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terça-feira, 22 de julho de 2025

📚ESTANTE DO LÉO📚 — "A MENTE DE ADOLF HITLER", WALTER C. LANGER

Indivíduos cujas ações foram extremamente marcantes — quer seja para o bem, quer seja para o mal — sempre serão lembrados com o passar da história. A análise de Hitler não é diferente, e o resultado é fascinante e profundo.

O estudo minucioso apresentado no texto deste livro, permanece vigoroso e significativo depois de tantos anos. E vai além: ele nos faz ver que há muitos Hitlers espalhados pelo mundo. Conhecemos tantos homens e mulheres com perfis semelhantes!

De forma metódica, o autor aborda a construção psicológica do criador do nazismo, o alemão Adolf Hitler, tido como o maior assassino da história.

Este é mais um capítulo da minha série especial de artigos, "Estante do Léo".

A mente de Hitler no divã


Li este livro, mais como uma ferramenta de instrumentação acadêmica, já que, como psicanalista, sou agente ativo na área de saúde mental.

Mas, mergulhar na estrutura psíquica de uma criatura que, por si só nos causa tanta repulsa, é um enorme desafio, principalmente pelo fato de que em nossos settings analíticos, podemos receber indivíduos com os mais complexos, controversos, paradoxais e até repugnantes desvios, sendo que, a nós, enquanto profissionais no exercício da psicanálise, não é cabido fazer absolutamente nenhum juizo de valores sobre o paciente em terapia.

Analisando o livro


Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, Walter C. Langer (✰1899/✞1981), psicanalista americano que estudou com Freud em 1930, em Viena, tendo sido analisado por Anna Freud, recebeu a missão de elaborar um estudo psicológico de Hitler.

Langer foi procurado, pessoalmente, pelo general William Donovan, então chefe do Escritório de Serviços Estratégicos (órgão deinteligência anterior à cia), que acreditava na psicologia como ferramenta de informação de guerra. O objetivo era a vitória o mais rápido possível.

O sucesso dos Aliados foi construído por variadas ações conjuntas de inteligência e estratégia militar, esforço industrial, conhecimento científico, gestão de recursos humanos e naturais, logística e contribuições que exigi­ram sangue, suor, lágrimas e vidas. Faltava ainda acrescentar a psicanálise ao arsenal de guerra.

Acrescido de um prefácio, o relatório virou este livro, lançado recentemente no Brasil. Ele atesta que, em tempos de conflito, todo e qualquer conhecimento é relevante e, principalmente, que não se deve economizar ou desprezar esforços para derrotar o inimigo.

Antecipar-se às ações do Führer era o principal objetivo do estudo. Os Aliados sabiam que ganhariam a guerra, que a vitória era uma questão de tempo. Mesmo assim, precisavam prever os movimentos de Hitler e também dos alemães depois da derrota. Como o ditador reagiria sob intensa pressão?

Langer previu que Hitler se isolaria, até o suicídio, à medida que os fra­cassos nazistas se tornassem evidentes; também, que se afastaria dos generais mais profissionais e inteligentes, capazes de confrontá-lo, para manter intactos seu poder e as próprias ilusões de onipotência.

Anteviu ainda a possibilidade de golpe e atentado por parte de militares alemães bem preparados e menos ideológicos. O comando Aliado considerou o estudo uma valiosa fonte de in­formação estratégica. O relatório foi se mostrando acertado com o desenrolar dos acontecimentos.

Qual a estrutura psíquica de Adolph Hitler o livro nos apresenta?

  • O Complexo de Édipo
Quando olhamos para o passado e para o terror do holocausto, mesmo para quem não conhece, Adolf Hitler figura essa mancha negra. O ditador alemão deu início a maior chacina da história, projetando nos outros o que guardava de pueril em si.

Dessa forma, sua pátria amada passaria por uma limpeza, se tornando a mãe ideal.

A relação de Hitler com a Alemanha é quase que maternal se olharmos ao seu histórico. 

O mesmo foi vítima de um pai abusivo que batia nele próprio e em sua mãe. Ainda criança, ele se identificava com ela, o que remete suas ações ao Complexo de Édipo.

De acordo com a Psicanálise, ele a desejava secretamente, mas este é um impulso natural da infância.

Assim que cresceu, Adolf passou a observar a Alemanha como sua própria mãe. O vigor que esta carregava, bem como sua juventude e força era algo que ele queria ter perto.

Com isso, o mesmo abdicou de sua origens paternas na Áustria e passou a se dedicar à Alemanha. Assim, houve um “assassinato” de suas origens.
  • A figura paterna
Assim como a Alemanha representava sua mãe, a Áustria assumiu a figura de seu próprio pai. O país se mostrava um lugar velho, decadente e esgotado, assim como o patriarca.

Adolf Hitler queria se afastar de toda a situação que o seu berço lhe evocava e seguiu a frente. Infelizmente, o ditador acabou conseguindo.

Sua trajetória no nazismo revela a parte obscura de sua mente que não fora trabalhada. O problema também foi quando as palavras dele ecoaram e conseguiram chegar até outras pessoas que se identificaram com elas.

Com isso, deixou de ser visto como piada e passou a ser temido com suas ideias inconcebíveis a qualquer tempo.

Contudo, se nos atentarmos a essa relação, Hitler acabou assumindo a figura de seu próprio pai. 

Dada à forma como foi criado, ele acabou por refletir os abusos que sofreu enquanto era criança.

Indefeso para fazer alguma coisa e sem uma guia para processar tudo, acabou por captar os aspectos de tudo o que repudiava quando menor.
  • Projeção e introjeção
O antissemitismo de Adolf Hitler se mostra como um caso claro de projeção. Todas as características às quais ele não gostava foram direcionadas ao povo judeu, de modo a construir uma válvula de escape. 

