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sábado, 14 de maio de 2022

CONTÉM SPOILERS — "O BEBÊ DE ROSEMARY"

Recentemente tive uma grata surpresa ao ver sendo anunciado em uma emisso de televisão aberta, a Rede Brasil, este filme sensacional, que inspirou a escrever mais um capítulo da série especial de artigos, Contém Spoilers

"O Bebê de Rosemary" é uma obra de Roman Polanski produzido em 1968. Considerado um dos melhores longas do gênero terror já feitos, o filme possui 137 minutos de duração e classificação indicativa de 14 anos.

No mundo do cinema, até hoje se convenciona achar que para um filme enquadrar-se como terror é preciso que ele apresente elementos sobrenaturais visíveis, assassinos psicóticos ou monstros das mais distintas naturezas. 

Grandes obras como "Psicose" (1960), "O Iluminado" (1980) e "O Exorcista" (1973) reforçam que tais características são necessárias. No entanto, "O Bebê de Rosemary" veio para destoar e intrigar críticos e cinéfilos, deixando claro que regras servem para ser quebradas. 

Algo mais que assustador


O clássico de Roman Polanski de 1968 esconde o que os colegas de gênero fazem questão de exibir e nem por isso deixa de assustar ou envolver o espectador. Pelo contrário. Poucas vezes, o terror foi tão angustiante.

A estreia do polêmico cineasta polonês Polanski em Hollywood, depois dos europeus "Repulsa ao Sexo" (1965) e "A Faca na Água" (1962), traz a quieta Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) como personagem principal.
 

Ao lado do marido Guy (John Cassavetes — ✰1929/✞︎1989), ela se muda para um antigo prédio nova-iorquino, onde espera ver a carreira dele deslanchar como ator, além de ter o primeiro filho do casal. O aconchego do local, porém, contrasta com estranhos boatos acerca dos ex-moradores.

Um inesperado suicídio leva-os a conhecer os vizinhos, Minnie (Ruth Gordon —  ✰1896/✞︎1985) e Roman Castevet (Sidney Blackmer — ✰1895/✞︎1973), que habitam o prédio há bastante tempo. Uma invasiva amizade tem início, especialmente entre Roman e Guy, o que coincide com a prosperidade da família: Rosemary engravida e o marido é convidado para inúmeros trabalhos. 

O controle dos Castevet na sua vida e as seguidas sensações de mal-estar (não solucionadas pelo médico indicado por Minnie), porém, levam-na a desconfiar de um macabro complô contra ela e a criança que está prestes a nascer.

Baseado em livro homônimo de Ira Levin, o roteiro do próprio Polanski faz de "O Bebê de Rosemary" um terror psicológico minuciosamente construído, desviando-se de "forçações de barra" comuns ao subgênero. 

Os fatos e não alucinações justificam tanto as desconfianças de Rosemary quanto a do público. Colar de odor desagradável, suicídio sem aparente justificativa e líquidos de estranho conteúdo são apenas alguns dos acontecimentos e objetos que passam a circundar o cotidiano do casal depois da mudança.

Cenário icônico


Edifício Dakota, New York, EUA
O sobrenatural também jamais habita o apartamento dos Woodhouse, permanecendo apenas no universo onírico, utilizado com agradável parcimônia pela história. 

Nem por isso, o filme se transforma em um marasmo. Roman Polanski sabe como introduzir a paranoia com seu ritmo cadenciado, fotografia escurecida de William Fraker e trilha sonora ora delicada ora intensa de Christopher Komeda. 

O ambiente, enfim, é propício ao susto, mas as situações só tornam-se mais tensas no terço final do longa.

E quando ele chega, percebe-se o quão diferenciada e necessária é a primeira hora de duração. Fugindo de saídas comerciais, o roteiro sacrifica sua introdução e desenvolvimento para oferecer um final apoteótico, que é nada menos do que um dos mais ousados da história do cinema. 

"Provocação" talvez seja a palavra mais apropriada para definir o que a história apresenta ao seu desfecho. Afinal, mesmo com as dicas deixadas pelo roteiro, é impossível prever o destino de Rosemary, muito menos a sua reação ao lidar com tudo aquilo.

No entanto, o fato não teria o mesmo efeito se não fosse Mia Farrow. Dando ao personagem a graciosidade e instabilidade exatas que permitem-na se colocar no centro de uma trama conspiratória, a atriz é a protagonista perfeita para um filme de natureza indefinida. 
Ruth Gordon, como Minnie

O destaque, porém, não vai apenas para ela. Ruth Gordon faz de Minnie uma vizinha aterrorisadora, que se intromete e se exibe (sempre com sua voz estridente) sem pedir licença. Não por acaso, ela ganhou o Oscar de atriz coadjuvante pelo papel.

Ao lado dela, Sidney Blackmer impõe altivez e obscuridade a Roman, enquanto John Cassavetes (aquele mesmo que dirigiu filmes como "Faces" e "Sombras") faz um marido cínico que incomoda. 

Vale ressaltar ainda as participações relevantes de Ralph Bellamy (✰1904/✞︎1991), como o Dr. Sapirstein; e Patsy Kelly (✰1910/✞︎1981), como a esquisita Lara-Louise, mesmo com pouco tempo de tela.
Sidney Blackmer, como mr. Castavett

Com todos esses elementos, Roman Polanski fez história que, mesmo 40 anos depois, ainda surpreende pela ousadia e, principalmente, pelo comprometimento com um roteiro bem delineado e sem vícios, que não deseja assustar de graça, mas que ainda assim (e talvez pelo mesmo motivo), choca mais do que qualquer outro terror. "O Bebê de Rosemary" é filme para ver, rever e se fascinar, sensação cada vez mais rara nos dias de hoje, ainda mais em longas do gênero.

