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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

ESCRITO NAS ESTRELAS — CLARICE LISPECTOR, CEM ANOS DE ETERNIDADE

Em mais um capítulo dessa minha série especial de artigos Escrito nas Estrelas, trago um resumo biográfico da inqualificável escritora Clarice Lispector (1920/1977), cujo centenário foi comemorado neste tão atípico ano de 2020. Talvez, devido à ênfase dada à pandemia mundial do novo coronavírus — o que é até certo ponto relevante —, essa data tão marcante e importante para a cultura, justamente uma das áreas mais negativamente impactadas pela pandemia, não teve a divulgação que merecia, passando até mesmo desapecebida por muitos de nós.

Quem foi Clarice Lispector


A escritora nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, uma aldeia da Ucrânia, então pertencente à Rússia. Seu nome de nascença é Haia. Os pais, judeus russos, decidem emigrar três anos após a Revolução Bolchevique de 1917, devido à violência e a constante perseguição antissemita. 

A família chegou ao Brasil em 1922, na cidade de Maceió, onde adotam novos nomes. Haia, então com dois anos de idade, se tornou Clarice. Pouco tempo depois, a família se mudaria de Alagoas para Recife, em busca de melhores condições de vida. Após a morte da mãe, os familiares foram viver no Rio de Janeiro.

Naquela época, as mulheres ainda eram vistas como donas de casa e mães. Mas Clarice Lispector pôde estudar e trabalhou desde muito jovem. Ela começou a trabalhar como professora particular de português e matemática.

Em 1939, ingressou na faculdade de Direito, onde concluiu a graduação em 1943. Durante os estudos, começou a trabalhar como repórter na Agência Nacional. Começava aí uma carreira paralela como jornalista, com publicações na imprensa de textos jornalísticos e literários.

Poucos anos após a morte da mãe, Clarice se mudou para o Rio de Janeiro, aos 15 anos. Após terminar as aulas do ginásio, em 1937 ingressou no curso preparatório da então Universidade do Brasil para cursar Direito. Aprovada, iniciou o curso em 1939 e, no segundo ano de faculdade, iniciou sua carreira de jornalista na Agência Nacional.

Na faculdade, Clarice conheceu seu marido, o diplomata Maury Gurgel Valente (1921/1994), que à época era seu colega de turma. Em 1943, se casou com Maury e concluiu, junto a ele, o curso de Direito. No entanto, em razão das constantes viagens que fazia com o marido, somente em 23 de julho de 1952 Clarice e Maury receberam o grau de bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade, segundo informações da UFRJ.

A carreira diplomática do marido a fez morar em diversos países como Estados Unidos, Itália, Suíça e Inglaterra. O primeiro romance de Clarice foi publicado em 1943, chamado "Perto do Coração Selvagem". Em 1959 o casamento de Maury e Clarice chegou ao fim e a escritora retornou para o Rio de Janeiro.

No ano seguinte, 1960, publicou seu primeiro livro de contos, "Laços de Família", seguido dos livros "A Maçã no Escuro" e "A Paixão Segundo G. H." Em 1977 publicou o clássico "A Hora da Estrela", seu último romance, que foi adaptado para o cinema, em 1985, se tornando um dos grandes sucessos do cinema nacional, dirigido pela cineasta Suzana Amaral (1932/2020) e estrelado pela atriz Marcélia Cartaxo, no papel da protagonista Macabéia.

Uma Vida Dedicada à Literatura


Durante seus trinta anos de atividade literária, caracterizada por um árduo e apaixonante trabalho com as palavras e a linguagem, Clarice Lispector escreveu mais de quinze obras. A primeira obra publicada foi o romance "Perto do Coração" Selvagem. em 1944. Na época, a autora contava apenas dezoito anos de idade - uma estréia bastante precoce. 

Para alguns críticos, este romance é considerado o mais significativo, porque é um paradigma de todos os outros. Nesta primeira experiência Clarice encontrou algumas dificuldades editoriais para publicar o seu livro. A partir daí, até a última obra, "A hora da Estrela", publicada em 1971, dois meses antes de falecer, uma série de outros livros se seguiram, sem muitos entraves.

Como obras póstumas surgiram: "Um Sopro de Vida" (pulsações), "A Bela e a Fera" (contos) e "A Descoberta do Mundo". Este último reúne todas as crônicas que Clarice escreveu para o Jornal do Brasil. aos sábados, entre agosto de 1967 e dezembro de 1973. 

