Não. Eu não estou falando do delírio de nenhum líder religioso desvairado que ergue réplica do templo de rei bíblico.
Falo do retrato de uma separação, de uma divisão. Uma imagem que entristece. Como brasileiro que sou, jamais imaginei ver algo assim no meu amado país. O que aconteceu? Aonde vamos parar? Até quando vamos permitir a divisão de uma nação?
Essa "obra" grotesca me remete aos tristes anos em que a distante Alemanha foi dividida em duas. O Muro de Berlim foi uma construção erguida em 1961 pelo regime socialista da hoje extinta República Democrática Alemã, também conhecida como Alemanha Oriental, que se destinava a separar as duas áreas da cidade de Berlim, à época dividida em um setor capitalista e outro socialista.
A construção deste abominável símbolo da Guerra Fria iniciou-se a 13 de agosto de 1961, estendendo-se por 37 quilômetros afora dentro da zona urbana da cidade de Berlim, à época, com cerca de 3 milhões de habitantes.
Com o colapso da União Soviética e seus satélites no Leste Europeu, o muro começa a ser finalmente derrubado em 9 de novembro de 1989, acabando com um dos símbolos máximos da opressão dos regimes socialistas. Seu desmanche é também símbolo do fim da Guerra Fria e o marco zero da unificação da Alemanha em uma nação apenas.
Exemplo exagerado? Nem tanto assim.
Não consigo entender como chegamos a esse ponto. Qual é realmente o sentido desse muro? Nos tornamos tão selvagens que não podemos conviver com uma opinião contrária a nossa? E não apenas conviver, mas aceitar alguém que pense diferente daquilo que acreditamos. Cadê o respeito à democracia?
O domingo será um dia histórico não apenas pela votação do impeachment. Quem for a Esplanada terá que escolher um lado. Uma vez escolhido, não pode passar para o outro lado. Se tiver um amigo ou parente do lado oposto, problema seu. Não se atreva a ir para o outro lado. Não existe possibilidade de diálogo. Existe sim um muro para nos lembrar que ainda temos um longo caminho para percorrer no respeito ao próximo e a liberdade de expressão de cada um.
Democracia? Qual democracia?
É inadmissível que, brasileiros, levados pela mídia e pelas nossas instituições estejam a ponto de enfrentamento em praça pública em "nome" da democracia cujas consequências podem ser tão violentas e nefastas quanto aquelas que fazem parte da história do Brasil: Guerra dos Bárbaros (1684), Revolta do Maranhão (1720), Revolta de Felipe Santos (1789), Inconfidência Mineira (1798), Conjuração Baiana (1817), Revolução Pernambucana (1824), Guerra dos Farrapos (1837), Sabinada (1838), Guerra dos Canudos (1904), Guerra do Contestado (1922), Cabanagem (1835), Revolta da Vacina (1912) entre outras. Em todas elas, as piores conseqüências sobraram para o povo que já era usado pela classe dominante para alcançar seus objetivos. Ao povo sobrava, cadeia, tortura e até "deportação" interna ou então a morte.
Responsabilidade
A responsabilidade do que vier acontecer aos brasileiros, independentemente do lado que estejam defendendo, recairá sobre Congresso Nacional e todas as demais instituições brasileiras. Caso a situação se agrave a ponto de existir confronto violento, os detentores dos Três Poderes serão julgados pela história como aqueles que tiveram em suas mãos a possibilidade de evitar batalhas campais entre o povo brasileiro e nada fizeram.
A barreira de aço que divide a Esplanada dos Ministérios para os protestos desta semana custou R$ 7.850 ao governo do Distrito Federal e, a princípio, deve ficar erguida até a próxima segunda (18), caso a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff seja definida de fato no domingo (17).
As chapas de aço, instaladas por presidiários do sistema semiaberto do DF, que possuem autorização para trabalhar fora da carceragem, geraram polêmica em Brasília. A barreira já vem sendo chamada por deputados de "muro da vergonha" (eu preferi chamá-la de "muro das lamentações").
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal alega que a medida é fundamental para garantir a integridade dos manifestantes. A pasta determinou que, do lado esquerdo do muro ficarão os manifestantes contrários ao impeachment, enquanto os favoráveis ao afastamento ficarão do lado direito (tudo à contento: direita, à direita; esquerda, à esquerda).
A barreira tem uma extensão de um quilômetro e vai do Congresso Nacional em direção à Rodoviária da cidade. O DF prevê a presença de 3.000 policiais militares, 500 bombeiros e 50 agentes de trânsito. A previsão informada pelos manifestantes ao governo é que cerca de 300 mil pessoas compareçam aos protestos convocados para domingo.
Os manifestantes contra o impeachment já estão chegando e se instalando no estacionamento do Teatro Nacional, mas, a pedido do governo do Distrito Federal, mudaram para um local um pouco mais distante. Os pró-impeachment estão acampados no Parque da Cidade, do outro lado do eixo que divide a cidade.
Manifestantes acampados em Brasília iniciaram nesta segunda (11) a onda de protestos contra o impeachment. Todos os dias, com exceção de terça (12), os manifestantes farão uma caminhada em direção ao Congresso.
Além do impeachment, as pautas dos grupos a favor da democracia já presentes na Esplanada são diversas. Vão da reforma agrária ao fim da reforma previdenciária.
A causa comum é o pedido pela saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e o repúdio a um eventual governo Michel Temer, o vice que assume em caso de impedimento da petista.
Tudo o que se espera é que esse evento não se transforme em uma indigesta e sangrenta batalha campal entre "coxinhas" e "mortadelas" para que ao final não haja pranto, cruzes e velas iluminando esse bizarro muro das lamentações.
[Fonte: EBC, Folhapress]
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