiro-Ministro Tancredo Neves.

Apoiou o movimento militar que depôs o Presidente João Goulart em 1964, mas logo aderiu ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, cuja presidência assumiu em 1970, liderando-o até sua extinção. Com o fim do bipartidarismo em 1979, fundou o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e foi seu primeiro Presidente. Entre 1967 e 1968, presidiu o Parlamento Latino-Americano.

Em 1973, foi anticandidato à Presidência da República, em oposição ao General Ernesto Geisel, candidato do regime militar. À frente do seu partido, participou de todos os movimentos em prol da restauração da democracia no País, como a luta pela anistia, e liderou a campanha nacional pelas eleições diretas em 1983-1984.

Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988) e, cumulativamente, da Assembleia Nacional Constituinte em 1987-1988, condição na qual promulgou a nova Constituição Federal.

Foi Presidente da República em exercício nos períodos de 12-14/08 e 21-26/09/1985. Candidatou-se à Presidência da República em 1989.

Com uma trajetória única na história política brasileira, eleito 11 vezes deputado federal, o advogado Ulysses Guimarães foi um ícone no combate à ditadura militar nas trincheiras do MDB. Primeiro com a sua anticandidatura e, depois, como o símbolo das Diretas Já, ele participou como um dos principais protagonistas da redemocratização do país. No Colégio Eleitoral, apoiou Tancredo Neves e, após a sua morte, garantiu a posse de José Sarney na Presidência da República. 

Mais tarde, o Senhor Democracia, como também era chamado o deputado do PMDB, conduziu a Constituinte de 88 e participou da campanha pelo parlamentarismo e pelo impeachment de Fernando Collor. 


O acidente


Na noite do dia 12 de outubro, o presidente Itamar Franco foi avisado pelo ex-ministro Renato Archer que o helicóptero em que viajavam o deputado federal Ulysses Guimarães e o ex-senador Severo Gomes, com suas mulheres, havia desaparecido num voo entre Angra dos Reis e São Paulo. 

No dia seguinte, o país viveu o drama do resgate dos corpos, achados somente a partir da tarde. Todos os corpos foram encontrados, os de dona Mora, Severo, Maria Henriqueta Gomes e do piloto, menos o de Ulysses. E o Brasil começava a se despedir do Senhor Diretas.

Até seu desaparecimento, Ulysses participou dos principais acontecimentos da História recente do Brasil. Liderou a resistência à ditadura militar, defendeu a anistia, comandou o movimento Diretas Já, presidiu a Assembleia Nacional Constituinte e disputou a primeira eleição direta para presidente após o regime militar, em 1989.

Conclusão


Última sessão de fotos. Ulysses Guimarães durante entrevista ao jornal
O GLOBO, no Hotel Portogalo, em Angra, dois dias antes do acidente
de helicóptero - Fernando Maia, 09/10/1992 / Agência O Globo
Como lembrança do amigo com o qual teve uma relação de pai e filho, o empresário e dono do restaurante Piantella, Marco Aurélio Costa, mantém a mesa em que Ulysses reuniu amigos e políticos para traçar estratégias e relaxar — era a famosa "Turma do Poire". O hábito começou em 1976, quando Ulysses foi pela primeira vez ao restaurante e durou até 1992, pouco antes do acidente.

O mineiro Marco Aurélio lembra uma das lições que aprendeu com Ulysses: ou se é político ou empresário — para não se confundir o público com o privado. Por isso, nunca tentou a política. Ele não lamenta o fato de o corpo nunca ter sido encontrado:
"— Fico bem assim [sem encontrar o corpo]. Se achassem, muitos que o traíram quando foi candidato à Presidência, iriam querer pegar nas alças do caixão, fazer discurso."
A mesa foi mantida no andar de cima do restaurante, onde funciona hoje a adega. Além de um quadro com imagem de Ulysses sorrindo, há outros com lições de política e um painel com fotos, charges e reportagens. A mesa serve, até hoje, como local reservado para conversas.

Muitas teorias de conspiração sobre um suposto assassinato ainda são levantadas sobre a morte de Ulysses Guimarães, entretanto, apesar de seu corpo nunca ter sido encontrado, sua morte em decorrência do acidente aéreo foi oficialmente aceita.

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