A precocidade de Clarice Lispector surge, contudo, bem antes da publicação de seu primeiro romance. Desde cedo, com apenas sete anos, Clarice já mandava pequenas histórias para uma seção infantil de um jornal do Recife, que, aliás, nunca foram publicadas. A esse respeito a própria autora comenta:
"( ... ) eu as enviava para a página infantil das quintas-feiras do jornal do Recife. e nenhuma foi jamais publicada. 
E era fácil de ver porquê. Nenhuma contava propriamente uma história. 
Eu lia as que eles publicavam e todas relatavam um acontecimento. Mas se eles eram teimosos eu também". 
Como podemos notar neste depoimento, já desde tenra idade Clarice revela um traço insistente que se tornaria marca essencial de sua produção literária. Realmente, em lugar de um texto que narre fatos e acontecimentos, ela preferirá sempre escutar as ressonâncias dos fatos na consciência do indivíduo. 

Ao lado desta característica, uma outra igualmente importante sempre mereceu o destaque dos estudiosos desta autora. Trata-se do fato de Clarice Lispector nunca ter separado sua própria vida e destino, do exercício da linguagem. Eis o que ela mesma nos revela numa bela e emocionante confissão:
"Há três coisas para as quais nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para crjar meus filhos. 
( ... ) A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a minha infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. 
E não sei porque, foi esta a que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. 
Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever". 
Em 1959, após seu divórcio, Clarice Lispector volta a residir no Brasil e publica alguns de seus livros principais, como "Laços de Família" (1960), "A Paixão Segundo G.H." (1964), "Água Viva" (1973) e "A Hora da Estrela" (1977). Morando no Rio de Janeiro, a escritora também dedica parte de sua produção aos contos.

Perfil artístico


Clarice Lispector pertence à terceira fase do movimento modernista e imprimiu em suas obras uma literatura intimista, de sondagem psicológica e introspectiva, com mergulhos no pensamento e na condição humana. A personalidade da escritora também provocava curiosidade e admiração.

Pela imprensa, Clarice Lispector já foi chamada de "bruxa", "exótica" e "misteriosa". Mas ela gostava de se definir de uma forma mais simples: uma escritora e uma dona de casa. Também foi chamada de "Esfinge do Rio de Janeiro". O apelido lembra uma passagem da escritora pelo Egito. Em uma viagem, ela olhou fixamente para a esfinge e disse:
"Eu não a decifrei".
E, com um enigmático, porém revelador sorriso, completou: 
"Mas, ela também não me decifrou".
Quanto à receptividade da crítica brasileira à obra de Clarice Lispector, podemos notar, de uma maneira geral, que ela foi sempre bastante favorável. Desde a sua estréia em 1944, com Perto do coração selvagem. até Um sopro de vida (1978), a maioria dos críticos tem reagido com entusiasmo.

A busca na tentativa de exprimir o inexprimível e de "dizer o indizível" faz com que a obra de Clarice se insira entre aquelas que, na época moderna, salientaram o aspecto do paradoxo da linguagem, que pode se revelar, ao mesmo tempo, um fracasso e um triunfo. A este respeito, a própria autora meditou numa bela passagem:
"Eu tenho à medida que designo — e este é esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. 
A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la  e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que. instantaneamente reconheço. 
A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas, volto com o indizível. 
O indizível só me poderá ser dado através do fracasso da minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu".

Conclusão


Além de ser reconhecida por suas obras, Clarice Lispector se tornou uma das maiores influências do meio cultural brasileiro. Não foram poucos os escritores, músicos, artistas e pesquisadores que se inspiraram nas palavras dela para desenvolver seus trabalhos. Alguns deles fizeram questão de homenagear o centenário de nascimento da escritora, celebrado na quinta-feira (10).

Conhecida pela maneira reflexiva de escrever sobre cenas cotidianas, consciência e conflitos internos que permeiam a existência humana, Clarice Lispector celebraria, se viva, seu centenário de nascimento.

Lispector é uma das autoras brasileiras mais aclamadas do século XX, e a sua obra não se resume a apenas textos intimistas pelos quais guia o leitor por suas criações literárias. Em décadas de carreira, sua produção incluiu também obras para o público infanto-juvenil e um extenso acervo de crônicas, como a famosa coluna no Correio da Manhã, intitulada "Correio feminino", escrita sob o pseudônimo Helen Palmer. Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57 anos, em 1977. Ela deixou dois filhos: Pedro Gurgel Valente e Paulo Gurgel Valente.

Principais obras de Clarice Lispector

  • Romances — "Perto do Coração Selvagem", 1943; "A Paixão Segundo G.H, 1964; "Água Viva", 1973. 
  • Novela — "A Hora da Estrela", 1977. 
  • Contos — "Laços de Família", 1960.
Ler a obra de Clarice Lispector, é uma experiência única, inenarrável, já que com toda sua sensibilidade, ela foi capaz de captar e, ao contrário da tal esfínge egípcia, decifrar nossas mais íntimas emoções. Por tudo isso Clarice Lispector tem com letras douradas, seu nome Escrito nas Estrelas.


A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso. 
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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