Total de visualizações de página

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A JUSTIÇA DE DEUS SOB A PERSPECTIVA DO ANTIGO TESTAMENTO

Segundo o conceito dos dicionaristas, justiça é a particularidade do que é justo e correto, como o respeito à igualdade de todos os cidadãos, por exemplo. Etimologicamente, este é um termo que vem do latim justitia. É o principio básico que mantém a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal. A Justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais.

Segundo a Bíblia, todos os seres humanos, de todas as raças e classes sociais, de todos os credos e culturas, tanto judeus como gentios, imorais e moralistas, religiosos e ateus - todos, sem exceção, são pecadores, culpados, indesculpáveis e sem defesa diante de Deus! Eis o quadro terrível e desolador com que Paulo descreve a situação da raça humana em Romanos 1:18 - 3.20. Sem um raiozinho de luz, nenhuma fagulha de esperança, sem a mínima perspectiva de socorro.

"Mas agora" - Paulo interrompe de súbito - o próprio Deus interveio. "Agora" parece ser uma referência marcada por três dimensões: uma lógica (a elaboração do argumento), uma cronológica (o momento presente) e outra escatológica (chegou um novo tempo).  Depois da longa e escura noite, raiou o sol, amanhece um novo dia e o mundo é inundado de luz. "Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei..." (Rm 3:21a). É uma revelação totalmente nova, centralizada em Cristo e Sua cruz, se bem que dela "testemunham a Lei e os Profetas" (21b) em previsões e prefigurações parciais. E assim Paulo contrasta a injustiça de uns e a auto-justificação de outros com a justiça de Deus. Em contraposição à ira de Deus sobre quem pratica o mal (Rm 1:18; 2:5; 3:5) ele anuncia a graça de Deus, que envolve os pecadores que creem. Diante do julgamento, apresenta-nos a justificação.

Paulo começa retratando a revelação da justiça de Deus na cruz de Cristo e lançando os alicerces para o evangelho da justificação (Rm 3.21-26). Em seguida defende o seu evangelho contra as críticas dos judeus (3.27-31). E finalmente, ilustra-o através da vida de Abraão, que foi, ele mesmo, justificado pela fé, tornando-se assim o pai espiritual de todos os que creem (4.1-25).

Assim, entendemos que a justiça de Deus se caracteriza assim: a) se revela na cruz de Cristo (Rm 3:21-26), b) sua fonte é a graça (Rm 3:24), c) sua base é Cristo e sua cruz e d) o meio de justificação é a fé.

Neste ¹artigo farei uma análise da justiça de Deus sob a perspectiva do Antigo Testamento.
"20 Então compartilhou com Abraão, o SENHOR: 'As acusações e os gritos contra Sodoma e Gomorra são tantos e tão expressivos; o seu pecado é por demais grave! 21 Descerei até lá e verei se, de fato, o que eles têm praticado corresponde ao clamor que é vindo até minha presença; e, se assim não é, verdadeiramente sabê-lo-ei!' 22 Então os homens partiram dali e dirigiram-se para Sodoma, mas o SENHOR permaneceu junto a Abraão. 23 Abraão chegou um pouco mais perto e indagou: 'Destruirás o justo com o pecador? 24 Talvez haja cinquenta justos na cidade. Destruirás e não perdoarás a cidade por amor aos cinquenta justos que estão em seu seio? 25 Longe de ti cometeres tal atrocidade: fazer morrer o justo com o pecador, de modo que o justo seja tratado como o pecador! Longe de ti! Não fará justiça o Juiz de toda a terra?' 26 Então lhe assegurou o SENHOR: 'Se Eu encontrar cinquenta justos em Sodoma, perdoarei toda a cidade por amor a eles!' 27 Argumentou Abraão: 'Eu me atrevo a falar ao meu Senhor, eu que sou poeira e cinza. 28 Contudo é possível que faltem cinco para completarem os cinquenta justos; por causa de cinco pessoas destruirás toda a cidade?' Ele replicou: 'Não, se Eu encontrar quarenta e cinco justos'. 29 Abraão retomou ainda a palavra e ponderou: 'Mas talvez só existam quarenta justos'. Ao que Ele lhe garantiu: 'Eu não o farei por causa dos quarenta!' 30 Propôs Abraão: 'Que meu Senhor não se irrite, e que eu possa falar: provavelmente ali se encontrem trinta'. 31 Ele asseverou: 'Eu não o farei se ali encontrar trinta'. Prosseguiu Abraão: 'Agora que já fui tão ousado falando ao Senhor, pergunto: E se apenas vinte justos forem encontrados na cidade?' Ele respondeu: 'Por amor aos vinte justos não a destruirei!' 32 Então Abraão insistiu: 'Não te ires, Senhor, mas permite-me falar só mais uma vez. E se apenas dez forem encontrados?' Ele afirmou: 'Por amor aos dez justos não a destruirei!' 33 Tendo acabado de falar com Abraão, o SENHOR partiu, e Abraão retornou para seu lugar." - Gênesis 18:20-32, ênfases minhas (Bíblia King James Atualizada)
Vemos nessa passagem a indignação do Senhor diante do pecado dessas duas cidades. Tal indignação foi o ápice da tolerância de Deus, que decidiu a sentença fatal sobre Sodoma e Gomorra: a destruição.

