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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

FÉ E ATEÍSMO, A TOLERÂNCIA SE EQUILIBRA NO RESPEITO

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Apesar do aumento significativo do número de brasileiros que se declaram sem religião, de acordo com o Censo de 2010, o ateísmo como doutrina política permanece praticamente invisível como fenômeno social e como objeto de pesquisa acadêmica no Brasil. 

A partir da problemática mais ampla da discussão sobre a laicidade e a formação de uma sociedade secular, este artigo propõe descrever que o equilíbrio é a base para a tolerância e o respeito entre as pessoas, independente do que creem e até mesmo do que deixam de crer.

Religião, Ciência e Filosofia sob a égide da paz


A nova abertura para a religião entre os filósofos profissionais e aqueles que poderíamos chamar de filósofos da vida é uma boa notícia para os cristãos preocupados com o diálogo com o mundo secular. Apesar dos esforços do grupo denominado ATEA - Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, presidida por Daniel Sottomaior, que prega explicitamente o ódio contra as religiões - as polêmicas hostis dos "novos ateus" já são passado. Chegou a hora de um diálogo sério e mais bem informado entre crentes e intelectuais sensíveis à religião.


Fé plural


O Brasil é reconhecidamente um país de formação histórica católica. Apesar das rupturas institucionais com a Igreja e dos conflitos políticos que daí resultaram, o processo de secularização do Estado que acompanhou a institucionalização das estruturas políticas republicanas não se caracterizou, no entanto, nem pelo anticlericalismo, nem como uma luta contra a religião. 

Além disso, as disputas de parte das elites brasileiras contra a Igreja Católica não foram sinônimo de uma defesa do ateísmo. Muitos dos mais importantes próceres republicanos, tais como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, propunham para o Brasil um catolicismo "mais racional" e "livre de superstições" que, para os críticos liberais, caracterizavam o catolicismo "fetichista" das camadas populares.

Se voltarmos nossa atenção para os modos como as tecnologias censitárias do Estado vão transformando a imaginação política da sociedade, pode-se notar que a "religião" do brasileiro foi parte do projeto de construção nacional ainda no Império, quando, em 1872, classificou-se a população em católicos e acatólicos. 

Desde o primeiro censo, de 1940, e em todos os censos subsequentes, o levantamento incluiu uma questão sobre o perfil religioso da população. Nas quatro décadas que se seguiram o catolicismo representou a quase totalidade da população (acima de 90%); em contrapartida, no mesmo período, os que se declaravam "sem religião" aparecem estatisticamente como insignificantes (menos de 1%). 

Pode-se considerar a década de 1980 como o turning point de uma importante mutação. Pela primeira vez o catolicismo cai abaixo da marca dos 90% e as estatísticas passam a desenhar uma linha de queda acelerada, que em 2010 chega ao seu ponto mais baixo (64,6%). Ao lado desse decréscimo, os levantamentos começaram a indicar um rápido aumento dos protestantes, que, em cinco décadas, passaram de 5,2% da população para 22,2%.

O movimento de desnaturalização do catolicismo como componente da nacionalidade é bastante recente e traz como consequência a percepção de que ele representa não um modo de ser, mas, apenas, uma "escolha religiosa" entre outras possíveis. Ao jogar luz sobre o declínio do catolicismo e sobre o rápido crescimento evangélico, a quantificação censitária permite formular, pela primeira vez, a diversidade religiosa em termos da categoria política de "pluralismo". Permite ainda definir o catolicismo como religião "majoritária" e acionar a categoria de "minorias religiosas" como alvo potencial de uma política de proteção e/ou controle estatal.

Além do crescimento dos cristãos não católicos, a categoria dos "sem religião" aparece de maneira mais perceptível no censo de 1980 quando, pela primeira vez, ela cruza a barreira do 1%. Nas quatro décadas seguintes, acompanhando o crescimento dos que se declaram evangélicos, o número dos que se declaram "sem religião" cresce gradualmente e chega a 8% da população em 2010, bem acima do espectro das "alternativas religiosas" não cristãs, que alcança apenas 3% nessa data.

O mote do "pluralismo religioso" - inscrito na Constituição de 1988, que pôs fim ao período ditatorial - se desenha como pauta política para as décadas seguintes em um contexto marcado pelas seguintes características: 
  • a distribuição da diversidade religiosa é extremamente desigual (mais de 90% cristã); 
  • a ideia de "minoria" é assumida como bandeira política principalmente pelos evangélicos; 
  • no mesmo movimento em que a "religião" começa a ser percebida como objeto de opinião individual, "não professar religião alguma" se apresenta como a alternativa disponível no campo das "escolhas religiosas".

Diálogo, tolerância e a expressão do amor


Em sua exortação apostólica sobre a evangelização, "A Alegria do Evangelho", o Papa Francisco escreveu sobre a centralidade do diálogo com o mundo para a evangelização. Precisamos dialogar, insistiu ele, mesmo com aqueles que têm pontos de vista errôneos, porque eles possuem percepções que são dons para nós também. 

Não há possibilidade de diálogo inter-religioso, se não se acolhe com ternura e com alegria o pluralismo religioso. Um pluralismo de princípio, ou de direito, não um simples pluralismo de fato. Isto é, não a simples constatação da pluralidade das religiões como uma realidade que é preciso aceitar, mas que não é desejada por Deus, mas sim o reconhecimento de que a diversidade é acolhida com alegria por Deus, que a diversidade é um valor, insubstituível, irrevogável.

