É triste dizer, mas a depressão não é só problema de gente grande. Estima-se que 10% das crianças tenham algum sintoma do mal em algum momento da vida. Na maioria dos casos, ela surge aos quatro ou cinco anos. Há, inclusive, relatos de tentativa de suicídio nessa idade!
Infelizmente muitos pais demoram a perceber a disfunção, achando que ela faz parte do jeito de ser da criança. Aliás, muitos até acham bom que o filho seja quietinho e não dê trabalho. E acreditam que o fato de ser agarrada aos pais é erro de criação, e não doença.
A depressão infantil normalmente ocorre através de quadros atípicos, escondendo verdadeiros sentimentos depressivos sob as mais diversas máscaras como irritabilidade, agressividade, hiperatividade, rebeldia, afirmamos especialistas. Outros apresentam dores pelo corpo, choro sentido, ou sintomas psicossomáticos como dor na barriga, na perna, vontade de vomitar, urticárias, ou ainda por sintomas emocionais como vergonha e medos.
Outro empecilho ao diagnóstico correto nos pequenos é a própria dificuldade de a criança expressar o que sente daí que muitas acabam somatizando e desenvolvendo doenças por conta da depressão.
Os adultos (pais, professores e responsáveis) devem ficar atentos quando a criança não apresenta, ou deixa de ter, os comportamentos típicos dessa idade, como a curiosidade, o fato de querer estar sempre explorando o ambiente, a vontade de brincar. Se ela fica permanentemente quieta, se nenhuma brincadeira interessa, se não tem curiosidade para explorar, fica insegura quando está longe dos pais ou, ainda, se vive com dor de cabeça, de barriga, com o sono ou com o apetite alterados, isso é um sinal de alerta.
O pequeno deprimido é muito diferente da criança tímida, que se sente bem em pequenos grupos ou mesmo sozinha. Esses pacientes não estão bem nunca em nenhum lugar. Na depressão infantil também há um componente genético, que pode ser disparado por gatilhos como lutos, perdas, separação dos pais, mudanças estressantes no dia-a-dia. Sem tratamento, a doença compromete o desenvolvimento dela e o rendimento escolar. Além disso, será mais propensa a usar drogas na adolescência. Nos pequenos, a saída também está na psicoterapia e muitos deles também precisam de remédios.
A pesquisa na área da saúde mental tem, desde tempos recentes, alcançado destaque, impulsionada principalmente pela literatura, que é enfática em sublinhar aumento na prevalência dos transtornos psiquiátricos na infância e na adolescência (oscilação entre 1 a 51% na prevalência destes).
Dentre essas patologias psiquiátricas que acometem crianças, merece atenção especial a depressão infantil, devido às potenciais implicações danosas que essa entidade gera no desenvolvimento humano. Esse transtorno de humor tem sido caracterizado por sintomas como irritabilidade, reclamações somáticas, reclusão do convívio social e humor diminuído, o que levou a reconhecê-lo como uma doença distinta daquela que ocorre no adulto. Esses sintomas, em curto prazo, podem atuar como fontes de sofrimento psíquico para essas crianças e, em longo prazo, podem interferir nos aspectos cognitivo, social e emocional do desenvolvimento infantil.
O que é, quais são os sintomas e como identificá-la
Segundo a conhecida psicóloga cristã Marisa Lobo [psicóloga clínica, escritora, pós-graduada em saúde mental, conferencista e colunista. Ela ministra cursos e palestras e possui experiência de vários anos em clínica e dependência química. Entre suas áreas de atuação estão a depressão infantil, violência e abuso sexual na infância, síndrome da adolescência e todos os tipos de compulsão, vícios e suas consequências] a depressão infantil é uma patologia que tanto pode interferir como se manifestar nos aspectos físicos, comportamentais, cognitivos e sociais, permitindo compreendê-la como um fenômeno biopsicossocial. Essas alterações sobre as esferas psicoafetiva, psicossocial, orgânica, humoral e psicocognitiva, ocorrem em uma frequência de 31,42%; 31,42%; 19,70%; 13,97% e 3,49%, respectivamente.
- A esfera psicocognitiva, apesar de apresentar uma menor percentagem de frequência em relação às demais, merece uma abordagem mais contundente pelo meio científico, já que alterações significantes nesse aspecto tendem a repercutir negativamente no desenvolvimento da criança. Tais alterações podem ser observadas principalmente no ambiente escolar, na forma de dificuldades para se concentrar e para pensar.
- As alterações psicocognitivas possuem tendência de provocar evitação do trabalho escolar, levando a criança ao baixo rendimento acadêmico. Assim, objetiva-se descrever as formas de relações causais existentes entre depressão na infância e o desenvolvimento dessas crianças.
