Suicídio de pastores: medo, vergonha e julgamento são sentimentos que emergem quando falamos sobre esse tema. A ideia de que pastores sejam super-homens faz parte do nosso consciente e inconsciente coletivo há gerações.
Restringimos a vida dos pastores ao que observamos nos púlpitos e altares. Contudo, a vida pastoral passa por um campo pessoal que muitas vezes não nos damos conta. Imaginamos que essa realidade esteja distante de nós, quando na verdade pode estar bem mais perto que pensamos.
Um outro aspecto a ser levado em conta é a cobrança de resultados e números, sejam de pessoas ou financeiros. De maneira geral, a Igreja assumiu um papel muito mais empresarial no Brasil e no mundo, com metodologias de crescimento que nada têm a ver com o Novo Testamento.
Em decorrência disso, uma cobrança excessiva recaiu sobre os pastores. Em outras palavras o sucesso é medido pelo número de membros e pelo caixa da Igreja. Isso não é saudável nem mesmo é bíblico.
Precisamos lembrar também que a cobrança pela perfeição faz parte da vida dos pastores. Eles são o modelo do rebanho e, ao mesmo tempo, pessoas de carne e osso, com vicissitudes e limitações como qualquer outra pessoa.
O assunto é amplo e dificilmente iremos esgota-lo no dia de hoje, contudo precisamos pensar e orar sobre esse assunto. É nossa intenção neste capítulo da série especial de artigos Papo de Psicanalista.
Caso nº 01 — Pr. Luciano Estevam — 1ª Igreja Batista em Aracruz
O anúncio foi feito durante um culto após mais de 24 anos à frente da congregação.
A decisão de Estevam chamou atenção para os diagnósticos de doenças mentais em líderes religiosos e seus tratamentos. O pastor não foi o primeiro a falar sobre o assunto: os padres da Igreja Católica, Fábio de Melo e Marcelo Rossi, também já citaram suas próprias experiências.
Em comunicado, o pastor explicou que a doença causou danos físicos e emocionais e que, durante o tratamento, considerou ser melhor deixar de exercer o ministério pastoral. Ele procurou ajuda a tempo.
Caso nº 2 — Pr. Lucas di Napoli — Igreja Universal do Reino de Deus
Familiares do pr. Lucas di Castro, de 31 anos, da Igreja Universal do Reino de Deus (Bolívia) relataram que ele, há tempos, já apresentava um quadro grave de sofrimento emocional e teria pedido ajuda à liderança da igreja, sem receber apoio.
Lucas cometeu suicídio, e o posicionamento do bispo Edir Macedo, líder da igreja, gerou polêmica ao dizer que era um "problema dele com Deus" e "não estou nem aí", segundo a Folha de S.Paulo.
A atitude de Macedo foi criticada por não oferecer apoio ou empatia aos familiares e fiéis, naturalizando a indiferença diante do suicídio, conforme aponta uma publicação no Instagram.
A atitude de Macedo foi criticada por não oferecer apoio ou empatia aos familiares e fiéis, naturalizando a indiferença diante do suicídio, conforme aponta uma publicação no Instagram.
Caso nº 3 — Pr. Anderson de Souza — Assembleia de Deus Ministério do Belém
Morreu nesta sexta-feira (19) o pastor Anderson Souza, da Assembleia de Deus Ministério do Belém, em São Paulo.
Segundo apuração do portal Assembleianos de Valor, o líder cristão tirou a própria vida.
Pastor Anderson estava hospedado em um hotel de Manaus na ocasião. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
O líder evangélico tinha 35 anos e deixa a esposa e um filho pequeno. Três anos atrás, ele havia perdido uma filha em um trágico afogamento.
O líder evangélico tinha 35 anos e deixa a esposa e um filho pequeno. Três anos atrás, ele havia perdido uma filha em um trágico afogamento.
O falecimento do líder cristão acontece em pleno Setembro Amarelo, mês de consciência sobre a prevenção ao suicídio, e chama atenção para a importância do cuidado com a saúde mental, até mesmo entre pastores.
