Estado laico significa um país ou nação com uma posição neutra no campo religioso. Também conhecido como Estado secular, o Estado laico tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, não apoiando ou discriminando nenhuma religião.
Um Estado laico defende a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos e não permite a interferência de correntes religiosas em matérias sociopolíticas e culturais.
Um país laico é aquele que segue o caminho do laicismo, uma doutrina que defende que a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado. O laicismo foi responsável pela separação entre a Igreja e o Estado e ganhou força com a Revolução Francesa.
O Brasil é oficialmente um Estado laico, pois a Constituição Brasileira e outras legislações preveem a liberdade de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e respeito às manifestações religiosas.
No artigo 5º da Constituição Brasileira (1988) está escrito:
"VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;"
Contudo, a laicidade do Estado pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado, e um aspecto que contraria essa postura é o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras.
Nos países que não são laicos (teocráticos), a religião exerce o seu controle político na definição das ações governativas. Nos países teocráticos, o sistema de governo está sujeito a uma religião oficial. Alguns exemplos de nações teocráticas são: Vaticano (Igreja Católica), Irã (República Islâmica) e Israel (Estado Judeu).
Existe também o conceito de Estado confessional, em que o Estado reconhece uma determinada religião como sendo a oficial da nação. Apesar disso, não se deve confundir Estado teocrático com Estado confessional, porque no primeiro caso é a religião que define o rumo do país, enquanto que no segundo a religião não é tão importante como no primeiro, mas ainda assim tem bastante mais influência do que em um Estado laico.
O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis
Intolerância religiosa
A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças e práticas religiosas ou a quem não segue uma religião. É um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana.
O agressor costuma usar palavras agressivas ao se referir ao grupo religioso atacado e aos elementos, deuses e hábitos da religião. Há casos em que o agressor desmoraliza símbolos religiosos, destruindo imagens, roupas e objetos ritualísticos. Em situações extremas, a intolerância religiosa pode incluir violência física e se tornar uma perseguição.
Crítica não é o mesmo que intolerância. O direito de criticar encaminhamentos e dogmas de uma religião, desde que isso seja feito sem desrespeito ou ódio, é assegurado pelas liberdades de opinião e expressão. Mas, no acesso ao trabalho, à escola, à moradia, a órgãos públicos ou privados, não se admite tratamento diferente em função da crença ou religião. Isso também se aplica a transporte público, estabelecimentos comerciais e lugares públicos, como bancos, hospitais e restaurantes.
Fanatismo
Embora as pessoas associem geralmente o fanatismo a causas políticas ou religiosas, este comportamento é muito mais amplo do que se imagina. Originário do francês fanatique ou do latim fanaticus – 'o que pertence a um templo' -, ele se refere a toda atitude exagerada, radical, compulsiva.
De acordo com o Dicionário Aurélio, o fanático é o ser que segue de forma cega uma doutrina ou um partido, mas outros dicionários apresentam significados mais extensos, como o "culto excessivo de alguém ou de alguma coisa; zelo religioso excessivo; paixão política; intolerância; sectarismo; exaltação exagerada; faccionismo; dedicação excessiva." Estas conotações derivam de um ritual primitivo, durante o qual os sacerdotes que cultuavam certas divindades, como Cibele e Belona, entravam em êxtase e, neste estado, se cortavam, deixando fluir o sangue dos seus corpos.
Assim sendo, o fanatismo envolve não só disputas maiores e globais, que envolvem o próprio destino do Planeta, mas também atos cotidianos, como o amor obsessivo por alguém, a devoção a um time de futebol, o apego excessivo a um objeto, entre outros. Estas paixões podem levar a pessoa a cometer ações insensatas, muitas vezes criminosas. Elas são normalmente marginalizadas, pois se comportam de maneira distinta dos que são mais moderados em suas atitudes, embora qualquer um esteja sujeito a desenvolver sentimentos desta natureza.
Os fanáticos são geralmente prisioneiros de suas obsessões, sejam elas um deus, um líder político, uma causa utópica ou uma fé inquestionável. Estas visões de mundo são quase sempre de natureza irracional, e as pessoas que alimentam crenças deste teor acham realmente que estão imbuídas de uma missão messiânica, que devem salvar as pessoas do mal ou da desordem mundial.
Algumas modalidades de fanatismo transcendem a individualidade e se expressam coletivamente, tais como em grupos de oração, nas práticas voluntárias de penúria e fome, nas romarias, no exercício do jejum, em suplícios que podem acarretar o próprio suicídio, individual ou coletivo. Este comportamento está psicologicamente associado a uma atitude de escape da realidade. Nem todo fanático, porém, aparenta ser o que é, pois as características acima descritas referem-se a momentos de radicalidade e extremismo.
Na verdade, mesmo alguns homens-bombas, que se suicidam por uma causa política ou religiosa, no dia-a-dia são normalmente pessoas comuns. Nos atos terroristas, aliás, encontramos elementos de devoção fanática aliados a uma inteligência acima da média, neste caso utilizada para o mal, embora estes militantes pretendam estar lutando contra as trevas, salvando o mundo.
Achei fundamental especificar e pontuar esses conceitos para falar de mais episódio lamentável que ganhou destaque na imprensa e nas mídias sociais.
