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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

SÍNDROME DE ELI: PAIS FROUXOS, FILHOS FOLGADOS

Atualmente ficamos estarrecidos com algumas notícias que são veiculadas pela imprensa policial: o alto número de crianças e adolescentes envolvidas na criminalidade, que torna cada vez mais acalorado a discussão sobre a redução da maioridade penal (ver artigo http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2015/04/reducao-da-maioridade-penal.html). E não é só isso. Vemos também notícias dessas mesmas crianças e adolescentes vitimadas pela violência. Outro problema é a total inversão de valores nas famílias onde os filhos "falam mais alto (gritam, berram mesmo)" que os pais. Essa é mais uma faceta da total desestruturação familiar. E engana-se quem pensa que isso só acontece em lares não-cristãos. Há famílias ditas crentes onde estrutura e equilíbrio é algo inexistente. Mas onde estaria a raiz desse grave problema social? Neste artigo vou me ater em uma análise sobre a figura paterna como um dos fatores contribuintes do desajuste familiar.

O pai


A figura do pai tem muita importância na construção da estrutura psicológica dos filhos. Sem sua presença cotidianamente na vida dos filhos, muitas lacunas poderão ser abertas ou ficar sem o devido preenchimento. O pai não pode encarar seu papel apenas como um provedor de necessidades materiais dos filhos, pois ele transcende todas as aspirações que uma criança possa apresentar. Lugar de pai, também (e principalmente), é ao lado dos filhos. Quando isto não ocorre, eles poderão se espelhar em muitas outras figuras (escolhidas sem qualquer critério) para assumir o modelo de pai.

Muitos pais acreditam que devem se aproximar dos filhos somente quando estes cometem algo digno de punição. Chegam, muitas vezes, com estupidez e agressividade querendo mostrar para as crianças que é "mandão", o "tal", "aquele que pode corrigir os seus erros". No entanto, esquecem que deveriam ter estado perto, quando eles precisavam de direcionamento. Agredir os filhos para tentar consertar uma falta cometida é algo comum nas famílias, mas poucos percebem o quanto isto poderá levar os jovens a sentimentos de desprezo, raiva e desamor pelos pais. 

Sob o pretexto de trabalhar muito, de chegar em casa cansado e sem paciência, alguns pais colocam sobre a mãe o papel de "acalmar" os filhos para não os inquietarem. Assim, a figura paterna acaba sendo vista, por muitos filhos, como uma imagem intocável, impenetrável e inacessível. Muitos só são procurados pelos pais quando precisam receber uma bronca. E tem pai que acredita que os filhos já nascem com a capacidade de saber o que é certo e errado, sem que sejam ensinados. Fazer uma reunião diária com a esposa para conversar sobre os comportamentos dos filhos é uma dica muito valiosa.

O pai omisso coloca sobre a figura materna a responsabilidade de educar os filhos. Ele crê que sua missão restringe-se à provisão enquanto à mãe cabe apoiar, conversar e resolver os pequenos problemas. Seria uma divisão de tarefa aparentemente justa, não fosse pelos males que a distância paterna pode proporcionar. Entenda-se por omissão, também, a falta de punição, disciplina e cuidado, na hora certa.

Cada filho tem necessidades emocionais, que devem ser supridas por mães e pais. Estar presente na vida do filho não significa apenas está perto dele, mas ligado às necessidades afetivas oriundas do seu desenvolvimento. Perto do filho estão os amigos, o professor, o vizinho, o pastor, o padre, etc. Mas o pai deve ser o único a romper a barreira física da proximidade. Ele pode penetrar no coração do filho, conhecer suas carências e apoiar suas decisões. De todos os abraços que os filhos recebem, apenas o do pai pode tocar sua alma. De todas as conversas, apenas o diálogo paterno poderá edificar, sem deixar sequelas. Tudo que é posto no lugar do pai, no desenvolvimento emocional dos filhos, serve apenas como um remendo, que tenta cobrir uma falha.