Um reconhecimento que nos faz ver os outros não como "não cristãos", mas como nossos amigos, como se expressa o Papa Francisco quando fala das outras religiões.

O diálogo requer um olhar receptivo em relação à diversidade das fés. O pluralismo não é mais visto como um fato conjuntural e provisório, mas começa a ser reconhecido na sua positividade, como pluralismo de princípio ou de direito. 

O Instituto Datafolha tem feito pesquisas sobre o perfil religioso da população brasileira. O que estas pesquisas confirmam é aquilo que os censos demográficos mostram com bastante clareza: o Brasil está passando por uma transição religiosa. Os católicos perdem espaço e encolhem ao longo do tempo. Os evangélicos, em suas diferentes denominações, são o grupo que mais cresce. 

Aumenta as demais denominações não cristãs e o número de pessoas que se declaram sem religião. Isto quer dizer que o Brasil está passando por uma mudança de hegemonia entre os dois grupos cristãos (católicos e evangélicos), ao mesmo tempo em que aumenta a pluralidade religiosa, pois cresce e diversifica a proporção das filiações não cristãs.


Diferentemente do censo demográfico que faz uma representação probabilística das filiações religiosas, a pesquisa Datafolha não tem uma amostra probabilística e não representada necessariamente o conjunto da população brasileira segundo suas características religiosas. 

Por conta disto, não é correto comparar os dados da pesquisa Datafolha, como os dados dos censos demográficos. Porém, uma comparação entre as diversas pesquisas Datafolha é útil para avaliar as tendências internas a estes levantamentos.

O nível das taxas apresentadas no Datafolha é diferente dos censos demográficos, mas o padrão de mudança religiosa é parecido. Ou seja, em ambos os levantamentos, os católicos caem, enquanto os evangélicos, os sem religião e as outras religiões crescem. Mas o processo de mudança de hegemonia e de aumento da pluralidade é mais rápido no caso do Datafolha.

Nos 22 anos da série Datafolha, os católicos perderam 25%, os evangélicos ganharam 15%, os sem religião aumentaram 9% e as outras religiões tiveram um ligeiro aumento de 1%. A perda dos católicos tem sido de 1,14% ao ano, enquanto os evangélicos crescem 0,68% ao ano. Fazendo uma projeção linear destas tendências até 2040, percebe-se que, em 2028, os evangélicos (com 37,2%) vão ultrapassar os católicos (com 36,4%). Em 2040, os católicos cairiam para 22,7% e os evangélicos subiriam para 45,4%. Os cristãos (católicos + evangélicos) que eram 79% em 1994, caíram para 73,6% em 2016 e devem ficar em 68% em 2040, conforme mostra o gráfico abaixo.


A pesquisa Datafolha também mostra que os evangélicos frequentam mais assiduamente os cultos e contribuem mais financeiramente com a igreja. A média da contribuição dos católicos é de R$ 32,00, enquanto dos evangélicos é de R$ 86,00. Assim, com um número menor de fieis, os evangélicos arrecadam um volume maior de recursos do que os católicos. Com mais dinheiro a tendência é o fortalecimento dos evangélicos.

Outros estudos fazem uma projeção linear até 2040 com base nos dados dos censos demográficos do IBGE. Os resultados apontaram para uma mudança de hegemonia em 2036 e um aumento da pluralidade em ritmo mais lento. Pesquisa realizada pelo instituto PEW, entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, encontrou, no Brasil, um percentual de 61% de católicos, 26% de evangélicos, 8% de sem religião e 5% de outras religiões.

Ou seja, tanto os dados do IBGE, quanto do Datafolha e do Instituto PEW (2014), apontam para uma transição religiosa no Brasil, entendida como queda dos católicos, aumento dos evangélicos e aumento da pluralidade religiosa (queda do percentual de cristãos e aumento dos não cristãos). A diferença está na velocidade dessa transição.

No caso do Datafolha, esse processo vai ocorrer de maneira mais rápida, com a inversão da hegemonia, entre os dois grandes grupos, acontecendo no ano de 2028. Segundo os dados do IBGE, o quadro religioso vai se alterar totalmente em um espaço de duas décadas, enquanto para o Datafolha a inversão vai ocorrer no curto lapso de cerca de uma década.

Conclusão


Caro irmão e leitor, o crescimento do secularismo além da multiplicação do número de pessoas decepcionadas com Deus e a religião, como também a ênfase do liberalismo teológico, e de um neopentecostalismo doentio que ensina sobre um deus falso e capitalista, tem contribuído em muito para o redescobrimento por parte do povo das filosofias ateias que se opõem com veemência a pessoa de Deus.

É claro, que o Brasil, devido a inúmeros fatores está ainda bem aquém do quadro desesperador que por exemplo se encontra a Europa. Todavia, acredito que os números são preocupantes, e que nós como cristãos devemos acender a luz amarela, mesmo porque, senão fizermos alguma coisa, corremos o risco de em poucos anos termos uma nação absolutamente secularizada.

[Fonte: ALVES, JED. Uma projeção linear da transição religiosa no Brasil: 1991-2040. Ecodebate, RJ, 11/01/2017; PEW. Religion in Latin America. Widespread Change in a Historically Catholic Region, PEW Research Center, November 13, 2014; DATAFOLHA. Perfil e opinião dos evangélicos no Brasil, São Paulo, 07 e 08/12/2016; Scielo]

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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