Sinopse


Guy e Rosemary são um jovem casal apaixonado em busca de um novo lar, depois de várias buscas, eles escolhem um apartamento que no passado havia sido palco de eventos ruins (diversas mortes misteriosas), a ponto de o corretor atribuir a ele o nome de "casa do diabo".

Apesar disso, o casal, desafiando qualquer superstição, decidiu morar naquela casa, trazendo melhorias na estrutura e nos móveis bastante macabros. Com o tempo, porém, estranhezas, ruídos noturnos, refrões e até acidentes fatais graves começam a ocorrer no edifício.

Rosemary, uma observadora cuidadosa, começa a entender que algo está errado com os vizinhos estranhos, os senhores Castavett, um casal de idosos com uma intromissão insuportável que cada vez mais entrará na vida dos jovens.

O sonho de Guy e Rosemary é ter um filho. O casal, então, marca os dias mais férteis da moça em um calendário. Durante um desses dias, depois de desmaiar, Rosemary tem um pesadelo em que uma criatura demoníaca a viola. Seria somente um sonho?

Elenco, Personagens, Técnica...


Mia Farrow, como Rosemary
Mia Farrow interpreta perfeitamente o papel de Rosemary. Seus grandes olhos azuis tão assustados e doces ao mesmo tempo são o aspecto mais expressivos do filme. 

O medo está naqueles olhos que melhor expressam a inquietação de uma mulher que sabe estar sozinha para combater o diabo.

Ruth Gordon e Sidney Blackmer interpretam o casal Castevet. Eles se encaixam muito bem no papel de vizinhos diabólicos. Conseguem passar de um sorriso doce a um olhar traiçoeiro e ruim de uma maneira muito natural.

John Cassavetes, como Guy
John Cassavetes é Guy. O homem interpreta um ator em busca de sucesso e fará tudo em nome de sua carreira. Ele é certamente o personagem que desperta a maior raiva de todas no espectador. Sua interpretação é muito boa.

Direção e Fotografia


O diretor, Polanski, produziu diversos suspenses/terror muito bons, dos quais "O Bebê de Rosemary" é um deles.

O "Bebê de Rosemary" é o filme mais hitchcockiano de Polanski, tanto na construção arquitetônica do suspense quanto na interação progressiva entre a realidade física e psíquica.

A fotografia trabalha em conjunto para garantir que a tensão da trama se mantenha até a última cena. As longas sequências dentro do apartamento de casal levam o público a sentir a angústia de Rosemary, que tenta proteger seu filho.

Além disso, o manejo da câmera cria um efeito claustrofóbico e tenso, tanto nos ambientes internos, como nos externos.

Cenografia e Figurinos


Central Park, New York, EUA
Como já dito acima, o uso do cenário também é muito particular, retratando um edifício urbano esplêndido, o Dakota, no centro da cidade, como um lugar hostil e perigoso. 

Não um antigo palácio vitoriano assombrado por fantasmas e vozes que contêm um porão misterioso com uma história sombria, mas um apartamento ao lado do Central Park na movimentadíssima New York.

Os figurinos foram muito bem escolhidos. A escolha das roupas de Rosemary permite que os espectadores percebam a sua crescente barriga mas também a sua anemia causada pelas falsas vitaminas.

Conclusão


O "Bebê de Rosemary" é muito mais do que um filme fantasioso, é uma história sobre relacionamento abusivo. 

Era atual para sua época e infelizmente ainda é. Guy possui o perfil de um homem admirável — afinal de contas, ele é um ator — mas descobrimos que ele é o pior lixo que permeia por entre a sociedade.

Ele só pensa em si mesmo e quando faz com que sua parceira pense o contrário, na verdade é em seu próprio beneficio.

O longa me lembra muito síndrome de Estocolmo, afinal de contas Rosemary estava sim, presa. Presa dentro de um falso sentimento de vida feliz enquanto não mais possuía controle sobre si.

Esse sentimento era o que fazia com que ela relevasse tudo a sua volta e obedecesse seus carcereiros. Após todo o desenrolar abusivo, a única alternativa que restou a Rosemary foi aceitar a sua situação como mãe do filho do diabo.

Bem, essa é a essência do que pude perceber no filme. Há muito mais do que isso afinal de contas o roteiro foi muito elaborado. A verdade se revela o tempo todo em detalhes tão mínimos que chegam a ser imperceptíveis — como por exemplo, o fato de estarem sempre tocando Rose, como se a segurassem, tomando as rédeas e controlando-a — Por esse motivo é muito importante assistir "O Bebê de Rosemary" ao menos duas vezes.

Dado todos os fatos, deixo aqui o fechamento: 
Não se deixem anular por ninguém, se você está em um relacionamento onde acaba se anulando pelo outro, há algo errado. 

Não sejam prisioneiras(os) e se livrem das correntes o mais rápido possível, pois quanto mais o tempo passa, mais fortes elas ficam. Não sejam mais uma Rosemary e não aceitem Guys na vida de vocês.
[Fonte: Cinema com Rapadura, por Darlano Didimo; Entreter-se, por Giovanna Mauro]

A Deus toda glória.
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