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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

SÍNDROME DE DEUS

O ator Jim Carrey na foto de divulgação do filme (péssimo, diga-se de passagem), a comédia (sem graça nenhuma) 'Todo Poderoso'
Pense bem, você se queixa por não poder realizar vários compromissos? Você se queixa por não poder fazer várias coisas que deseja? Você se queixa por se esquecer disso ou daquilo? Você se queixa de querer fazer um monte de coisas para as quais não tem tempo ou dinheiro? Você se queixa de não saber um monte de coisa? Você se culpa por pessoas que você aconselha não tomarem um rumo na vida? Então! Talvez você esteja com Síndrome de Deus, isto é, querendo ser onipresente, onipotente, onisciente, todo-poderoso...

Pois é, normalmente essa síndrome é atribuída aos médicos e aos magistrados que se acreditam seres superiores, dotados de super poderes, da capacidade singular de curar. Têm a presunção de litigar pela vida ou pela morte.

Mas, tenho por vezes sido perseguido por esta síndrome, e tenho percebido que muitos líderes eclesiásticos também sofrem desse mesmo mal. Pensamos que como ministros de Cristo somos seres superiores dotados de super poderes, e que nossos corpos são incansáveis, e nossa saúde indestrutível, que nossas famílias são inabaláveis, que nosso tempo é infindável e por aí nos metemos aos compromissos de montes, a agendas intermináveis e pouco tempo para o que realmente importa.

De fato isso tem até algum sentido, pois geralmente as demandas da igreja são de pronto socorro, é gente estropiada para tudo que é lado. Sempre uma emergência atrás da outra, e para quem está doente da alma, realmente tudo é absolutamente urgente, e assim, lá vamos nós.

Vamos socorrer o casal que quer se divorciar, no caminho teclamos para responder ao jovem rebelde, vamos pregar no culto de aniversário de bebê, saímos dali para o velório, do velório para o culto de casamento, do culto de casamento para o hospital, do hospital para a casa da viúva pobre, da viúva pobre para o estudo Bíblico do novo convertido, do novo convertido para a casa de recuperação e assim vamos nós, em nossa rotina alucinante.

Achamos que se não for por nós essa pessoas não vão suportar, se não for por nossa ajuda imediata e nossa presença o mundo vai acabar, o mal vai vencer, e em algum momento, acabamos esquecendo que no céu tem um Deus, que é Pai dessa gente, esquecemos do Espírito que atua nesse povo, esquecemos que tem outras pessoas na igreja, achamos que nós somos Deus, que nós somos a Congregação, que só nós podemos resolver, quem sem nossa presença o mundo para.

Ah! E tem um detalhe, achamos que temos que ter todas as respostas, nos cobramos em saber todas as direções e ter todas as soluções, pensamos que podemos explicar coisas inexplicáveis, aceitamos que temos que orar todas as vezes, acreditamos que temos que estar sob controle de tudo e que somos o centro de todos os olhares, o centro das atenções. Pensamos até que nunca morreremos. Quando chega a morte para algum dos nossos, dos quais assim como nós mesmos, reputamos por "imorríveis", tome pontos e pontos de interrogação.

Muitas vezes nós esquecemos, que a Bíblia é a resposta, e que é o Espírito Santo quem ilumina as respostas. Ensinamos tanto sobre esperar, mas esquecemos de dar tempo ao tempo, esquecemos que não depende de nossa vontade, mas da de Deus, ficamos tristes quando as coisas não dão certo, e nos culpamos pelos pecados dos outros esquecendo que cada um responderá por si a Deus e que não acontece nada nesse mundo que não esteja no controle de Deus.

Qualquer um pode errar, qualquer um pode ter preguiça, qualquer um pode ficar cansado, dormir até tarde, mas vai o pastor fazer qualquer coisa errada!?!? Pronto, o barraco está armado.

Ministramos tantos estudos e pregações sobre o perdão, mas esquecemos que ele serve a nós também. Sabemos tudo de perdão, mas não nos perdoamos por nossos erros, achamos que nunca seremos os que devem ser perdoados, nos envergonhamos por ter que pedir perdão, como se fossemos super máquinas inerrantes da fé.

