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terça-feira, 17 de novembro de 2015

"SOU PORTADOR DO VÍRUS HIV!": A IGREJA E OS SOROPOSITIVOS

Em setembro passado a imprensa divulgou que um homem portador do vírus da AIDS receberá R$ 300 mil da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a título de ressarcimento por danos morais. A decisão, unânime, é da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS, que avaliou como fundamental a influência da Igreja na opção do então fiel de abandonar o tratamento médico em nome da cura pela fé. Conforme os autos do processo, o soropositivo ainda teria sido levado a se relacionar sexualmente com a esposa sem o uso de preservativos, como prova de fé, acabando por transmitir-lhe o vírus, e a ceder bens materiais para a IURD.

O ator Charlie Sheen, de 50 anos, afirmou nesta terça-feira (17) que é HIV positivo. A revelação foi feita durante participação no programa de variedades "Today", da emissora americana NBC. Poucas horas após o anúncio, a socialite Booke Mueller – que é ex-mulher do ator, com quem tem dois filhos, os gêmeos Bob e Max, de 6 anos – afirmou à revista "People" que nem ela nem os garotos têm o vírus.

"Eu estou aqui para admitir que, de fato, sou HIV positivo", revelou ao "Today" astro de filmes como "Wall Street – Poder e cobiça" (1987), "Top gang! – Ases muito loucos" (1991) e da série "Two and a half men". Brooke Mueller, ex-mulher de Charlie Sheen, diz que ela e filhos não têm HIV.

Sheen contou ao "Today" que recebeu o diagnóstico há quatro anos, mas não sabe como contraiu o vírus. "Tudo começou com o que pensei ser uma série de [episódios] de dor cabeça insuportáveis. Pensei que fosse um tumor no cérebro", lembrou. "São três letras difíceis de digerir [HIV]. É uma mudança na vida de qualquer pessoa." O médico de Charlie Sheen afirmou que, apesar de ele ser portador do vírus HIV, a Aids ainda não se manifestou no organismo do ator.

O HIV é o vírus que provoca a Aids, doença que ataca o sistema imunológico, fazendo com que o paciente fique vulnerável a outras doenças. Ser HIV positivo não significa ter Aids. Isso porque é possível ter o vírus no organismo, mas não manifestar os sintomas. Alguns soropositivos vivem muito tempo com o vírus sem desenvolver a doença.

Certamente o título desse artigo te impactou ao ponto de você lê-lo até aqui. Peço-lhe que continue lendo até o final.

O Brasil é um exemplo para os outros países, porque conseguiu desenvolver políticas públicas que privilegiam o acesso dos doentes aos medicamentos que compõem o coquetel. Mesmo assim, os casos de infecção pela doença, que surgiu no país em 1980, não diminuíram. São cerca de 25 mil novos casos por ano no Brasil. A doença está atingindo cada vez mais os jovens, as mulheres e os mais pobres.

Diante desta realidade, o que a Igreja de Cristo está fazendo para combater a doença? Que testemunho está dando aos que sofrem com a AIDS ou são portadores do vírus HIV? As igrejas estão preparadas para receber em suas fileiras indivíduos soropositivos? Não é preciso uma reflexão profunda sobre o tema HIV/AIDS e o papel da igreja cristã para se chegar a uma conclusão: a igreja evangélica ainda está fazendo muito pouco - praticamente nada - pela prevenção e pelos que vivem com o vírus . As razões para isto são muitas, entre elas: o preconceito, a falta de conhecimento, a complexidade referente às formas de contágio e a falta de compromisso com o Reino de Deus. Certamente que se chegar algum soropositivo na igreja - ou se algum membro se contaminar - ele, por motivos óbvios, irá omitir sua sorologia.

Essa triste realidade me desperta alguns questionamentos:

• As igrejas devem tratar do tema HIV/AIDS?
• Quando foi abordado este tema em sua igreja?
• Quais são as ações de sua igreja no tema HIV/AIDS?
• Quando na sua igreja o assunto HIV/AIDS foi levado para discussão com os membros?

A Bíblia e a AIDS


A igreja precisa se arrepender pela omissão e excesso de julgamento quando o assunto é HIV/AIDS. reduzimos a AIDS a um castigo divino por causa da promiscuidade; e a vítima a um simples diagnóstico. Mas, como podemos afirmar que todos os contamidos são ou foram promíscuos? É muito perigoso tomar o lugar de Deus. O julgamento sem amor suscita inimigos e não convertidos. Devemos repensar nossa maneira de interpretar o outro. Este juízo de valor leva a igreja à omissão. Como julgar, se para alguns, a AIDS foi uma benção, porque os aproximou de Deus e das pessoas, mesmo com tanto sofrimento?