Dessa forma, idealizando neles tudo o que não gostava em si, construiu um motivo para agir da forma que fez.

Além disso, o ódio que cultivava ao povo judeu se refere ao ódio que cultiva em sua imagem infantil. Isso porque sua infância representa um estágio da vida ao qual ele queria esquecer.

O mesmo era submisso, vulnerável, embora cultivasse tendências masoquistas e perversas. Matando os judeus, mataria a parte de si que queria esquecer.

Além disso, as milhões de almas perdidas acabaram por servir como um bode expiatório à frustração alemã. Houve um fracasso na Primeira Guerra mundial por parte da Alemanha.

Para compensar o sentimento de derrota, o mesmo desconta nos judeus tudo o que carrega em si. Seus delírios acabaram sendo alimentados por pessoas que pensam igual.
  • Marcas
O aspecto existencial de Adolf Hitler deixa rastros em cada ação que este fez. 

Pessoas cujo a construção social divergem da dele naturalmente se chocam e repudiam cada ato. Ao que parece, o mesmo acreditava em suas ideias porque as via de forma natural.

Graças a isso, percebemos:

  • Tendências perversas
Como é de se imaginar, a mente do ditador carregava sérios declínios de conduta. O mesmo não media esforços para castigar qualquer judeu que fosse encontrado por suas tropas.

O quadro se agravava ainda mais por conta de seus seguidores. Isso porque os absurdos eram acolhidos por diversos grupos que pensam de forma semelhante.

Isso fica evidente na construção dos campos de concentração e câmaras de gás. Não existia distinção entre idosos debilitados e crianças recém-nascidas. Contanto que fossem judeus, teriam o mesmo destino.
  • Sociopatia
Hitler, assim como seus seguidores, sentia prazer com a dor alheia. O expurgo, em sua mente, era justificado com o intuito de se fazer uma pureza social.

Como eliminava o que acreditava ser impuro, não deixava de sentir alívio, comportamento pueril graças à forma cruel com que castigava.
  • Incapacidade de lidar com sua própria essência
A frustração com a própria história o levava a direcionar seus impulsos aos outros. Com isso, acabou externando seus problemas pessoais no que acreditava remeter a si mesmo.

Embora machucasse milhões de vítimas, o ódio também se direcionava a si mesmo.
  • O poder do trauma
Como dito linhas acima, Adolf Hitler era vítima de um pai bastante agressivo. O mesmo cresceu sob a tutela da violência, tem a sua mente fragmentada no processo.

Isso continua a ser comum hoje em dia, onde crianças em lares construídos dão luz a adultos com completas mentais. Podemos observar comportamentos como:
  • Problemas de relacionamento
Os traumas que vivenciamos na infância dificultam o posterior contato com outras pessoas. Dessa forma, indivíduos que foram agredidos em fase de crescimento podem ter dificuldade em se conectar com alguém.

Isso cria empecilhos para a construção de relacionamentos pessoais e profissionais.
  • Replicação
A criação de uma pessoa é responsável pela forma como ela age futuramente. Já que alguém sofreu abusos quando menor, sem o devido acompanhamento, pode facilmente replicar isso na vida adulta.
  • Destruição
O ambiente externo carrega as marcas de como esse indivíduo foi explorado.

Entretanto, é preciso se atentar ao seu campo interno e as feridas que este carrega.

Certamente sua parte psíquica se encontra rachada e completamente desprotegida, dada à falta de desenvolvimento. Em alguns casos, o suicídio costuma ser a saída de muitos.
  • Sexualidade
Embora não haja provas que sejam irrefutáveis, supõe-se que Adolf Hitler era homossexual não assumido, ou seja, tinha recalacado esse traço da sua identidade, tendo mantido relações até o final dos anos 20 que foram qualificadas de homossexuais pelos seus contemporâneos, tendo se sentido muito vulnerável devido a esse passado que sempre tentou esconder.

Conclusão


Para aqueles familiarizados com a metodologia da psicanálise, não é estranha a elaboração de um estudo psicológico na ausência do paciente.

É frequente psicanalistas realizarem tais tipos de estudo, cujos resultados vão muito além de meras especulações.
O estudo jamais justifica o ditador e suas ações criminosas. Ao contrá­rio, elabora um retrato detalhado das características psicológicas de Hitler, retrato que viria a ser corroborado por biógrafos e estudiosos.
Há também, no relatório, uma hipótese diagnóstica — bastante discutível — de psicopatia neurótica, o que hoje seria considerado personalidade dissocial. 

Tipificações diagnósticas são menos importantes do que realidades psíquicas. Mais rele­vante é saber o que homens vivenciam e como pensam para agir.

Traduzir a subjetividade do indivíduo — angústias, sofrimentos e defesas — em linguagem compreensível foi o desafio de Langer, algo plenamente realizado.

Ficha Técnica
  • A mente de Adolf Hitler
  • Autor: Walter C. Langer
  • Editora: Leya, Rio de Janeiro, 2018, 248p.
  • Resenhado por: Luciana Saddi¹
[Fonte: Psicanálise Clínica; Referências — Freud, S. (2011). Psicologia das massas e análise do eu. In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 15, pp. 13-113). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1921); ¹Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sbpsp). Mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (puc-sp). Autora dos livros O amor leva a um liquidificador (Casa do Psicólogo), Perpétuo Socorro (Jaboticaba), Alcoolismo (Blucher) e Educação para a morte (Patuá). Publicado originalmente em: Revista Brasileira de Psicanálise · Volume 53, n. 1, 285-288 · 2019.]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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