Ser “politicamente correto” é ter uma atitude de tratamento para com os outros baseada principalmente em alguns pressupostos filosóficos da pós-modernidade. De modo geral esta ideia tem uma aparência de respeito e cuidado com o próximo que, logicamente, ninguém se opõe a isso, contudo no seu bojo esconde algumas exigências que realmente põem em xeque a validade de nossas crenças como cristãos além de uma mordaça em nossa proclamação. Vejamos como isso funciona.
Conforme o sistema
Nossa sociedade é pluralista e inclusivista e, por isso, admite que as opiniões e convicções de todos devem ser ouvidas e respeitadas. O plano de fundo para essa aceitação das ideias e opiniões não está basicamente no apreço e respeito pelas pessoas, mas sim na rejeição da existência de uma verdade absoluta. Assim, a opinião de um é tão verdadeira como a opinião do outro.
O problema é que com o surgimento da negação de conceitos absolutos as questões de religião e moral tornam-se extremamente subjetivas e niveladas como tendo o mesmo valor. Neste sentido há um perigo grande para o cristão porque ele se depara com a situação em que tem de responder a si mesmo se considera o "seguir a Cristo" (não digo nem religião) como um caminho igual a qualquer outro que não considera Cristo, ou seja, a vida com Cristo é o único caminho para a única e real salvação para o homem ou todos os caminhos e pensamentos humanos são tão valorosos quanto este? Tal dilema deve ser resolvido e bem firmado em nossa mente.
Um dos maiores sinais da decadência de uma igreja é quando ela busca a simpatia do mundo; pois, ao tentar tornar-se agradável ao mundo, invariavelmente a igreja terá que fazer concessões de princípios inegociáveis. É exatamente nesse ponto que se começa o desmanche da fé com a remoção de requisitos inerentes ao Reino de Deus.
A Bíblia nos ensina que Jesus Cristo é “O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA” e “NINGUÉM VAI AO PAI SE NÃO POR ELE”. Falar isso é, lamentavelmente, considerado como uma ofensa e “politicamente incorreto”. Falar que não há salvação fora de Jesus Cristo é pior ainda. É considerado um insulto. Falar sobre conversão é ultraje, pois a ideia de conversão é você deixar uma direção considerada e reconhecida como errada e mudar para outra que seja verdadeira. O termo bíblico para isso é metanóia, ou seja, mudança de mente e ele exige realmente uma mudança em termo tão concretos e práticos que por vezes é chamado de novo nascimento. Então, neste sentido temos de escolher: ou seremos “politicamente corretos” ou crentes (e aqui o termo não está subjugado aos pejorativos).
Outro ponto de atrito entre estas duas realidades é o fato de que não há espaço para crítica moral no pensamento “politicamente correto”. Você não pode tecer juízo de valor e criticar as condutas morais das pessoas. Assim, não posso criticar a separação matrimonial imoral que muitos já a tem como normal. Não posso criticar a homossexualidade, que já está sendo aceito naturalmente e muitas outras coisas.
Ora, que tipo de crente (e aqui também o termo não está subjugado aos pejorativos) serei eu se não puder criticar a moral corrompida e podre da humanidade (com base na santidade de Deus)? Não foi para isso que o Senhor nos chamou? Tal condição é uma verdadeira mordaça para o crente. Quantos não têm até medo de falar, hoje em dia, e serem criticados e taxados de mal educados, intolerantes, preconceituosos, radicais, fundamentalistas (esse é o termo da moda) etc...
Isso fica claro quando você toca, por exemplo, em questões do tipo, no dia 12 de outubro, alguém fazer uma devoção à senhora Aparecida. Se você comentar que as preces dele estão sendo direcionadas à pessoa errada, pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, citando um versículo do livro de Timóteo. Pronto. O barraco está armado. Prepare-se para um bombardeio de críticas sobre dizendo que você é intolerante, mal educado...
Outro extremo é quando você defende a virgindade. O sexo tornou-se em algo tão banal que se você disser que um jovem (homem e/ou mulher) deve se conservar virgem até o casamento, certamente irá virar alvo de chacotas, de pilherias, de gozações... O negócio é tão sério que há jovens crentes (e aqui não cabem os pejorativos do termo) que se sentem envergonhados em assumirem sua virgindade diante da "galera". Bem, é esse o espírito da filosofia. Então, ou você é "politicamente correto" ou é crente (e aqui não valem os pejorativos do termo).
Conforme a Bíblia
Jesus Cristo, sem perder a essência de sua doçura, foi taxativo quando disse que nós, cristãos, não somos do mundo, pois se fôssemos do mundo o mundo nos amaria (João 15:19). O Mestre nunca nos incentivou a buscar a aprovação da sociedade em que vivemos. Pelo contrário, falou que seríamos bem aventurados quando fôssemos perseguidos por causa da nossa Fé (Mateus 5:11).
Jesus sempre teve claro o fato de que a filosofia deste mundo é incompatível com os princípios de Seu Reino. Neste sentido, podemos dizer que a "filosofia do politicamente correto" é excludente de um viver e pensar cristão, pois o Cristianismo impõe-se absoluto desde suas raízes como única alternativa para o homem reconciliar-se com seu Criador. Não há a menor possibilidade de transigência deste princípio. A isto está ligado o pensamento de Deus para a realidade humana que podemos resumir em criação, queda e redenção.
Mesmo sendo um invento notabilizado pela linguagem, a filosofia do politicamente correto tem a simpatia da sociedade porque se apresenta como busca de correções de sentenças e comportamentos que, ao longo dos anos segregou, excluiu ou discriminou pessoas individualmente ou grupos sociais por razões diversas, em especial a cor da pele, a limitação da mobilidade física, razões filosóficas, etc. Ainda que, ironicamente a expressão foi inicialmente utilizada pela Direita face ao avanço da Esquerda Liberal no pós-guerra americano.