E o negócio é que pra tudo isso, temos que viver com o mínimo salário, temos que aceitar qualquer coisa que nos pagam e sorrir, temos que comer qualquer comida, temos que ter carro velho e que sempre dê problema de preferência, temos que vestir terno e gravata no calor de 40 graus, enquanto todos estão de bermuda, nossos filhos têm que aceitar a roupa velha que não serve mais no filho do irmão rico da igreja e tem que brincar com o carrinho quebrado que já foi do filho do diácono. Sim, é isso mesmo. às vezes, parece que pra todo mundo, pastor de verdade tem que ser sofredor, aquele para quem as pessoas olham com um enorme dó e dizem: “coitadinho, vamos 'abençoá-lo'”!

De fato, não trabalhamos pelo dinheiro, mas isso não significa que o trabalhador não seja digno de seu trabalho, que aquele que se dedica ao ensino e a pregação seja digno de salários dobrados, e que não é certo tapar a boca do boi enquanto ele trabalha no moinho.

Esquecemos que Deus deu dons aos outros e que não fomos chamados para fazer tudo, devemos nos lembrar que não sabemos todas as coisas, e devemos aprender a dizer não para aquilo que realmente não podemos fazer. Precisamos aprender que dizer não, não é pecado, e que sim nem sempre é o que Deus espera de nós.

Não que o ministério não tenha seus privilégios, tem sim, mas, se essas pressões começam a te escravizar, e você entra num ativismo tão grande que não faz, mas nada da vida senão trabalhar, preocupado no que vão pensar de você e achando realmente que você é a solução para o mundo, cuidado!

Você não é onipresente, onipotente ou onisciente, você não é Deus. E mais, pode estar até pecando contra Deus, pois, o que acontece é que por causa disso, muitas vezes deixamos de fazer um montão de coisa que deveríamos. Muitas vezes a Bíblia se torna um livro de estudo, usado só para pregar, uma coletânea de respostas decoradas para os que te importunam, mas, para ti, ela faz tempo deixou de falar.

Você a estuda tanto, fala tanto dela, a prega tantas vezes que já não tem mais prazer em simplesmente parar e lê-la, com a simplicidade apenas de deixá-la falar, sem dissecá-la como uma rã de laboratório, ouvindo sua voz meiga e deixando-a penetrar sua alma como faca na manteiga.

Muitas vezes, essa síndrome leva o pastor a deixar de orar, não que nós não acreditemos em oração, mas pode ser que creiamos que muito mais nos vale o feijão do que o joelho no chão.

Muitas vezes, por causa dessa síndrome de Deus, achamos que nossas famílias fazem parte da trindade conosco, e que são deuses sem necessidades, pensamos que nossos filhos crescerão normais não tendo pai para brincar, ensinar e educar, pensamos que nossas super esposas nunca precisão de atenção e de nossos ouvidos...

Pensamos? Será que realmente pensamos? Creio que se você leu esse artigo até aqui, agora sim, você está pensando que você pode estar querendo tomar o lugar de Deus.

Então, se isso for verdade, está na hora de você voltar a ser humano, a cuidar de sua vida de oração, de sua leitura bíblica devocional, de rolar no chão com seus filhos espalhando brinquedos pela casa, de sair de férias para uma segunda lua de mel com sua esposa, está na hora de fazer aquele regime, de ir à academia, de dormir até tarde de vez em quando e de depender de Deus, deixando-O ser o centro de seu ministério, e confiando, na dependência Dele, que Ele é o Senhor da Igreja, e que mesmo que você não exista mais, a igreja será sempre vitoriosa, pois ela é de Cristo, e não sua.

Não ser um super pastor não significa ser um vagabundo negligente, significa simplesmente entender que você não é o Senhor da Igreja, e que você não poderá resolver todos os problemas, e admitir de que as soluções que as pessoas procuram não estão em você e sim em Cristo, e que sua função é ser uma simples seta apontada para Cristo, e que cada pessoa tem sua própria responsabilidade em buscar a Cristo também.

É saber e admitir que você falhará, que você não poderá estar em todos os lugares e de que você tem limites e prioridades maiores do que a Igreja, como sua família por exemplo, sem a qual nem pastor você pode ser.

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