O CRISTÃO E O DESAFIO DE MANTER E DEFENDER A FÉ EM MEIO AOS ESCÂNDALOS

"Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (Mateus 18:7) 

"Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Judas 3).

Será que nossas convicções podem resistir aos argumentos contra a fé cristã? A epístola de Judas começa e termina com palavras muito confortadoras para os crentes. No versículo 1, Judas nos descreve como aqueles que são "chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo". 

Os três verbos estão na voz passiva. Enfatizam a ação de Deus. Ele 1) chama, 2) ama e 3) guarda. Somos chamados, amados e guardados. Judas se mostrou bastante zeloso em começar enfatizando a segurança do crente na separação e no amor preservador da parte de Deus.

No final da epístola, versículo 24, Judas afirmou: "

"Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante de sua glória, ao único Deus… glória".

Observe, no versículo 1, somos guardados por Deus em Jesus Cristo; e, no versículo 24, Deus é poderoso para guardar-nos de tropeços. Judas começou e terminou sua epístola assegurando os crentes de que Deus exercita sua onipotência em guardá-los de desviarem-se da fé.

Portanto, o que devemos responder quando alguém nos perguntar por que estamos tão certos de que permaneceremos firmes na fé até ao fim e de que seremos salvos no Dia do Juízo?

A garantia da salvação é uma responsabilidade pessoal

"Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Apocalipse 3:11).

Certamente, todos os cristãos evangélicos, em algum momento de sua vida, já foram confrontados com questionamentos quanto à fé que professam. Isso não vem de hoje. A história nos mostra que em todos os períodos da história humana Deus e o Cristianismo têm sido atacados.

Na Bíblia, encontramos o texto áureo da defesa da fé cristã. Está em 1 Pedro 3:15: 

"Antes santificai a Cristo em vossos corações e estejais sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós".

Nesse trecho, Pedro nos dá as bases da defesa da apologia cristã. Em relação à pessoa de Cristo é necessário "santificá-lO em nossos corações"; em relação a nós mesmos: "estarmos preparados"; e em relação aos nossos oponentes: "responder com mansidão e temor".

A defesa da fé é denominada "apologia" – que do grego significa "resposta" ou "discurso de justificação". Ela compõe um conjunto de respostas às perguntas feitas sobre Deus, Jesus e o pensamento cristão. Ou seja, a apologia é, também, uma importante forma de testemunho da fé. Mas, como praticar a apologia em meio a tantos escândalos que diariamente ganham a mídia?

A prática da fé X os escândalos

Adultério, prostituição, roubo, mentira, pedofilia, etc., são inúmeros escândalos que têm assolado o meio cristão e deixado crentes e não crentes perplexos. Algumas pessoas, que dizem professar o evangelho puro e genuíno de Jesus Cristo, têm envergonhado a Igreja.

Atualmente, com a facilidade da comunicação, através da internet, esses escândalos são cada vez mais propagados através das redes sociais, de modo que ímpios e cristãos tenham total acesso a esse tipo de informação que é compartilhado, muitas vezes, pelos próprios evangélicos. 

O primeiro questionamento é sempre o mesmo: "Fulano não é crente?". Como um verdadeiro cristão deve se portar diante de escândalos que acontecem no mundo gospel? É correto disseminar nas redes? Um cristão pode falar mal de outro cristão, mesmo ele tendo cometido algum pecado?

A Palavra nos revela que quando os discípulos queriam saber quem era o maior no Reino dos Céus, ali já havia cobiça (Mt 18:1-5). Jesus previu que essa disputa pelo poder resultaria, ao longo dos tempos, em escândalos, e muitos seriam os protagonistas que, mesmo conhecendo os princípios do Evangelho, por ganância, perverteriam a sã doutrina para manterem privilégios subalternos e inconfessáveis. 

A maioria dos escândalos na Igreja dita evangélica, na presente geração, decorre da soberba e do desejo de poder a qualquer preço. O preço tem sido pago com muitos escândalos que vemos noticiados diariamente no mundo gospel, com reflexos na sociedade secular, isso é algo lamentável. Muitos acreditam que esses são os sinais de que Jesus está cada vez mais perto de voltar.

