No dia 4 de junho de 1989, houve eleições para o senado na Polônia. Não era uma eleição qualquer: pela primeira vez os poloneses tinham alguma chance de escolher depois de quase meio século de ditadura comunista. O resultado das urnas foi devastador. Das 262 cadeiras do senado, 261 ficaram para o partido de oposição, o Solidariedade.
O governo comunista cairia dois meses depois. Era o fim do comunismo na Polônia. E não só lá. Um a um os governos do Leste Europeu desmoronaram. No fim de 1989 o que fora um poderoso bloco tinha virado pó. A Polônia foi o primeiro dominó. E ninguém lá teve dúvidas sobre quem empurrou esse dominó. "A culpa é da Igreja", disse o ditador derrotado, general Wojciech Jaruzelski.
O primeiro ato do vitorioso líder do Solidariedade, Lech Walesa, foi pegar um avião para Roma. Ele queria agradecer a João Paulo II. A Igreja Católica estava no centro do mundo. E o papa era "o pivô em torno do qual a história girou", nas palavras de Marco Politi e Carl Bernstein, autores de Sua Santidade, uma excelente biografia do papa.
João Paulo II fez história. Quem olhava para seu corpo curvado, anos depois, talvez tivesse dificuldade para enxergar o homem forte, obstinado e astuto que ele foi. Não dá mais para negar que seu papado foi um marco na história da Igreja Católica e foi um divisor de águas no regime dogmático do Estado do Vaticano.
O primeiro ato do vitorioso líder do Solidariedade, Lech Walesa, foi pegar um avião para Roma. Ele queria agradecer a João Paulo II. A Igreja Católica estava no centro do mundo. E o papa era "o pivô em torno do qual a história girou", nas palavras de Marco Politi e Carl Bernstein, autores de Sua Santidade, uma excelente biografia do papa.
João Paulo II fez história. Quem olhava para seu corpo curvado, anos depois, talvez tivesse dificuldade para enxergar o homem forte, obstinado e astuto que ele foi. Não dá mais para negar que seu papado foi um marco na história da Igreja Católica e foi um divisor de águas no regime dogmático do Estado do Vaticano.
Quem foi ele?
A benção do Papa no Vaticano, na Páscoa de 1980. |
João Paulo II nasceu no dia 18 de maio de 1920 na cidade de Wadovice na Polônia sob o nome de Karol Wojtyla. Sua história está totalmente ligada a história do seu país, oprimido até a 1ª Guerra Mundial e em sua grande maioria católico. A Polônia era praticamente uma vitoriosa em meio a tantos países vizinhos protestantes e ortodoxos. Ali, ser católico era motivo de orgulho a pátria e o papa João Paulo II, desde criança, foi um católico fervoroso e muito nacionalista.
João Paulo II (✭1920-✞2005) foi Papa da Igreja Católica Apostólica Romana. Teve papel importante para o fim do comunismo na Polônia e em vários países da Europa. Teve o terceiro maior pontificado, que iniciou em 16 de outubro de 1978 e só terminou em 02 de abril de 2005 com sua morte, permanecendo 26 anos como soberano da Cidade do Vaticano.
De origem polonesa foi o único papa não italiano depois do holandês Adriano VI em 1522. Sabia falar vários idiomas. Visitou 129 países durante seu pontificado. Esteve 04 vezes no Brasil onde visitou várias cidades e reuniu multidões. Exerceu influencia para melhorar as relações entre a religião católica e outras religiões.
Nasceu na pequena cidade de Wadowice na Polônia. Filho de Karol Wojtyla e de Kaczorowska foi batizado com o nome de Karol Jósef Wojtyla. Ficou órfão aos 08 anos e perdeu seus dois irmãos mais velhos. Fez sua primeira comunhão aos 09 anos de idade. Estudou na escola Marcin Wadowita e em 1938 muda-se para a Cracóvia onde estuda na Universidade de Jaguelônica e numa escola de teatro.
