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segunda-feira, 21 de julho de 2025

EU NÃO ME ESQUECI — ESPECIAL: OS 20 ANOS DO CASO JEAN CHARLES DE MENEZES

Reprodução: Arquivo pessoal
Jean Charles foi seguido até a estação de metrô de Stockwell, imobilizado e baleado sete vezes na cabeça e no ombro, em 22 de julho de 2005.

Os policiais responsáveis pela operação pensaram se tratar de Hussain Osman, suspeito dos ataques a bomba fracassados do dia anterior no transporte público de Londres.

A trágica história do assassinato do jovem mineiro de Passos, MG, que se tornou um símbolo internacional de injustiça, é o tema deste artigo especial, mais um capítulo da nossa série especial "Eu Não Me Esqueci".

Ele era inocente

Jornal britânico da época, repercutindo o caso — Arquivo reprodução
Com sete tiros, Jean Charles de Menezes, 27 anos, brasileiro de Minas Gerais, é executado pela Scotland Yard no metrô de Londres em seu trajeto usual para o trabalho, sob alegação de que ele seria um terrorista.

Duas semanas antes, bombas explodiram no metrô londrino matando e ferindo dezenas de pessoas.

No dia 21 de julho, uma nova tentativa de atentado, desta vez fracassada, ocorrera no metrô da cidade. 

A Scotland Yard (polícia metropolitana) alegaria, posteriormente, haver confundido Jean Charles com Hussain Osman um dos suspeitos procurados pelo atentado da véspera.
Hussain Osman

Incidente diplomático


A morte do jovem brasileiro gerou um incidente diplomático: o governo brasileiro exigiu investigações aprofundadas sobre o caso.

Em 2006, o então primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair pediria desculpas formais ao presidente Lula e à família de Jean Charles.

Inicialmente as autoridades alegaram que Jean fugiu da abordagem policial. 

Entretanto, as investigações e as imagens das câmeras de segurança mostraram que ele entrou calmamente na estação, desmentindo a versão oficial. 

Dias depois, a Scotland Yard reconheceu o erro, mas a Justiça não responsabilizou os policiais envolvidos.

Impunidade


Reprodução arquivo pessoal
Apesar dos apelos do governo brasileiro e da cobertura da imprensa inglesa apontando as falhas da operação, nenhum policial ou autoridade seria sequer responsabilizado pela execução de Jean Charles. 

Autoridades locais atribuiriam os diversos erros da operação à tensão gerada pelos atentados terroristas.

Em 2007, a Scotland Yard seria multada em 175 mil libras por burlar as normas de segurança e saúde da população durante a operação.

Em 2009, a comandante da desastrada ação que matou Jean Charles receberia uma condecoração da rainha Elizabeth 2ª, e no ano seguinte o comissário de polícia seria indicado à Câmara dos Lordes.

Em 2010, a estação de Stockwell, local da execução, receberia um monumento em homenagem ao brasileiro.

Em 2015, a família de Jean Charles entraria com representação na Corte Europeia de Direitos Humanos contra o governo inglês.

A morte de Jean Charles se tornara um símbolo.

Cronologia dos fatos


Duas semanas após os atentados de 7/7 em Londres (que matam 52 pessoas e deixaram mais de 700 feridos), o transporte público é alvo de novos ataques, mas as bombas não explodem.
• Uma caçada humana é iniciada para capturar os quatro homens suspeitos de tentar realizar o atentado.

• A polícia encontra um endereço na Scotia Road, Tulse Hill, escrito em um cartão de membro de uma academia de ginástica em uma das malas não explodidas usadas pelos suspeitos.

• Jean Charles, que morava em um dos apartamentos da Scotia Road, é erroneamente identificado pela polícia como Hussain Osman.

• Ele é morto a tiros em 22 de julho pela polícia na estação de metrô de Stockwell.

• Quatro homens, incluindo Osman, mais tarde são condenados por tentativa de atentado a bomba. Osman recebeu a sentença de prisão perpétua com pena mínima de 40 anos.

Tragédia inspirou minissérie, filme e música


Reprodução Instagram
A minissérie britânica “Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano”, narra os acontecimentos que levaram à morte trágica de Jean Charles de Menezes, eletricista brasileiro confundido com um terrorista pela polícia britânica em 2005.

