Abro aqui uma série especial de artigos sobre os mitos e verdades que existem sobre o tema oração. Para isso, precisamos entender o que é de fato a oração.
Oração é relacionamento pessoal com Deus e interpessoal com a Igreja
Antes de entrar no contexto da oração como sendo um relacionamento, é preciso entendermos o que é um relacionamento. Os especialistas em marketing profissional, conhecidos no mundo corporativo como "coaching de relacionamento", são unânimes no conceito de que o relacionamento pessoal se estende por uma variedade de comportamentos e atitudes que determinam o seu grau de convívio em sociedade.
Conforme esse entendimento, quanto maior a sua capacidade de expor e respeitar as opiniões de terceiros maior serão as suas habilidades de relacionamento interpessoal, isso é muito importante na sociedade atual tanto na esfera profissional como na pessoal.
Muitas pessoas assumem determinadas posturas nos relacionamentos em geral como instrumento de posicionamento, ou seja, a pessoa pode assumir posturas comportamentais passivas ou agressivas, tudo isso relacionado ao seu suposto papel naquele contexto social.
Os principais conceitos de relacionamento pessoal são: relacionamento interpessoal profissional, pessoal, e mais recentemente o virtual, que consiste no comportamento que o indivíduo assume no mundo virtual. Aqui, obviamente, incluo o relacionamento espiritual, que consiste no comportamento que o indivíduo assume no mundo espiritual. Agir de uma maneira não significa que as demais posturas não sejam assumidas, tudo isso irá depender do objetivo do indivíduo no contexto ao qual estiver inserido.
Em entendimento geral, podemos afirmar que boa parte da população deveria ser esclarecida sobre o conceito de relacionamentos interpessoais, uma vez que isso agrega muito valor às decisões da pessoa, que passa a agir de maneira mais ponderada e racional, deixando de lado escolhas meramente instintivas que de modo geral prejudicam muito no trabalho e eventualmente na vida pessoal.
Relacionando com Deus através da oração
Deus "inventou" a oração e a instalou em nós. William James [✰1842/✞1910, foi um filósofo e palestrante americano, autor do livro "Variedades na Experiência Religiosa", ed. Cultrix, 344 páginas] disse que "a razão pela qual oramos é que simplesmente não podemos evitar a oração". De verdade, todos temos a intuição de buscar a Deus através da oração. Prova disso é que, como uma criança chora quando está com fome, nos momentos de maior angústia e adversidade nossas entranhas clamarão pelo Senhor.
Ao invés de enxergar a oração como uma disciplina, um sacrifício, ou um esforço para se obter um prêmio, devemos compreender que a oração é o desenvolvimento de um relacionamento natural com Deus. Esse ponto de partida é libertador, pois deixa de lado as muitas regras, modelos, legalismos que impomos a nós mesmos, nascendo a perspectiva de um relacionamento natural, prazeroso, verdadeiro, às vezes de lutas e entraves. Vamos analisar esse aspecto da oração com base no texto do evangelho de Lucas 5:11-13. A oração que Jesus ensinou, segundo esse texto, apresenta algumas dimensões desse relacionamento:
- 1. O relacionamento de amigos (versículos 5-8 - "...suponham que um de vocês tenha um amigo...")
Jesus está ensinando como orar. Depois de expor a oração do Pai Nosso, Ele traz uma figura bastante conhecida de todos os seus ouvintes como que dizendo: O que um amigo faz ao outro? Ele sabe que a oração é o ambiente onde transcorre a melhor amizade, pois podemos abrir nosso coração, necessidades, ou simplesmente estarmos juntos pelo prazer da convivência.
Amigo que é amigo será sensível, atenderá nos momentos de lutas, muitas vezes oferecendo seu ombro e capacidade de ouvir. Assim como temos amigos na terra, podemos ter um amigo nos céus. Assim como Abraão viveu essa dimensão de relacionamento (Tiago 2:23), somos convidados a desenvolvermos essa amizade através da oração, afinal Jesus nos chamou de amigos (João 15:15).
- 2. O relacionamento pai/filho - (v. 11-13 - "...qual pai, entre vocês, se o filho pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra?...")
A segunda analogia de Cristo é ainda mais chocante. Como pai você consegue imaginar-se dando uma pedra (Mateus 7:9) para seu filho comer? Ou, pior ainda, dando-lhe um escorpião? O Senhor nos vê como filhos. Por essa razão ele abre-se para um relacionamento nessa dimensão. Como pai ele é provedor, responsável, cuidador, orientador e tantas virtudes mais que possam ser elencadas. Nós recebemos espírito de filhos, por isso podemos chamá-lo de papai (Romanos 8:15; Gálatas 4:6,7).
Só os filhos têm acesso ao quarto dos pais, desfrutam das refeições juntos, levam "palmadas" (correções), são herdeiros e levam em seu DNA (código de identificação genética) a semelhança hereditária. Como é bom ser filho e poder desfrutar dessa dimensão do relacionamento através da oração.
- 3. O relacionamento noivo/noiva
Esse trecho não apresenta expressamente Jesus como noivo e seus discípulos como noiva, mas o narrador já havia revelado anteriormente essa analogia (Lucas 5:34-35). Aqui temos uma nova e amplificada dimensão de nosso relacionamento em oração. Essa analogia expressa o prazer de estar juntos, a alegria de sonhar juntos, o amor latente, as confidências, a proteção, o comprometimento.
A oração é um grande momento de prazer, mas poucos se entregam nesta dimensão. Ela contém um potencial de alegria e júbilo, pois é o próprio Deus se movendo em nós através do seu Espírito Santo. Por causa dessa dimensão, temos todas as nossas necessidades supridas, nossa sede saciada, nossa alegria restabelecida (Apocalipse 22:17).
Conclusão
Como disse Tim Stafford [teólogo e escritor estadunidense]:
"Não oramos para contar a Deus o que Ele não sabe, nem para lembrá-lO do que esqueceu. Ele já cuida de tudo aquilo pelo que oramos. Quando oramos, ficamos perto de Deus".
Isso basta! Comece a praticar suas orações nessa perspectiva de relacionar-se verdadeira e profundamente com o Pai. Sua vida certamente nunca mais será a mesma!
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