Mundo a fora a expressão ganhou muita simpatia e dinâmica impressionantes. O desenvolvimento dessa onda ganhou musculatura na política de liberalismo e nos círculos do ativismo humanista. E assim o politicamente correto torna-se um instrumento de afirmação e expansão da filosofia humanista, esta que a cada dia se notabiliza por seu antiteismo crescente. Vemos assim que o humanismo enquanto filosofia anticristã é a coluna desse ativismo do politicamente correto.
Luz do mundo e sal da terra
A Igreja de Jesus como guardiã da Fé Cristã não pode transigir com princípios inegociáveis, sob pena de tornar-se um sal insípido. As definições bíblicas sobre os procedimentos reprováveis por Deus vigoram sem qualquer preocupação em agradar quem pensa o contrário. Jesus nunca se preocupou em agradar a maioria, nem com política de tolerância. Ele falava a verdade de forma incisiva levando as pessoas à convicção de pecado.
Nesse ponto o Cristianismo incomoda em muito a filosofia do politicamente correto porque a Bíblia, mesmo destilando doçura e amor, define o pecado de forma peremptória sem recalcitrância. É realmente incômodo ao homem uma afirmação bíblica definindo como errada a prática de temas como divórcio, idolatria, homossexualidade, sexo fora do casamento, sensualidade, etc. As pessoas gostariam de viver plenamente nos seus prazeres sem serem "incomodadas" por definições cristãs que atingem em cheio seu modo de ser.
É nesse momento que, surgem mecanismos de suporte para garantir o prazer humano em absoluto. Aí surgem conceitos que permeiam o senso comum do tipo "pecado é se ocupar da vida dos outros"; "se você não faz mal ao próximo, não está pecando"; "o amor justifica qualquer relação sexual (Um astro da música pop canta famoso refrão de uma de suas canções, considerada um hino pelos que defendem tal ideologia: '...E a gente vive junto; E a gente se dá bem; Não desejamos mal a quase ninguém; E a gente vai à luta; E conhece a dor; Consideramos justa toda forma de amor...')", etc. Algumas dessas frases de efeito têm certo sentido, mas isto não justifica nem modifica o conceito de Deus sobre práticas que Ele já definiu como pecado e afrontam Sua santidade.
Nesse contexto a filosofia do politicamente correto entra em cena com novos paradigmas para reconceituar a linguagem e forma de ser da sociedade. O pecado deixa de existir como definição e passa a ser objeto de manipulação do ponto de vista dos homens. Ou seja, o que é pecado para A pode não ser pecado para B, tudo depende do ponto de vista. Assim Deus é relativizado e apequenado, pois Suas afirmações eternas são "esvaziadas" por uma lógica que coloca o prazer humano como valor absoluto. Verdadeiramente vivemos numa época em que as pessoas são mais amigas dos prazeres do que amigas de Deus (2 Timóteo 3:4).
A importância das convicções
É preocupante e ao mesmo tempo confortante constatarmos que contemporaneamente muitos têm transigido com suas convicções de fé e criado apêndices incompatíveis com o verdadeiro Evangelho. Preocupante porque a ideia de que o Cristianismo deve flexibilizar princípios e negociar aceitação se espalha e atinge aos incautos e causa estrago na cognição cristã de muita gente bem intencionada.
Por outro lado é confortante porque vemos o claro cumprimento das profecias bíblicas sobre os dias que antecedem a volta de Jesus, ou seja, o panorama de ruptura das eras. Estamos assistindo a introdução de uma era onde os valores são pautados pelo anticristianismo ou pela cristofobia. Isto nos alegra porque o dia da nossa redenção se aproxima (Lucas 21:28). "E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé" - Romanos 13:11.
Diante de conceitos repaginados pelo politicamente correto, o verdadeiro cristão deve se posicionar pela verdade. Nada mais ou menos que a verdade (2 Coríntios 13:8). Não devemos ter preocupação com aceitação e popularidade humana porque isto não faz parte dos valores do Reino de Deus. Jesus Cristo não buscou aceitação entre os homens. Sua comida era fazer a vontade do Pai que o enviou (João 4:34). Esta deve também ser a tônica do cristão. Fazer a vontade de Deus, ainda que isto contrarie interesses sociais, políticos e religiosos.
Conclusão
A tentação dos politicamente corretos acometeu os discípulos nos primeiros dias da Igreja. Eles, após saírem da prisão por pregar uma mensagem contra o senso comum das pessoas, isto é o Evangelho, foram advertidos que não mais ensinassem ou pregassem o nome de Jesus Cristo (Atos 5:29, 40). Mas os discípulos estavam perseverando na doutrina, na comunhão, no partir do pão e nas orações, ou seja, não inverteram os valores. Por isso eles não tiveram nenhuma dúvida em responder: "é mais importante obedecer a Deus do que aos homens!"
Por sua firmeza na palavra João Batista teve a cabeça cortada e servida em um prato como troféu a uma libertina e ele foi considerado por Jesus como incomparável (Mateus 11). Por seu apego ao Evangelho, à Verdade, o outro João, o apóstolo foi lançado na Ilha de Patmos. Foi exatamente aí que o céu se abriu e ele ouviu revelações do nosso porvir, uma glória jamais revelada. É hora de mantermos firmes a posição de sermos não politicamente, mas biblicamente corretos.
Por estas e outras devemos estar atentos. Particularmente prefiro manter a posição de Pedro e dos outros apóstolos que afirmavam: "É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!" - Atos 5:29.
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