Os primeiros passos na Igreja Católica
Papa João Paulo II beija o chão ao chegar na Nova Zelândia, em novembro de 1986. Hábito comum em todos os países que visitava. |
Tinha o sonho de ser ator e aos 19 anos seu maior sonho era ajudar a Polônia a vencer a guerra e queria fazer isso através do teatro, utilizando-o como "arma" para "ganhar espíritos". A Polônia tinha sido invadida por Hitler e os nazistas havim proibido qualquer tipo de missa ou seminário mas em 1942, com 22 anos, entrou para o seminário "clandestinamente" e surpreendeu a todos quando anunciou que queria ser padre. A intenção continuava a mesma, mas agora tinha o propósito da Igreja Católica por trás de dela.
João Paulo II manteve-se firme e tranquilo durante todo o processo principalmente contra os comunistas que eram contra o catolicismo e com seu carisma e diplomacia conseguiu subir rapidamente na hierarquia da Igreja Católica. No dia 1º de novembro de 1946 aconteceu a sua ordenação sacerdotal na Cracóvia e em 1948 após a sua gradução como doutor, voltou a Polônia onde foi vigário e capelão dos Universitários.
João Paulo II teve que trabalhar, para evitar a deportação para a Alemanha, quando as forças nazistas fecharam a Universidade após a invasão da Polônia, na Segunda Guerra Mundial. Seu pai um suboficial do Exército Polonês morreu de ataque cardíaco em 1941. A partir de 1942 sentiu vocação para o sacerdócio e estudou em seminário clandestino na Cracóvia.
Terminada a Guerra, continuou seus estudos na Faculdade de Teologia da Universidade de Jaguelônica. Foi ordenado padre no dia 1 de novembro de 1946. Completou o curso universitário em Roma e doutorou-se em teologia na Universidade Católica de Lublin. Foi nomeado bispo auxiliar na Cracóvia em 1958, foi capelão universitário e professor de ética na Cracóvia e Lublin.
Em 1964, Wojtyla assume as funções de arcebispo de Cracóvia, e em 1967, chega a cardeal. Ativo participante no Conselho Vaticano Segundo, representou igualmente a Polônia em cinco Assembleias internacionais de bispos entre 1967 e 1977.
Foi eleito Papa em 16 de Outubro de 1978, sucedendo a João Paulo I. Wojtyla adotou então o nome João Paulo II. A 13 de Maio de 1981, foi atingido por um tiro e gravemente ferido durante uma tentativa de assassinato quando entrava na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Sua obra e seu papado
Uma visita do Papa a Nelson Mandela (✭1918-✞2013), na África do Sul, em setembro de 1995. |
João Paulo II publicou livros de poesia e, sob o pseudônimo de Andrzej Jawien, escreveu uma peça de teatro, "A Loja do Ourives" em 1960. Os seus escritos éticos e teológicos incluem "Amor Frutuoso e Responsável" e "Sinal de Contradição", ambos publicados em 1979. A sua primeira Encíclica (carta circular do papa abordando algum tema da Igreja Católica), "Redemptor Hominis" (Redentor dos Homens) de 1979 explica a ligação entre a redenção por Cristo e a dignidade humana.
Encíclicas posteriores defendem o poder da misericórdia na vida dos homens (1980); a importância do trabalho como "forma de santificação" (1981); a posição da igreja na Europa de Leste (1985); os males do Marxismo, materialismo e ateísmo (1986); o papel da Virgem Maria como fonte da unidade Cristã (1987); os efeitos destrutivos da rivalidade das superpotências (1988); a necessidade de reconciliar o capitalismo com a justiça social (1991) e uma argumentação contra o relativismo moral (1993).
A 11ª encíclica de João Paulo II, "Evalegium Vitae" (1995), reitera a sua posição contra o aborto, controle da natalidade, fertilização in vitro, engenharia genética e eutanásia. Defende também que a pena capital nunca é justificável. A sua 12ª encíclica, "Ut Unum Sint" (1995) se refere a temas que continuam a dividir as igrejas Cristãs, como os sacramentos da Eucaristia, o papel da Virgem Maria e a relação entre as Escrituras e a tradição.
Reagindo ferozmente à dissidência no interior da Igreja, reafirmou os ensinamentos Católicos Romanos contra a homossexualidade, aborto e métodos "artificiais" de reprodução humana e controle da natalidade, assim como a defesa do celibato dos padres.