Depressão no meio religioso
Segundo Karen Vasconcelos Calixto, psiquiatra e professora da Unesc, líderes religiosos, como pastores, enfrentam uma alta prevalência de depressão e burnout devido a uma combinação de fatores ligados à sobrecarga de responsabilidades, pressão espiritual e isolamento social.
Aproximadamente 56% desses líderes apresentam sintomas depressivos, 65% relatam solidão e isolamento, e um em cada três corre risco de esgotamento profissional.
Entretanto, o médico psiquiatra do Hospital Santa Rita, João Guilherme Tavares Marchiori, faz um lembrete: estudos científicos, em geral, mostram que a religiosidade reduz o risco de depressão.
“Líderes religiosos que estão submetidos a carga excessiva de trabalho, pressões excessivas por parte dos fiéis e conflitos internos sobre a própria fé têm mais risco de desenvolver depressão”,explicou.
De acordo com ele, é importante entender que não se pode generalizar e que a depressão pode ter diversas causas. Apesar de ter se afastado dos seus afazeres, Luciano Estevam não relacionou seu quadro de saúde ao cargo exercido.
Ainda há preconceito?
Em posts nas redes sociais que falam sobre o afastamento do pastor, internautas deixaram mensagens de apoio e encorajamento ao líder. Uma seguidora comentou: “Parabéns ao pastor pela sábia decisão” e outra disse
“A importância de reconhecer o momento de cura e parar. Quem cuida precisa de cuidado”.
Mas nem sempre falar sobre depressão é fácil no meio religioso, como explica o especialista João Guilherme.
Em alguns casos, ainda há resistência em debater saúde mental em determinados grupos religiosos.
“Doutrinas religiosas muito dogmáticas e fechadas para a ciência infelizmente transmitem esse tipo de preconceito para os seus seguidores, o que agrava o sofrimento de quem tem depressão e alguns casos podem levar a desfechos trágicos”,
explicou.
O impacto da religião no tratamento
De acordo com Karen Vasconcelos Calixto, a religião pode impactar positivamente no tratamento, representando um apoio durante o momento difícil.
“A espiritualidade pode oferecer conforto, sentido e resiliência, ajudando no enfrentamento da depressão por meio da fé, oração e comunidade”,
afirmou.
Entretanto, ela explica que em alguns casos, o oposto também pode acontecer, principalmente quando a espiritualidade está relacionada a uma cobrança excessiva pessoal ou da comunidade.
“Quando a espiritualidade é associada a exigências rígidas ou à interpretação da doença como falta de fé, pode dificultar a aceitação do diagnóstico e o tratamento médico, perpetuando o sofrimento”,
completou.
Quando o padre Fábio de Melo falou sobre sua saúde mental, chegou a dizer em comunicado que
“há muitas pessoas que alimentam a ilusão de que a fé em Deus nos livra de ter o desequilíbrio químico que causa a depressão”.
A importância de abordar o assunto
A decisão do pastor Luciano de expor a depressão como motivo do seu afastamento temporário, assim como o relato de outros religiosos, foi essencial para que o assunto de saúde mental entre os líderes religiosos viesse à tona, segundo os especialistas.
Líderes religiosos são pessoas que têm poder de influenciar os outros e formar opiniões.
Por essa razão, falar abertamente sobre saúde mental reduz o estigma e encoraja outras pessoas que passam por dificuldades emocionais a procurar o psiquiatra.
Karen Calixto ainda destaca que a transparência nestes casos ainda promove uma cultura de acolhimento e cuidado com o bem-estar emocional no meio religioso.
“A conscientização, o apoio e o tratamento são essenciais para que esses líderes possam exercer sua função com saúde e equilíbrio, protegendo-se dos riscos reais de burnout, depressão e até suicídio, que têm aumentado nos últimos anos no meio eclesiástico”,
completou.
Quebrando o silêncio
Pastores adoecem e morrem como qualquer outro membro da Igreja. Infelizmente, em muitas igrejas, isso tem sido negligenciado.
Mais que isso, muitos espiritualizam situações de maneira que algumas enfermidades como depressão são taxadas como ausência de fé, o que agrava muito mais a situação.
Pastores são acometidos pela silenciosa Síndrome de Burnout, que é difícil de ser identificada e tratada.
