Total de visualizações de página

sábado, 10 de fevereiro de 2018

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "VOCÊ É LINDA", CAETANO VELOSO


Em tempos onde tanto se discute sobre ideologia de gênero, essa confusão de não se saber o que se é, a canção que trago hoje para análise em nossa série especial de artigos Canções Eternas Canções, é um poema lírico que homenageia de maneira bem singular e definida a mulher em toda a sua essência. 


A história da canção


Na canção “Você é Linda”, podemos encontrar um “eu lírico” masculino, porém apaixonado levando o motivo de felicidade à mulher amada, levando a presença dos elementos da natureza. Assim, tornando a canção ainda mais poética.

A música foi gravada no ano de 1983, composta por Caetano Veloso. A canção “Você é Linda”, tem um sentimentalismo profundo, intenso e idealizado, logo revela elementos de caráter das cantigas de amor. Contudo, já que o “eu lírico” é masculino, nos leva a perceber as qualidades como: “linda”, “beleza esperta” com a voz lírica masculina, podendo perceber que o referido trecho entre “belo” e sua fonte de admiração com os “olhos de mel”, “cachos de acácias” que são amarelos havendo um confronto com o “azul” e “a luz do sol”.

Lançada no LP “Uns”, em 1983, a música, naquele ano, passou sem muita repercussão, vindo atingir o sucesso em todo Brasil apenas 23 anos depois, em 2006 como tema de abertura da novela Belíssima”, exibida no horário nobre da Rede Globo. Mas, a música já havia composto a trilha de outra novela global, “Eu Prometo”, a última novela escrita pela brilhante autora Janete Clair (★1925/✟1983), exibida às 22h., no mesmo ano de seu lançamento, como tema da personagem Kelly, interpretada pela atriz Renée de Vielmond.


Um poema sensível e inteligente


Com gênero poema-canção, “Você é Linda” exalta a beleza feminina e premia as pessoas com uma obra rica em recursos estilísticos, onde letra e melodia estão em sintonia. A canção mimetiza as entoações da fala para manter o objetivo de que cantar é dizer algo. E essa oscilação entre canto e fala possibilita um ritmo contínuo com leveza e suavidade.

Caetano poetiza sons de timbres desconexos e cria a estética musical, o uso de aliterações fomenta e tonifica a pregnância. É frequente o artifício jogo sonoro que emenda o último segmento, o que o torna não apenas um dos principais cantores, compositores e violinistas brasileiros, mas sim um criador de estilos. Seus versos curtos opõem-se às longas estrofes. Sua linguagem é simples, repetitiva e objetiva. Entretanto, a subjetividade fica por conta do amor platônico que envolve o eu-lírico e a mulher amada.
Segue abaixo a letra da música:

Você é linda


Fonte de mel 
Nuns olhos de gueixa 
Kabuki, máscara. 
Choque entre o azul 
e o cacho de acácias 
luz das acácias 
você é mãe do sol. 
A sua coisa é toda tão certa 
beleza esperta. 
Você me deixa a rua deserta 
quando atravessa 
e não olha pra trás. 

Linda... 
e sabe viver. 
Você me faz feliz. 
Esta canção é só pra dizer 
e diz. 
Você é linda 
mais que demais. 
Você é linda, sim 
onda do mar do amor 
que bateu em mim. 

Você é forte 
dentes e músculos 
peitos e lábios. 
Você é forte 
letras e músicas 
todas as músicas 
que ainda hei de ouvir. 
No Abaeté 
areias e estrelas 
não são mais belas 
do que você, 
mulher das estrelas 
mina de estrelas 
diga o que você quer. 

Você é linda 
e sabe viver. 
Você me faz feliz. 
Esta canção é só pra dizer 
e diz. 
Você é linda 
mais que demais. 
Você é linda, sim 
onda do mar do amor 
que bateu em mim. 

Gosto de ver 
você no seu ritmo 
dona do carnaval. 
Gosto de ter 
sentir seu estilo 
ir no seu íntimo 
nunca me faça mal. 

Linda 
mais que demais. 
Você é linda, sim 
onda do mar do amor 
que bateu em mim. 
Você é linda 
e sabe viver. 
Você me faz feliz. 
Esta canção é só pra dizer 
e diz.

Entretanto, ao analisarmos a leitura desse poema, podemos ter um sujeito enunciador valendo- se das expressões duplas assim, descrevendo a sua amada, produzindo porém novos efeitos de sentido. Com as seguintes expressões: “fonte de mel”; “olhos de gueixa”; “luz das acácias”; “mãe do sol”; “beleza esperta”; “onda do mar do amor”; “mulher das estrelas”; “mina de estrelas” e “dona do carnaval”, colocadas no intuito de traçar a descrição poética da mulher amada, levando-a musa inspiradora.