O ápice da ignorância
Vídeo em que pastora de uma igreja evangélica de Botucatu (100 quilômetros de Bauru, SP) aparece quebrando a imagem de uma santa católica está gerando polêmica nas redes sociais e alimentando debates calorosos sobre intolerância religiosa. Nessa quarta-feira (11), o Conselho de Pastores do município emitiu nota condenando o ato. A Diocese de Botucatu ressaltou que trata-se de um caso isolado e pediu para que as pessoas não rebatam o mal com o mal.
As imagens foram divulgadas na terça-feira (10) e mostram a tal pastora em um terreno (parece ser um monte), em um ritual religioso, quebrando uma imagem de gesso da Senhora Aparecida com um martelo. Ao redor dela, algumas pessoas fazem orações, incentivando o ato.
"Quebra todo laço, quebra toda obra contrária",
diz um homem num trecho da gravação.
"Esta obra que foi feita pelas mãos do inimigo, Senhor, agora está sendo quebrada Senhor meu Jesus e meu Pai, em nome de Jesus",
grita o homem em outro trecho.
No vídeo, o grupo de evangélicos fala que toda imagem e estrutura deve ser escorraçada e que
"não aceita outro Deus a não ser o Senhor".
Com a imagem em pedaços, a pastora levanta as mãos para o céu e faz uma oração, ainda segurando o martelo.
Postadas inicialmente em uma rede social, as imagens foram rapidamente compartilhadas e viralizaram na Internet, recebendo duras críticas. Grande parte das mensagens condenando a prática da pastora vieram de membros da própria comunidade evangélica.
Nessa quarta-feira (11), em nota, o missionário Paulo Cruz pediu perdão aos católicos que se sentiram ofendidos e declarou que o Conselho de Pastores de Botucatu, onde atua como secretário,
"não esteve envolvido e nem apoia nem uma prática de intolerância religiosa".
O missionário ressaltou ainda que o fato trata-se de uma prática "isolada".
"Seguimos em pregar as boas novas de Jesus Cristo, o Salvador, de acordo com as Sagradas Escrituras, preservando acima de tudo o amor e o respeito ao próximo",
pontuou.
Caso de polícia
A tal ensandecida mulher deu sorte por não terem registrado um BO contra ela, pois, tal conduta da pode ser enquadrada no artigo 208 do Código Penal, que prevê detenção de um mês a um ano e multa em caso de condenação.
Jorge de Campos Jr., pároco da Catedral Metropolitana de Botucatu disse que o ato tratou-se de um fato isolado. O padre Emerson Rogério Anizi, outro pároco, conta que a Arquidiocese Sant’Ana, que representa a comunidade católica na região, ficou "surpresa" ao tomar conhecimento do vídeo.
"A nossa realidade com as igrejas evangélicas de Botucatu é muito tranquila. O relacionamento e o diálogo são muito abertos e de muito respeito",
diz.
Ele ressalta que, em maio, as duas religiões participam de debates e celebrações na "Semana da Unidade dos Cristãos".
"Eu creio que essa pastora, esse grupo de obreiros, fazem parte de uma denominação fundamentalista da igreja evangélica e, de uma maneira grotesca, apresentam uma falta de respeito, mas que não é a visão das denominações evangélicas daqui",
afirma.
Na avaliação do pároco, o grupo que aparece nas imagens comete um erro doutrinal "grosseiro" ao tratar da relação entre a Igreja Católica e as imagens dos santos.
"A igreja católica não adora imagens, ela adora a Deus. A imagem, a vida dos santos, é venerada, é respeitada por vermos que homens e mulheres atingiram a possibilidade de viver o desafio cristão",
explica.
O padre faz um apelo para que as pessoas que se sentiram ofendidas com o ato da pastora não "rebatam o mal com o mal".
"Não é um ponto para entrar em brigas fundamentalistas e criar confusões, mas ver como um fato isolado. Foi desrespeitoso sim, mas nós não temos que retribuir na mesma moeda. As religiões e espiritualidades sérias vivem na concórdia, mesmo quando têm pontos que divergem",
declara.
Íntegra da nota oficial
"Venho por meio desta nota afirmar que o Conselho de Pastores de Botucatu não esteve envolvido e nem apóia uma prática de intolerância religiosa. Fazendo dessa nota um pedido de perdão aos nossos irmãos e amigos católicos que se sentiram ofendidos com o vídeo de uma prática isolada que está circulando nas redes sociais.
Seguimos em pregar as boas novas de Jesus Cristo, o Salvador, de acordo com as Sagradas Escrituras preservando, acima de tudo, o amor e respeito ao próximo. Sem mais, missionário Paulo Cruz, secretário do Conselho de Pastores de Botucatu."
Conclusão
Atitudes bizarras como a dessa senhora, infelizmente são mais comuns do que imaginamos. Como cristão protestante eu registro aqui o meu repúdio ao que ela fez e a quaisquer outras atitudes semelhantes (o pior de tudo é saber que há muitos crentes aplaudindo esse desrespeito e muitos que se pudessem, fariam exatamente o mesmo).
Podemos debater, divergir, discordar e até mesmo criticar as práticas dogmáticas da Igreja Católica e de qualquer outra - uma vez que a vertente cristã protestante também não é poupada de críticas sobre os mesmos aspectos -, mas absolutamente nada, a não ser a ignorância, a imbecilidade, pode justificar uma atitude tão grotesca quanto a dessa mulher e do grupo que a acompanhava no dantesco ritual religioso.
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