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sábado, 2 de abril de 2016

FILMES QUE EU VI - NOVA TEMPORADA 3

Hoje (02/4/2016), acabei de rever o filme "Ao Mestre, Com Carinho" ('To Sir, With Love', Inglaterra, 1967, Sony Pictures). O longa é um daqueles clássicos filmes ideais para serem assistido em uma sessão da tarde de um bucólico sábado com céu nublado (tal e qual o fora hoje). O filme conta a história de Mark Thackeray (Sidney Poitier), engenheiro desempregado que decide aceitar o emprego temporário de professor para pagar as contas. Os inevitáveis embates com alunos rebeldes e desordeiros aos poucos dão lugar a uma transformação, tanto dos alunos quanto do professor.

O filme


"Ao Mestre, Com Carinho" foi o filme que estabeleceu os padrões para o gênero "professor sonhador enfrenta todo tipo de dificuldade para domar alunos indisciplinados e transforma vidas". Além disso, ainda catapultou a carreira de Sidney Poitier, que encarnou o papel do professor negro e de origem pobre que, ao chegar à nova escola para assumir o cargo, tem que encarar não apenas o desrespeito dos alunos, mas também o descrédito dos demais professores e preconceitos raciais.

Ontem, hoje... sempre?


Apesar do fato de que o filme foi vivido nos meados dos anos 60, ainda é uma boa referência para se tratar sobre diversos aspectos da sociedade e principalmente em relação as metodologias pedagógicas. O enredo apresenta a dificuldade de um engenheiro Guiano recém formado e negro que tenta melhorar sua condição de vida indo para a capital Londrina trabalhar como professor. Sua situação acaba virando um grande desafio, pois ele foi lecionar numa escola do subúrbio londrino, e acabou diante da turma mais problemática daquela escola.

A problemática começa a ser resolvida, quando o professor percebe que antes da questão do ensino, era preciso trabalhar os valores morais e psicológicos daqueles alunos. A rebeldia já era presente naquele momento da história com a influência de novos hábitos e comportamentos, como por exemplo o fenômeno dos "Beatles". Cada jovem daquela classe vivia algum drama em sua vida. Por isso agiam daquela forma, tentando chamar atenção de uma forma revoltosa, e consequentemente acabavam resultando num baixo rendimento escolar.

A metodologia do professor teve êxito. No primeiro momento ele teve que ter uma postura mais enérgica, mas aos poucos, com muita franqueza e seriedade, ele foi conquistando a atenção da turma. Apresentou uma realidade desconhecida até então para aqueles futuros adultos, como deveriam se comportar, agir, se vestir e outros valores morais. E principalmente, ensinou-os a se valorizarem, confiarem em si e buscar suas metas.

Durante todo este percurso, percebemos no filme, uma grande dose de racismo e preconceito em relação ao professor, onde isso também foi quebrado no momento em que toda a classe reunida, foi prestar solidariedade no enterro da mãe de um colega deles que também era negro. Uma atitude que surpreendeu o professor e demonstrou um grande avanço na maturidade daquela turma.

Numa das primeiras cenas do filme, ao apresentar-se ao professor Weston, este já lança um “Você é o novo cordeiro do abatedouro? Ou deveria dizer ovelha negra?”, e, mais adiante, o mesmo professor ainda pergunta se Thackeray pretendia usar vudu para controlar os alunos endiabrados. Diante desses exemplos claros do preconceito racial sofrido por Thackery, pergunto-me se, em tempos de exageros do politicamente correto, um filme ousaria apresentar o preconceito dessa forma ou se evitariam tocar no assunto.

Rebeldes com causa?


Outra coisa que chama a atenção no filme é a rebeldia bem comportada dos alunos. Acostumados que estamos com a violência extrema nas escolas, em que alunos levam armas para a sala de aula e atacam colegas e professores, em que alunos se divertem espancando outros alunos e filmando a barbárie para postar em redes sociais e em que os próprios professores de educação infantil às vezes batem em bebês e crianças - isso sem contar o abuso sexual praticado por educadores -, a forma de contravenção usada pelos alunos do filme pode ser considera ingênua: eles expressavam o descontentamento em seu vestuário e colocavam música em alto volume no corredor da escola para dançar. 

