Alvo de fascínio, contemplação, encantamento e também de inspiração para músicos e poetas, a Lua foi motivo de uma disputa que marcou a história mundial. Longe do romantismo, a exploração do desconhecido conduzida pela missão Apollo 11 completa, neste mês, 50 anos - um período transcorrido com profundas transformações no âmbito político, tecnológico e científico, que ainda é cercado de muita teorias de conspirações. Inclusive, há quem afirme que tudo não passou de uma grande fraude devido o advento da Guerra Fria (1947/1991) entre EUA e a então URSS e que, na verdade, o homem nunca pisou na Lua.
O acontecimento
Foi em 20 de julho de 1969 que os astronautas Neil Armstrong (✩1930/✟2012), Edwin "Buzz" Aldrin e Michael Collins partiram para a Lua dentro da espaçonave Apollo 11. Com sucesso inédito, o feito transcorreu na esteira da corrida espacial travada entre os Estados Unidos e a União Soviética, no contexto da chamada Guerra Fria.
Na época, os soviéticos haviam se mantido durante muito tempo à frente na conquista do espaço, tanto que foram os primeiros a colocar um astronauta na órbita da Terra, em 1961. Foi quando a célebre frase
"A Terra é azul",dita por Yuri Gagarin (✩1934/✟1968), ficou conhecida.
Oito anos depois, por ordem do então presidente John Kennedy (✩1917/✟1963), os Estados Unidos trabalharam, dentro do programa Apollo, para que o primeiro homem chegasse à Lua. E Armstrong, como comandante da missão Apollo 11, foi o primeiro a pisar no satélite. Sua frase
"é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade"
correu o mundo e tornou-se um emblema da conquista espacial.
"Ao desembarcarem, a primeira coisa que os astronautas fizeram foi fincar a bandeira norte-americana na superfície da Lua, em um ato de dominação e demonstração de poder",
comenta Rodolfo Langhi, professor do Departamento de Física da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Observatório Didático de Astronomia.
Tecnologia
Na época, no Brasil, os únicos televisores disponíveis eram de tubo e com imagens em preto e branco. Computadores pessoais e celulares não existiam e ligações telefônicas à distância apenas engatinhavam. As mensagens escritas eram transmitidas por telex -
um sistema internacional de comunicações escritas que prevaleceu até ao final do século XX. Consistia numa rede mundial com um plano de endereçamento numérico, com terminais únicos que poderia enviar uma mensagem escrita para qualquer outro terminal. Os terminais pareciam e funcionavam como máquinas de escrever ligadas a uma rede igual à telefônica.
Uma das particularidades deste sistema de comunicações escritas, ao contrário do que acontece com outros sistemas de comunicação de mensagens escritas mais atuais como o também extinto FAX ou o e-mail, era a garantia de entrega imediata com autenticação dos terminais.
Graças à garantia de entrega e autenticidade das mensagens, durante as ultimas décadas do século XX desenvolveu-se fortemente. Por várias décadas, a comunicação escrita imediata permitiu a troca de informações como ordens de encomenda, avisos legalmente reconhecidos, ordens de pagamento, confirmação de eventos, notícias, etc..
Em um mundo que, à época, era essencialmente analógico, Langhi destaca, para além dos benefícios voltados à construção do conhecimento científico, as pesquisas desenvolvidas para a chegada à Lua também contribuíram para relevantes avanços tecnológicos.
"Grande parte das coisas que a gente usa hoje, no dia a dia, tem origem na conquista espacial. Exemplos são a fralda, o velcro, câmeras digitais, telefones celulares, minicomponentes eletrônicos e os próprios satélites, que têm função direta para a comunicação no nosso cotidiano",
observa.
Ciência
Apesar da chegada do homem à Lua ter maior significado sob o aspecto político-tecnológico, a conquista puramente científica também é destacada pelo professor doutor em astronomia Roberto Boczko, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (USP).
"Os astronautas recolheram material da Lua e trouxeram para estudos na Terra. E esta análise mostrou que este material tinha as características que tinham sido imaginadas. Ou seja, os materiais que compõem a Lua são os mesmos que compõem a Terra",
frisa. Langhi acrescenta:
"É como se a Lua fosse um desertão, como os que existem aqui na Terra".
