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quinta-feira, 17 de março de 2022

ACONTECIMENTOS — CASO CÉSIO-137, GOIÂNIA, BRASIL: UMA DAS MAIORES TRAGÉDIAS RADIOATIVAS DO MUNDO

Há exatos 35 anos, Goiânia era atingida por aquele que é considerado o maior acidente radiológico do mundo. A tragédia envolvendo o césio-137 deixou centenas de pessoas mortas contaminadas pelo elemento e outras tantas com sequelas irreversíveis.

O incidente teve início depois que dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o elemento radioativo. A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica desativada.

Mesmo passadas mais de três décadas da tragédia, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais qualquer tipo de construção foi feita no local.

HISTÓRIA E PERSONAGENS

O    que é o Césio-137?


Imagem do local da tragédia em 1987...
  • O Césio-137 é um isótopo radioativo resultante da fissão de urânio ou plutônio, é usado em equipamentos de radiografia, até aí tudo bem, o problema ocorre quando este isótopo é desintegrado e dá origem ao Bário 137m que passa a emitir radiações gama. Os raios gama possuem um grande poder de penetração, sendo nocivos ao ser humano.

O caso


O Brasil é conhecido mundialmente como o país que ocorreu o maior desastre radioativo, foi o de Goiânia em 13 de setembro de 1987, uma cápsula de Césio-137, abandonada há 2 anos nos escombros do antigo Instituto Goiano de Radiologia, desativado depois de sofrer uma ação de despejo — foi removida por dois sucateiros, violada e vendida como ferro-velho. 

Entre a retirada da cápsula da clínica em ruínas e a descoberta do fato pelas autoridades, dezenas de moradores de Goiânia conviveram com um material radioativo cuja periculosidade era desconhecida. Atraídos pela intensa luminescência azul do sal do césio-137 adultos e crianças o manipularam e distribuíram entre parentes e amigos.

Os primeiros sintomas da contaminação (náuseas, vômitos, tonturas e diarreia) foram aparecendo algumas horas após o contato com o material. O saldo dessa experiência foi a morte de 4 pessoas, a contaminação, em maior e menor grau de mais 200 pessoas. Somente em 29 de setembro, aqueles sinais foram identificados como características da síndrome da radiação.

As vítimas


...Local da tragédia atualmente
Foi no ferro-velho de Devair Alves Ferreira que a cápsula de césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo. Devair ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para sua esposa Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. 

Dono de um ferro-velho na Rua 26-A, no Setor Aeroporto, em Goiânia, Devair Alves era conhecido pela solidariedade e simpatia. A casa, que ficava nos fundos do terreno, estava sempre cheia de gente. 

E foi justamente pela vontade de compartilhar a alegria que ele distribuiu um pouquinho dos 19g de césio 137 aos mais próximos. Queria que todos vissem a beleza do brilho azul que emanava daquele pó branco. A atitude o colocou como protagonista do maior acidente radioativo do mundo em área urbana. 

Apesar de ter recebido 7 Gy de radiação, ele sobreviveu em primeira mão à exposição. Os efeito corporais incluíram a perda de cabelo e problemas em diversos órgãos. 

Sentindo-se culpado por abrir a cápsula. tornou-se alcóolatra e contraiu câncer pela radiação, morrendo 7 anos depois, em 1994.

O irmão de Devair, Ivo Ferreira, levou um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves, que ingeriu as partículas do césio junto ao ovo cozido. Outro irmão de Devair também teve contato direto com a substância. Pelo fato de esse sal ser hidroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente.

Ivo teve baixa contaminação, no entanto, tornou-se depressivo depois da morte da filha Leide das Neves e passou a fumar em torno de seis maços de cigarros por dia, falecendo por enfisema pulmonar, em 2003, 16 anos depois. Ele nunca superou o fato de ter levado o produto radioativo pra dentro de casa e dado para a filha.

Maria Gabriela, a esposa do dono do ferro-velho, Devair, teve a intuição de que o mal-estar que seus familiares também passaram a sentir poderia ser devido ao pedaço da fonte guardada dentro de sua casa. Auxiliada, então, por um dos empregados do ferro-velho, levou o pedaço da fonte dentro de um saco plástico, em um ônibus para o Centro de Vigilância Sanitária. 

Cabeçote onde continha a cápsula com o Césio-137
Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. 

Durante a entrevista com médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarreia se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele "aparelho estranho". 

Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro e foi uma das primeiras vítimas da contaminação.

Odesson Alves Ferreira mostra as lesões nas duas mãos
em decorrência de contato com o material radioativo
A primeira vítima, Maria Gabriela Ferreira, com 37 anos de idade, que havia entrado em contato com césio-137 pela primeira vez no dia 21 de setembro, quando foi examinada em hospital porque estava com diarreia e vômitos, morreu no dia 23 de outubro de 1987. 

No mesmo dia, horas mais tarde, foi a vez de sua sobrinha, Leide das Neves Ferreira, uma menina de apenas 6 anos de idade, que passou a purpurina pelo corpo e ingeriu um pouco do pó de césio-137, ao segurar um ovo cozido que comia com a mão contaminada, no dia 24 de setembro. Nos dias 27 e 28 de outubro morreram, respectivamente, Israel Batista dos Santos (22 anos) e Admilson Alves de Souza (18 anos), funcionários do ferro-velho.

CONTROLE DE EXPOSIÇÃO


Leide das Neves e Maria Gabriela, as primeiras vítimas fatais da tragédia
De 30 de setembro a 20 de dezembro de 1987, 112.800 pessoas foram monitoradas pelos técnicos da CNEN na cidade de Goiânia. No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. 

Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo.
Lápides das quatros primeiras vítimas no
cemitério municipalde Goiânia, o Cemitério Parque:
covas são proibidas nas proximidades

Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis.

Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o Parque Estadual Telma Ortegal.

Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.

REJEITOS


Admilson Alves, funcionário do ferro-velho de Devair e outra vítima fatal da tragédia

Os rejeitos gerados da descontaminação de pessoas e locais foram compactados, sendo os rejeitos líquidos solidificados com cimento. Algumas casas e barracos tiveram que ser destruídas e removidos com tudo que havia em seu interior. O solo dos focos de contaminação também teve que ser removido. Para o acondicionamento de rejeitos foram utilizados diversos tipos de embalagens.

Atualmente, as taxas de exposição nos locais atingidos em Goiânia são inferiores às de Guarapari ou de Poços de Caldas. Cinco meses depois do acidente, a população praticamente retornou a sua vida normal, sendo todas as áreas contaminadas liberadas.

No entanto a CNEN ainda manteve em Goiânia 11 técnicos para o acompanhamento dos rejeitos radioativos, para o controle do meio ambiente e para o acompanhamento das vítimas. Seis delas ainda apresentam sequelas razoavelmente graves como as radiodermites (queimaduras por radiação) e continuam recebendo tratamento diário.

CONCLUSÃO


Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capita, onde foi enterrado.

Passadas mais de três décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.

Em Goiânia, especificamente, e no país, o evento analisado não desencadeou um esforço por parte do Estado para o fortalecimento de instituições de proteção ambiental, educação, pesquisa e assistência social. 

Não se observa a existência de uma estrutura simultaneamente preventiva e reativa a novos desastres dessa natureza. O aprendizado das lições da tragédia jamais se tornaram fim último do Estado, que mal consegue montar uma rede de socorro às vítimas do evento de 1987.

Conclui-se, baseados nessa pesquisa , que esse desastre aconteceu pelo não conhecimento das pessoas sobre a radiação e seu poder corrosivo. Desse modo podemos contribuir para uma reflexão mais ampla sobre os processos de conscientização e prevenção sobre os perigos da radiação, além de não se deixar cair no esquecimento para atual geração, algo de tamanha importância histórica.

No âmbito radioativo, o césio-137 só não foi maior que o acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). 

Mesmo com o passar do tempo, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais qualquer tipo de construção foi feita no local.

Goiânia segue com as marcas do desastre. Em fevereiro de 1988, menos de um ano depois, foi criada a Fundação Leide das Neves Ferreira, com a função específica de dar atendimento às vítimas que apresentaram contaminação com o césio-137. 

Até hoje, há um serviço específico para esse atendimento, atualmente prestado pelo CARA (Centro Estadual de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves), criado após a extinção da fundação em 2011.

O CARA tem 1.253 pessoas cadastradas, divididas em grupos de acordo com a dose de exposição à radiação e a gravidade de cada um. Segundo o sistema informatizado de acompanhamento da instituição, implantado em 2003, deste ano a 2020 o centro realizou 23.642 atendimentos. De acordo com a fundação, o número de vítimas fatais em decorrência da tragédia, ao longo do tempo, é de pelo menos 51 pessoas.

Condenações

  • Flamarion Barbosa Goulart — físico do Instituto Goiano de Radiologia (IGR), onde a cápsula foi achada;
  • Carlos de Figueiredo Bezerril — médico responsável pelo IGR;
  • Criseide Castro Dourado — médica responsável pelo IGR;
  • Orlando Alves Teixeira — médico responsável pelo IGR;
  • Amaurillo Monteiro de Oliveira — dono do prédio.
Conforme o processo, eles foram denunciados por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, e por lesão corporal culposa. Após a tramitação do processo na Justiça Federal, os réus foram condenados a 3 anos e 2 meses de prisão em regime aberto pelo crime de homicídio culposo. 

A pena foi transformada em prestação de serviços comunitários. Por força de indulto, em 1998, a condenação foi extinta e ainda assim, em 1999 a ação penal foi arquivada. 

Ou seja, como sempre, os verdadeiros punidos foram as vítimas dessa tragédia que não deve jamais ser por nós esquecida. No que depender de mim, não será!

[Fonte: Núcleo do Conhecimento, por Wanessa Danielle Barbosa Soares - Referências: OKUNO, E. "Radiação efeitos, riscos e benefícios". São Paulo: Ideal, 1988. BORGES, W. "Eu também sou vítima: a verdadeira história sobre o acidente com o césio em Goiânia". Goiânia: Kelps, 2003. PINTO, F. "A menina que comeu césio". Brasília: Ideal, 1987 INSTITUTUO BRASIL CENTRAL (Ibrace). Dossiê radioatividade césio-137. Goiânia, 1988. www.ceped.ufsc.br/…/a resposta a acidentes tecnológicos o caso. http://150.162.1.115/index.php/fisica/article/viewFile/7842/7213, http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n1/18.pdfhttp://webcache.googlesercontent.com/search?q=cache:pXkT38c1GBAJ:archive.is/des, http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/09/; ANAMT - Assossiação Nacional de Medicina do Trabalho]

A Deus toda glória.

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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
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