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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A SÃ DOUTRINA - A UNÇÃO COM ÓLEO, 2ª PARTE

Unção com Óleo - Uma Reflexão Bíblica e Histórica - parte 2

Análise Histórica 


É interessante que venhamos a analisar a prática da Igreja, desde os seus primórdios até os dias atuais, para que possamos formar também nosso pensamento através do testemunho daqueles que no decorrer do tempo estudaram e buscaram o conhecimento bíblico, bem como daqueles que deturpando o verdadeiro significado dos ensinos bíblicos torcem seu entendimento de acordo com suas conveniências momentâneas. 

Os Pais Apostólicos 


Não há praticamente nenhuma referência à unção com óleo de enfermos, entre os escritos de Tiago (± 46-49 d.C.), e de Hipólito de Roma (± 200 d.C.). Isto provavelmente se deve ao fato de estarem os Cristãos deste período lutando com tantas e tão variadas formas de heresias, como o gnosticismo, o arianismo, o sebastianismo, o monarquismo, os judaizantes, entre outros tantos, que não deve ter havido tempo para dedicarem-se a este assunto em seus escritos. 

Justino de Roma (± 140 d.C.) 


Há contudo a exceção de Justino de Roma, que por volta de 140 d.C. defendia a posição de que todo e qualquer tipo de unção praticada ou ministrada no Velho Testamento aponta para Cristo. E que assim em Cristo todas as unções cessaram, conforme podemos ver pelo trecho de seu trabalho a seguir: 
"Tendo Jacó derramado óleo no mesmo lugar, o próprio Deus que lhe aparecera dá testemunho de Ter sido para ele que ungiu ali a pedra. Também já demonstramos, com várias passagens das Escrituras, que Cristo é chamado simbolicamente 'pedra' e que também a ele se refere toda unção, seja de azeite, seja de mirra ou qualquer outro composto de bálsamo, pois assim diz a palavra: 
'Por isso, o teu Deus te ungiu, o teu Deus, com óleo de alegria, de preferência aos teus companheiros'. É assim que dele participaram os reis e ungidos, todos os que são chamados reis e ungidos, da mesma maneira como ele próprio recebeu de seu Pai o fato de ser Rei, Cristo, Sacerdote" (Hipólito de Roma). 
A mais importante obra teológica de Hipólito de Roma é intitulada a "Tradição Apostólica" (Ed. Vozes, 1971, 100 pgs.). É um dos mais antigos documentos com instrução litúrgica que podemos encontrar, tendo sido usado como base, pela igreja católica romana, para consubstanciar sua herética doutrina sacramental da "extrema-unção" e é também a base utilizada pelos neopentecostais para confirmar que a Igreja Cristã pós-apostólica era praticante da "unção de enfermos". Vamos ao texto de Hipólito: 
"Se alguém oferecer azeite, consagre-o como se consagrou o pão e o vinho, não com as mesmas palavras, mas com o mesmo Espírito. Dê graças, dizendo: 'Assim como por este óleo santificado ungiste reis, sacerdotes e profetas, concede também, ó Deus, a santidade àqueles que com ele são ungidos e aos que o recebem, proporcionando consolo aos que o experimentam e saúde aos que dele necessitam.'" 
Por estas palavras podemos claramente entender que este ensinamento está muito distante da verdade bíblica. Não há nenhuma instrução na Palavra de Deus no sentido de se consagrar pão e vinho. A Bíblia inclusive não trata o líquido da Ceia do Senhor como sendo vinho. Há uma única referência, feita pelo Senhor Jesus registrada em Mateus, referindo-se ao conteúdo do cálice como "fruto da vide", ou seja "uva", ou seu suco: 
"E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai" (Mateus 26:29 - ACF). 
E em nenhum momento há qualquer ritual de consagração. Há sim oração em ação de graças a ser proferida durante o cerimonial da Ceia do Senhor, conforme instruções encontradas em Mateus 26:26-30 e em 1 Coríntios 11:23-30. Se não se consagra o pão e o vinho, também não se consagra azeite. Se não se consagra azeite toda a teologia e toda a instrução litúrgica derivada desta linha de raciocínio é biblicamente inválida e deve ser considerada espúria e anátema. 

Aprofundando-nos no estudo dos ensinos de Hipólito de Roma podemos encontrar vários tipos de óleos, como o óleo consagrado, o óleo de exorcismo, o óleo de ações de graças, o óleo santo ou santificado, entre outros, como o queijo da caridade e a azeitona consagrada. Assim, quaisquer ensinos provenientes desta fonte, ou de qualquer outra que nela se baseie devem ser considerados espúrios e anátemas. 

Orígenes (± 210 d.C.) 


Orígenes, apesar de todas as suas tendências alegoristas e metafóricas, de suas heresias e descalabros, ao tratar da questão da unção com óleo, afirma, corretamente, que alguns cristãos (neste caso Celso) teriam querido curar suas feridas através da ação divina, mas manter sua alma inflamada em seus vícios e pecados, rejeitando os remédios espirituais dessa mesma palavra, a confissão de pecados e o perdão. 

Querendo usar o azeite, o vinho e outros emolientes, e demais ajudas médicas que aliviam a enfermidade, como alívio para sua alma corrompida, ou ainda usar de supostos poderes mágico-espirituais conferidos aos medicamentos na cura das feridas, sem se apresentarem diante de Deus, para a cura da alma. 

Hoje em dia a medicina nos apresenta vários novos recursos curativos, além do azeite e do vinho, aos quais podemos recorrer, contudo não podemos em momento algum, nos esquecer da dependência de Deus, através de uma vida de oração. 

Este é o ensinamento de Orígenes: 
"Que muitos querem ser curados, querem ser aliviados, mas não querem deixar seus pecados." 
Portanto, na teologia de Orígenes não existe espaço para uma unção de enfermos com fins curativos mágicos. O azeite e outros emolientes são importantes do ponto de vista medicamentoso, mas sempre associados à dependência de Deus pela oração, e se for para a Sua glória, Deus restabelecerá o enfermo. 

Idade Média 


Durante a Idade Média houve grande luta entre o poder secular e o poder da Igreja, trazendo como consequência direta uma deturpação ainda mais exacerbada da já caquética e corrompida teologia da igreja de Roma. As interpretações das Escrituras visavam apenas dar respaldo a um misticismo mágico-religioso que dominava as ações da igreja de Roma, e lhe conferia poder sobre as massas ignorantes e crédulas, além de controle sobre seus governantes, rendendo à igreja de Roma grandes frutos financeiros e políticos. Neste período há muito pouca discussão sobre a unção com óleo, pois esta já se havia instituído em sacramento, o sacramento da extrema-unção, para limpar de pecado aquele que estava à beira da morte. 

Cesário de Arles (± 503~504) 


Ele faz várias referências à unção de enfermos nos seus sermões. No sermão 13 ele escreve: 
"Toda vez que sobrevier uma doença, o que a sofre receba o corpo e o sangue de Cristo; peça humildemente e com fé ao sacerdote a unção com o óleo bento a fim de que se cumpra nele o que está escrito". 
No Sermão 184, suplica às mães que não levem seus filhos aos "medicamentos diabólicos", argumentando: 
"Quanto mais justo e razoável seria recorrer à igreja, receber o corpo e o sangue de Cristo, ungir com fé, seja o próprio corpo ou o dos seus, com o 'óleo bento.'" 
Aqui vemos já uma completa deturpação do significado da Ceia do Senhor, pois é esta um memorial, não conferindo qualquer tipo de bênção, graça ou cura. Pois, não há qualquer suporte nas Sagradas Escrituras para que assim pensemos. 

E assim da mesma forma também não há um "'óleo bento' pelos sacerdotes". Pois, primeiramente, não há na Nova Aliança a figura do sacerdote, não há mais a necessidade de intermediação entre o povo e seu Deus. Cada um que tenha em si o selo da salvação, tem acesso direto ao Pai através de Jesus Cristo, nosso Mediador e Advogado para com o Deus (1 Timóteo 2:5). 

Não há também, como já vimos, sob a Nova Aliança, nenhum objeto ou material consagrado ou santificado, tornando, deste modo, a existência de um "óleo bento" simplesmente impossível. 

E se não há bênção nem na ceia, nem no óleo, não há razão para uma unção de enfermos, exceto quando ocorrer com caráter puramente medicamentoso, sem qualquer conotação mística ou espiritual. 

Quanto à afirmação no sermão 184, não há qualquer fundamento ou razão para afirmar que medicamentos sejam "diabólicos", ou de qualquer outra forma "impuros" ou "malévolos". Há contudo, clara proibição bíblica, quanto a se buscar o auxílio de curandeiros e feiticeiros, mas, em nenhum ponto encontramos recomendação contra a busca por médicos ou por medicamentos em caso de doenças. 

Ao contrário, quando a mulher que sofria com fluxo de sangue procurou por Jesus, é-nos informado que ela já havia procurado por médicos, pratica esta que não foi recriminada por Jesus, apesar de no caso desta mulher não ter sido de eficácia (Marcos 5:25-34). 

Beda (± 720 d.C.) 


Segundo o disposto através da teologia de Beda, podemos ver o andamento da deturpação do significado da unção de enfermos, conforme segue: 
  • Naquela época se pensava que a virtude da Unção estava no óleo consagrado pelo bispo, o óleo bento;
  • A Unção de Enfermos pertencia à categoria dos sacramentos permanentes, assim como a ceia do Senhor e o batismo;
  • A igreja de Roma cria que assim como na ceia do Senhor é o próprio ministro, o sacerdote, quem consagra o pão, e como também é o sacerdote quem batiza, é este mesmo quem também consagra o óleo para a unção de enfermos, e estes elementos depois de consagrados pelo ministro são repassados aos presbíteros para ministrá-los. Assim, toda a força da bênção do óleo está no pastor, isto é, no sacerdote;
  • Assim como o pão consagrado para a ceia do Senhor já tem em si a força do sacramento, também o óleo bento consagrado pelo bispo tem a mesma força e o mesmo poder.

Bonifácio (± 900 d.C.) 


A partir da reforma carolíngia, a administração do óleo consagrado, ou bento, ficou reservada exclusivamente aos sacerdotes (bispos e presbíteros). Segundo os Statuta Bonifacii, do começo do século IX, os sacerdotes devem, em suas viagens, levar sempre consigo a eucaristia e o "santo óleo"; e lhes é proibido sob pena de deposição confiar aos leigos o "santo óleo". 

Neste ponto muda a igreja de Roma sua concepção do sacramento: 
  • De unção de enfermos passou a ser unção de moribundos (extrema-unção); 
  • Da consagração do óleo passou a ser a administração da unção; 
  • De sacramento com efeitos corporais passou a ser sacramento com efeitos espirituais; 
  • De sacramento autônomo passou a estar unido à penitência; 
  • A teologia escolástica do século XIII já herdara uma situação de fato: o ministro da unção é o sacerdote, o mesmo da penitência. 
  • Deste panorama, tem-se o que hoje é entendido por unção dos enfermos. Uma ação de transferência de poder do sacerdote para o óleo e deste para o enfermo, "trazendo a cura".
Nada mais que uma ação de misticismo e feitiçaria, completamente destacada do contexto e do entendimento bíblicos, ação esta criada por séries de heresias e deturpações históricas, tanto no que se refere ao papel da igreja, quando no que se refere ao papel do ministro da igreja, o seu pastor. 

Os Reformadores Protestantes 


No decorrer da Idade Média, a igreja católica separou esse rito da unção de enfermos e o elevou à categoria de sacramento da extrema-unção, mediante o qual, segundo ensinavam seus teólogos, deveria ser ministrado aos fiéis da igreja que estavam moribundos, ou seja, à espera da morte. 

Houve consenso entre os reformadores protestantes que assim apresentada, a unção com óleo, era uma falsa interpretação de Tiago 5:14 e de Marcos 6:13. Segundo Lutero, em sua exposição do texto de Tiago 5:14, o uso da unção com óleo, já cessou: 
"Por isso sou de opinião que essa unção é a mesma da qual se escreve, em Mc 6:13, a respeito dos apóstolos: 
'E ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.' 
Trata-se, pois, de um certo rito da Igreja primitiva, pelo qual faziam milagres entre os enfermos. Já desapareceu há muito." 
Calvino de igual modo não aceita a contemporaneidade da prática da unção de enfermos, assegurando que esta prática já cessou na igreja, como também, todas as virtudes e os demais milagres que foram operados pelas mãos dos apóstolos, a razão é que este dom (unção de enfermos) era temporal. 

Calvino e Lutero são unânimes em afirmar que o azeite era um unguento utilizado na Igreja Primitiva com fins medicamentosos que associados à oração dos presbíteros, teria muito efeito. 

Porque os reformadores não faziam unção de enfermos? 
  • Por que o princípio gerador da cura em Tg 5:14 é a fé do doente e as orações dos líderes da igreja. 
  • Por que longe de sustentar a extrema-unção ou o crisma (confirmação), a passagem de Tiago 5:14 trata de presbíteros (e não de sacerdotes) orando pela cura do enfermo; O azeite é então um óleo medicinal, e não um preparado mágico para a morte. 
  • Por que a unção Veterotestamentária apontava para o Messias, o Ungido de Deus, cumprindo em Cristo a unção final de sacerdote, profeta e rei. 
  • Por que no processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção aponta para o ministério do Espírito Santo, Aquele que unge, isto é, separa, capacita, credencia o cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção.
Analisando o pensamento de Calvino sobre a unção dos enfermos, especialmente em sua exposição do verso em Tiago 5:14, podemos entender o seguinte: 
  • Para Calvino esta prática já cessou na Igreja; 
  • A unção aponta para a obra e os dons do Espírito Santo; e se nós vivemos hoje no desenvolvimento ministerial do Espírito Santo, com certeza, não há qualquer sentido na prática da unção de Enfermos ou qualquer outro tipo de unção; 
  • A unção não tem o efeito das virtudes espirituais apostólicas; 
  • A unção não é canal de bênçãos para o crente; canal de bênção é a doutrina Bíblica, as orações (intercessão dos Santos) e a comunhão; 
  • A unção não é privativa do pastor da igreja; 
  • A unção não tem qualquer efeito de sacramento; 
  • A unção não perdoa pecados; 
  • A unção não é sinal de cura; 
  • A unção não tem poderes mágico-religiosos.

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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