Os cristãos precisam aprender tanto com a catástrofe quanto com as vítimas. Uma "praga" deveria nos ensinar muitas coisas, como: humildade, gratidão a Deus porque ele nos livrou do julgamento que merecemos, e compaixão pelos que sofrem. A igreja precisa aprender com os homossexuais. Os homossexuais tiveram um trabalho importante no aspecto do controle e da mobilização social contra a AIDS. Temos que aprender sim com eles. Chamo a atenção para o controle social que a igreja não está fazendo. Foram as ONGS e os homossexuais que começaram isto. Não estou defendendo a homossexualidade nem a quebra de princípios, mas apenas dizendo que precisamos ter mais ousadia, porque a igreja tem um poder muito grande de mobilização social. Só que, em muitos casos, ela não usa esse poder e opta pela omissão. É preciso que nos façamos a seguinte pergunta: Jesus abraçaria um portador do vírus HIV ou um doente de AIDS?

Falando sobre o compromisso da igreja quanto à cura da AIDS, é preciso relembrar o conceito de Graça. Deus nos ama incondicionalmente; este amor não depende da minha bondade ou da minha maldade. Deus deu as costas para Jesus e teve que fazer isto porque sobre Jesus foi depositada toda desgraça, para que ele fosse a graça. Sem sombras de dúvida, a igreja tem que ser uma depositária fiel da graça de Deus, precisa mudar seu foco. 

Nosso discurso sobre amor se torna uma ode à hipocrisia quando impomos condições para amar alguém. Jesus quando nos orientou a amar ao próximo como a nós mesmos, não definiu quem seria esse próximo. Se seu próximo for um soropositivo, segundo o conceito do amor de Deus, você deve amá-lo incondicionalmente.

Uma das questões sempre levantadas quanto a esse assunto é se o portador do HIV/AIDS é uma vítima ou um sobrevivente da graça. Acredito que, se o portador se achar uma vítima ele será uma vítima. Depende do contexto em que ele se coloca e da forma como cada um se enxerga. Muitas ONGs já estão tentando resgatar a imagem de dignidade da vítima. 

A Lei e a AIDS


Em novembro de 2013, o Brasil foi considerado referência mundial no combate a AIDS segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids). O país mereceu este destaque porque foi o primeiro, dentre as economias consideradas em desenvolvimento, a oferecer terapia com retrovirais, de forma gratuita, a todos os pacientes soropositivos assim que a doença for diagnosticada. Para se ter uma ideia da importância de fornecer esta terapia na rede pública, o tratamento antirretroviral se ministrado desde o início da doença pode reduzir em até 96% o risco de transmissão do vírus, e ainda, é claro, prolongar a vida do paciente.

Embora o Brasil seja considerado como exemplo no combate à AIDS, o relatório divulgado pela ONU em julho de 2014 apontou aumento do número de pessoas infectadas pelo vírus HIV no país. No período compreendido entre 2005 a 2013 o número do novos casos de infecção pelo vírus aumentou 11%, contrariando assim lógica mundial, em que os casos de contaminação diminuíram 20%

A justificativa do Ministério da Saúde para o aumento do número de infectados é que no mesmo período o Governo Federal investiu em campanhas voltadas para o diagnóstico da doença. Outro fator apontado são as parcerias firmadas com organizações da sociedade civil para levar testes a populações vulneráveis.

Muito se avançou em termos de pesquisas e tratamentos no que diz respeito ao combate da doença, mas infelizmente ela, ainda, é incurável. Por esta razão o cidadão diagnosticado com o vírus HIV possui algumas benesses legais, que vão muito além da gratuidade do diagnóstico e do tratamento retroviral.

O principal deles é a garantia contra o preconceito e a discriminação inserta no artigo 5º da Constituição de 1988, in verbis: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Já a legislação infraconstitucional garante ao portador do vírus HIV direitos trabalhistas, previdenciários e financeiros. De acordo com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais- órgão ligado ao Ministério da Saúde, são eles:

  • Sigilo no trabalho; 
  • Auxílio-doença; 
  • Aposentadoria por invalidez;
  • Benefício de Prestação Continuada (É a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa incapacitada para a vida independente e para o trabalho, bem como ao idoso com 65 anos ou mais, que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família.);
  • Saque do FGTS; e,
  • Isenção no Imposto de Renda.

Conclusão


Se descobrir um(a) soropositivo(a) certamente não é uma situação confortável para ninguém. Muitos quando são diagnosticados acabam entrando em desespero e movidos pela emoção dão cabo de suas vidas. Outros se tornam amargos, depressivos e há até os que se revoltam e saem contaminando outras pessoas em uma psicopatia criminosa. Por isso, a Igreja de Jesus precisa ir em amor até essas pessoas e recebê-las de braços abertos, dando a elas, inclusive, plena liberdade do exercício ministerial. 

Além do mais, o poder de cura que Jesus liberou à sua Igreja é eficaz também contra a Aids. Ou não?! Não dá para vivermos esse cristianismo cheio de remendos devido às roturas feitas pela falta de atitude, pela falta de amor e pela falta do Fruto do espírito. No caso dos soropositivos, se a Igreja evangélica está gerando algum fruto, de tão mirrado, ele é sem sabor, portanto, intragável, indigesto. Enfim, eis mais uma oportunidade de não amarmos apenas de palavras, mas de fato.

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