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terça-feira, 2 de setembro de 2025

GRAMOFONE — "LEGIÃO URBANA"

Lançado em 2 de janeiro de 1985, pela EMI Music, e gravado entre outubro a dezembro de 1984, "Legião Urbana" foi o disco homônimo de estreia da banda e trazia uma mensagem geral bastante politizada, firmando os pés no pós-punk e faixas de rock alternativo.

Pois é, neste ano de 2025, completam-se os 40 anos do lançamento, desse que, na minha opinião, é um álbum incompreendido e até certo ponto injustiçado, na icônica discografia da banda brasilience. Vamos descobrir porque, no texto deste artigo, mais um capítulo da minha série especial Gramofone.

O começo de uma história


Da esquerda para a direita Renato Rocha , o Negrete
(✰1961/✞2015)Renato Russo, Marcelo Bonfá
Dado Villa-Lobos na clássica 1ª formação da Legião
Considerando o restante da discografia da Legião, temos aqui um disco bastante diferente, tanto no tom das letras e qualidade poética — aqui, mais rústica, propositalmente agressiva e, por isso mesmo, menos polida na forma de expor determinadas situações —, quanto no trabalho e cuidado musical.

Importante lembrar que a Legião nunca foi uma banda rica em termos de música e Renato Russo (1960/1996) brincou com isso inúmeras vezes em shows (vide a "piadinha dos quatro acordes" que ele faz da própria banda, no "Acústico MTV") e também em entrevistas.

Do Aborto à Legião

Da esquerda para a direita Renato, André e Fê
Mas, antes de falarmos mais do disco, é interessante um resumo do início de tudo. A princípio a formação do Aborto Elétrico era: Renato Russo no baixo e voz, André Pretoruis (✰1961/✞1988) na guitarra e Fê Lemos (que foi para a Capital Inicial) na bateria.

O punk, como movimento musical, começou a dar as caras em meados de 1976 quando o empresário musical Malcon McLaren (1946/✞2010) voltava à Inglaterra depois de uma temporada com o New York Dolls, nos Estados Unidos.

Nessa temporada, McLaren já sacou o pequeno movimento que surgia em torno do hoje conhecido CBGB's, bar em Nova Iorque, com bandas como Ramones e Blondie.

Ao voltar à sua terra natal, procurou alguns caras que estivesse a fim de montar uma banda para que ele fosse o empresário, pois via naquele "movimento punk" um poduto pop que renderia, se bem utilizado, bons frutos. Formou-se o Sex Pitols, e daqui pra frente vocês já sabem a história.

O negócio foi que, assim como em São Paulo e no Rio de Janeiro, os ecos do punk já eram ouvidos em Brasília.

Fitas e discos de bandas como as citadas acima (ou ainda Clash, Buzzcocks...) eram trazidos de lá de fora e pelos filhos dos embaixadores, professores da UnB e afins que passavam tardes e tardes ouvindo e discutindo os tais discos, bebendo uma cerveja e/ou fumando um baseado.

O próximo — e óbvio — passo era montarem suas próprias bandas. E desse fato surgiram inúmeras histórias que hoje são de conhecimento de muita gente. Por isso vamos direto a ele, o Aborto Elétrico.

Foi em janeiro de 1980 que Renato, Fê e André subiram ao palco pela primeira vez com o Aborto Elétrico, no bar Só Cana, no bairro Gilberto Salomão
[O Edifício Gilberto Salomão fica em Brasília, DF, na SCS Quadra 1 Bloco M, S/N, Asa Sul. É um edifício comercial conhecido na capital, que abriga pequenas e médias empresas e se localiza em um dos pontos centrais da cidade.].
A banda punk, que surgiu da empolgação de três adolescentes, mudou a música brasiliense e se tornou o ponto de partida para um movimento que alcançaria o país inteiro.

A história do Aborto Elétrico, no entanto, começa um pouco antes. Em 1978, quando os adolescentes Renato e Fê se conhecem em uma festa e se tornam amigos pelo improvável gosto em comum, o punk rock, movimento que já fazia a cabeça dos jovens na Inglaterra, mas era praticamente desconhecido no Brasil e em Brasília.

Além da paixão pelo punk, Renato e Fê tinham o desejo de fazer música e de ter a própria banda.
"Quando conheci o Renato, eu encontrei um cara que também queria fazer uma banda de punk rock",

lembra , em entrevista ao jornal Correio Braziliense.

Segundo o hoje baterista do Capital Inicial, a vontade se materializou quando Renato recrutou o guitarrista sul-africano André Pretorius. 
"Então, juntou baixo, bateria e guitarra e a gente começou a ensaiar na Colina (área onde os professores da UnB residiam) no final de 1978."
Desde seus primórdios a idéia era ser uma banda séria, e, por quê não, politizada. 

Logo após o primeiro show, André Pretorius abandona o grupo, e em seu lugar entra Flávio Lemos (irmão do Fê e que também hoje é da Capital Inicial) no baixo, deixando as guitarras a cargo de Renato.

Essa é a formação clássica da banda, e é nessa formação que surge a lendária história de que, após mostrar a música 'Química' para a banda, o baterista Fê Lemos, não gostando da letra infantil, da falta de engajamento político por parte de Renato, lhe atira as baquetas.

