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quarta-feira, 17 de julho de 2019

LENDA URBANA - OS QUADROS "AMALDIÇOADOS" QUE MUITOS DE NÓS JÁ TIVEMOS EM CASA


Imagem relacionada

Inicio aqui a série especial sobre lendas urbanas. Nessa série de artigos, irei trazer algumas das lendas urbanas que fizeram e ainda fazem parte do imaginário de muitos de nós. Aliás, quando o assunto é lenda urbana, o círculo religioso (em especial, o evangélico) tem papel de destaque.
 

Lendas urbanas, o que são?


"Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia" (William Shakespeare - 1564/1616).
Alguns mitos ficam gravados para sempre no imaginário popular. Quem nunca teve medo de bebericar um drink desconhecido e acabar sem um dos rins numa banheira com gelo? Quando pequenos, apertávamos a descarga do banheiro diversas vezes gritando palavrões, simplesmente para poder conhecer nossa musa: a loira do banheiro com seu algodão no nariz. Ainda existem lendas urbanas midiáticas, estas ficam no limite entre a verdade e a mentira, criando cultos e seguidores. E.T. de Varginha, Chupa-Cabras e aparições de Nossa Senhora são algumas delas.

Na verdade, estas lendas urbanas, mitos e histórias fantásticas ganham fama por serem divulgadas no boca-a-boca - hoje super potencializado pelo advento das redes sociais -, e, após a revolução digital, por e-mails, sites, entre outros. Frequentemente são contadas com a premissa de terem acontecido com "um amigo da gente" e são enviadas com uma série de alardes do tipo "cuidado, isso pode acontecer com você".

Elas ultrapassam décadas sendo espalhadas com pequenas alterações, como diz a sabedoria popular: 
"quem conta um conto aumenta um ponto". 
Algumas foram traduzidas e fazem parte da cultura de vários países.

A maioria destas lendas urbanas são baseadas em fatos reais, mas acabam sendo distorcidas ao longo do tempo. As características principais deste tipo de literatura são:
  • História sempre pequena, buscando o máximo de leitores com uma estrutura de fácil entendimento.
  • Busca autenticidade por meio de fatos, locais reais, personagens conhecidos e provas.
  • Todos que as contam geralmente dizem ter ouvido de alguém conhecido e procuram dar veracidade ao fato como se tivesse realmente vivido.

A origem


Foto Rara de Giovanni Bragolin Pintando um Crying Boy

Para abrir a série, vamos relembrar o caso conhecido como "O Caso dos Quadros Amaldiçoados". Conta a história que entre os anos 70 e 80, o artista italiano Bruno Amadio (1911/1981), renomado pintor da época, fez 27 quadros com crianças chorando, as telas foram batizadas de "Gypsy Boys" (Crianças ciganas, em tradução livre). A lenda sobre os quadros amaldiçoados das crianças que choram teve início em meio a uma disputa pela liderança do mercado jornalístico inglês entre os tabloides The Sun e The Daily Mirror.

As obras de artes, recebiam a assinatura com o pseudônimo de Giovanni Bragolin, os quadros tido por muitos como assustadores, fizeram ressurgir as lendas urbanas mais clássicas e famosas ao redor do mundo. 

As lendas urbanas ganharam força na década de 80, justamente quando surgia a era da internet, o autor das citadas artes acabou falecendo no ano de 1981, segundo informações, um câncer no esôfago o obrigou a se despedir do que mais amava, as pinturas, que além de crianças chorando, era fascinado por reproduzir em tinta e tela, pinturas da natureza morta - sobre estas, nenhuma "maldição".

Quem conta um conto, aumenta um ponto



Quadro de Anna Zinkeisen que Ilustra a Matéria do The Sun de 24 de Outubro de 1985

Em 1985 as reproduções da série "Crying Boys" de Bragolin era muito popular e estava nas casas de muitas pessoas e durante um incêndio em uma residência em Londres, um dos bombeiros declarou que a única coisa que estava intacta no interior da residência eram um desses quadros. 

Então um editor do The Sun, Kevin Mackenzie, resolveu ligar os incêndios aos quadros das crianças que choram dando origem a uma lenda sobre maldição, com o intuito de fazer seu jornal se destacar. Assim, mandou que seus jornalistas fossem atrás de folcloristas que os pudessem ajudar na criação de uma história convincente que sustentasse a lenda. 

Durante a busca chegaram a Roy Vickery, membro da Sociedade do Folclore da Inglaterra, que disse que as crianças retratadas poderiam estar chorando por terem sido maltratadas durante as sessões de pintura em que serviam de modelos e os incêndios poderiam ser uma forma das almas das crianças se vingarem. Que Bragolin teria feito um pacto com o demônio e maltratava e matava as crianças pintadas em um ritual satânico em troca de fava. Cada imagem traz uma história triste, as pessoas que as compravam ficavam assustadas, pois diziam que por onde andava pela casa, o olhar da criança parecia lhe seguir. Quem nunca sentiu isso? Realmente era muito assombroso.

As consequências


Jornal The Sun de 04 de Setembro de 1985

Então a 04 de setembro de 1985 - quando ainda o termo "fake news" não havia sido popularizado - o The Sun lança a matéria com a manchete: "A Maldição da Criança que Chora". Que contava a lenda e relatava incêndios em casa que possuíam tais quadros. Esta edição do jornal causou um burburinho gigantesco e as pessoas começaram a escrever à redação do jornal contatando que possuíam uma reprodução de um dos quadros de Bragolin e que suas casas se incendiaram inexplicavelmente. 

Isso alimentou a lenda e instaurou um certo pânico entre a população. Até que o Corpo de Bombeiros de Londres teve que "entrar em ação" e desmentir que havia alguma relação entre os incêndios e os quadros. Mas o The Sun em contrapartida alimentava a lenda com a publicação de mais relatos sobre os misteriosos incêndios ocorridos em casas que possuíam os quadros de Giovanni Bragolin. 
Jornal The Sun de 24 de Outubro de 1985

E novamente o Chefe do Corpo de Bombeiros de Londres Allan Wilkison tentava acalmar a população dizendo que as últimas cinquenta ocorrências envolvendo incêndios atendidas não tinham nenhuma relação com os quadros, que todas tinham uma explicação lógica, como por exemplo, uma das ocorrências onde o incêndio se deu pois alguém deixara um forno elétrico ligado próximo de uma cama, e o calor fez com que a cama pegasse fogo. 

Mas o jornal por sua vez publicava mais matérias sobre os incêndios supostamente causados pela maldição como, por exemplo, a matéria de 24 de outubro de 1985 com a manchete: "A Maldição do Menino que Chora Ataca Novamente". Com uma foto uma família desolada após ter a casa incendiada. Na fotografia pode-se ver a mãe, dois filhos e o pai da família com o quadro intacto, única coisa que teria sobrado do incêndio. No entanto, tal quadro não é de autoria de Giovanni Bragolin, mas da artista escocesa Anna Zinkeisen (1901/1976).

Já cansado da polêmica e dos problemas causados pelas matérias e talvez por já ter alcançado seu objetivo o The Sun resolve encerrar o ciclo de matérias sobre o assunto com uma convocação às pessoas que possuíssem os quadros das crianças que choram de Bragolin em casa que os enviassem para a redação do jornal para que fizessem uma queima coletiva para acabarem com a maldição. Durante dias o The Sun recebia os quadros que totalizaram mais de 2.500 e ocuparam duas salas do jornal.
The Sun, sobre a Queima Coletiva dos Crying Boys

Como o The Sun não é popular no Brasil, ao chegar aqui a lenda sofreu algumas adaptações. Aqui a lenda se inicia com as pessoas dizendo ter assistido uma entrevista na revista eletrônica dominical da Rede Globo, "Fantástico", onde o artista teria vindo ao Brasil e dito que estava arrependido do pacto satânico que havia feito e suplicava àquelas pessoas que tivessem algum de seus "Crying Boys" em casa que os destruíssem. O fato é que tal entrevista nunca aconteceu.

Freud explica 


A pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e que tem algum significado. Este fenômeno é que nos faz perceber imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e tantos outros objetos e lugares. Ela não representa somente fenômenos visuais mas também auditivos onde pessoas executam músicas no sentido contrário e ouvem palavras ou até mesmo frases inteiras. 

Mas a figura observada pode tomar formas distintas de acordo com a condição psicológico de cada observador. Por exemplo, para uma criança uma figura notada talvez possua formas que tragam à lembrança animais de estimação, personagens de desenhos animados ou qualquer outra coisa condizente com a faixa etária de compreensão sobre coisas. 

Para uma pessoa com uma faixa etária superior, a mesma figura assume formas diferentes conforme a capacidade criativa de associação de formas. Em situações simples e ordinárias, este fenômeno fornece explicações para muitas ilusões criadas pelo cérebro, por exemplo, discos voadores, monstros, fantasmas ou mensagens gravadas ao contrário em músicas.
  • Escrevi sobre o tema Mensagens Subliminares ➫ aqui.

Conclusão


"Menino Sorrindo" - Giovanni Bragolin (Único Quadro Conhecido deste Autor Retratando uma Criança Sorrindo)

A lenda urbana sobre o "Os Quadros Amaldiçoados" ainda hoje é propagada - e, pior, há muitas pessoas que ainda acreditam nela - principalmente no meio evangélico. Muitos são os pastores que orientam os fiéis de suas congregações a não adquirirem e/ou se desfazerem de tais quadros, alegando que, além de serem amaldiçoados, são "pontos de contatos" com demônios ou "esconderem espíritos malignos atrás de si ou em suposta imagem subliminares". A queima desses quadros (no monte, de preferência) por parte de muitos evangélicos também é algo comum, como foi na década de 1980, na histeria coletiva ocorrida na Europa. 

Lenda urbana à parte, o fato é que os tais quadros - além de extremo mal gosto no que tange peça de decoração - assustam ainda nos dias de hoje, muitos acreditam e sofrem com medo, outros - como eu - nem ligam - aliás, nunca liguei - para as estórias que o povo conta e ignoram - no meu caso, tanto as estórias, quanto os tais quadros, pois os acho horríveis. E você, o que acha? Já teve um desses quadros? Acredita que sejam mesmo "mal assombrados"?
  • Em tempo: Caro leitor, não quero ofender ou desmentir a fé de ninguém com esta artigo, meu objetivo aqui é mostrar a você outro ponto de vista acerca deste assunto que há tempos tem gerado tanta polêmica e tem sido tema de tantas matérias em tantos outros sites na internet. O que foi dito aqui não é uma verdade absoluta, mas uma opinião baseada na exposição de fatos.

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso. 

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