Não tem autoridade (reconhecida pelos filhos), para corrigir e disciplinar, o pai omisso, que deixa para os outros a sua missão. Mesmo quando obedece ou se curva diante de um grito agressivo proferido pelo pai, o filho poderá guardar na alma a angústia de ser punido por alguém tão ausente. 

Os pais omissos são, muitas vezes, medrosos. Têm medo de estarem próximos dos filhos. Temem não serem capazes de se tornarem seus amigos. Receiam perder o "poder" sobre eles. Tais pais devem ser lembrados que o amor dedicado aos filhos, rotineiramente, constrói uma fortaleza de respeito e afinidade. Quando pais e filhos se tornam "cúmplices", o mais velho sempre será referência para as decisões do neófito.

Os pais omissos poderão perder, no futuro, a companhia dos filhos, que crescem sem tê-los por perto. É mais provável que o filho adulto prefira um final de semana na casa dos amigos (que conversam, brincam e se divertem com ele) a estarem com um pai sisudo e radical que, apesar de provedor, sempre foi desprovido de atenção, aconselhamento, afeto e presença. Alguns, ainda por questões devocionais, educacionais e culturais, assistem estes pais para não serem julgados pela sociedade. Mas tal assistência é tão pobre e mecânica que faz o pai sentir-se totalmente desprezado, pela falta de afeto.

Pais omissos não dão aos filhos um modelo de vida estruturada, que possam seguir. Eles ficam sem referencial e acabam tomando por exemplo os estranhos, ou ficam sem modelo algum. Podem crescer perdidos, duvidosos, indefesos e desajustados.

Eli, um exemplo a não ser seguido


Eli foi o 14º juiz civil em Israel e o primeiro sumo sacerdote em Siló, cerca de 16 quilômetros ao norte de Betel (1 Samuel 1:9). Teria sido o primeiro sumo sacerdote dos descendentes de Itamar (Levítico 10:1, 2, 12; 1 Reis 2:27). Eli administrou numa época de muita carnalidade e formalismo, cujos filhos Hofni e Finéas que exerciam funções sacerdotais, não procediam de acordo com o propósito divino, além de terem a conivência do pai que não os repreendia, incorrendo em sentença sobre a sua casa (1 Samuel 2:27-34).

Eli tornou-se sacerdote aos 58 anos de idade e o fato de passar 40 anos na função de magistrado e sacerdote, vem justificar que exerceu referidas funções com sabedoria e autoridade, porém o seu final foi muito comprometedor. Pelos registros bíblicos, com o passar dos anos, Eli perdeu o vigor e a autoridade e se tornou conivente com o pecado.

Seu declínio espiritual teve início quando: 


a) Fez julgamento precipitado sobre Ana, achando que estivesse embriagada enquanto ela falava com Deus (1 Samuel 1:14-17);

b) Honrava mais os filhos do que a Deus (1 Samuel 2:29b);

c) Teve também sua visão enfraquecida, mesmo que tivesse a idade avançada, porém, vê-se que perdeu também a visão espiritual (1 Samuel 3:2; 4:15);

d) Deus não falava mais com ele e podemos observar esse detalhe quando Deus falou com o jovem Samuel e ele ficou curioso para saber o que Deus lhe havia dito (1 Samuel 3:16-18);

e) Com a velhice acentuada e o peso exagerado - indicativos de má alimentação e acomodação tanto física quanto espiritual -, tinha perdido a agilidade e lhe faltava disposição para exercer a função (1 Samuel 4:18);

f) Vivia acomodado, deitado e sentado (1 Samuel 1:9; 3:2; 4:13,18).