Este, ofendido, sai da banda, dando início a sua fase folk, passando a ser conhecido como o "Trovador Solitário".

Feito este contextual preâmbulo, agora sim, 

Vamos ao disco. 



Ainda sob o lema "do it yourself" (faça você mesmo), notamos no primeiro disco da Legião Urbana, a maioria das características que formaram musicalmente tanto Renato quanto a banda em si: canções cruas e rápidas, letras voltadas a crítica de costumes ('A Dança') e crítica políticas ('Geração Coca-Cola', 'O Reggae').

Ou seja, o punk ainda estava bem presente nesse disco, mas já eram notadas características marcantes do "pós-punk" como, por exemplo, o clima meio sombrio de 'Ainda É Cedo'.

Outros temas como sexualidade já eram percebidos em músicas como 'Soldados' e 'Teorema' (!). 
[Segundo o próprio Renato, 'Teorema' é sobre sexo oral, mas devido às circunstâncias da época, ou seja, ainda sob a penumbra do regime da Ditadura Militar com sua implacável era impossível deixar a música explícita.]
É certo que o Brasil havia acabado de se livrar do regime militar, mas conforme Renato, "ainda era cedo" para se tratar de tais assuntos.

Rock In Brasil


A primeira edição do Rock In Rio, o período de abertura política e a interferência da música estrangeira preparavam o terreno para o que viria a ocupar a cena nacional no restante da década de 1980. 

Talvez isolados em relação ao que ocupava a produção musical carioca — muito mais focada na New Wave norte-americana —, com o primeiro registro em estúdio, a Legião Urbana parecia brincar com a essência construída anos antes na música inglesa.

Autointitulado, o primeiro disco do grupo comandado por Renato Russo passeia ainda entre a furtividade de bandas como The Clash ('Petróleo do Futuro'), o toque sombrio do Joy Division ('Perdidos no Espaço'), além do esforço sutil do The Smiths ('Por Enquanto').
Um jogo assumido de colagens e interpretações particulares, mas que não escondem a habilidade da banda em transitar seguramente por inventos próprios. 

Agrupado de clássicos como 'Será' e as já citadas 'Geração Coca-Cola' e 'Ainda É Cedo', o disco custaria a ser recebido pelo grande público, sendo compreendido em totalidade apenas com o lançamento do álbum Dois em Julho de 1986.

Entre as músicas do disco, talvez mereça destaque 'Geração Coca-Cola', uma crítica clara aos vinte anos do regime militar
[os trechos "...Depois de vinte anos na escola..." se refere ao período em que o regime militar ficou no poder, e a música continua "...Não é difícil aprender / Todas as manhas do seu jogo sujo...". Mais claro, impossível],
'Baader-Meinnhof Blues', citação direta a um grupo terrorista alemão da década de 70, 'Teorema' e a bela baladinha 'Por enquanto' — que foi brilhantemente regravada/intepretada por Cássia Eller (✰1962/✞2001), com uma das melhores letras de Renato até então.

Conclusão


  • O álbum, que tem duração de pouco mais de 37 minutos, começa com 'Será', faixa escolhida como música de trabalho para a divulgação do disco. A faixa também teve um clipe gravado no final de maio de 1985, na Rose Bom Bom (SP), dirigido por Toniko Melo
  • Seguem-se 'A Dança', que traz alusões à famosa festa da Rockonha (citada na épica faixa 'Faroeste Caboclo', do disco seguinte, "Que País É Este", de 1987), onde todo mundo foi preso.

  • 'Petróleo do Futuro', com sua ironia ao tipo de país e pessoas que temos ou devemos esperar.

  • 'Ainda É Cedo', outro single do álbum, um dos maiores clássicos da banda.
     
  • 'Perdidos no Espaço'.

  • 'Geração Coca-Cola', destaque definitivo e uma das canções mais marcantes de nossa música, com uma mensagem expositiva, flertando com uma típica "quebra de grilhões" ou "nada disso presta".

  • 'O Reggae'.

  • 'Baader-Meinhof Blues', trazendo, mesmo que de maneira distanciada, pensamentos e angústias do espírito da Fração do Exército Vermelho, grupo alemão de extrema-esquerda fundado em 1970.
     
  • 'Soldados', a música mais longa do disco e a minha preferida.
     
  • 'Teorema'.
     
  • E, encerrando, 'Por Enquanto'.
Legião Urbana, como a maioria dos primeiros discos dessa "geração anos oitenta", tem uma qualidade de gravação ruim, e as músicas eram basicamente as mesmas do repertório de shows.

Mas nesse primeiro disco, a Legião Urbana já deixa claro as principais características da banda, e são essas que eles desenvolveram e aprimoraram em seus discos posteriores. 

Ficha técnica:

  • Bateria, Percussão, Glockenspiel – Marcelo Bonfá
  • Baixo Elétrico – Renato Rocha 
  • Guitarra Elétrica, Violão Acústico, Efeitos – Dado Villa-Lobos
  • Produtor Executivo – José Emilio Rondeau
  • Fotografia por – Mauricio Valladares
  • Produtor – Mayrton Bahia
  • Vocal, Teclado, Violão, Letras Por – Renato Russo
Por tudo isso, esse disco aniversariante está aqui na nossa série especial e merecidamente leva o meu seleto selo de 
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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