Verbetes


Buscando no dicionário das palavras que compõem cada uma dessas expressões encontram-se os seguintes verbetes:
  • Fonte: s. f. 1. Nascente de água. 2. Fig. Aquilo que origina ou produz, origem, causa.
  • Mel: s. f. Substância doce elaborada pelas abelhas, do suco das flores, e por elas depositada em alvéolos especiais.
  • Olhos: s. m. 1. Anat. Órgão par, em forma de globo, situado um em cada órbita. 2. Fig. Aquilo que se distingue, percebe, guia, esclarece: os olhos da alma.
  • Gueixa: s. f. No Japão, jovem cantora e dançarina.
  • Luz: s. f. Radiação eletromagnética capaz de provocar sensação visual num observador normal.
  • Acácias: s. f. Designação de árvores e arbustos do gênero Cássia.
  • Mãe: s. f. Mulher, ou qualquer fêmea, que deu à luz um ou mais filhos.
  • Sol: s. m. 1. Estrela que é o centro de um sistema planetário. 2. A luz e o calor desse astro.
  • Beleza: s. f. 1. Qualidade de belo. 2. Pessoa bela. 3. Coisa bela, muito agradável, ou muito gostosa.
  • Esperta: adj. 1. Acordada, desperta. 2. Inteligente, fina, arguta. 3. Enérgica, ativa, viva. 4. Quase quente. 
  • Onda: s. f. 1.1. Porção de água do mar, lago ou rio, que se eleva; vaga. 2. Fig. Grande quantidade ou abundância; grande afluência.
  • Amor: s. f. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa.
  • Mulher: s. f. 1. O ser humano do sexo feminino capaz de conceber e parir outros seres humanos, e que se distingue do homem por essas características. 2. Mulher dotada das chamadas qualidades e sentimentos femininos (carinho, compreensão, dedicação ao lar e à família, intuição).
  • Estrela: s. f. 1. Astr. Denominação comum aos astros luminosos.
  • Mina: s. f. 1. Fig. Manancial de riquezas; negócio muito lucrativo. 2. Fig. Coisa de grande valor; preciosidade. 3. Brás. Pop. Garota, menina.
  • Dona: s. f. 1. Senhora de alguma coisa; proprietária.
  • Carnaval: s.m 1. No mundo cristão medieval, período de festas profanas que se iniciava, geralmente, no dia de Reis (Epifânia) e se estendia até a quarta-feira de cinzas.
Levando -se em contata a busca dessas palavras no dicionário, é possível afirmarmos que o significado de cada uma delas não dá conta do funcionamento linguístico do poema, ou seja, ele não pode representar a musa inspiradora que o sujeito enunciador descreve. Podendo assim, afirmar, que neste sentido o significado das palavras não é imanente, mas que seu sentido se estabelece a partir de um contexto, em um espaço histórico-social, no qual se inscreve o sujeito enunciador. O sentido se produz a partir da inscrição ideológica do sujeito que fala.

Se observarmos de “quem fala” e de “onde fala“, ou seja, a expressão “fonte de mel” não se refere a uma produção de mel e sim a uma expressão para se referir à sua amada, vendo como uma fonte de ternura, de doçura. Da mesma forma, “olhos de gueixa” que não são necessariamente olhos de uma dançarina, mas os olhos da mulher que o seduzem, que o atraem de maneira sensual, cativante e envolvente.

Quando ele se refere a “Luz das acácias” e “mãe do sol” podem ser consideradas como sinônimas ou ainda como expressões que dá um reforço, pois percebe-se que elas querem significar uma mulher cheia de luz, uma mulher que irradia brilho e calor, que impõe a uma presença que é notada, que não dá para esconder e ser observada da forma passada. Por sua vez, uma “beleza esperta” que retrata uma mulher ao mesmo tempo bela e acordada, uma mulher que desperta para a vida, uma mulher sedutora de uma beleza que não passa despercebida.

Ao falar da “onda do mar do amor” o poeta certamente não esta se referindo à onda, ao volume de água que se eleva, mas sim, a um sentimento exuberante que invade seu ser e o toma por completo.

Observarmos nas seguintes expressões: “mulher das estrelas” e “mina de estrelas” não poderiam se referir a uma mulher que vive ou veio dos astros luminosos nem tampouco a uma mina que produza estrelas. Leva ao efeitos de sentidos provocado por essas expressões referendam uma mulher que possui um brilho como o das estrelas.

Logo, em “dona do carnaval” remete-se àquela que está no centro das atenções, levando ao destaque, a única, a soberana, cuja pessoa amada que o faz muito feliz, podendo levá-la a ser linda, mais do que linda. Exaltando assim, a mulher amada, com expressões figuradas ao descrever a sua musa, com novos efeitos de sentimentos.

Conclusão


A música é uma verdadeira aula de português, né? Para concluir, é possível notar a riqueza de recursos estilísticos que Caetano utilizou na composição dessa música, o que nos mostra a genialidade desse artista e nos faz conhecer um pouco de seu estilo.

Seja com o uso de verbos (no indicativo = presente; pretérito; futuro / no imperativo = ordem e apelo / no infinitivo = verbos sensoriais [dizer, sentir, ver, ouvir]), seja com o uso de adjetivos, pronomes, rimas, repetição de palavras, pluralidade, entre outros artifícios que compuseram essa tão bela música.

Não sou fã de Caetano Veloso. Nunca fui. Mas, devo aceitar o fato de que ele estava divinamente inspirado quando compôs a letra dessa maravilhosa canção. Ela ultrapassa os limites de uma simples música. É uma poesia lírica muito bem delineada, objetiva e, portanto, eterna. Vai levar meu carimbo de:
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário