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sexta-feira, 25 de março de 2022

JESUS E A MULHER SIRO-FENÍCIA (OU CANANEIA): O VERDADEIRO EVANGELHO QUEBRANDO OS PRECONCEITOS SOCIAIS

A situação retratada no texto de Mateus 15:21-28 parece ser uma realidade de conflito nas comunidades daquele tempo, provocada por atitudes discriminatórias de judeus para gente estrangeira e para com mulheres. O relato fala do encontro de Jesus com uma mulher estrangeira.

A história do encontro entre Jesus e a mulher siro-fenícia/cananéia pode nos parecer um pouco perturbadora em um primeiro momento. Hoje, quero te convidar a passear por essa história mais uma vez, reunindo nossas questões, perturbações e descobertas sobre a graça de Deus.

Compreendendo o contexto


Naquela época, as pessoas estrangeiras significavam algo detestável no pensamento dominante em Israel. Apesar de as tradições ancestrais mostrarem a necessidade de oferecer-lhes proteção, o judaísmo hegemônico no pós-exílio as considerava impuras, bem como uma ameaça por serem desconhecedoras da lei e perturbadoras da tranquilidade de Israel. 

Reprovava seus costumes, suas tradições e seus ritos. Em Mateus 15:21-28, Jesus rompe fronteiras e se aproxima do território de Tiro. A situação era muito tensa, pois Jesus se encontra junto a terras estranhas e, ali, o seu primeiro encontro é com uma cananeia, considerada duplamente impura por ser mulher e por ser estrangeira.

O texto põe em evidência duas posições discordantes nas comunidades cristãs daqueles anos. Uma delas provém do mundo judeu e olha para as mulheres e pessoas estrangeiras com atitude suspeita. A outra conduta é de quem procedia do mundo greco-romano e que tem uma visão mais aberta, com influência de mulheres e pessoas de origem estrangeira, sendo-lhes mais favorável.

Da Galileia a Tiro 


É interessante que, na narrativa, Jesus aparece como homem judeu, representante do discurso e da mentalidade dominante de seu povo, dirigindo-se à terra da mulher siro-fenícia, terra de gente impura para o pensamento preponderante no judaísmo. 

Segundo o mesmo relato em Marcos 7:24-30, Jesus quer ocultar-Se, manter-Se fora do alcance das pessoas daquele lugar, talvez para manter Sua pureza ritual. Mas, Ele não consegue permanecer oculto, pois logo vem ao Seu encontro uma mulher estrangeira, duplamente condenada pela mentalidade que Ele representa.

A primeira atitude de Jesus é a conduta e a mentalidade excludente de judeus que não atendem e não se sensibilizam diante da necessidade de uma mãe com sua filha doente. O interesse de manter a pureza ritual impedia que Ele Se sensibilizasse e Se solidarizasse com a mulher cananeia. 

Jesus silencia, não diz uma palavra sequer à mulher, apesar dos seus gritos de aflição. Diante de Seu silêncio, os discípulos propõem uma saída ainda mais drástica, sugerindo a expulsão dela. Por fim, as palavras de Jesus representam o mesmo discurso que seguramente brotava da boca do setor judeu daquela comunidade: 
"Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas de Israel. Não é conveniente tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorros" (vv. 24:26). 
Para muitos judeus, pessoas estrangeiras não eram outra coisa senão "cães" ou "porcos" (cf. Mt 7:6), provocadoras de grandes calamidades para os filhos de Israel.

Lição genuína de fé


Chama a atenção a resposta da mulher siro-fenícia. Ela podia responder com diversas argumentações ou ficar simplesmente calada como sinal de reprovação diante da discriminação que sofre. Contudo, ela utiliza os mesmos termos de Jesus para fazê-lo repensar sua posição discriminatória: 
"É verdade, Senhor, mas também os cachorros comem das migalhas que caem da mesa de seus donos!" (v. 27). 
Pela boca da siro-fenícia, falam as mulheres e os representantes gentios marginalizados naquelas comunidades cristãs. A ação da mulher é um símbolo do esforço de membros cristãos de origem gentílica para expulsar o "demônio da exclusão" ainda reinante naquela ocasião. Através do personagem da mulher estrangeira, essas pessoas reclamam aceitação na nova comunidade de fé.

E a mudança de Jesus, ao passar a escutar os gritos de aflição da mulher estrangeira, tal como o Deus do êxodo (Êx 3:7,8), representa a nova atitude que as comunidades são chamadas a assumir. 

Quando Jesus se deixa interpelar pela excluída siro-fenícia e se abre para o diálogo com ela, sensibiliza-se com sua realidade e reconhece que o "pão" é direito de todas as filhas e filhos para além de Israel. 

Paradoxalmente, a enfermidade da filha da mulher estrangeira, considerada um mal e uma impureza na mentalidade predominante do judaísmo, torna-se um fator que humaniza e rompe com os opostos. Torna-se um símbolo de recuperação e de cura comunitária.

Conclusão


Esse relato do Evangelho representava um convite à comunidade cristã para assumir uma atitude nova de reciprocidade e receptividade para além do povo judeu. No tempo de Jesus, havia muitas leis que separavam as pessoas. As leis da pureza determinavam quem estava mais próximo de Deus e quem estava mais distante. 

Uma pessoa impura era eliminada do convívio social e novamente admitida mediante rituais de purificação. Havia impurezas transitórias e permanentes — por exemplo, o estrangeiro era considerado impuro por sua própria condição.
O encontro entre Jesus e a mulher siro-fenícia retrata o encontro entre judeus e estrangeiros, entre puros e impuros, também chamados de endemoninhados. Não foi fácil eliminar os preconceitos existentes de ambas as partes. Esse encontro ainda hoje questiona nossos preconceitos e nos convoca a uma abertura maior para o relacionamento com o outro.
Embora não faça parte da nossa cultura o sistema do puro e do impuro, ainda há muitas barreiras e preconceitos que separam e dividem as pessoas nos diversos ambientes sociais.
É preciso rever quais barreiras nos cabe superar para reproduzir em nossa vida a prática cristã. Não podemos nos calar diante de atitudes e comportamentos que excluem outras pessoas do convívio social, nem podemos permitir gestos ou expressões que humilhem o outro simplesmente por sua condição socioeconômica, etnia, gênero ou outras características pessoais.
Como discípulos e discípulas de Jesus, nossa missão é aprender a reler a nossa teologia com base na vida concreta das pessoas, com a certeza de que a misericórdia de Deus não tem fronteiras.


A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Apesar da flexibilização no uso da máscara, onde o uso do acessório já não é mais obrigatório nos ambientes abertos em muitas regiões da Federação, o bom senso e a concientização individual, ainda é uma premissa para a segurança e a proteção coletiva.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia.

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