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sábado, 24 de novembro de 2018

LIVROS QUE EU LI - "DECEPCIONADO COM DEUS", PHILIP YANCEY


De início devo dizer que Philip Yancey não é dos meus autores preferidos. Tenho muitos questionamentos sobre a linha doutrinária que ele defende, mas, em especial esse livro, é uma obra com relevante coerência. Antes de falar do livro, vou falar um pouco 

sobre o autor.


Philip Yancey é um jornalista e escritor cristão norte americano, ele escreve sobre diversos temas que norteiam a alma humana. Yancey é escritor de diversas obras de grande repercussão, dentre elas "Alma Sobrevivente", também editada pela Mundo Cristão. Por 11 vezes ganhou o principal prêmio editorial dos Estados Unidos - Gold Medallion. Mestre em Comunicação pela Wheton College e em Língua Inglesa pela Universidade de Chicago, atualmente é editor independente da prestigiada revista Christianity Today. Ele e a esposa residem em Evergreen, Colorado.

Da realidade à realidade


Nesta obra Philip traz à tona o problema do sofrimento humano e se propõe a discutir (à luz da Bíblia) este assunto que muitos preferem evitar. A motivação do jornalista para escrever esta obra é descrita no início do livro. Philip teve contato com Richard, um jovem estudante de teologia que estava escrevendo um livro sobre a história de Jó. Ele foi solicitado para auxiliar o estudante nesta tarefa. Porém quando o livro já está pronto, na gráfica, Richard encontra com Philip e diz não acreditar em mais nada que escreveu e que toda sua fé e entusiasmo haviam desaparecido. A partir dessa história de descrença, Philip escreve o livro "Decepcionado com Deus".

Quem é Deus?


A discussão do tema gira em torno de três perguntas: Deus é injusto? Deus está calado? Deus está escondido? Se você já fez alguma dessas perguntas mesmo que no silêncio do seu ser, você precisa ler esse livro. O autor utiliza exemplos de personagens bíblicos e de pessoas que ele mesmo conheceu que em algum momento da vida ficaram decepcionados com Deus.

Quando estamos em meio a problemas e só recebemos o silêncio de Deus somos impulsionados a perguntar por que Ele se esconde, por que se mantém calado frente ao sofrimento humano mesmo sendo um Deus de amor... E quanto a essas indagações o autor conduz o leitor a tentar entender como é ser Deus. 

Assim começa uma abordagem bíblica de como era o Pai, como Ele manifestava e como foi descrito no antigo testamento. Depois escreve sobre Jesus, qual foi sua função aqui na Terra e como se relacionava com os humanos. Finalizando descreve o papel do Espírito Santo relacionando com os fatos bíblicos a partir do Pentecostes.

O que mais gostei do livro é que o escritor não entra em delongas teológicas sobre os infindáveis e inúteis acerca da unicidade ou trindade divinas, não ousa determinar uma resposta, também não se utiliza de clichês que não satisfazem a alma humana. Apenas apresenta e discute fatos que fazem você chegar à sua própria conclusão.

Por fim, Philip Yancey fala sobre o papel da dor na formação do caráter e da restauração da relação entre Criador e criatura. Ele vai contra a dita "teologia da prosperidade" - este foi um dos pontos que mais me agradaram no livro, uma vez que tenho verdadeira ojeriza por essa doutrina diabólica -, pois a Bíblia nunca disse que só por sermos cristãos nossa vida seria um mar de rosas. 

É só lembrarmos de tantos fiéis que sofreram, como Jó, Paulo, João Batista e até Jesus, o próprio filho de Deus. Aliás, a vida dos apóstolos é mais do que uma prova de ser cristão não blinda a absolutamente ninguém de sofrimentos em todas as esferas da vida. Válido lembrar uma célebre frase do apóstolo Paulo, que não deve constar na Bíblia que esses caras que insistem em espalhar o "evangelho do comodismo":
"Tu, porém, tens seguido atentamente minha teologia, procedimento, propósitos, fé, paciência, amor, perseverança; observado minhas perseguições e aflições, que sofri em Antioquia, Icônio e Listra. Quantas perseguições suportei! 
Contudo, de todas o Senhor me livrou! De fato, todas as pessoas que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas. 
Todavia, os perversos e impostores andarão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, no entanto, permanece no ensino que recebeste e sobre o qual tens plena convicção, sabendo perfeitamente de quem o tem aprendido. 
Porque desde a infância sabes as Sagradas Letras que têm o poder de fazer-te sábio para a salvação, por intermédio da fé em Cristo Jesus. 
Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações" (1 Timóteo 3:11-17, grifos meus). 
Ao invés de preocuparmos em ter uma vida perfeita nessa Terra —  o que nunca foi prometido por Deus, diga-se de passagem —  deveríamos nos ocupar em ser semelhantes a Jesus, assim tudo faria mais sentido!

