Aviso: este artigo contém referências a agressões sexuais que podem ser consideradas perturbadoras ou inadequadas por alguns leitores.
O drama sexualmente explícito "Último Tango em Paris", do diretor italiano Bernardo Bertolucci (✰1941/✞2018), lançado em 1972, é a história de um polêmico e improvável affair entre um homem de meia-idade, Paul (Marlon Brando — ✰1924/✞2004) , e uma jovem chamada Jeanne (a então estreante Maria Schneider — ✰1952/✞2011), em um obscuro apartamento da capital francesa.
A primeira vez que assisti a este filme, foi mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa. Me lembro que ele foi anunciado com estardalhaço pela TV Bandeirantes, a Band, que na chamada dizia que seria exibido em sua versão original, sem cortes. Só deu eu lá, na frente da televisão.
Revi recentemente ao longa, porém agora, com maturidade e senso crítico, para escrever mais um capítulo da nossa série especial de artigos Contém Spoilers.
É ruim, mas é bom
É de conhecimento de todos que, apesar desta obra cinematográfica ter sido realizada em 1972, só foi permitida sua entrada no Brasil sete anos depois.
Curiosamente o destino do próprio filme foi de ficar ele também em "áreas secretas" para os brasileiros, que não podiam atingi-lo, pelo veto da censura.
Eram as cenas eróticas entre a moça e seu amante a causa das polêmicas a respeito da pornografia ou não da obra.
E realmente tudo o que pode acontecer durante um coito, mesmo sendo este "a tergo", e ali descrito do começo ao fim, sem que a câmara se desvie um só instante da dupla, antes, ao longo e depois do orgasmo.
Ousadia castigada
O amante a pega inteira no colo; ensaboa seus prósperos seios, seu corpo todo.
Ousadia castigada
O amante a pega inteira no colo; ensaboa seus prósperos seios, seu corpo todo. Pede que ela enfie os dedos em seu anus e assim ela o faz, após ter o cuidado de cortar as unhas, para que a introdução e o movimento rítmico sejam sem entraves.
Bertolucci chega ate a gastar vários metros de película para nos gratificar com outra intimidade: a suavidade com a qual ele faz xixi, sentado na privada, e a decisão com que puxa a descarga.
Frequentemente a moça aparece na mais completa nudez, refletida às vezes no espelho o que dá as varias perspectivas de sua linda anatomia, sem nenhum véu, ate mostrando (escândalo para a época) os pelos pubianos.
Seu parceiro, igualmente, parece não se submeter a qualquer censura mostrando abertamente seus desejos e suas satisfações sexuais temperados de perversão, sadismo e analidade.
Em cada encontro sempre mais se ampliam os repertórios eróticos, acabando por ser conquistada, pela receita da manteiga, até a última parte do corpo que a jovem queria guardar só para si.
Bertolucci chega ate a gastar vários metros de película para nos gratificar com outra intimidade: a suavidade com a qual ele faz xixi, sentado na privada, e a decisão com que puxa a descarga.
Frequentemente a moça aparece na mais completa nudez, refletida às vezes no espelho o que dá as varias perspectivas de sua linda anatomia, sem nenhum véu, ate mostrando (escândalo para a época) os pelos pubianos.
Seu parceiro, igualmente, parece não se submeter a qualquer censura mostrando abertamente seus desejos e suas satisfações sexuais temperados de perversão, sadismo e analidade.
Em cada encontro sempre mais se ampliam os repertórios eróticos, acabando por ser conquistada, pela receita da manteiga, até a última parte do corpo que a jovem queria guardar só para si.
Drama existencial
comentavam alguns espectadores ao sair da sala de projeção.
E realmente em termos físicos a visão é completa. A posse entre os amantes é total, com penetrações mutuas de vários tipos, em entrelaçamentos plásticos de braços e de pernas nos quais se torna sempre mais completo, pelos cinco sentidos, o conhecimento recíproco no plano sexual.