Pesquisadores rebatem "teorias da conspiração" e apostam no feito
Passados 50 anos da chegada do homem à Lua, o feito ainda é visto com ceticismo por várias correntes ao redor do mundo. Há teorias, inclusive, que dizem comprovar que a nave Apollo 11 jamais pousou em solo lunar - a expedição seria "a fraude do século". São dúvidas refutadas no meio científico. Os especialistas garantem que, entre os pesquisadores, o sucesso da missão espacial norte-americana é ponto pacífico.
"Só pelo fato de terem trazido as rochas lunares já é uma comprovação. Mas a prova mais importante de todas é que a União Soviética tinha condições tecnológicas para saber se os Estados Unidos tinham ou não chegado à Lua. E, se não tivessem chegado, é evidente que os soviéticos destruiriam a farsa",
pondera o professor Roberto Boczko.
Outro questionamento frequente dos céticos é o fato de nenhum outro homem ter viajado até a Lua desde 1972, algo que os cientistas também são capazes de justificar. Boczko aponta que a tecnologia utilizada na época era a mais desenvolvida possível, mas que não atende mais as demandas de segurança do mundo atual.
"Na época, o objetivo era chegar à Lua, mesmo se pessoas morressem, como, de fato, morreram. Com o aumento nas exigências de segurança, os custos também aumentaram muito",
pontua. Vale destacar que o uso equipamentos não tripulados reduz drasticamente o custo das expedições e que, hoje, é possível explorar corpos celestes apenas com a utilização de sondas.
Toda a imprensa do mundo fizeram ampla cobertura da viagem, com desembarque dos astronautas em solo lunar transmitido ao vivo para cerca de 500 milhões de espectadores ao redor do globo.
Um pé atrás, outro na Terra
Não é difícil encontrar quem até hoje não tenha se convencido de que o homem chegou, de fato, à superfície lunar. O ceticismo atinge, inclusive, jovens e até mesmo jornalistas, como é o caso de Tainá Vétere, 29 anos.
"Tenho certeza de que isso nunca aconteceu. Nunca fui convencida do contrário. Li muitas teorias e elas me fizeram acreditar que tudo não passou de uma estratégia de marketing dos Estados Unidos em meio à Guerra Fria",
comenta.
Também jornalista, Adham Marin, 24 anos, defende a tese de farsa norte-americana para consolidar a supremacia do capitalismo sobre o socialismo da União Soviética.
"Eu acho que aquelas imagens podem ter sido gravadas em vários lugares, como o Vale de la Luna, em La Paz, na Bolívia, onde o solo é muito parecido com o da Lua",
afirma, argumentando que não há qualquer evidência robusta que comprove a passagem humana por solo lunar.
Expedição inspirou carreira de Pontes
O astronauta bauruense Marcos Pontes, atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, tinha apenas seis anos de idade quando o primeiro homem chegou à Lua. Ele conta que aquele momento o inspirou a seguir carreira na área. O astronauta tinha apenas seis anos quando assistiu à chegada do homem à Lua pela televisão; nova missão é planejada pela Nasa para 2024.
"Eu não me recordo, mas meu irmão, 11 anos mais velho do que eu, disse que, quando vi, na televisão do vizinho, que estavam chegando à Lua, eu falei que não acreditava naquilo.
Mas, logo depois, ele me provou que tudo aquilo tinha acontecido e eu falei: 'bom, já que eles chegaram à Lua, um dia eu vou ser astronauta também'. Aí, foi meu irmão quem não acreditou",
revela.
Com o passar dos anos, ainda fascinado por aquele feito, Pontes conta que seguiu admirando o trabalho daqueles astronautas.
"O que eles fizeram foi bastante importante para definir minha carreira",
reforça.
Ele afirmou que a Nasa já programa o retorno humano à Lua. Segundo informações divulgadas pela agência espacial no mês passado, o programa lunar Artemis planeja levar a primeira mulher e o próximo homem ao satélite em 2024.
"O objetivo é prosseguir com estudos em relação à Lua e também desenvolver sistemas, como estações lunares, que podem oferecer informações sobre como desenvolver estações também em outros planetas, como Marte",
adianta.