Retendo [apenas] o que é bom

 
Quando fiquei sabendo sobre esse livro, através da indicação de um site, até resisti, pois já tinha ouvido e lido algumas coisas ruins a respeito desse autor. Então, eu não sabia exatamente o que esperar, e cheguei a pensar se o livro não teria apenas conteúdo de auto ajuda ou um monte de heresias nada bíblicas. Por fim, afastei os pré-conceitos e pensei que mesmo que acontecesse alguma dessas opções eu muito provavelmente conseguiria tirar algo bom para mim do livro, como aconteceu com todas as leituras que fiz até aqui, mesmo que eu não tenha gostado muito de todas elas. Assim, comecei a leitura.

Trecho do livro


"Ocorreu-me, enquanto lia os Evangelhos, que, se todos nós da Igreja gastássemos nossas vidas tal como ele fez — ministrando aos doentes, alimentando os famintos, resistindo aos poderes do mal, consolando aqueles enlutados e levando as Boas Notícias de amor e perdão — então talvez a pergunta 'Deus é injusto?' não fosse feita hoje em dia com tanta urgência."
Richard, um jovem estudante de teologia entra em contato com Philip pois está escrevendo um livro sobre a história de Jó. Então, Philip começa a ajudar o rapaz no desenvolvimento do livro e, inclusive, escreve o prefácio do mesmo. Mas quando o livro já está pronto, na gráfica, as vésperas do lançamento, Richard se encontra com Philip e lhe diz que perdeu a fé, devido a uma série de "frustrações que tem com Deus".

Trecho do livro


"E a fé é, afinal, um tipo de saudade — de um lar que jamais visitamos, mas que nunca deixamos de anelar."
Motivado por esse e diversos outros testemunhos de pessoas decepcionadas e tendo a sua própria cota de frustração com Deus, Yancey decide estudar e escrever sobre a assunto. E, assim espera entender e responder três perguntas que todo cristão já se fez: "Deus é injusto?", "Deus está calado?" e "Deus escondeu-se de mim?". Para responder essas perguntas ele busca conhecer melhor a Bíblia e chega a algumas respostas. Talvez não as respostas que queremos ouvir, mas foram respostas bastante sensatas e embasadas. Curiosamente, o testemunho que mais me marcou foi de um homem que apesar de ter passado por todo azar de dificuldades e injustiças não se sentia decepcionado com Deus.

Trecho do livro


"— Desafio você a ir para sua casa e ler de novo a história de Jesus. A vida foi 'justa' com Ele? Para mim, a cruz acabou definitivamente com a crença enraizada de que a vida será justa."
O autor divide o livro em duas partes, na primeira ele se propõe a explorar a Bíblia para ver aquilo que realmente podemos esperar de Deus, e, na segunda, se dirige para questões mais práticas e existenciais e aplica as ideias que desenvolveu em situações reais. 

Dessa forma, ele começa falando sobre o Antigo Testamento, uma época em que Deus se mostrava claramente e os israelitas viam seu poder em todo o tempo, mas, mesmo assim estavam sempre pecando e desobedecendo. Pois, todo esse poder não gerava fé e amor nos corações do povo. Depois ele passa pelo Novo Testamento. E, por fim, faz uma análise incrível sobre o livro de Jó. Sempre contextualizando as suas reflexões para os nossos dias.
 

Trecho do livro


"Será que uma erupção de milagres sustentaria a fé? Provavelmente não; pelo menos não sustentaria o tipo de fé em que Deus parece estar interessado. Os israelitas são uma grande demonstração de que os sinais só conseguem nos tornar viciados em sinais, não em Deus."
Uma coisa que me incomodou um pouco foi que o autor colocou as referências bíblicas ao fim dos capítulos e eu particularmente preferia que ele tivesse usado parênteses e colocado elas no meio do texto (assim como faço aqui no blog). Acho que faz mas sentido quando lidas junto com a reflexão que ele fez sobre elas, sem contar que ver todas aquelas referências juntas no final do capítulo as vezes batia uma preguiça de abrir e ler cada uma delas. Mas essa foi uma escolha do autor.