E realmente em termos físicos a visão é completa. A posse entre os amantes é total, com penetrações mutuas de vários tipos, em entrelaçamentos plásticos de braços e de pernas nos quais se torna sempre mais completo, pelos cinco sentidos, o conhecimento recíproco no plano sexual.
Mas... porém... a não ser esta verdade parcial e momentânea, todo o restante fica excluído do contato, nos primeiros encontros. Quem é o parceiro? Que idade tem? De onde vem? Quais seus pensamentos? O que realmente lhe falta? Para onde irá? Qual o seu nome (sua identidade)?
Estas e muitas outras perguntas ficam sem respostas ou mesmo permanecem sem serem formuladas. Até o nome dos dois parceiros deve ficar desconhecido, para que nada da verdadeira identidade escape, e o anonimato proteja do perigo de ser invadido nos meandros da própria personalidade, ou de entrar nos da outra.
Estas e muitas outras perguntas ficam sem respostas ou mesmo permanecem sem serem formuladas. Até o nome dos dois parceiros deve ficar desconhecido, para que nada da verdadeira identidade escape, e o anonimato proteja do perigo de ser invadido nos meandros da própria personalidade, ou de entrar nos da outra.
Em uma abordagem mais terapêutica, é este terreno de reserva, incógnitas, pudor íntimo, é que proponho a existência de "áreas secretas" como algo que as pessoas querem preservar dentro de si, mesmo nos momentos de aparente total entrega a outro ser, e a revelia das possíveis tentativas alheias em invadir tais segredos.
Desde a primeira cena percebemos, pela expressão dramática de seu rosto, que Paul está desesperado.
Assim o surpreende a moça, casualmente, ao cruzar com ele ainda desconhecido, debaixo de um elevado, sobre o qual correm rápidos vagões de metrôs parisienses.
Mas, depois, ele nunca mais mostrará tão transparentemente sua tristeza, quando perto dela, preferindo outras posturas quais: a erótica, a cínica, a indiferente para camuflar suas aflições que explodem em outros momentos, como quando chorará sozinho num canto da sala enquanto ela, ensimesmada, se masturba, ou no dramático monólogo ao lado do cadáver de sua esposa suicida.
Tem ainda o noivo traído, Tom (interpretado por Jean-Pierre Léaud), cuja vida se refletia nas cenas do filme dramático que ele estava rodando e que por vezes se confundia com sua realidade.
Após um segundo encontro, também sem palavras e casual, a porta de um toalete publico onde uma velhota faz rir a platéia tirando, lavando e repondo a dentadura, os dois finalmente se reencontrarão num apartamento.
Mas, chegando a este ponto, antes de analisar o que ocorrerá com a dupla neste local, que ela alugará, e no qual já o encontra escondido (não sabendo bem por que) tendo ele conseguido a chave (não sabemos exatamente como, mas certamente no total desconhecimento da zeladora), vou parar por aqui, senão o texto vai ficar muito longo, pois é caso para muitas sessões de análises.
A infame, porém famosa, "cena da manteiga"
A primeira vez que vi o filme, fiquei chocado com sua ousadia. A famosa, polêmica e perturbadora "cena da manteiga" ainda não havia sido desvalorizada em um milhão de piadas, e o monólogo angustiado de Brando sobre o cadáver de sua esposa — talvez a melhor atuação que ele já fez — não havia sido analisado em detalhes. Simplesmente aconteceu.
Em pelo menos cinco décadas após o lançamento de "Último Tango em Paris”, a famigerada "cena da manteiga" como ficou conhecida uma das sequências de sexo entre o veterano Brando e a jovem atriz Schneider, figurou entre as mais quentes do cinema, embora se tratasse claramente de um abuso.
Para Maria, então com 19 anos, aquilo não foi sexy, tampouco engraçado. Pela legislação atual brasileira, o ato teria grandes chances de ser caracterizado como estupro.
O caso voltou à tona quando em 2016, depois que um vídeo de 2013 em que Bernardo Bertolucci, o diretor, admite que não contou à atriz o que aconteceria naquele dia.
O trecho foi traduzido para o espanhol por conta do mês de combate à violência contra a mulher e divulgado com estardalhaço pela revista Elle americana.
O trecho foi traduzido para o espanhol por conta do mês de combate à violência contra a mulher e divulgado com estardalhaço pela revista Elle americana.
"Eu e Marlon tivemos a ideia da cena na manhã da filmagem da cena",
contou, durante evento na França naquele ano.
Sob orientação do italiano, o ator atacou a colega, 29 anos mais jovem, e usou o tal lubrificante improvisado.
Sob orientação do italiano, o ator atacou a colega, 29 anos mais jovem, e usou o tal lubrificante improvisado.
"Deveria ter chamado meu agente ou meu advogado para ir ao set porque você não pode forçar alguém a fazer algo que não está no script, mas, na época, eu não sabia disso",
contou a atriz francesa em entrevista ao jornal britânico Daily Mail em 2007, quatro anos antes de morrer, vítima de câncer.
"Muito embora o que Marlon estivesse fazendo não fosse real, eu estava chorando de verdade. Eu me senti humilhada e para ser honesta, eu me senti estuprada, por Marlon e Bertolucci. Depois da cena, Marlon não me consolou ou se desculpou. Graças a Deus foi só um take”
Disse Maria Schneider na mesma entrevista em 2007.
Mas foi crime mesmo?
Não houve de fato sexo durante o filme, mas Bertolucci queria uma reação genuína da atriz e produziu uma situação de violência bastante realista.
Para muitos, paira a dúvida. Se não houve penetração, como o ato seria considerado estupro? É que no Brasil, por exemplo, a descrição do tipo penal do estupro (artigo 213) é
"constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso".
Embora tenha seguido carreira e feito mais de três dezenas de filmes, Maria foi até o fim da vida estigmatizada pelo papel.
Afirmou ter ficado amiga de Brando até a morte dele, mas jamais falou com Bertolucci novamente.
Por conta da polêmica, posteriormente o diretor liberou comunicado informando que Maria não sabia apenas do detalhe da manteiga e que foi informada sim da cena de sexo não consentido.
Bertolucci admitiu que foi "horrível" com Maria, se desculpou por tê-la feito passar por isso, mas que não se arrependia do realismo que seu método violento conquistou para o filme.
Pena que a sua custou a liberdade da vítima.
Conclusão
É um filme que existe tão resolutamente no nível da emoção, de fato, que possivelmente apenas Marlon Brando, de todos os atores vivos daquela época, poderia ter interpretado o seu papel principal.
Quem mais pode atuar de forma tão brutal e implicar tamanha vulnerabilidade e necessidade?
Pois o filme é sobre a necessidade; sobre a terrível fome que seu herói, Paul, sente pelo toque de outro coração humano. Ele é um homem cuja existência inteira foi reduzida a um pedido de socorro — e que foi tão danificado pela vida que só consegue expressar esse pedido em atos de sexualidade crua.
Assistir a "Último Tango em Paris", 53 anos após seu lançamento, é como revisitar a casa onde você morava e fazia loucuras que não faz mais.
Passeando pelos cômodos vazios, menores do que você se lembra, você se lembra de uma época em que sentia que o mundo inteiro estava ali, ao seu alcance, e tudo o que você precisava fazer era pegá-lo.
Passeando pelos cômodos vazios, menores do que você se lembra, você se lembra de uma época em que sentia que o mundo inteiro estava ali, ao seu alcance, e tudo o que você precisava fazer era pegá-lo.
O filme é uma imersão nas profundezas do subconsciente de personagens tão complexos quanto somos muitos de nós em nossas peculiaridades.
Ficha Técnica
- Título original: Ultimo tango a Parigi
- Ano de lançamento: 1972
- Países de origem: França e Itália
- Gênero: Drama e Romance
- Duração: 129 minutos (versão original) ou 130 minutos
- Direção: Bernardo Bertolucci
- Roteiro: Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli
- Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Léaud
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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