A produção tem quatro episódios e estreia no dia 30 de abril de 2025, exclusivamente na plataforma.

Com roteiro e produção executiva de Jeff Pope (Philomena, Stan & Ollie), a obra adota múltiplos pontos de vista (incluindo o da polícia, da família e de investigadores) para mostrar como memória, erro humano e decisões políticas moldaram o caso.

Além da nova minissérie do Disney+, a história de Jean Charles chegou ao cinema em “Jean Charles” (2009), com direção de Henrique Goldman e Selton Mello no papel principal. O filme está disponível na Netflix.
A dupla britânica Pet Shop Boys também prestou homenagem ao brasileiro com a música 'We’re All Criminals Now', lançada como parte do single “Love Etc.” (2009), do álbum “Yes”. A canção faz referência direta ao caso e critica a brutalidade policial e os excessos de medidas antiterrorismo.

Conclusão

O que aconteceu depois?

Imagem do memorial de Jean Charles na estação de Stockwell / Crédito: Disney+
A morte de Jean Charles causou indignação mundial. No Brasil, o governo se declarou “chocado e perplexo” e exigiu explicações.

No Reino Unido, manifestações públicas e reportagens da mídia britânica e internacional cobraram justiça.

As autoridades conduziram duas investigações: uma decidiu não processar os policiais, enquanto a outra criticou falhas na comunicação e no comando da operação. 

A promotoria britânica processou a Polícia Metropolitana, e a Justiça condenou a corporação a pagar uma multa de £ 175 mil por negligência.

O governo britânico indenizou a família Menezes em £ 100 mil, valor considerado baixo em comparação a outros casos julgados na mesma época.

A decisão de não processar os agentes foi mantida até no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o que gerou ainda mais revolta. 

A polícia admitiu o erro, mas nenhuma punição direta foi aplicada aos envolvidos.

Em 2010, inauguraram um memorial em sua homenagem na estação de Stockwell.

Impacto emocional


O senhor Matozinhos Otoni de Menezes e a senhora Maria Otônio de Menezes, os pais de Jean Charles, nunca superaram a perda trágica do filho, um jovem sonhador, que como muitos, foi tentar uma vida melhor na Europa.

Para a família, o trauma permanece. Dona Maria lembrou com dor das cenas que mais a marcaram, ao assistir a  série da Disney+.
"A parte em que o policial deu o mata-leão e atiraram nele… ali machucou muito. 
Essa parte eu não consigo assistir. Mesmo depois de 20 anos, parece que aconteceu ontem. 
É muito dolorido. Muito terrível",
desabafa.

Questionada se a série ajudou no processo de luto, ela respondeu:
"Sim, ajudou. Mas é muito difícil. Você não tem ideia do que é perder alguém assim. Ele só veio trabalhar. Morreu inocente, como uma criança."
Sobre o legado de Jean, Alex Pereira de Menezes, o irmão de Jean reforça:
"Queremos que as pessoas lembrem dele como um rapaz decente, trabalhador, honesto. Que entendam que qualquer um pode correr esse risco só por estar tentando viver a própria vida com dignidade. 
Todos que estão na luta, como foi o caso do Jean — um jovem que morreu batalhando, buscando uma vida melhor, saindo do seu país para tentar algo em outro lugar —, que não percam a fé. Que continuem firmes, que sejam fortes. Porque, mesmo com um incidente como esse, a gente não pode desistir. Enquanto estivermos vivos, temos que trabalhar, temos que lutar, temos que correr atrás dos nossos objetivos",

 acrescenta.

A polícia reconheceu a tragédia e pediu desculpas à família, explicando que a morte de Jean ocorreu "em um momento de ameaça terrorista sem precedentes em Londres".

O episódio foi alvo de múltiplas investigações, incluindo duas realizadas pela antiga Comissão Independente de Reclamações contra a Polícia (IPCC), que identificaram falhas graves na conduta da polícia e manipulação de informações.

Porém, o fato é que o assassinato de Jean Charles de Menezes ficará para história como um emblemático e controverso caso de assassinato com forte tom de impunidade, que eu não me esqueci.

[Fonte: BBC News Brasil, original por Luis Barrucho (Londres); Memoria da Democracia; Olhar Digital; Aventuras na História]

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