Trecho do livro


"Digo isto com muito cuidado, mas fico imaginando se um desejo veemente, insistente de milagres — digamos, de uma cura física — algumas vezes não denuncia uma falta de fé, em vez de uma abundância dela. Tais orações podem, como as de Richard, estabelecer condições para Deus. Quando ansiando por uma solução miraculosa para um problema, fazemos com que nossa lealdade a Deus dependa de ele se revelar mais uma vez no mundo visível?"
No fim, o livro me surpreendeu positivamente, Philip trouxe um olhar muito diferenciado sobre a história de alguns personagens bíblicos. Em todo tempo, ele combate a ideia de que temos qualquer tipo de garantia de que a vida será boa ou justa para conosco só porque somos cristãos. 

Repito, a Bíblia em nenhum momento nos promete riquezas materiais, saúde ou romance nessa terra. Hoje em dia isso tem sido muito pregado como uma verdade, quando na verdade não é, as pessoas parecem ter se esquecido de personagens como Jó, Paulo, João Batista, Estevão... 

Paulo viveu a maior parte de sua vida cristã preso, sofreu por causa do evangelho e, mesmo assim, guardou a fé. Além disso, as vezes, nós cristãos, queremos tanto ser corretos e "certinhos", que não assumimos quando sentimos esse tipo de sentimento para com Deus, mas Philip não, ele, na verdade, foi muito franco e humano ao falar sobre o assunto e achei essa atitude muito válida e interessante.

Conclusão

Trecho do livro


"Por outro lado, alguns leitores apontam para o final feliz como a resposta final para a desilusão com Deus. Veja, dizem eles, Deus livra seu povo da adversidade. Restaurou a saúde e as riquezas de Jó, e fará o mesmo conosco caso aprendamos a confiar nele como o fez Jó. Esses leitores, no entanto, passam por cima de um detalhe importante: Jó falou essas palavras de contrição antes da recuperação de suas perdas."
Todos que já se fizeram as três perguntas que norteiam o livro deveriam lê-lo, ele é muito esclarecedor e a linguagem não é difícil. Às vezes o autor até parece dar uma viajada pra explicar como Deus é, em especial na hora que fala sobre o tempo (passado, presente e futuro), mas não foi nada muito difícil de acompanhar e no fim as coisas ainda fizeram sentido. O livro fala sobre como lidamos com o sofrimento. Como a dor muitas vezes se torna a mais dura prova de fé.

O autor investiga a luz da Bíblia algumas questões inquietantes. A princípio, parece uma contradição: por que Deus permite situações de tamanha calamidade pessoal na vida de pessoas que se dispõe a crer e confiar nEle? Muitas delas não resistem a esses testes e sucumbem.
 
Em vez de apoiar-se em velhos evangeliquêses usados para justificar situações extremas - e que, via de regra, não satisfazem a alma daquele que passa por elas -, o autor humaniza a discussão, dando espaço até para o desabafo de quem se acha "marionete ou cobaia de Deus" (tem muita gente que se sente assim nas fileiras evangélicas, só não têm coragem de confessar e/ou de assumir seus sentimentos, não por temor, mas por medo do "deus carrasco" supostamente injusto).
 
Para quem teve alguma perda ou decepção, o livro é um ótimo começo para quem esta querendo saber mais sobre o assunto sofrimento. A reflexão que autor trás nos leva a ver Deus por outro ângulo, a olhar para Jó sem névoa nos atrapalhando. Gostaria de colocar mais quotes e falar mais sobre como ele explicou tudo, mas vocês precisam ler para entender. Leiam e depois voltem para me contar o que acharam!

Trecho do livro


"A Bíblia inclui muitas provas do interesse de Deus — algumas bastante espetaculares — mas nenhuma garantia. Uma garantia, no final das contas, eliminaria toda a fé."
  • Decepcionado com Deus. 
  • Autor: Philip Yancey. 
  • Páginas: 288. 
  • Editora: Mundo Cristão. 
  • Lançamento: 2004
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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