No entanto, ao que tudo indica, os aspectos violentos da trama, baseada na semibiografia do professor E. R. Braithwaite, tiveram de ser amenizados na tela para que o filme fosse liberado. Mas isso gerou comportamentos sem sentido, a meu ver. Os alunos vinham de lares pobres e violentos, sofriam pressão dos pais para ajudar nas despesas e tarefas domésticas... e se rebelam dançando no corredor e jogando bolinhas de papel em sala de aula? Uma reação bem infantil para quem se julga tão adulto e revoltado, não? Mas acredito que este tenha sido um "tapa com luva de pelica" à censura repressora da época.

Conclusão


Apesar deste filme ser encenado nos anos 60, ainda hoje podemos encontrar situações como aquela vivida naquele tempo em nossas salas de aula de hoje. Turmas de adolescentes que vivem o drama de não ter a atenção e carinho devido de seus pais muito ocupados com carreiras, situação econômica e a busca neurótica de "ter" (em detrimento do "ser") para poderem se afirmar como tal neste mundo capitalista selvagem. Acaba passando a ser uma tarefa do educador, trabalhar com esses dramas vividos pelos seus alunos. É muito importante a atenção e a dedicação do professor com seus alunos, independente da matéria e do programa de ensino.

Para que um educador possa despertar o interesse de sua classe, é necessário, que haja uma interação maior entre ambas as partes, onde o professor deve trabalhar de forma sábia, questões pertinentes ao cotidiano de cada aluno, buscando conhecer mais sobre o que eles gostam, pensam e esperam da vida. A sala de aula deve ser um lugar de troca de experiências e de resgate de valores até então perdidos na sociedade, como: gentileza, higiene, cidadania e respeito.

A responsabilidade do educador vai além do conceito de ensinar uma determinada matéria. Ele deve mais do que tudo, ajudar e direcionar seus alunos a se tornarem acima de tudo um pensador e formador de opinião, que não tenham medo de enfrentar os paradigmas impostos pela nossa sociedade.

Enfim... independente disso, o filme é muito bom sim, Sidney Poitier é o carisma em pessoa e a música-tema - 'To Sir, With Love', interpretado pela cantora Lulu, que também participa do filme, além de um clássico - é uma delícia. A mensagem enobrecedora de que se deve dar o exemplo e preparar os alunos para a vida, não apenas para passar de ano, pode parecer batida, piegas até, mas é mais atual e necessária do que nunca.

O filme teve uma sequência em 1996 ('Ao Mestre, Com Carinho 2), 30 anos após o lançamento do primeiro, novamente com Sidney Poitier no mesmo papel. O enredo mais atualizado é o mesmo e a sequência também não é ruim, mas o primeiro continua imbatível e insuperável.

Por que indico: 


Nem todas as armas do professor para motivar seus alunos são encontradas na sala de aula ou nos livros: o protagonista só estabelece uma conexão com os delinquentes ao provar que há uma relação direta entre os conteúdos ensinados em classe e a progressão do mundo ao redor.

Que bom exemplo tirar - moral da história: 


Características indispensáveis para o perfil de um bom educador: compromisso, seriedade e determinação para resolver os problemas em sala. O filme retrata a história de um professor que, ensinando sob condições adversas (alunos desinteressados, agressivos, com pouca orientação familiar e sem perspectivas de enxergar a educação como espaço de aprendizado), consegue obter resultados importantes junto aos estudantes. Nesse caso, qualquer semelhança não é mera coincidência.

Um comentário:

  1. Esse filme muito realista,apesar de ter sido realizado naquela época enfrentamos os mesmos desafios ou até mesmos muitos outros mais hoje. O respeito para com professor vem a cada ano se perdendo e muitas das vezes o mesmo vem acontecendo em relação ao aluno. Parabéns adorei ler sobre sua reflexão.

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