As dificuldades escolares podem ser consideradas, muitas vezes, como o primeiro sinal de que a criança está iniciando um quadro de depressão. Nesse processo de adoecimento, a criança reconhece-se como incapaz de atender às exigências impostas a ela, evidenciando sentimentos de vergonha, indefinição e distanciamento das demandas da aprendizagem, com consequente prejuízo da autoestima. Essas manifestações tendem a determinar baixo rendimento escolar, tanto na fase pueril, como no futuro educacional dessa criança.
Como tratar
A literatura contemplada descreve de forma incisiva que a depressão infantil repercute negativamente no desenvolvimento cognitivo. Contudo, nem sempre essa alteração torna-se perceptível, já que a criança, na maioria das vezes, não consegue expressar o que está sentindo na forma verbal. A fase do desenvolvimento psicocognitivo que essa criança vivencia é determinante em moldar as suas formas de expressão.
Descrevendo as funções cognitivas que são afetadas no processo depressivo, alguns autores referem que, além de dificuldades na concentração e na atenção, a memória e o raciocínio também estão alterados, com consequente influência negativa no desempenho escolar da criança. Há impossibilidade de "dar o melhor de si".
No entanto, deve-se estar atento que de forma alguma tais sintomas podem ser considerados isoladamente, mas, sim, deve haver uma análise simultânea no que diz respeito à sua intensidade e a seu tempo de duração.
Um fato importante é que crianças, nessa faixa etária, tendem a dedicar, ainda que não espontaneamente, tempo maior ao ambiente escolar comparado à convivência em família. Assim, o profissional pedagogo, que possui ampla bagagem de conhecimentos sobre as fases do processo de desenvolvimento infantil e sobre as principais manifestações sintomatológicas da doença em questão, deverá estar apto a reconhecer de forma precoce essa enfermidade, permitindo que haja intervenção terapêutica resolutiva em curto prazo, a fim de minorar as repercussões da depressão infantil no desenvolvimento cognitivo em longo prazo .
Conclusão
A depressão infantil configura-se como uma categorização possível para aspectos diversos da realidade, permitindo classificar diferentes ordens de problemas: as disfunções orgânicas, socioeconômicas e culturais. Correspondem, respectivamente, a noções relacionadas ao mau funcionamento das crianças e de insatisfação, intolerância e infelicidade dos adultos ante a vida e seus acontecimentos. Tal como ocorre com relação às categorias de doença, em diferentes culturas, que permitem classificar os males e os infortúnios, é necessário organizar o que parecia desorganizado pelo restabelecimento da ordem.
A depressão infantil pode ser considerada uma doença diferenciada, porque opera culturalmente de forma diversa, se comparada a outras doenças, inclusive mentais. Revela-se como uma possibilidade de categorização inédita e improvisada de realidades diversas, tornando-se fundamentalmente necessária para identificar e organizar determinados comportamentos infantis e outros aspectos socioculturais emergentes. Atua, portanto, como um termo-chave operando várias noções com significados particulares, que se equivalem no modo como, graças a mecanismos de várias ordens, é possível explicar e, ao mesmo tempo, intervir sobre diferentes problemas da realidade.
Prevenção
Recente levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstra que, em todo o planeta, 20% das crianças e dos adolescentes apresentam sintomas de depressão, como irritabilidade ou apatia e desânimo. Os dados referentes ao Brasil sugerem que esse tipo de distúrbio se faz presente entre 8% e 12% da população infantojuvenil. É um número preocupante. Saber lidar com essa problemática, que jamais esteve restrita a adultos e idosos, é providência urgente para pais e educadores.
Para o dr. Gustavo Lima - que é membro do Programa de Atendimento a Transtornos Afetivos do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP - existem algumas atitudes que podem ajudar a prevenir a depressão nas crianças:
"Além de um acompanhamento pediátrico, cuidar das horas de sono e da alimentação, um ambiente familiar estruturado é fundamental. Outra coisa importante é uma escola que favoreça o desenvolvimento da criança, que consiga identificar as reais potencialidades dela. Então, saúde, bem-estar, ambientes familiar e escolar favoráveis, prestar atenção também em questões genéticas contribuem, e muito, para se prevenir a depressão infantil".
Atentemos, pois, às elucidativas recomendações dos doutores Gustavo Lima e Marisa Lobo, assim como não descuidemos de proporcionar aos pequenos e aos jovens um espaço sadio, enriquecido pelo ensino bíblico e orientada pelos melhores princípios éticos. Desde cedo, devemos ter consciência de que a oração, a meditação na Palavra, a confiança em Deus são eficientes recursos ao equilíbrio bio-psíquico-espiritual.
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