As armadilhas da fama gospel

No mundo da "fama gospel", os escândalos são ainda mais visíveis por virem de pessoas públicas. Já tivemos muitos casos que foram expostos nas mídias sociais, sendo comentados por milhares de pessoas, até mesmo por não cristãos. 

Dessa forma, o simples compartilhamento em uma rede social não só expõe as pessoas como nos expõe também. Pois, se somos um corpo só, aos olhos de Cristo, quando mostro a fraqueza de alguém, estou expondo a mim mesmo. 

Quem ganha com isso? O inferno, é claro. Acredito que existe uma necessidade de ficarmos "bem na fita", e isso tem feito com que algumas pessoas do segmento gospel tenham prazer na queda do outro. Não podemos nos esquecer que todos nós temos algum vidro cobrindo nosso telhado. Por isso, é sempre que nos lembremos do conselho apostólico:

"Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar" (1 Coríntios 10:11-13, grifo acrescentado para efeito de ênfase).

Se aprendêssemos mais a guardar nossos irmãos, o reino estaria mais edificado. Temos o papel de guardar nossos irmãos, de nos colocar na brecha da oração para que o Senhor possa restaurar e libertar os envolvidos das amarras do diabo. Davi teve as mais diversas oportunidades de expor Saul, seu rei, mas em todo o tempo o preservou e o guardou, com isso Deus o honrou sobremaneira.

Falta amor entre os irmãos da Igreja da atualidade

A Bíblia fala que, no final dos tempos, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriaria (Mt 24:12). É triste não vivermos mais na época da Igreja de Atos dos apóstolos. Veja em Atos 2:40-44 como era a Igreja daquela época. 

Infelizmente, hoje é exatamente ao contrário: existe uma profunda divisão e disputa entre as diferentes denominações e grupos ditos evangélicos. Há uma desconfiança crescente e falta de credibilidade entre os próprios líderes e membros de igrejas. 

Há também uma crítica velada sobre a teologia do outro, e sem contar extrapolações quanto à hermenêutica, aos carismas e comportamentos extravagantes no exercício de ministérios que tomam grandes dimensões. Nesse cenário caótico, é de grande importância nutrirmos a prática permanente de amar ao outro e viver o Evangelho em sua plenitude.

Essa falta de amor entre cristãos que se "alfinetam" e apontam o pecado um do outro, tem se tornado, infelizmente, cada vez mais aparente também para os que não conhecem Jesus, sem contar os escândalos que envolvem pessoas famosas que se dizem cristãs.

O crente precisa se posicionar e conhecer a Palavra de Deus para "defender" o Evangelho de Jesus quando houver escândalos. A única forma de explicar para os ímpios o motivo de tantos escândalos, é, portanto, através da Bíblia e o que as escrituras afirmam sobre cada determinado assunto. 

É lamentável vivermos um tempo de profundo "analfabetismo bíblico", em que as pessoas só usam argumentos humanos, e o resultado final é que não conseguem explicar nada à luz da Palavra de Deus.

Em resumo:

• Existe uma fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.

• Esta fé é digna de que batalhemos por ela.

• A fé está, por repetidas vezes, sofrendo ameaças vindas da própria igreja, por meio de crentes que professam apenas verbalmente a fé (são os "cristãos nominais").

• É dever de todo crente batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.

Conclusão

Essa é a razão por que Judas nos exorta a crescer, orar, permanecer no amor de Deus e depender de sua misericórdia, antes de afirmar qualquer coisa sobre a maneira como devemos batalhar pela fé. Viver a fé é o melhor argumento que os crentes têm em favor da fé, o que vai linearmente em consonância com o que escreveu o apóstolo Pedro em sua epístola (1 Pe 3:15). A maneira como lutamos é tão importante quanto o conteúdo de nossos argumentos. Não podemos vencer com a nossa lógica e perder com a nossa vida.

A Deus, toda glória. 

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