Abraão, sabendo que seu sobrinho Ló habitava as verdejantes campinas ao Oriente do Jordão, com considerável ousadia, interpelou ao Senhor tentando "pegá-lO" em um de seus atributos mais conflitantes: a justiça.

Ao interceder junto ao Senhor pela preservação dos justos, Abraão - como todo ser humano - fora limitado em sua perspectiva à justiça de Deus. Ele foi decrescendo de cinquenta até dez. Sem apelar para a numerologia, mas dentro desse contexto esses números têm um princípio profético, que aponta para Jesus Cristo. O número cinquenta é Pentecostes, o do advento do Espírito Santo. Daí que se diga em Atos (2,1): "Chegando o dia de Pentecostes…" É também o número da penitência dos pecadores: esse é o número do salmo penitencial por excelência. O dez é o número do Decálogo. Por isso o Salmista (Salmos 32:2) diz: "Entoar-Te-ei hinos na harpa de dez cordas". É também o número da perfeição das obras e da plenitude dos santos, o que é simbolizado por aquelas dez cortinas que, por ordem do Senhor, foram feitas no tabernáculo do testemunho. *O testemunho é o texto do Decálogo. 

A soma desses dois números é sessenta que é o número que representa misticamente todos os perfeitos. Por isso se diz no Cântico dos Cânticos 3:7: "É a liteira de Salomão – isto é, a Igreja de Cristo – escoltada por sessenta guerreiros, sessenta valentes de Israel". Também sessenta é o fruto dado pelas viúvas e continentes. Daí que se leia no Evangelho (Mateus 13:23): "E produzirão fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um".

Mas, por que teria Abraão parado sua contagem nos dez?

A justiça humana é míope


Deus, a cada interpelação de Abraão, responde com uma afirmativa que define a extensão imensurável de seu amor, sua misericórdia, sua justiça, sua compaixão. Em detrimento da justiça humana, que se diz cega, mas é no máximo míope, a divina não se esquiva da sinceridade, alimenta o arrependimento e não se subjuga à impunidade. Deus está sempre disposto a oferecer uma nova chance para o ser humano reencontrar a dignidade com a qual fora criado e que abrira mão.

A justiça humana é medida por conceitos questionáveis e passível de equívocos e erros. A justiça de Deus é inexorável (implacável, inflexível), inextinguível (inesgotável). 

Ou seja, quando Abraão - por mais sensível aos possíveis justos que fosse - parou a extensão de sua piedade na escala decimal, ele fez uma errônea comparação da sua misericórdia com a do Senhor.

Abraão parou no dez (o número 10, no entendimento dessa passagem, fala de testemunho humano, conforme já expliquei acima), mas para o Senhor, ainda que houvesse um único justo, Ele pouparia as duas ímpias cidades.

A justiça divina é inexplicável, pois à revelia da total degradação moral e do lastimável cenário de declínio espiritual, com a geral perda de valores e princípios, os retos de coração e mãos limpas - ainda que fossem a minoria - seriam a referência do Senhor, seriam o Seu ponto de atração, a prova de que Ele ainda manifestava Sua glória através de Sua maior criação.