Pastores também pecam e a graça e a misericórdia também é para eles. O Apóstolo Paulo disse que ele é o maior dos pecadores. Lidar com o pecado pessoal nem sempre é fácil e pastores precisam viver a Graça de Deus de maneira profunda e intensa.
Viver a graça nunca será um passaporte para pecar livremente, ao contrário, a graça nos motiva e sustenta a vivermos de maneira reta.
Muitas vezes, pastores lidam bem com a graça com relação as ovelhas, mas com eles mesmos, pela cobrança, não conseguem desfrutar desse privilégio do Senhor.
Questões familiares, financeiras e pessoais estão entre alguns aspectos do suicídio de pastores. A distância dos familiares e parentes (para aqueles pastores que são missionários e estão longe de sua terra natal), a falta de amigos e problemas relacionais a nível comunitário são observados como causas prováveis dessa realidade.
Um estudo mostra que 70% dos pastores lutam contra depressão. O mesmo estudo indica que 71% dos pastores sente esgotamento físico e mental. Ainda 80% dos pastores afirma que de alguma maneira o ministério afeta negativamente sua família.
“A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores (…) é a depressão, associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais (por parte de colegas e liderança), baixos salários e isolamento por falta de amigos” (Conforme dados do FTSA).
A maioria das experiências traumáticas vividas no ministério nem se quer são pensadas nos seminários e casas de formações teológicas de diferentes denominações. Isso sem falar de Igrejas que em sua tradição sequer possuem uma formação de pastores de maneira acadêmica.
Esse emaranhado de questões necessita ser levado em conta. O despreparo Bíblico-Teológico e Emocional dos pastores pode ajudar na questão abordada.
O que fazer diante dessa realidade?
Algumas coisas práticas são observadas de maneira bem clara:
- a) Pastores precisam tirar seu dia de folga sem culpa — Precisam de férias durante o ano, de preferência que contemple o convívio com a família (esposa e filhos);
- b) Pastores devem desenvolver relacionamentos saudáveis com outros colegas de ministério — Essa é uma das soluções apontadas para esse problema;
- c) Pastores necessitam de terapia e supervisão — O fato de pregar a verdade não os torna donos da verdade. Compreender as limitações e a necessitada do auxílio de outras ciências (psicologia e terapias) para o cuidado pessoal e das demais pessoas é fundamental. Pastores precisam ser pastoreados por outro pastor;
- d) Atualização Bíblica/Teológica/ interdisciplinar e crescimento precisam fazer parte da vida dos pastores — Isso ajuda a abrir horizontes no processo do pastoreado;
- e) Pastores precisam da compreensão e amor de suas ovelhas como seres humanos — Diante de toda essa realidade, precisamos orar e compreender que todos nós fazemos parte do corpo de Cristo e que nossos pastores precisam do nosso amor e compreensão.
Conclusão
Depressão não é frescura
Mas sim uma doença mental séria e real, com causas multifatoriais e tratáveis. A depressão é um transtorno mental frequente. Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com esse transtorno.
Trata-se de uma condição que afeta o humor, o corpo e o bem-estar, causando sintomas como desânimo profundo, perda de interesse, alterações no sono e no apetite, e pode levar a pensamentos de morte.
A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças.
É fundamental quebrar o estigma associado à doença, buscar ajuda profissional para o diagnóstico e tratamento adequados, que incluem psicoterapia e, se necessário, medicação.
O que fazer?
- Busque ajuda profissional — É essencial procurar um médico ou psicólogo para um diagnóstico correto e tratamento adequado.
- Combata o estigma — Conscientize as pessoas sobre a seriedade da depressão e a importância de falar abertamente sobre saúde mental.
- Ofereça apoio — Se você tem alguém próximo com depressão, ofereça acolhimento, apoio e demonstre empatia, sem julgamentos, incentivando a busca por ajuda.
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda, ligue para o número 188 ou acesse o site.
[Fonte: Portal Rondon, por Mario M. de Melo, formado em Teologia , pós graduado em Psicologia. Especialista em Transtorno da Personalidade. Professor, Terapeuta e Capelão. Idealizador do conceito Theo Therapy]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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E nem 1% religioso.

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