Próxima parada: Marte
Em 26 de julho de 1969, o astronauta que comandou o voo da Apollo 8, Frank Borman,
anunciou que ele e seus colegas fariam uma viagem de ida e volta à Marte. A novidade foi divulgada apenas dois dias após o retorno dos três tripulantes da nave Apollo 11 à Terra. Até hoje, passados 50 anos, a promessa não foi cumprida.
E não deverá sair do plano das ideias pelo menos dentro dos próximos 20 ou 30 anos, conforme analisa o professor doutor em astronomia Roberto Boczko, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP.
"Já há tecnologia disponível para chegar à Marte, mas não com segurança suficiente. A viagem duraria oito meses, com pessoas dentro de uma cabine não totalmente imune à incidência de radiação ultravioleta, raios cósmicos e partículas de matéria, que podem matar todo mundo ou gerar doenças importantes",
detalha.
Outro entrave, ele cita, é que os tripulantes teriam de permanecer por ao menos um ano no planeta vermelho, até que houvesse condições gravitacionais favoráveis para a nave retornar à Terra. Assim, entre ida, permanência e volta, seriam quase dois anos e meio de missão, tempo extremamente prolongado para garantir meios de manutenção de vida dos astronautas.
"Para fornecer água suficiente, já temos condições de reciclar urina humana. Mas ainda não conseguimos fazer reciclagem de alimento.
A saída seria encontrar um jeito de cultivar alimento em Marte, algo que ainda não sabemos como fazer",
aponta.
Acrescido a estes desafios, está o da convivência social, ou seja, como assegurar o bom relacionamento dos tripulantes durante quase três anos, quase sempre em ambiente confinado.
"Experiências feitas em domus aqui na Terra resultaram em brigas homéricas. Só que, aqui, a pessoa desiste e vai embora. Em Marte, não há como fugir",
completa.
Conclusão
Na prática, foi uma grande aventura humana. Foi uma proeza prodigiosa. Claro que foi show, foi espetáculo. A imprensa encarregava-se de divulgar, mundo afora, semelhantes aspectos da empreitada. Os três astronautas da Apollo 11 tinham 39 anos, ou já completos ou prestes a completar. Armstrong era o único que não provinha de carreira militar – era engenheiro aeronáutico.
O voo à Lua transcorria no quadro da corrida espacial travada entre os Estados Unidos e seu rival na chamada Guerra Fria, a União Soviética. Até porque se tratava, também, de uma operação de propaganda, a Nasa pôs a circular, nos mínimos detalhes, nos dias que antecederam o voo, o que esperava os astronautas.
Explicou que se um deles caísse de bruços na Lua conseguiria se levantar em dez minutos, flexionando os braços; mas, se caísse de costas, ficaria como tartaruga virada, e teria de agitar braços e pernas até se posicionar de bruços e iniciar a flexão.
Também revelou que durante o passeio lunar Armstrong e Aldrin usariam fralda e que o material expelido, se sólido, ficaria guardado num compartimento esponjoso e, se líquido, escorreria para uma bolsa cavada na perna direita do traje.
Neil Armstrong morreu em 2012, aos 82 anos. Os dois outros sobrevivem, com 89 anos completos ou a completar. Armstrong optou por vida reclusa: não dava entrevistas, raramente aparecia em público. Aldrin enfrentou o alcoolismo e a depressão e travou batalha judicial com os filhos, estes pretendendo interditá-lo por falta de condições para gerir seus bens, ele acusando-os de roubo.
Collins foi quem melhor se deu na vida pós-Lua: ocupou altas funções no Departamento de Estado, foi diretor do Museu de Aeronáutica e Espaço e trabalhou na indústria aeroespacial. Em 1961, o presidente John Kennedy anunciou ao Congresso o projeto de fazer descer na Lua um astronauta.
Sucessivos voos de naves Apollo foram se aproximando desse fim até a apoteose da Apollo 11. Que entrou definitivamente para a História, queiram ou não as teorias circundantes que ainda hoje pululam sobre o significado da aventura espacial americana.
[Fonte: JCNet, por Tisa Moraes]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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