A justiça divina é o parâmetro da esperança


Quando Deus deu as respostas positivas às interpelações do patriarca - que neste contexto prefigurava Cristo em sua obra de mediação pela humanidade (1 Timóteo 2;4) - Ele estava implicitamente dizendo: "Minha decisão não está tomada em função dos corruptos. As ações deles me enojam, me repelem e serão condenados por elas, seja aqui ou no Dia do grande e derradeiro julgamento. Mas aqueles que praticam atos de justiça (Apocalipse 19:6-8) em meio a corrupção estão sendo agentes do meu Reino. Para mim, este é um motivo mais que suficiente para poupar uma cidade inteira." 

Ou seja, a justiça de Deus, faz com que Ele sobrepuje as expectativas limitadas de esperança, geradas pela ineficiente justiça dos homens. Deus ultrapassou os limites de Abraão, que parou nos dez justos, muito provavelmente porque para o seu senso de justiça humano, que era limitado, esta seria uma quantidade razoável, a partir da qual Deus exerceria seu juízo sobre aqueles povos.

Conclusão


Devemos nos esforçar como Paulo afirmou pela unidade, pela manifestação da vontade de Deus através do Espírito. Somente quando há o operar de Deus através de nossos corpos mortais, quando individualmente morremos para nós mesmos, para que Deus se expresse e nos use como instrumento; seremos capazes de manifestar a unidade como é da vontade do Senhor Jesus manifesta em sua oração em João 17.

E quando falamos em morrer para nós mesmos, não é o orarmos para que os outros morram para si mesmos para que a nossa vontade se revele, para que o nosso querer se manifeste. Mas sim, nós primeiramente, mesmos que estejamos certos, mesmo que estejamos corretos em nossas opiniões e pensamentos; precisamos morrer para nós mesmos, para que a obra do Espírito se realize em nós, e através de nós e assim, possa operar na vida dos outros. 

Quando esta decisão é nossa, e parte, primeiramente, de nós, então Deus começa a operar e a falar para nós. Ao mudarmos a nossa forma de pensar, ao revermos, as nossas atitudes, por mais certas que estejam; mas se não estiverem levando a unidade, não está dentro do plano de Deus. Precisamos, para alcançar a unidade, morrer para nós mesmos e nossa vontade.

Quando cada um morre para si mesmo, há uma disposição de submeter ao Espírito Santo, para o realizar da vontade de Deus, para o cumprir da obra do Pai. Quando assim fazemos, então, como instrumentos, seremos usados para expressão do que é o nosso Deus.

É através da igreja, e somente através da igreja, que há a verdadeira e a total expressão de corpo e da vontade de nosso Deus. São os nossos relacionamentos, são as nossas atitudes, e o nosso mover em uma única direção, guiados pelo Espírito Santo que importam e que revelam nosso Senhor Jesus.

Os atos de justiça são todas as ações praticadas pelos santos que visam unicamente fazer a justiça de Deus alcançar a todas as pessoas que necessitam, que clamam e que querem conhecer a Deus. A justiça de Deus se revela através dos seus santos, como igreja, que atua como reconciliadora, com embaixadora, como expressão da natureza de Deus aqui na terra. Seu papel e fazer conhecida as boas novas da libertação e salvação de todos os homens através de Jesus Cristo. É o levar ao conhecimento de todos o que Deus dá gratuitamente, pela sua graça e seu amor, a todos. Os atos de justiça incluem, as boas novas, o fazer discípulos, o repartir, o ajudar, o demonstrar misericórdia, graça, amor, bondade, longanimidade para com todos os homens.

O que temos feito traduz o que somos? Temos preparado a noiva de forma a adorná-la para a exaltação de nosso Senhor? Ou estamos preocupados no realizar de nossa vontade que esquecemos o que realmente é importante?

¹Nota: Esse artigo é uma adaptação do esboço de mensagem que o Senhor me deu no dia 26 de janeiro de 2005. Fiz a ministração dessa Palavra em culto realizado na Igreja Batista El-Hanã, localizada em Betim-MG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário