O que despertou minha inspiração para a composição deste texto, mais um capítulo da minha série especial de artigos Pronto, Falei!, foi um hábito que tem se tornado cada vez mais corriqueiro, especialmente (porém, não especificamente) nas periferias: o abominável hábito de andar nos ônibus e não querer fazer o obrigatório pagamento das passagens.
Há famílias inteiras que entram pelas portas do meio ou traseira, ficam na parte dianteira dos salões e ainda aqueles que sem absolutamente nenhum constrangimento, pulam as catracas dos coletivos, desrespeitando, não só os passageiros pagantes, quanto, principalmente, os condutores dos ônibus, que nada podem falar ou fazer.
Hoje em dia, não se fala em outra coisa, senão em corrupção. Seja nas revistas, nos telejornais, nas redes sociais e nas breves conversas no elevador, a palavra corrupção atrai a atenção e pode render as mais variadas respostas.
Podemos definir o termo como atitudes que visam obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. O combate à corrupção tem aparecido como uma das principais bandeiras nesta novíssima história da República que brasileiros começam a escrever.
A indignação e a revolta das pessoas são justificáveis, afinal ninguém gosta de se sentir roubado e enganado. Porém, se observarmos a definição de corrupção, não é difícil perceber que essas atitudes são mais comuns em nosso dia-a-dia do que podemos imaginar.
Se, por um lado, o pedido por honestidade toma as ruas desde a pressão pela aprovação da Lei da Ficha Limpa, em 2010, e, mais intensamente, a partir dos protestos de junho de 2013, por outro, cidadãos ainda encontram dificuldade de vencer seus próprios vícios.
Corrupto, eu?
Denominadas "pequenas corrupções', elas são mais sutis, simples, e, infelizmente, mais aceitáveis pela maioria. É o famoso "jeitinho brasileiro". Por que sabemos condenar tão bem a corrupção dos outros, mas não a nossa?
É raro verificar alguém que nunca tenha cometido pequenos desvios de conduta no cotidiano, como os listados abaixo. Esses comportamentos não deslegitimam o grito contra a corrupção e estão longe de ser a origem dos roubos aos cofres do governo, mas também atropelam o interesse público e mostram que o problema vai muito além dos três poderes.
As pequenas fraudes estão por todo lado. Há quem dê golpe nos planos de saúde, pedindo recibo médico de outra pessoa para tascar o reembolso. Nem todos os médicos aceitam fornecer.
Fraudar é uma atividade que começa bem cedo na vida. Quando um aluno cola na prova, é fraude. Muita garota ou rapaz entra em uma loja, vai para o provador, experimenta algumas peças. E troca as etiquetas, para levar a mais cara pelo preço da barata.
Quando contam essas fraudes, só provocam risos, não indignação. Há pequenas corrupções que são até estimuladas. O que me assusta é que as pessoas em geral não veem problema nesses gestos de corrupção. São parte do cotidiano e, aceitos, se tornam um modo de viver.
Os números refletem o quanto atitudes ilícitas, como essas, de tão enraizados em parte da sociedade brasileira, acabam sendo encarados como parte do cotidiano. Muitas pessoas não enxergam o desvio privado como corrupção, só levam em conta a corrupção no ambiente público.
É impressionante como as pessoas se indignam e concordam que é preciso combater todo tipo de corrupção, seja ela de que tamanho for, pois por trás há valores e princípios bastante semelhantes, sejam elas pequenas ou grandes.
"É de menino que se torce o pepino"
A infância é um período de grande aprendizado para as crianças. E elas aprendem muito observando e absorvendo as informações a partir, principalmente, do comportamento dos adultos que convivem com ela, na família, em casa e na escola.
E não são só os bons exemplos com os quais as crianças aprendem e os quais elas imitam. Assim, as chamadas "corrupções do dia a dia" — aparentemente inofensivas — também estão incluídas aqui.
Assim, quando veem seus pais ou adultos de sua convivência furarem a fila do supermercado, a fila de uma escada rolante ou a fila de carros em um congestionamento entendem que levar vantagem sobre os outros, se achando esperto e ganhando tempo em detrimento do outro, é o mais importante.
Ou ainda quando ouve o garçom perguntar se a nota fiscal a ser emitida é do valor do gasto realizado, a criança pode entender que é possível mudar o valor e que isso é até sinal de educação e gentileza daquele que nos atende no restaurante.
Quando vivencia a compra de produtos falsificados, o sinal de TV a cabo clandestina, as compras sem notas fiscais para diminuir o custo em casa… isso tudo corrobora para que compreenda que o sistema certo é o errado e cada um precisa garantir para que possa ter – quase como um direito — algo que não avalia ser justo de se pagar.
Mas acima de tudo, trata-se de transmitir valores, princípios e normas que regulam a convivência ética, e isso é que pode fazer com que essas crianças vivam em um mundo melhor e possam continuar a melhorá-lo sempre.
Quem nunca?
Abaixo, uma lista com os principais deslizes cometidos em nosso País. Se você quer o fim da corrupção e já se viu cometendo algum desses atos, pense bem, você pode ser um corrupto.
- 1. Sonegação de imposto
A Sonegação de Imposto de renda causa bilhões em prejuízo ao governo federal anualmente. Na hora de declarar aquela despesa, muitos brasileiros costumam utilizar notas que não se enquadram ou tentam arranjar dependentes para que a mordida do leão seja mais leve.
O dinheiro sonegado poderia contribuir para a construção de estradas, hospitais e melhorar a infraestrutura do Brasil. A grana acabou indo pelo ralo pelas mãos da própria população.
- 2. Carteirinha falsa
É comum o uso de carteirinha de estudante na compra de ingressos. Se você não tem, deve conhecer alguém que possui uma carteirinha de estudante falsificada. "O ingresso é muito caro", dirão alguns, tentando justificar seu ato de corrupção.
O fato é que a carteirinha falsa já se espalhou de tal maneira, que produtores de espetáculos praticamente dobraram o valor das entradas no Brasil para poder compensar o dinheiro perdido com as falsificações.
Sendo assim, quem é honesto e não cria um documento falso acaba pagando valores absurdos por causa da indústria das carteirinhas.
- 3. Compra de CNH
Eis uma das máfias mais conhecidas do brasileiro: a da compra de carteira de habilitação. Várias operações policiais já desmantelaram diversas quadrilhas especializadas em vender a carteira de motoristas. Os crimes vão desde a compra do documento até o pagamento do famoso "quebra" na hora da prova prática de direção.
- 4. Fazer hora no trabalho
Fazer hora no trabalho para ganhar hora extra. Essa corrupção pode passar despercebida, mas é capaz de movimentar milhões em hora extra e gastos desnecessários nas empresas.
Não existe uma pesquisa medindo quanto se é gasto por hora não trabalhada dos funcionários, mas é fácil encontrar aquele colega que fica enrolando no café ou deixa passar a hora antes de bater o cartão para fugir daquele congestionamento.
- 5. Pirataria
Pirataria é comum no Brasil. Sabe aquela barraquinha de CDs piratas que existe em qualquer bairro? Ela é um exemplo clássico de crime que está incorporado na sociedade brasileira.
As vendas são feitas à luz do dia e sem o menor constrangimento, tanto para o vendedor quanto para o comprador. A mesma regra se aplica à cópia ilegal de músicas ou conteúdos com direitos autorais feitas pela internet.
- 6 . Desrespeitando os outros
Estacionamento em local proibido. Aquela vaga de deficiente não é sua, a não ser que você tenha alguma deficiência, claro. É uma regra simples, mas facilmente ignorada em nosso País.
Do mesmo modo que não é difícil encontrar idosos em pé no ônibus ou metrô enquanto jovens ocupam os lugares reservados para tirar aquele cochilo. Sem falar nas mães e pais que insistem em colocar crianças enormes, de 5 anos, por exemplo, no colo apenas para furar a fila no caixa preferencial. Estamos de olho.
- 7. Ganhando no troco
O rapaz do caixa te dá um valor a mais em troco e você finge que está tudo certo e comemora a "sorte do dia". A malandragem existente em nossa cultura pode fazer com que a "lei do mais esperto" transforme tudo em uma bola de neve.
- 8. Pagando um "cafezinho"
Já viu alguém gostar mais de um "cafezinho" do que agente corrupto? Pode ser policial rodoviário, policial militar, delegado ou agente de trânsito. Se ele achar que está na hora de tomar aquela xícara de café, vai te pedir uma ajudinha.
O "café" certamente será mais barato do que pagar pelo que você fez de errado. De novo, a lei do mais esperto entra em ação e muita gente se deixa corromper.
- 9. "Contrabando Gourmet"
Muitos usam as viagens internacionais para o contrabando de produtos. Quem nunca viu aquele amigo indo para o exterior lotado de pedidos de quem ficou por aqui.
"Me compra um Iphone 6 e finge que ele é seu, tira da caixa".É um contrabando "gourmet", um pouco mais sofisticado do que já existe há décadas na velha fronteira com o Paraguai. Quem passa a perna na Receita Federal, muitas vezes, é tratado como herói no Brasil, quando deveria ser chamado de corrupto. Concordam?
- 10. Gatonet
Muita gente já ouviu falar naquele aparelhinho mágico que "abre todos os canais da sua TV a cabo". Basta pagar uma vez e pronto, você tem todos os canais livres para consumo.
Se não rolar dessa maneira, tem o primo do amigo do irmão que trabalha na operadora de TV a cabo e consegue liberar tudo por uma quantia bem camarada. Mais uma vez, a corrupção entrando na casa de cada um.
Linkada a essa fraude, podemos também citar os gatos realizados nas redes de energia, água e internet.
Conclusão
A gente reclama de políticos enfiados em escândalos. Fala-se muito das quantias roubadas, dos esquemas maiores. Mas eu acredito que a corrupção só acabará quando para nenhum de nós for "normal" estacionar em local proibido, andar de ônibus sem pagar a passagem. Ou furar uma fila exercendo influência junto a amigos.
Qualquer corrupção é corrupção. Não se pode conviver com ela, em qualquer nível. Ou ela continuará como uma doença. Contagia tanto o dia a dia de cada um de nós, ao país como um todo. Dizer não à corrupção é uma tarefa necessária. Reflita sobre isso e molde suas atitudes pelo que é certo, pelo que é legal.
[Fonte: Estado de Minas, Lunetas, Veja, Politize]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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