Os reflexos da má atuação paterna de Eli refletida no caráter corrupto de seus filhos


Quanto aos seus filhos, exerciam suas funções ao lado do pai. Não temiam a Deus e nem respeitavam os homens (1 Samuel 2:15-17). Eram tidos como filhos de Belial e não conheciam o Senhor, isto é, não tinham comunhão com Deus (1 Samuel 2:12). Belial significa impiedade, perversidade e maldade (Provérbios 6:12; 2 Coríntios 6:15). Hofni e Finéas profanavam os sacrifícios, levando o povo a desprezar as ofertas do Senhor (1 Samuel 2:13-16).

Procediam contra a determinação divina quando apresentavam as oferendas, que deveriam primeiro apresentá-las a Deus e depois tomar parte delas (Levítico 3:3-5,16). Mas os filhos de Eli tomavam primeiro para si e ainda sob ameaça (1 Samuel 2:15,16). Contaminavam-se com as prostitutas e se deitavam com as mulheres na porta da tenda (1 Samuel 2:22b).

O principal pecado de Eli foi a conivência, pois ele sabia de tudo o que seus filhos praticavam e Deus o incluiu com os dois filhos como dando "coices contra o sacrifício e as ofertas de manjares" (1 Samuel 2:29). Com esta conduta, é como diz o apóstolo Pedro: "O julgamento deve começar pela casa de Deus" (1 Pe 4:17), especialmente por aqueles que estão à frente da obra, e como não soube honrar o privilégio que Deus lhe concedeu, ao contrário, tirava proveito da posição, o Senhor pela Sua misericórdia ainda o advertiu dando-lhe tempo para arrependimento, o que não ocorreu e, como paciência se esgota, Deus declarou por sentença a sua sorte e sentença bem severa, conforme se lê em 1 Samuel 2:33, 34; 3:13; 4:18-22).

O pecado só não acarreta sentença como esta, mas produz consequências terríveis, por exemplo: tempos depois, Israel foi ferido violenta e vergonhosamente diante dos filisteus, que fugiram para as suas tendas e caíram de Israel trinta mil homens de pé (1 Samuel 4:10). E daí para a frente, só má notícia porque satanás não deixa nada pela metade. Morreram os dois filhos de Eli e, além de perder a batalha, os filisteus tomaram a Arca do Concerto (1 Samuel 4:17); quando Eli soube da notícia, caiu da cadeira para trás, quebrou o pescoço e ali mesmo morreu (1 Samuel 4:18); estando sua nora, esposa de Finéas, grávida e próxima ao parto, ouvindo estas notícias, alí mesmo encurvou-se e deu à luz e, ao mesmo tempo, foi morrendo (I Samuel 4.19), mas ainda reuniu forças e deu ao recém-nascido o nome de Icabô ou "Foi-se a glória de Israel", referindo-se à Arca de Deus que foi levada presa, e ainda por causa da morte de seu sogro e de seu marido (1 Samuel 4:21, 22).

Conclusão


Esta é uma grande lição que fica para os cristãos que têm filhos e desempenham (ou não) cargos na igreja do Senhor. Tudo o que faz o cristão por conta própria, desprezando os cuidados divinos, gloriando-se em suas próprias presunções, o resultado será maligno (Tiago 4:13-16). Se o vigor espiritual estiver em declínio ou se o formalismo permite que se sirva a Deus mecanicamente, de tal maneira a se ter uma vida de conivência com as coisas que não agradam a Deus, só há dois caminhos: orar suplicando a misericórdia do Senhor para prosseguir alinhado com Deus na caminhada; ou renunciar para não se comprometer com negligência na Obra do Senhor. Nunca perseverar dominado pela vaidade e pelo orgulho porque não vai a lugar nenhum. É como diz Provérbios 16:1: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda". 

Preocupado com essa questão, o apóstolo Paulo aconselha antes de tudo consagração a Deus, humildade e fidelidade no uso dos dons e escreveu: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" - (Romanos 12:1).

Senhores pais que leram esse artigo, qual o exemplo e o legado que vocês estão deixando aos seus filhos? Filhos que leram esse artigo, como tem seu procedimento em relação ao seu pai?

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