No ano 2000, o Ano Sagrado em que a Igreja refletiu os seus 2000 anos de História, João Paulo II pediu perdão pelos pecados cometidos por católico romanos. Apesar de não ter mencionado erros específicos, diversos cardeais reconheceram que o papa se referia às injustiças e intolerância do passado relativamente aos não católicos. Nestes males reconhece-se o período das Cruzadas, da Inquisição e a apatia da igreja. O pedido de desculpas precedeu uma deslocação de João Paulo II à Terra Santa.
João Paulo II resistiu à secularização da igreja. Ao redefinir as responsabilidades da laicização, dos padres e das ordens religiosas, rejeitou a ordenação das mulheres e opôs-se a participação política e a manutenção de cargos políticos pelos padres. Os seus movimentos ecumênicos iniciais foram dirigidos para a Igreja Ortodoxa e para o Anglicanismo, e não para o Protestantismo Europeu.
Suas viagens
João Paulo II, com o presidente João Figueiredo (✭1918-✞1999)
em sua primeira viagem ao Brasil, no ano de 1980
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Nos anos 80 e 90, João Paulo II efetuou várias viagens, incluindo visitas a África, Ásia e América; em Setembro de 1993 deslocou-se às repúblicas do Báltico na primeira visita papal a países da antiga União Soviética. João Paulo II influenciou a restauração da democracia e liberdades religiosas na Europa do Leste, especialmente na sua Polônia natal.
Das inúmeras viagens internacionais de João Paulo II, quatro destinaram-se ao Brasil. A primeira foi em junho de 1980, quando, durante uma estada de 12 dias, o Papa pronunciou 51 discursos. Em sua mensagem de chegada ao país, disse que "começava a realizar um sonho longamente acalentado": "Eu desejava por diferentes motivos conhecer esta terra".
Em junho de 1982, a permanência de Karol Wojtyła ao Brasil foi de apenas dois dias. Em 1991, a visita pastoral durou dez dias, com 31 discursos. A sua última visita, em 1997, foi marcada pelo 2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias, realizado no Rio de Janeiro.
Num de seus discursos, expressou "sua estima e afeto a duas categorias de pessoas do Brasil": os povos indígenas, que segundo o papa "contribuíram, com sua cultura, injetando na cultura brasileira um profundo senso da família, de respeito aos antepassados, de intimidade e de afeto doméstico"; e aos afro-brasileiros, "pela presença notável na história e na formação cultural do país".
Sua morte
Durante uma beatificação na Eslovênia,
em setembro de 1999.
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Atacado pelo Mal de Parkinson morreu aos 84 anos, no Vaticano, após dois dias de agonia às 21h37 de Roma, 16h37 de Brasília, do dia 2 de abril de 2005 em seus aposentos no Palácio Apostólico.
O papa é pop
Durante uma visita à Espanha, em novembro de 1982.
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- "Queremos Deus!" - Refrão gritado pela multidão quando João Paulo II visitou a Polônia comunista.
- "João Paulo II e Reagan formaram uma das maiores alianças secretas de todos os tempos." - Richard Allen, secretário de Segurança Nacional de Ronald Reagan.
- "Peço perdão, em nome de todos os católicos, por todas as injustiças contra os não-católicos no decorrer da história." - João Paulo II.
- "A Igreja não tem necessidade de recorrer a sistemas e ideologias." - João Paulo II, criticando a teologia da libertação.
- "É a sua consciência que deve decidir sobre a renúncia." - Cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano, em 2005, dando a entender que João Paulo II estava doente demais para governar.
O papa e a filósofa
O então cardeal Wojtyla e Anna-Teresa Tymieniecka
em um acampamento em 1978
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Recentemente, foi revelado que o papa João Paulo II manteve uma amizade próxima de mais de 30 anos com uma filósofa norte-americana de origem polonesa. A amizade começou em 1973, quando Anna-Teresa Tymieniecka entrou em contato com Karol Wojtyla, então arcebispo de Cracóvia, em função de um livro de filosofia escrito por ele.
Os dois decidiram se encontrar para discutir o trabalho e, pouco depois, começaram a se escrever. Uma relação epistolar que durou anos. As cartas entre Wojtyla e Tymieniecka se mantiveram longe dos olhos do público, na Biblioteca Nacional da Polônia, durante anos. Os documentos revelam, segundo um documentário foi que emitido pela rede BBC em fevereiro deste ano, uma face diferente do Pontífice.
As cartas de Wojtyla eram, no início, bem formais, mas à medida que sua amizade com Tymieniecka — casada desde 1956 e com três filhos — foi se estreitando, as missivas tornaram-se mais íntimas. Nelas, no entanto, não há qualquer evidência de que o Papa João Paulo II tivesse rompido seus votos de celibato, afirma a BBC.
Wojtyla e Tymieniecka trabalharam juntos em uma versão ampliada da obra do arcebispo de Cracóvia, que finalmente foi publicada em 1979, um ano depois de ele ser eleito papa; tinha 58 anos e se tornou o pontífice mais jovem do século XX. Reuniram-se muitas vezes. Às vezes com suas secretárias presentes; outras vezes a sós. E continuaram trocando cartas.
A amizade entre a filósofa e João Paulo II, que morreu em 2005, não era desconhecida. Ele a visitou nos Estados Unidos em 1976, quando participou de uma conferência católica. Ela também o visitou muitas vezes no Vaticano. Algumas fotografias que nunca tinham sido divulgadas mostram os dois juntos. Compartilharam várias viagens pelo campo e férias em estações de esqui. E ele descreve Tymieniecka como um "presente de Deus".
Não há qualquer evidência nas cartas que indique que o Papa tivesse rompido seus votos de celibato. No entanto, as cartas de João Paulo II sugerem que a mulher parecia demonstrar intensos sentimentos por ele. Em uma das cartas, datada de setembro de 1976, o pontífice escreve:
"Minha querida Teresa, recebi as três cartas. Você escreve sobre sentir-se despedaçada, mas não consigo encontrar nenhuma resposta para essas palavras".
As cartas da filósofa norte-americana, que faleceu em 2014, apenas alguns meses depois que o papa João Paulo II foi canonizado, não foram reveladas.
Wojtyla presenteou Tymieniecka com um de seus bens mais preciosos, um escapulário. Em uma carta de dezembro de 1976, explica a ela o significado do presente:
"Desde o ano passado estou procurando uma resposta para suas palavras 'Pertenço a você', e finalmente, antes de deixar a Polônia, encontrei a maneira, um escapulário. É a dimensão em que a aceito e a sinto em todos os lugares e situações, quando você está perto e quanto está longe."
O papa em números
O papa acenando aos fiéis na Praça de São Pedro, Vaticano, em 1997 |
- 1 - O artigo 1 da Lei Fundamental do Vaticano diz que João Paulo II tem a plenitude dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Isso faz dele o único monarca absolutista do mundo.
- 482 - Número de santos que ele canonizou, um recorde absoluto. De 1594 até 1978, houve 302 canonizações.
- 1.590 - Número de encontros que ele teve com chefes de Estado e primeiros-ministros.
- 17.600.000 - Número de fiéis que foram vê-lo nas 1 760 missas que ele celebrou às quartas-feiras na Praça São Pedro.
- 26 - É o número de anos nos quais o papa esteve à frente da Igreja, o que o coloca em terceiro no ranking dos maiores pontificados, depois de Pio IX (✭1846-✞1878) e do primeiro papa, São Pedro.
- 129 - São os países já visitados pelo papa. A ONU possui 191 estados-membros.
- 317 - Número de paróquias de Roma já visitadas pelo papa, na condição de bispo local. Há no total 333.
- 263 - É o número de papas que vieram antes de João Paulo II, segundo números oficiais da Igreja.
- 0 - É o salário do papa. Mas todas as suas despesas são pagas pelo Vaticano.
Conclusão
Ainda que as opiniões sobre João Paulo II sempre tenham sido divergentes, num ponto há consenso: ele entra para a história como o papa dos superlativos. Foi, segundo os seus admiradores católicos, um "sucessor de São Pedro" carismático, visionário e com uma enorme força de vontade. Nas palavras de um escritor italiano, ele "foi um bem grande entre os grandes desta Terra". Por essas e outras razões, o sucessor de João Paulo II, o alemão Joseph Ratzinger, Bento 16, teve um legado bastante difícil.
[Fonte: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt.html; Sua Santidade – João Paulo II e a História Oculta do Nosso Tempo - Carl Bernstein e Marco Politi, Objetiva, 1996; Igreja Católica - Hans Küng, Objetiva, 2001; Conclave - John L. Allen Jr, Record, 2003; Memória e Identidade - João Paulo II, Objetiva, 2005]
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