¶ "E logo ordenou Jesus que os seus discípulos entrassem no barco, e fossem adiante para o outro lado, enquanto despedia a multidão. E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só. E o barco estava já no meio do mar, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário; Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar. E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo. Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não temais. E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? E, quando subiram para o barco, acalmou o vento. Então aproximaram-se os que estavam no barco, e adoraram-no, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus. Mateus 14:23-33 (conforme Salmo 29:3)" ¶
O mar estava revolto. O Mestre não estava presente. Todos no pequeno barco temiam pela sua própria vida. Depois das três horas da madrugada, os discípulos pescadores já não sabiam o que fazer, ainda que aquela não fosse uma situação inédita. Tempestades em alto mar, mar bravio, corredeiras, naufrágios, barcos à deriva... todos esses desafios são comuns aos homens do mar e a experiência os capacita a vencer a todos eles. Entretanto, aqueles homens, liderados por Pedro, todos, exímios pescadores já se sentiam perdidos.
Após muitas tentativas, forças e esforços empregados, cansados, ensopados, suados, exaustos, depois das três horas da madrugada, os discípulos pescadores avistaram um homem andando sobre as águas e se encheram de medo. Medo? Eles poderiam ter pensado que estavam tendo uma alucinação, efeito da exaustão. Isto seria possível. Mas tiveram mesmo foi medo. Medo de uma situação que certamente já haviam enfrentado anteriormente e não só por uma vez. Medo de uma circunstância sobre a qual tinham o domínio da experiência. Pensaram que estavam vendo um "fantasma". O efeito alucinógeno do medo nos faz ver fantasmas. É o "efeito Gasparzinho".
Mas Jesus estava não só no controle daquela embarcação como também no controle daquela situação. Logo ele se apressou em se identificar. O interessante é que Jesus não se preocupou em exortar os discípulos por terem tido medo. Ele logo se manifestou em frente ao medo que deles irradiava. Pedro, afoito como sempre, diz: "Se é tu mesmo, manda ir ter contigo." Ousado o moço. Mas, teve medo do mar enfurecido. O que impulsionou a atitude de Pedro foi a certeza de que, se fosse mesmo Jesus, ele estaria seguro. Alguém teria que "arriscar", que fosse ele então, já que estava na liderança da embarcação justamente por ser o mais experiente.
Ao ouvir Pedro, Jesus falou um simples "Vem!". Não havia tempo e nem era o momento para longos discursos. "Vem!", simples assim. O "vem" dAquele que detém o mundo em Suas mãos. Pedro, impetuoso, foi ter com ele. O mar e o vento, também impetuosos, continuavam sua investida. O barco, mesmo que cambaleante, ainda era uma referência, mesmo provisória, de segurança. Ao sair do barco, Pedro sai do seu suposto domínio e entra na dimensão do domínio de Deus: o sobrenatural. Não sabemos quantos passos Pedro deu, mas sabemos que ele andou.
Como homem natural, Pedro tirou os olhos de Jesus, o seu alvo, Aquele que poderia mantê-lo imerso sob as furiosas águas, sentiu a força do vento contra si e, então começou a afundar. Pronto. E agora? Pedro dominava a situação dentro do barco, agora ele estava fora do barco. Perdeu o controle. O que ele faria? A única coisa que ele poderia fazer naquele momento seria clamar por socorro. E foi o que ele fez. Imediatamente Jesus estendeu Sua mão.
Não critiquemos Pedro. Não façamos juízo de valores sobre ele. Nós agimos da mesma forma. De tempos em tempos nossa vida passa por tempestades, por turbulências, por mares revoltos. Entretanto, quando Cristo está presente, há uma esperança. Ele sempre está pronto a nos estender Sua mão, mas há momentos em que seremos desafiados a andar sobre as águas. São os momentos dos desafios da fé. São os momentos em que somos desafiados a sair da dimensão do físico e mergulhamos fundo na dimensão do sobrenatural. A Bíblia chama isso de milagre.
Precisamos estar com nossos olhos fixos em Jesus, o nosso farol, o nosso ponto de referência e com os nossos ouvidos atentos à Sua voz, para que, quando ouvirmos o seu "Vem!", não duvidarmos em nosso coração de que realmente é Ele quem nos chama. Animados, logo começamos a dar os primeiros, podem ser poucos ou muitos passos, cada um de nós dentro de sua realidade. Infelizmente podemos tirar os olhos do Mestre, olhamos para os problemas, sentimos o vento das impossibilidades e podemos afundar vertiginosamente, saindo da imersão do sobrenatural e sendo afogados na submersão dos problemas.
Não importa quanto tempo andaremos por sobre as águas olhando pra Jesus, se não desviar os olhos, não afundaremos. Enquanto olhamos para o Mestre, somos invencíveis. Se deixarmos nossa natureza espiritual dominar nossos sentidos, não haverá razão para olhar para outro lugar, senão para Jesus.
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