Apóstolo Paulo ministrando o Sermão de Areópago em Atenas, por Rafael, 1515
Nos começos evangélicos do cristianismo, o apótolo Paulo decidiu tentar convencer os atenienses das certezas da nova fé que encarnara. Para tanto apresentou-se no areópago da cidade para travar um encontro com os intelectuais de Atenas.
Quis "seduzir" os veneráveis homens de pensamento, herdeiros das escolas platônica e aristotélica, com as proféticas mensagens de Cristo e sua certeza no advento do Reino dos Céus.
Foi o primeiro embate entre a fé cristã e a razão pagã que se tem registro, embate que iria se prolongar por séculos, mesmo depois do desaparecimento do antigo mundo pagão.
No texto deste artigo, pretendo de forma breve expor em que condições este encontro supostamente aconteceu e como ele serve de paradigma para compreender melhor a relação entre fé cristã e filosofia no mundo antigo.
Entre a fé e a razão
O discurso de Paulo em Atenas (Atos 17:16-34) é um dos primeiros textos em que se trata diretamente da relação entre gregos e cristãos. O discurso é emblemático, pois representa o primeiro encontro entre filosofia grega e fé cristã no interior do Novo Testamento.
Ao ler o livro dos Atos dos Apóstolos, nos defrontamos com inúmeras situações de confronto entre judeus convertidos e gentios, onde se disputa sobre as obrigações destes últimos de seguir as práticas legais e rituais do judaísmo (como por exemplo, a circuncisão e a guarda do sábado).
Quando aconteceu e qual o contexto
O discurso de Paulo em Atenas se dá por volta do ano 50-52 d.C., no Areópago, onde Paulo percebe o temor supersticioso (deisidaimonia) dos gregos, pois encontrou na cidade imagens para todas as divindades, incluindo uma dedicada ao "Deus desconhecido" (agnôstô Theô), o qual ele utiliza como argumento para seu discurso, seus interlocutores são os filósofos epicuristas e estóicos.
Estas escolas filosóficas, que estavam em voga na época, podem servir como mote para reflexão sobre as concepções de Deus dos judeus e gregos, bem como sua relação com a discussão filosófica na antiguidade tardia.
Podemos perceber no discurso de Paulo influências do pensamento estóico, a partir dos temas tratados e da citação do filosofo estóico Cleantes (sec. IV a.C.), bem como da proximidade entre as ideias do apóstolo e do filósofo Sêneca (sec. I).
Essencialmente, o que se lê no texto de Atos 17:16-34, é a apresentação que Paulo fez da cosmovisão cristã aos atenienses. Ele colocou o evangelho na história maior da Bíblia, sustentando a razoabilidade da fé, a exclusividade da fé e a necessidade de arrependimento e fé no Salvador Jesus Cristo.
Pregação inteligente, sem perder a essência da unção
Em contraste com os ensinamentos dos epicuristas, que viam os deuses como distantes e não envolvidos nos assuntos diários, Paulo ensina que o propósito de Deus ao criar a raça humana era que se "buscassem a Deus"; Deus deseja amorosamente que as pessoas encontrem seu Criador.
A linguagem de Paulo, porém, também sugere a doutrina do pecado. A imagem que o apóstolo utiliza é a de pessoas cegas tateando atrás de Deus.
O discurso de Paulo em Atenas, no Areópago, é um exemplo de como a fé cristã se relaciona com a filosofia grega. O discurso também é um exemplo de evangelização e de como os cristãos enfrentaram desafios nas primeiras décadas.
Algumas lições que podemos aprender com o discurso de Paulo em Atenas são:
- A necessidade de conhecer a Deus, em vez de adorar o desconhecido;
- A importância de contextualizar o Evangelho;
- A necessidade de respeitar a crença dos outros;
- A preocupação com a salvação das pessoas;
- A importância de comunicar e contextualizar o Evangelho para pessoas diversas;
- A importância de aprender sobre ídolos e a relação com eles;
- A importância de ter contato direto com os diferentes;
- A importância de citar a relação natural com Deus.
Conclusão
Afora os contextos de pormenores teológicos, o sermão de Paulo em Atenas é atemporal em sua essência, pois nos mostra o quanto podemos fazer uso de forma inteligente dos nossos conhecimentos e experiências pessoais com Deus, não com motivação de confrontos infrutíferos, mas atingindo o objetivo evangelístico com propriedade, autoridade, sem perder o respeito com os outros e mantendo o compromisso implicítos nos princípios de Fé.
Lições do sermão de Paulo, que todo pregador deveria seguir
- A PREGAÇÃO COMEÇA por estabelecer um ponto de contato com o público. Paulo começou com o altar "Ao Deus Desconhecido" e terminou com Cristo — a ressurreição de Cristo. Precisamos saber estabelecer pontos de contato.
- A PREGAÇÃO SE SUSTENTA pela exposição do conteúdo centrado em Deus. Paulo apresentou atributos de Deus e demonstrou suas implicações, fechando o foco em Cristo. Precisamos saber apresentar a boa doutrina com aplicações.
- A PREGAÇÃO PRECISA estimular a atenção com temas conhecidos. Paulo citou autores e poetas pagãos. Citou inclusive vocábulos utilizados por Homero. Precisamos saber fazer conexão entre a cultura e o evangelho; temos que saber lançar o evangelho na cultura — para a redenção da cultura.
- A PREGAÇÃO ESTABELECE que todos devem tomar uma decisão diante de Cristo. O Senhor, em data por ainda incógnita a nós, mas Ele já estabelecida, julgará com justiça a todos os homens. Cabe-nos, portanto, na pregação e no viver esta vida pela fé no Filho de Deus que amou e se entregou por suas ovelhas.
Por fim, proponho algumas reflexões inerentes: Você crê em Cristo? Sua vida espelha a vida de Cristo? Ou você vive imerso em um sistema religioso, como quem não tem Deus e Cristo no mundo, mas o mantém "aprisionado" na bolha de costumes denominacionais, como quem não conhece a graça redentora de Deus em Jesus?
[Fonte: Anpof, original por Francisco José Silva — Professor Assistente e Coordenador do curso de Filosofia (UFCA); 2ª Igreja Batista em Goiânia, original por L.B.Peixoto]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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